ARTIGO ARTICLE
Malária e aspectos hematológicos em moradores da área de influência dos futuros reservatórios das hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau, Rondônia, Brasil
Malaria and hematological aspects among residents to be impacted by reservoirs for the Santo Antônio and Jirau Hydroelectric Power Stations, Rondônia State, Brazil
Tony Hiroshi KatsuragawaI, II; Roberto Penna de Almeida Cunha; Daniele Cristina Apoluceno de SouzaI; Luiz Herman Soares GilI; Rafael Bastos CruzI; Alexandre de Almeida e SilvaIII; Mauro Shugiro TadaII; Luiz Hildebrando Pereira da SilvaI, II
IInstituto de Pesquisa em Patologias Tropicais, Porto Velho, Brasil
IICentro de Pesquisa em Medicina Tropical, Porto Velho, Brasil
IIIUniversidade Federal de Rondônia, Porto Velho, Brasil
RESUMO
Em Rondônia, prevê-se a construção de mais duas usinas hidrelétricas (UHE) no rio Madeira, a montante da cidade de Porto Velho, Rondônia, Brasil (de Santo Antônio e Jirau). O objetivo deste trabalho foi analisar a prevalência da malária antes do início da implantação das obras civis e fazer considerações sobre os impactos da doença com o ingresso de milhares de trabalhadores e agregados atraídos pelas oportunidades de emprego e comércio. Os resultados obtidos mostram que a malária se faz presente em toda região, em variados graus de prevalência. Além disso, a existência de potenciais portadores assintomáticos de malária entre a população nativa pode ter relevância epidemiológica e deve ser considerada nos programas de controle da malária, vinda tanto das autoridades públicas quanto das empresas responsáveis pela instalação das UHE, visando o diagnóstico e tratamento precoce, controle vetorial, abastecimento de água e aplicação de infra-estrutura nos centros urbanos.
Malária; Centrais Hidrelétricas (Saúde Ambiental); Reservatórios; Migração
ABSTRACT
In Rondônia State, Brazil, two new hydroelectric plants, Santo Antônio and Jirau, are scheduled for construction on the Madeira River, upriver from the State capital, Porto Velho. The current study analyzes malaria prevalence before the construction and provides information on the possible impacts of malaria burden related to the influx of thousands of persons attracted by direct and indirect employment opportunities. According to the findings, malaria is present throughout the region, with varying prevalence rates. The existence of potential asymptomatic malaria carriers among the local population may be epidemiologically relevant and should be considered in the malaria control programs organized by public authorities and companies responsible for building the power plants, aimed at early diagnosis and treatment, vector control, water supply, and infrastructure in the urban areas.
Malaria; Hydroelectric Power Plants (Environmental Health); Reservoirs; Migration
Introdução
As transformações ambientais realizadas pelo homem visando o desenvolvimento e o crescimento da economia são necessárias dentro do contexto social e devem ser realizadas seguindo-se padrões legais, visando causar os menores impactos possíveis. Ambientes aquáticos são amplamente utilizados pelo homem com as mais diferentes finalidades, entre elas o abastecimento de água, geração de energia, irrigação, navegação, piscicultura ou mesmo paisagismo 1.
A construção de barragens para implantação de Usinas Hidrelétricas (UHE) é uma necessidade para o desenvolvimento de uma micro e/ou macro região, pois a oferta de energia elétrica atrai novos investimentos e, com isso, haverá o crescimento da economia local. A Região Norte do Brasil é rica em recursos hídricos. Segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL; http://www.aneel.gov.br, acessado em 07/Set/2005), o potencial hidráulico, ou hidroenergético, do país é de 260GW, dos quais apenas 25% estão sendo utilizados para a produção de energia pelas UHE de médio e grande porte e pelas Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCH). A Região Norte tem o maior potencial para geração hidráulica com 114GW, ou 44%.
Para o Estado de Rondônia, estão planejadas a construção de seis UHE (Jirau, Santo Antônio, Madeira Binacional, Monte Cristo, Ávila e Ji-Paraná) e duas PCH (Cachimbo e Alta Floresta), que irão atingir 12 áreas indígenas, além de outras 21 no Estado do Amazonas, totalizando uma área de 3.731,919km2, e 5.784 habitantes 2.
A construção das UHE de Santo Antônio (08º48'08"S, 63º57'58"O) e Jirau (09º19'20"S, 64º43'48"O) no Município de Porto Velho se dará no alto rio Madeira, entre as localidades de Santo Antônio e Abunã. Uma parte da população reside às margens do rio e outra em alguns distritos ao longo da rodovia federal BR-364 que interliga Porto Velho (Rondônia) a Rio Branco (Acre). Essas populações serão diretamente atingidas pelas UHE de Santo Antônio e Jirau através do aumento da lâmina d'água do rio Madeira e seus afluentes.
Porto Velho situa-se ao norte do estado (08º47'01"S, 63º55'56"O), sendo considerada área endêmica de malária. São precárias as condições sanitárias do município, principalmente na área rural. Esses fatores podem agravar a saúde da população com o ingresso de milhares de trabalhadores na área para as obras civis das UHE do rio Madeira.
Rondônia faz parte de uma área conhecida como Amazônia Legal e ocupa 4,7% dessa área. A Amazônia Legal é um conjunto de nove estados brasileiros que é responsável por cerca de 99,6% dos casos nacionais de malária 3. No ano de 2004, Rondônia representou 22,2% dos casos de malária registrados na Amazônia Legal. Em 2005 essa porcentagem diminuiu para 18,7%. Apesar de representar apenas 4,7% do território da Amazônia Legal, Rondônia ocupa o terceiro maior índice de casos autóctones de malária (Sistema de Informação de Vigilância Epidemiológica - Malária. http://www.saude.gov.br/sivep_malaria, acessado em 31/Jul/2006).
A construção de UHE na sub-região 4, que inclui o Brasil, geralmente causou aumentos na malária 4, sugerindo que se as condições atuais de saneamento e serviços públicos de saúde oferecidos à população não sofrerem uma profunda reestruturação tanto física quanto humana, os riscos de uma nova epidemia de malária aumentarão consideravelmente.
Materiais e métodos
O estudo foi realizado no Município de Porto Velho, capital do Estado de Rondônia no período de agosto de 2004 a fevereiro de 2005. A área territorial do município é de 34.082,37km2, e sua população é de 334.689 habitantes com a densidade demográfica de 9,82 habitantes/km2 (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. Censo demográfico 2000. http://www.ibge.gov.br, acessado em 06/Jun/2004).
A área de estudo compreende as localidades localizadas entre o bairro de Santo Antônio (periferia de Porto Velho) ao Distrito de Abunã, distante cerca de 210km da sede do município. As localidades compreendidas entre esses dois pontos são Jaci Paraná, Mutum Paraná, Embaúba e Palmeiral.
Segundo dados do censo de 2000 (IBGE. http://www.ibge.gov.br, acessado em 06/Jun/2004), as populações de Jaci e Mutum Paraná somam em torno de 3.439 pessoas, incluindo as populações urbana e rural. Em Abunã, o censo aponta uma população total de 693 pessoas. O restante da população encontra-se distribuída pelas margens do rio Madeira, sendo que a maior parte na margem direita. A margem esquerda é pouco habitada, apresentando sítios, fazendas e assentamentos criados pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA). Levando em consideração o intenso processo migratório observado na região em função, sobretudo, da atividade de garimpo, extração de madeira e agricultura, estimou-se uma população total em torno de 5 mil pessoas, distribuída pela região a ser afetada pela construção das UHE.
Aproximadamente 530km2 serão inundados pelo reservatório das duas UHE, havendo uma grande concentração populacional no perímetro desses reservatórios em função dos distritos que estão à beira da Rodovia Federal BR-364 e das comunidades ribeirinhas, ao longo do rio Madeira.
A população deste estudo foi previamente cadastrada e posteriormente selecionada através de sorteio aleatório realizado pelo programa Epi Info (Centers for Disease Control and Prevention, Atlanta, Estados Unidos). Foram coletadas amostras biológicas (sangue periférico) de 436 indivíduos, de ambos os sexos, com idades variando de 0 a 88 anos. Dessas, 431 foram utilizadas para perfil hematológico, 435 para a deficiência da glicose-6-fosfato desidrogenase (G6PD), 434 para gota espessa e 432 para PCR.
A amostra biológica para este estudo consistiu de 5,0mL de sangue, coletados por acesso venoso periférico de cada indivíduo participante e acondicionados em tubo a vácuo contendo EDTA. Ao dar entrada no Laboratório de Epidemiologia [Instituto de Pesquisa em Patologias Tropicais (IPEPATRO) e Centro de Pesquisa em Medicina Tropical (CEPEM)], a amostra foi dividida em três alíquotas, sendo 0,5mL para exame de perfil hematológico, 0,5mL para deficiência da G6PD e 4,0mL para PCR para malária. No momento da coleta, confeccionou-se uma lâmina de gota espessa para análise por microscopia, buscando identificar a espécie de plasmódio. Neste exame utilizou-se a coloração de Giemsa, pelo método de Walker 5. A observação se deu em microscópio com objetiva de imersão (1.000x), com a observação mínima de 200 campos microscópicos.
O perfil hematológico foi obtido através de hemogramas foram realizados pelo método automatizado (ABX Pentra 60) com verificação de conformidade através de microscopia ótica, utilizando-se a coloração panótica. Os valores referenciais estão descritos na literatura 6,7,8. Empregaram-se, também, os valores-limites estabelecidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para definição da anemia 9. A dosagem qualitativa da G6PD foi realizada seguindo o princípio de que a hemoglobina se oxida para metemoglobina pela ação do nitrito de sódio, e é reconvertida por via enzimática na presença de azul-de-metileno 7,10.
Para o exame de PCR, procedeu-se a extração de DNA pelo método de fenol-clorofórmio 11.
Os oligonucleotídeos utilizados foram: Nested 1 rPLU5: 5'-CCT GTT GTT GCC TTA AAC TTC-3'; rPLU6: 5'-TTA AAA TTG TTG CAG TTA AAA CG-3'; Nested 2 rFAL1: 5'-TTA AAC TGG TTT GGG AAA ACC AAA TAT ATT-3'; rFAL2: 5'-ACA CAA TGA ACT CAA TCA TGA CTA CCC GTC-3'; Nested 2 rVIV1: 5'-CGC TTC TAG CTT AAT CCA CAT AAC TGA TAC-3'; rVIV2: 5'-ACT TCC AAG CCG AAG CAA AGA AAG TCC TTA-3' 12.
O programa de ciclagem utilizado para Nested 1 (rPLU5 e rPLU6) foi de 1 ciclo inicial de 95ºC por 5', 58ºC por 2' e 72ºC por 2', seguidos de 30 ciclos de 94ºC por 1', 58ºC por 2' e 72ºC por 2', e mais 1 ciclo final de 58ºC por 2' e 72ºC por 5'. Para Nest 2 rFAL1 e rFAL2, utilizou-se a mesma ciclagem acima. Para Nest 2 rVIV1 e rVIV2, utilizou-se a programação de 1 ciclo inicial de 95ºC por 5', 65ºC por 2' e 72ºC por 2', seguidos de 30 ciclos de 94ºC por 1', 65ºC por 2' e 72ºC por 2', e mais 1 ciclo final de 65ºC por 2' e 72ºC por 5'.
Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética do CEPEM. As análises de freqüência foram avaliadas pelo teste de qui-quadrado, utilizando-se o programa SigmaStat 2.0 (SPSS Inc., Chicago, Estados Unidos).
Resultados
Foram analisadas amostras de 434 indivíduos no estudo para exame de malária pelo método da gota espessa. Desses, 12 (2,8%) apresentaram resultado positivo, sendo nove do sexo masculino, e três do sexo feminino (Tabela 1). Foram diagnosticados 9 (75%) casos por malária vivax, e 3 (25%) por malária falciparum. Analisando-se por faixas etárias, o grupo que apresentou maior incidência foi o masculino na faixa de 15-29 anos (0,9%).
Através de exames de PCR para malária, 432 amostras foram analisadas e mostraram outro perfil (Tabela 1). No total, 103 (23,8%) indivíduos apresentaram resultado positivo para malária por esse método (Tabela 1). Desses, 77 (74,8%) por malária vivax, 19 (18,4%) por falciparum e 7 (6,8%) por mista (F+V). A freqüência de malária vivax foi dependente do sexo (c2 = 9,1, p = 0,02), sendo o grupo que apresentou maior prevalência de malária vivax foi o feminino (c2 = 4,68, p = 0,03) na faixa etária de 15 a 29 anos (3,9%) (c2 = 4,58, p = 0,03) e menor na faixa etária entre 51 a 88 (c2 = 5,08, p = 0,02).
No exame de hemograma encontramos 111 indivíduos (25,8%) que apresentaram valores de hemoglobina abaixo do valor referencial, sendo 50 do sexo masculino e 61 do sexo feminino. Separando por faixa etária houve grande influência do sexo (c2 = 21,6, p < 0,001) sendo mais freqüente entre homens dos 5 aos 14 anos, mulheres entre 15 a 29 anos (c2 = 7,9, p = 0,005) e entre 30 a 50 (c2 = 8,78, p = 0,003). Para os valores de hemoglobina abaixo dos valores de referência, encontrou-se a seguinte distribuição: 1 abaixo de 7,0g/dL
(0,9%); 5 entre 7,0 a 8,9g/dL (4,5%); 41 entre 9,0 a 10,9g/dL (36,9%); 64 entre 11,0 a 11,9g/dL (57,7%). Na análise dos índices hematimétricos obtidos, 84 indivíduos (19,7%) apresentaram valores do Volume Corpuscular Médio (VCM) abaixo de 80fL, indicativo da microcitose. Desses, 44 eram do sexo masculino e 40 do sexo feminino (p > 0,05). A eosinofilia esteve presente em 283 hemogramas (65,7%) distribuídos entre 170 do sexo masculino e 113 do sexo feminino (p > 0,05). Nos ensaios para a deficiência da G6PD 6 indivíduos (1,4%) apresentaram resultado positivo, todos do sexo masculino (Tabela 2).
A anemia e a deficiência da G6PD foram mutuamente independentes na população estudada (χ2calc = 1,607; χ20,005,4 = 9,488 e p > 0,05).
Discussão e considerações
Os valores de hemoglobina encontrados no presente estudo sugerem uma prevalência significativa de anemia na população estudada, porém, a maioria dos indivíduos com valores abaixo do referencial encontra-se com discreta anemia. A área de estudo está contida na Amazônia Legal, região conhecidamente endêmica de malária. A associação do episódio de malária com as precárias condições sanitárias das moradias, escassos recursos financeiros e alimentação deficiente em micronutrientes fundamentais pode estar contribuindo para esse quadro anêmico da população. Sendo assim, necessita de uma atenção especial dos programas de saúde pública 13. Na África, em regiões holoendêmicas de malária, estudos relatam que a anemia está altamente associada à malária falciparum em crianças, mas que os valores de hemoglobina são influenciados por fatores independentes, como efeito cumulativo por contínuas parasitemias assintomáticas e efeito agudo do episódio clínico, especialmente em falha terapêutica 14. No ano de 2005 foram registrados 591.811 casos de malária no Brasil, sendo que 111.336 ocorreram em Rondônia (Sistema de Informação de Vigilância Epidemiológica - Malária. http://www.saude.gov.br/sivep_malaria, acessado em 31/Jul/2006), sendo a maioria por malária vivax.
Estudos de anemia no Distrito de Candeias, localidade peri-urbana de Porto Velho, encontraram 28% de anemia na população estudada. Dessa população, 26,8% apresentaram resultado positivo para exame protoparasitológico, porém, não houve diferenças significativas no grau de anemia entre os indivíduos que apresentavam e que não apresentavam enteroparasitas, mas nos indivíduos que tiveram episódio de malária recente, o grau de anemia foi significativo. Em outro trabalho, observaram que a malária e a deficiência de ferro podem ser consideradas importantes fatores que contribuem para aumentar o grau da anemia na população 15,16.
Níveis de hemoglobina menores que 11g/dL são um dos muitos problemas intratáveis de saúde pública das regiões malarígenas da África, relacionado com fatores como malária durante a gestação, dieta deficiente em micronutrientes durante a gravidez, parasitoses intestinais, entre outros 17. O Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) considera a anemia como um indicador de uma nutrição pobre e saúde deficiente, e que a malária, as helmintíases e as carências nutricionais contribuem para a alta prevalência de anemia em muitas populações 13. Em estudo conduzido no Estado do Acre sobre a anemia por deficiência de ferro, a deficiência da G6PD, infecções por geo-helmintos e a malária contribuem para afetar os níveis de hemoglobina 18,19.
A deficiência da G6PD mostrou-se presente, ocorrendo em indivíduos do sexo masculino, confirmando estudos anteriores 20. Em estudos conduzidos em outros estados, alterações clínico-laboratoriais em pacientes com malária foram relatadas apenas em pacientes com deficiência enzimática de G6PD 21.
A maioria da população estudada apresentou eosinofilia, sugerindo provável infecção por parasitas intestinais coincidente com estudos anteriores realizados na região 20,22. A prevalência de parasitoses intestinais em escolares na área de estudo é superior a 60% 23.
A significativa diferença de prevalência da malária entre o exame de gota espessa (2,8%) e PCR (23,8%) já foi demonstrada em outros trabalhos 24, mas mostra a existência de muitos indivíduos que não apresentavam sintomas da doença no momento da coleta, sugerindo que estavam no estágio inicial da doença ou eram assintomáticos. A presença de indivíduos assintomáticos já foi constatada em estudos anteriores realizados na região 25,26.
Os efeitos da migração não controlada para uma área endêmica, associados à falta de infra-estrutura adequada, são fatores de risco à saúde da população. Estudos realizados no Estado de São Paulo indicam uma associação positiva entre a migração e a malária 27. A malária está ligada a modificações no ambiente, como os desmatamentos na Amazônia 27. Processos migratórios, urbanização, características econômicas, sanitárias e comportamentais influenciam significativamente a transmissão da malária 29,30.
O aumento na área da lâmina d'água do rio Madeira, que será provocado pela construção das duas UHE, manterá áreas permanentemente alagadas e propícias à proliferação do vetor da malária. Mesmo em épocas de baixa precipitação pluviométrica essas áreas permanecerão alagadas, e estarão situadas sob a vegetação existente às margens do rio, criando um imenso ambiente natural para a procriação do vetor. Além disso, em toda região de influência das futuras usinas observou-se a presença do principal vetor da malária Anopheles darlingi 31.
Estudos já avaliaram o efeito da construção de grandes barragens e irrigação sobre a malária. Analisaram represas, barragens de várias dimensões, distribuídas pelas 14 sub-regiões, segundo a classificação da OMS. Concluem que em áreas endêmicas de malária, medidas integradas de controle, associadas com uma séria gerência da qualidade da água represada, são fundamentais para abrandar a sobrecarga da malária em áreas de irrigação e em torno de barragens e reservatórios de água criados pelo homem 4.
A rapidez no diagnóstico e início da terapia específica mostram a importância de uma intervenção anterior à ocupação de uma área endêmica, e também da educação da população frente às doenças existentes 32.
A associação de outras doenças com a malária agrava ainda mais a saúde da população local. Sendo assim, a implantação de saneamento básico, educação sanitária, construção (e/ou melhoria) de unidades de saúde adequadas e capacitadas, e controle vetorial de forma ativa e permanente, são fundamentais para conter um aumento no número de casos de malária na região. Nesse evento da construção das UHE no rio Madeira, o emprego de todas as técnicas e metodologias conhecidas para o controle da malária, bem como o suporte adequado do sistema público de saúde, devem ser considerados como prioritários em todas as esferas, sejam em nível municipal, estadual, ou federal, dos empreendedores e da população.
Colaboradores
T. H. Katsuragawa realizou a concepção, análise, interpretação dos dados e redação do artigo. R. P. A. Cunha, D. C. A. Souza, L. H. S. Gil e R. B. Cruz contribuíram com a concepção do projeto e a análise e interpretação dos dados. A. A. Silva participou da análise e interpretação dos dados e redação do artigo. M. S. Tada contribuiu com a concepção, e interpretação dos dados e a redação do artigo. L. H. Pereira da Silva participou da concepção do projeto, discussão e interpretação dos resultados.
Agradecimentos
Ao Prof. Dr. Cor Jesus Fernandes Fontes, pelas sugestões e revisão. Aos ribeirinhos que participaram voluntariamente deste trabalho.
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Correspondência:
T. H. Katsuragawa
Instituto de Pesquisa em Patologias Tropicais
Rua da Beira 7671, C. P. 87
Porto Velho, RO 78910-210, Brasil
tonykatsuragawa@yahoo.com.br
Recebido em 26/Jun/2008
Versão final reapresentada em 02/Fev/2009
Aprovado em 10/Fev/2008
Falecido