ARTIGO

 

Primeiras observações sobre o Aedes Albopictus no estado do Espírito Santo, Brasil

 

First observations on Aedes albopictus in the State of Espirito Sanio, Brasil

 

 

Joaquim A. Ferreira NetoI; Milton Moura Lima; Mario B. AragãoII

ISUCAM, Caixa Postal, 190, 88.000 Florianópolis, SC
IIFIOCRUZ, Caixa Postal, 926, 20010 Rio de Janeiro, RJ

 

 


RESUMO

Observações realizadas no Estado do Espírito Santo mostraram que o Aedes albopictus, ao ser introduzido no Brasil, não modificou, significativamente, o seu comportamento. Os criadouros são os mesmos utilizados na Ásia e situados, de preferência, em áreas abertas. Os mosquitos adultos se abrigam em vegetação baixa e freqüentam pouco o domicílio.


ABSTRACT

Observations performed at the State of Espirito Santo showed that Aedes albopictus did not change its behaviour to a significant extent after being introduced in Brazil. The breeding places are the same as those described in Asia and can be found more frequently in open areas. The adult mosquitoes rest in short vegetation and only sporadically penetrate into the human habitations.


 

 

Algumas larvas encontradas num pneu de trator, abandonado debaixo de arbustos, na Universidade Rural (Município de Itaguaí, Estado do Rio de Janeiro) foram criadas pelo Prof. Eugênio Izeckson e identificadas como Aedes albopictus, pela primeira vez no Brasil, pelo Prof. Forattini (Forattini).4

Um levantamento preliminar realizado pela Superintendência de Campanhas de Saúde Pública (SUCAM) revelou uma grande dispersão da espécie no Estado do Espírito Santo, praticamente toda a metade sul do Estado. Por esse motivo, foram feitas algumas observações sobre o comportamento da espécie, nessa sua nova pátria que, acrescidas das informações disponíveis na bibliografia, constituem o objeto desta publicação.

O A. albopictus é um mosquito originário do sudeste da Ásia e tudo indica ser, primariamente, silvestre. Nessa região ele é comum nos restos de floresta, ainda existentes, nos bosques de bambu e nos coqueirais, mas também ocorre nas áreas rurais e suburbanas. O seu criadouro primitivo é o buraco de pau mas, mesmo no sudeste da Ásia ele se cria em pneus e em latas.

Gilotra el al.5 trabalhando cm Calcutá, que por sinal é a localidade típica da espécie, dizem que os habitats mais típicos são os bosques de bambu c os coqueirais, mas que ele invade o ambiente doméstico. Neste, usa os mesmos depósitos artificiais utilizados pelo Aedes aegypti, preferindo porém os situados em volta das casas. Chan et al. (1971) mencionam como principais criadouros, em Cingapura, potes de barro, armadilhas de formiga, pneus, tinas e tambores. Desses, 50% situam-se fora de casa.

No Japão, onde a espécie é introduzida, se cria em todos os depósitos de água limpa, situados à sombra ou à meia sombra.6 Nesse país ele também é encontrado em florestas, porém, para Mogy (1982), essa adaptação é secundária.

Na ilha de Guam, onde a espécie foi descoberta em 1944, já em 1948 estava bem distribuída e era encontrada em buracos de pau, bambu, cascas de coco e bracteas de palmeira (Rozeboom & Bridges, 1972).

Em Honolulu, no Havaí, a espécie é recente, mas, em algumas épocas já foi mais numerosa do que o A. aegypti.9 Nessa cidade os principais criadouros são latas, vasos de flores e uma planta da família das liliáceas.1

Sobre o comportamento do A. albopictus nas Américas não existem informações. Sabe-se que ele foi detectado nos Estados Unidos em 1985 e já está bem espalhado no sul daquele país.2

No Espiríto Santo o A. albopictus tem sido encontrado em alta densidade nos depósitos de pneus usados, onde se abriga na vegetação baixa, situada ao redor (Figura 1). Já no Município de Anchieta tem sido coletado em capoeiras baixas (Figura 2), porém, os criadouros só foram encontrados fora dessa vegetação.

 

 

 

 

RESULTADOS E COMENTÁRIOS

De um modo geral, os índices prediais encontrados têm sido baixos (Tabela 1). Apenas no Distrito de Iriri, no Município de Anchieta, esse índice ultrapassou a 10% (Tabela 2).

 

 

 

 

Os criadouros predominam fora das casas e na tabela 1, pode ser visto que eles não são raros nos terrenos baldios.

Na tabela 3 estão os depósitos pesquisados no Município de Anchieta e, entre eles, destacam-se os pneus. A porcentagem de poços e cisternas positivos é elevada, porém, o número pesquisado foi pequeno. Os outros depósitos grandes, como caixas d´agua, barris etc também são procurados, porém, em porcentagem mais baixa. Sob a rubrica de depósitos diversos estão, na sua maior parte, objetos jogados fora nos quintais das casas e que, na verdade, deveriam ter sido removidos como lixo. Dentre as plantas positivas, há a destacar uma bromeliácea colocada, como planta ornamental, numa praça pública.

As capturas de alados (Tabela 4) mostram que o mosquito não está preferindo o domicílio, observação que já tinha sido feita no local onde foi tirada a foto da figura 1. Em qualquer ponto protegido do vento, os mosquitos atacavam mas não penetravam numa casa situada ao lado e onde havia pessoas.

Na capoeira (Tabela 4) a densidade era alta, apesar de não terem sido encontrados criadouros dentro dela. Os depósitos positivos estavam fora.

 

CONCLUSÕES

A expansão da área de ocorrência do A. albopictus no Espírito Santo mostra que ou a invasão é antiga ou ele se dispersa muito rapidamente, como já tinha sido observado na ilha de Guam.3

Por enquanto o mosquito ainda não foi capturado em floresta, porém, o seu encontro em capoeira, se bem que rala, causa preocupação. É que no Estado existem diversas Reservas Florestais, tanto particulares quanto do governo, que, por lei, são áreas intocáveis. Sendo assim, seria prudente erradicar a espécie dos municípios onde se situam essas Reservas e, depois disso, manter uma vigilância rigorosa.

De um modo geral, o que tem sido observado no Espirírito Santo não difere muito do que está registrado para a sua área de origem ou de outros locais da Ásia para onde a espécie foi transportada. Criadouros, de preferência, situados fora das casas, porém, com alguma sombra, abrigo em vegetação baixa ou, quando muito, capoeira rala e pouca freqüência ao domicílio.

 

AGRADECIMENTOS

Os autores são gratos ao Dr. Danilo Mauricio Cosmo, Diretor Regional da SUCAM no Espírito Santo, pelas facilidades proporcionadas ao trabalho e, também, por ter permitido a utilização de dados levantados sob sua orientação , pela SUCAM.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. BONNET, D.D. The distribution of mosquito breeding by type of container in Honolulu, T.H. Proc. Hawn. Ent. Soc., 13: 43-9, 1947.        

2. CENTER FOR DISEASE CONTROL Aedes albopictus infestation — United States, Brazil. MMWR, 35: 493-5,1986.        

3. CHAN, K.L., HO, B.C. & CHAN, Y.C. Aedes aegypti (L.) and Aedes albopictus (Skuse) in Singapore City. 2. Larval habitats. Bull. Wld Hlth Org., 44: 629-33, 1971.        

4. FORATTINI, O.P. Identificação de Aedes (Stegomyia) albopictus (Skuse) no Brasil. Rev. Saúde publ., S. Paulo, 20: 244-5, 1986.        

5. GILOTRA, S.K., ROZEBOON, L.E. & BHATTACHARYA,N.C. Observations on possible competitive displacement between populations of Aedes aegypti Lineaus and Aedes albopictus Skuse in Calcuta. Bull. Wld Hlth Org., 37: 437-46, 1967.        

6. GRAG, H.F. Mosquito control problems in Japan. Mosq. News, 7: 7-11,1947.        

7. MOGI, M. Variation in oviposition, hatch rate and setal morphology in laboratory strains of Aedes albopictus. Mosc. News, 42: 196-211, 1982.        

8. ROZEBOOM, L.E. & BRIDGES, J.R. Relative population densities of Aedes albopictus and A. guamensis on Guam. Bull. Wld Hlth Org., 46: 477-83,1972.        

9. USINGER, R.I. Entomological phases of the recent dengue epidemic in Honolulu. Publ. Health Rep., (Wash.), 59: 423-30, 1944.        

Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Fundação Oswaldo Cruz Rio de Janeiro - RJ - Brazil
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