O perfil dos egressos de um mestrado profissional: uma contribuição para o entendimento da relação formação-trabalho no SUS

Ana Paula do Nascimento Eduarda Ângela Pessoa Cesse Ana Cláudia Figueiró Sobre os autores

RESUMO

Este artigo apresenta perfil dos egressos, efeitos da formação e trajetória profissional dos concluintes do Curso de Mestrado Profissional em Saúde Pública, do Instituto Aggeu Magalhães, parte de pesquisa avaliativa em desenvolvimento. Dos 99 egressos convidados que concluíram seus cursos entre 2013-2020, 54 responderam a um questionário aplicado por meio do software Lime Survey. O estudo descritivo e transversal utilizou frequência absoluta e relativa e cruzamento de variáveis na análise, cujo instrumento constou dos temas: identificação do egresso e do programa/curso; atividade profissional antes e ao término do curso e expectativas; condição empregatícia atual e efeitos da formação; avaliação da trajetória formativa. Entre os respondentes, a maioria é do sexo feminino, com idade entre 31-40 anos, enfermeiros de formação, autodeclarados pretos ou pardos, não ser pessoa com deficiência, predominantemente residentes em Pernambuco e não ingressaram mediante cota. Como efeito na vida profissional, encontrou-se que o curso aumentou o prestígio/reconhecimento dos colegas, qualificou para atividades que já exerciam e para atividades diferentes, e trouxe ganhos de remuneração, proporcionando mudanças na vida pessoal e profissional. Os resultados estão em conformidade com achados científicos desse mesmo contexto, e a ferramenta desenvolvida pela Fiocruz permitiu conhecer a relação entre formação e trabalho.

PALAVRAS-CHAVES
Formação profissional; Sistema Único de Saúde; Estudos de avaliação; Educação em saúde

Introdução

Para consolidação e qualificação do Sistema Único de Saúde (SUS) brasileiro, é imperativo que o processo de formação dos profissionais de saúde esteja em consonância com os princípios democráticos e de valorização da vida11 Santos GB. O SUS na perspectiva da formação humana. In: Lopes JAV, organizador. Desafios institucionais da ordem de 1988. Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui Barbosa; 2014. p. 102-19.. Nesse contexto, não se concebe mais a permanência de processos formativos descontextualizados tanto da realidade social, econômica e cultural da população quanto desarticulados das práticas de saúde. Do mesmo modo, pretende-se superar um modelo que, com frequência, ainda se apresenta fragmentado, predominantemente conteudista, por uma abordagem integrada, que busca a educação significativa na formação de sujeitos com competências que prezem pelo social22 Chiesa AM, Nascimento DDG, Braccialli LAD, et al. A formação de profissionais da saúde: aprendizagem significativa à luz da promoção da saúde. Cogitare Enferm. 2007 [acesso em 2023 maio 15]; 12(2):236-240. Disponível em: https://revistas.ufpr.br/cogita-re/article/view/9829/6740.
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Além do processo de formação, o acompanhamento de egressos/profissionais da saúde surge como ferramenta indispensável na avaliação dos cursos oferecidos pelas instituições formadoras, para os órgãos de avaliação, bem como fornece conhecimento para a sociedade geral. No entanto, apesar das análises dos processos de formação terem aumentado nas últimas décadas, é consenso entre muitos autores que os conhecimentos construídos na formação de pós-graduação voltada ao fortalecimento do SUS ainda são devedores dos propósitos idealizados33 Delgado IF, Andrade CLT, Avanci JQ, et al. Trajetória profissional e impacto da formação em egressos da Especialização da Fiocruz. Ciênc. saúde coletiva. 2023 [acesso em 2023 maio 18]; 28(4):1253-1264. Disponível em: https://www.scielo.br/j/csc/a/3vNgrs953nv7nLbngwxwtdR/?lang=pt.
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, 44 Nuto SAS, Vieira-Meyer APGF, Vieira NFC, et al. Programa de Pós-Graduação em Saúde da Família no nordeste brasileiro: repercussões no exercício profissional dos egressos. Ciênc. saúde coletiva. 2021 [acesso em 2023 maio 20]; 26(5):1713-1725. Disponível em: https://www.scielo.br/j/csc/a/tpNKQySkDCJhDbDQpchM9tn/?format=pdf&lang=pt.
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, 55 Engstrom EM, Hortale VA, Moreira COF. Trajetória profissional de egressos de curso de Mestrado Profissional em Atenção Primária à Saúde no Município de Rio de Janeiro, Brasil: estudo avaliativo. Ciênc. saúde coletiva. 2020 [acesso em 2023 maio 20]; 25(4):1269-1280. Disponível em: https://www.scielo.br/j/csc/a/SXVVFsVLHz3zZ83NQXXdZ9Q/?format=pdf&lang
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A instância responsável pelo acompanhamento dos cursos superiores no País (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Capes) aponta a importância do monitoramento sistemático dos egressos, visando obter informações que possam auxiliar no planejamento estratégico dos programas de pós-graduação e possibilitar a percepção relacionada com o seu impacto social na região66 Viniegra RFS, Silva LGP Aguiar AC, et al. Egressos de um Mestrado Profissional em Saúde da Família: expectativas, motivações e contribuições. Rev. Bras. Educ. Med. 2019 [acesso em 2023 maio 21]; 43(4):5-14. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbem/a/VLjbx8tKdFtcJv5xyMP4WRG/?lang=pt.
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. No atual instrumento de avaliação da pós-graduação implementado pela Capes, informações referentes aos egressos surgem tanto relacionadas com a produção intelectual, como era valorizado nos processos avaliativos anteriores, quanto ao seu destino, atuação e avaliação em relação à formação recebida77 Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. Ficha de avaliação. Proposta de revisão da ficha utilizada para a avaliação do programa de pós-graduação que é conduzida pela Capes – Co-ordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. Brasília, DF: Capes; 2019. [acesso em 2023 maio 24]. Disponível em: https://www.gov.br/capes/pt-br/centrais-de-conteudo/10062019-fichaavaliacao-pdf.
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, 88 Moimaz SAS, Saliba O, Garbin CAS, et al. Análise da atuação profissional de egressos da Pós-Graduação em Odontologia na área de Saúde Coletiva. RBPG; 2022 [acesso em 2024 mar 1]; 18(39):1-14. Disponível em: https://rbpg.capes.gov.br/rbpg/article/view/1957.
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Como orientação para avaliação dos programas, vislumbra-se que o processo de acompanhamento de egressos se destaque como ferramenta de gestão no intuito de contribuir para a melhoria dos programas stricto sensu, independentemente de sua modalidade, seja ela acadêmica ou profissional. Espera-se, com isso, a melhoria do processo de formação, contemplando o SUS com profissionais cada vez mais qualificados e comprometidos com o desenvolvimento social, intelectual e humano da sociedade.

Quanto aos cursos stricto sensu profissionais, as avaliações de egressos ganham relevância, visto que se pretende que a produção de conhecimento advinda dessa formação atenda a demandas identificadas na dinâmica de trabalho desses profissionais para solução de problemas práticos, sendo o acompanhamento dos egressos uma das alternativas mais funcionais para aferir o impacto dessa produção do conhecimento55 Engstrom EM, Hortale VA, Moreira COF. Trajetória profissional de egressos de curso de Mestrado Profissional em Atenção Primária à Saúde no Município de Rio de Janeiro, Brasil: estudo avaliativo. Ciênc. saúde coletiva. 2020 [acesso em 2023 maio 20]; 25(4):1269-1280. Disponível em: https://www.scielo.br/j/csc/a/SXVVFsVLHz3zZ83NQXXdZ9Q/?format=pdf&lang
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Ao considerar a importância de produtos elaborados no processo de formação, sobretudo aqueles que potencialmente podem ser transformadores da realidade, é fundamental ter um olhar mais amplo para a formação em si. Para Santos11 Santos GB. O SUS na perspectiva da formação humana. In: Lopes JAV, organizador. Desafios institucionais da ordem de 1988. Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui Barbosa; 2014. p. 102-19., a necessidade de investimento na formação humana deve atender aos novos cuidados individuais e coletivos esperados para o SUS. Além da importância estratégica dos produtos, o processo de formação não pode ser reducionista, voltado para um caráter instrumental da formação, mas sim para a possibilidade de que, por meio da educação, os sujeitos se permitam produzir para além das suas predeterminações, reconstruindo-se e criando formas de ser e estar no mundo11 Santos GB. O SUS na perspectiva da formação humana. In: Lopes JAV, organizador. Desafios institucionais da ordem de 1988. Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui Barbosa; 2014. p. 102-19..

Em consonância com essas premissas, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) vem realizando, de forma sistemática, o acompanhamento de egressos em todas as unidades que realizam atividades de ensino. A Fiocruz é reconhecida como a principal instituição não universitária de ensino da área de saúde do Brasil, atuando desde cursos técnicos até os cursos de pós-graduação stricto sensu, cujos eixos estruturantes das atividades de ensino objetivam a formação de profissionais para o sistema de Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I) em saúde e para o SUS, cumprindo seu papel estratégico na resolução dos problemas de saúde no País33 Delgado IF, Andrade CLT, Avanci JQ, et al. Trajetória profissional e impacto da formação em egressos da Especialização da Fiocruz. Ciênc. saúde coletiva. 2023 [acesso em 2023 maio 18]; 28(4):1253-1264. Disponível em: https://www.scielo.br/j/csc/a/3vNgrs953nv7nLbngwxwtdR/?lang=pt.
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, 99 Fundação Oswaldo Cruz. Plano de Desenvolvimento Institucional da Educação da Fiocruz (PDIE-Fiocruz 2021-2025). Rio de Janeiro: Fiocruz; 2020..

Inicialmente, a Fiocruz empreendeu esforços para mapeamento da trajetória profissional dos seus egressos, embora de forma não articulada entre os diversos programas oferecidos por essa instituição55 Engstrom EM, Hortale VA, Moreira COF. Trajetória profissional de egressos de curso de Mestrado Profissional em Atenção Primária à Saúde no Município de Rio de Janeiro, Brasil: estudo avaliativo. Ciênc. saúde coletiva. 2020 [acesso em 2023 maio 20]; 25(4):1269-1280. Disponível em: https://www.scielo.br/j/csc/a/SXVVFsVLHz3zZ83NQXXdZ9Q/?format=pdf&lang
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, 1010 Hortale VA, Leal MC, Moreira COF, et al. Características e limites do mestrado profissional na área da Saúde: estudo com egressos da Fundação Oswaldo Cruz. Ciênc. saúde coletiva. 2010; 15(4):2051-2058.. Essas ações foram institucionalizadas com base em diretrizes do VIII Congresso Interno Fiocruz, em 2017, que apontavam a necessidade da formulação de uma política de assistência ao egresso. Desde então, diversos eventos foram promovidos pela gestão de ensino, de forma articulada entre todas as unidades/programas, promovendo debates e ações que concretizassem o processo de acompanhamento de egressos, subsidiando a autoavaliação dos cursos/programas.

Dentre as diretrizes que orientam essa atividade, destacam-se: o caráter contínuo e a integração com o sistema de gestão acadêmica, garantindo práticas sistemáticas; a geração de informações e indicadores visando subsidiar a tomada de decisões para coordenadores e docentes dos programas; e a visibilidade para a sociedade por meio do Observatório em CT&I em saúde e pelo Campus Virtual Fiocruz (CVF)99 Fundação Oswaldo Cruz. Plano de Desenvolvimento Institucional da Educação da Fiocruz (PDIE-Fiocruz 2021-2025). Rio de Janeiro: Fiocruz; 2020.. Com isso, produzem-se avaliações, ajustes na estrutura pedagógica, se necessário, e ações de planejamento estratégico, assim como condições de análise de impacto social do processo de formação pela instituição1010 Hortale VA, Leal MC, Moreira COF, et al. Características e limites do mestrado profissional na área da Saúde: estudo com egressos da Fundação Oswaldo Cruz. Ciênc. saúde coletiva. 2010; 15(4):2051-2058., 1111 Santos GB, Hortale VA. Mestrado Profissional em Saúde Pública: do marco legal à experiência em uma instituição de pesquisa e ensino. Ciênc. saúde coletiva. 2014; 19(7):2143-2155..

Articulado aos preceitos do ensino na Fiocruz, o Curso de Mestrado Profissional em Saúde Pública, objeto deste estudo, foi concebido para formar profissionais aptos a compreender e promover mudanças em seus saberes e práticas, considerando a incorporação de novos conceitos, tecnologias e inovações ao SUS1212 Instituto Aggeu Magalhães. Recife: IAM; 2022. Programa de Pós-graduação em Saúde Pública – Modalidade Profissional. [acesso em 2023 maio 20]. Disponível em: https://www.cpqam.fiocruz.br/ensino/ppgsp -prof/sobre.
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. Assim, o curso está inserido no contexto da Educação Permanente em Saúde (EPS), que se apresenta em sua definição como aprendizagem no trabalho e para o trabalho, de maneira dialogada com os atores, baseada na aprendizagem significativa, integrando conhecimentos prévios e novos, e dando novo sentido às ações, possibilitando a transformação das práticas profissionais no cotidiano do trabalho1313 Brasil. Ministério da Saúde. Portaria nº 1.996, de 20 de agosto de 2007. Dispõe sobre as diretrizes para a implementação da Política Nacional de Educação Permanente em Saúde. Diário Oficial da União. 20 Ago 2007..

De acordo com Mattos et al.1414 Mattos MP, Campos HMN, Gomes DR, et al. Educação permanente em saúde nos Centros de Atenção Psicossocial: revisão integrativa da literatura. Saúde debate. 2020 [acesso em 2023 maio 20]; 44(127):1277-1299. Disponível em: https://www.scielo.br/j/sdeb/a/YyZgbjW8Q6SggHtJcDvvz9h/?format=pdf&lang=pt.
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, mesmo reconhecendo os avanços na formação dos profissionais de saúde, os autores advertem para a necessidade de fortalecimento dessas formações no contexto da EPS, com mudanças mais efetivas nas práticas dos serviços, ressignificando os processos de trabalho para o fortalecimento do SUS.

Nessa direção, Ceccim1515 Ceccim RB. Educação permanente em saúde: desafio ambicioso e necessário. Interface (Botucatu). 2005; 9(16):161-177. sugere que o marco estruturante da EPS é a sua porosidade, sua capacidade de ressignificação das ações e dos serviços, em um processo de cotidiano de trabalho permanentemente em discussão, de intervenção viva. O autor analisa o conteúdo conceitual/pedagógico da EPS apontando sua flexibilidade e correspondência com: Educação em Serviço, por meio da qual a formação é parte de um projeto de mudanças institucionais ou de orientação política das ações prestadas, em um tempo e lugar; Educação Continuada, quando relacionada com a construção de quadros institucionais ou de carreiras por serviço em tempo e lugar específicos; e Educação Formal de Profissionais, quando voltada para o desenvolvimento de projetos que promovam a integração do mundo do serviço e do mundo acadêmico, no contexto da multiplicidade da realidade de vivências profissionais.

Ao ter em conta o pensamento de Ceccim1515 Ceccim RB. Educação permanente em saúde: desafio ambicioso e necessário. Interface (Botucatu). 2005; 9(16):161-177., espera-se que essa modalidade de programa profissional esteja a serviço da redução das desigualdades, com vistas à melhoria das condições da saúde e da vida da população, por meio do pensamento crítico que os egressos incorporaram. Almeja-se que estes se tornem aptos a mudar a realidade dos ambientes de trabalho em busca de qualidade e efetividade da produção para saúde da sociedade, mediante a aproximação dos dois mundos: o da pesquisa e o da prática profissional1111 Santos GB, Hortale VA. Mestrado Profissional em Saúde Pública: do marco legal à experiência em uma instituição de pesquisa e ensino. Ciênc. saúde coletiva. 2014; 19(7):2143-2155., 1616 Goldbaum M. Mestrado profissionalizante em saúde coletiva: cenários possíveis: experiências e desafios profissionais na saúde. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz; 2006., 1717 Cesse EAP, Veras MASM. A Abrasco e a experiência dos mestrados profissionais. In: Lima NT, Santana JP, Paiva CHA, organizadores. Saúde coletiva: a Abrasco em 35 anos de história. 1. ed. vol. 1. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz; 2015. p. 199-214., 1818 Werneck GL, Cesse EAP. O sistema de avaliação da Capes e a pós-graduação em saúde Coletiva. BIS, Bol. Inst. Saúde. 2019 [acesso em 2023 maio 23]; 20(1). Disponível em: https://periodicos.saude.sp.gov.br/bis/article/view/34541.
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. Lima1919 Lima VV. Competência: distintas abordagens e implicações na formação de profissionais de saúde. Interface (Botucatu). 2005; 9(17):369-379. corrobora esse pensamento apontando a importância da reflexão das práticas profissionais com base em conhecimentos e em valores preexistentes que irão subsidiar os diálogos necessários entre a academia e o serviço, para a formação dos profissionais da saúde.

Como parte de sua missão institucional, o Instituto Aggeu Magalhães (IAM) ofereceu, em 2005, sua primeira turma de Mestrado Profissional (MP). Desde então, foram oferecidas 13 turmas de MP, nas quais foram titulados 188 profissionais (de 2005 a dezembro de 2020). Para titulação, o estudante apresenta uma dissertação ou outro formato de trabalho de conclusão reconhecido pela Capes, prioritariamente de natureza aplicável. Assim, torna-se oportuno entender o quanto e como os produtos gerados reverberaram em benefícios para a população de Pernambuco.

O objetivo deste estudo é analisar o perfil dos egressos do Curso de MP oferecido pelo IAM, com base nos dados fornecidos pela Fiocruz, por meio do Sistema de Acompanhamento de Egressos dos programas de pós-graduação dessa instituição, como parte de uma pesquisa sobre o impacto do curso no fortalecimento do SUS de Pernambuco.

Material e métodos

Trata-se aqui de um estudo transversal e descritivo, com objetivo de delinear o perfil dos egressos do curso de mestrado profissional do IAM. Este estudo parte do trabalho realizado por uma comissão específica da Fiocruz, designada para essa finalidade. Para cumprir com esse objetivo, foi considerado o universo de egressos de todos os programas stricto sensu oferecidos pela instituição nas 15 unidades técnico-científicas que atuam na formação de profissionais para o SUS, no período de 2013 a 20202020 Fundação Oswaldo Cruz, Vice-Presidência de Educação, Informação e Comunicação. Relatório do estudo de egressos, 2013-2019. Rio de Janeiro: Fiocruz; 2020. [acesso em 2023 maio 20]. Disponível em: https://www.arca.fiocruz.br/bitstream/handle/icict/44037/PROGRAMAS%20STRICTO%20GERAL.pdf?sequence=2&isAllowed=y.
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. O propósito do aproveitamento do banco de dados da pesquisa é a utilização de dados e informações já disponíveis, visando fomentar o uso dos achados de estudos realizados. As informações estão disponíveis no CVF2121 Campus Virtual Fiocruz. Rio de Janeiro: Fiocruz; [data desconhecida] [acesso em 2023 maio 24]. Disponível em: https://app.powerbi.com/view?r=eyJrIjoiMmQ0OTRjNTUtOGZlOS00NWQ2-LWEwZDQtZTExMzUzNTcxNmUxIiwidCI6ImJjMzcyMWE2LTgwNjEtNGUxOS1hM2I0LTMxZTIwOTNlMjA5YSJ9.
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Os egressos foram convidados a responder ao questionário em dois momentos: inicialmente, para os egressos titulados entre 2013 e 2019; e, posteriormente, para os titulados entre 1º de julho de 2019 e 31 de julho de 2020. Com base em um universo amostral de 607 pessoas (egressos dos diversos programas stricto sensu modalidade profissional da Fiocruz), foram selecionados os egressos do Curso de Mestrado Profissional em Saúde Pública do IAM sendo convidados para participar do estudo 99 egressos, dos quais 54 responderam ao questionário. O convite foi encaminhado por e-mail, com base na lista de contatos elaborada e disponibilizada pela Secretaria Acadêmica do Programa, para a comissão responsável pelo envio.

Avaliou-se se os respondentes estavam bem distribuídos ao longo dos anos de estudos (2013 a 2020), a fim de evitar distorção nos achados do recorte do estudo para o Curso de MP do IAM. Além disso, constatou-se haver um resultado satisfatório, conforme o quadro 1 abaixo.

Quadro 1
Número de titulados e respondentes por ano

O questionário com 42 questões fechadas foi estruturado em blocos cujos temas contemplaram: identificação do egresso e questões sociodemográficas; identificação do programa/curso (o instrumento foi aplicado para todos os programas da Fiocruz); atuação profissional e expectativa do profissional/estudante após o término do curso; condição de trabalho em que está inserido, na condição de egresso após o processo formativo; e um último bloco referente à avaliação do curso/programa.

Para realização da avaliação do instrumento (pré-teste), a comissão aplicou o questionário em 10% dos egressos de uma determinada Unidade da Fiocruz, escolhida por conveniência2020 Fundação Oswaldo Cruz, Vice-Presidência de Educação, Informação e Comunicação. Relatório do estudo de egressos, 2013-2019. Rio de Janeiro: Fiocruz; 2020. [acesso em 2023 maio 20]. Disponível em: https://www.arca.fiocruz.br/bitstream/handle/icict/44037/PROGRAMAS%20STRICTO%20GERAL.pdf?sequence=2&isAllowed=y.
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. Por se tratar de um instrumento que atendeu a todos os programas, acadêmicos e profissionais, identificou-se a não pertinência de algumas variáveis que não foram consideradas para este estudo por apresentarem aderência aos programas acadêmicos.

O questionário foi aplicado por meio digital, por intermédio do software Lime Survey, de código aberto e utilizado para a elaboração e aplicação de questionários on-line. Os egressos selecionados para pesquisa receberam um link de acesso ao questionário e uma chave de acesso por e-mail. Realizou-se um esforço coletivo de mobilização, com a participação de coordenadores de programa e orientadores, no sentido de estimular a participação dos egressos nesse processo2020 Fundação Oswaldo Cruz, Vice-Presidência de Educação, Informação e Comunicação. Relatório do estudo de egressos, 2013-2019. Rio de Janeiro: Fiocruz; 2020. [acesso em 2023 maio 20]. Disponível em: https://www.arca.fiocruz.br/bitstream/handle/icict/44037/PROGRAMAS%20STRICTO%20GERAL.pdf?sequence=2&isAllowed=y.
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Neste artigo, as seguintes variáveis foram estudadas: sexo; cor da pele autodeclarada; pessoa com deficiência; curso de graduação; instituição em que fez a graduação; estado em que morava antes do curso; ingresso por ação afirmativa (cota); atividade profissional antes de ingressar no curso; local da atividade profissional antes do curso; regime de contratação; expectativa de mobilidade ao concluir o curso; inserção profissional ao término do curso; empregos/trabalhos remunerados; local de exercício dessa(s) atividade(s); regime de contratação; influência na remuneração; atividade profissional relacionada ou não com o curso que concluiu; influência do curso, caso tenha mudado de atividade profissional; efeito do curso na vida profissional; produção científica gerada pelo programa.

O banco de dados foi elaborado com extração de lista simples de variáveis do programa, utilizando-se o software Lime Survey. As análises foram realizadas no Programa SPSS24, por meio de frequências absolutas e relativas e do cruzamento das variáveis descritas acima2020 Fundação Oswaldo Cruz, Vice-Presidência de Educação, Informação e Comunicação. Relatório do estudo de egressos, 2013-2019. Rio de Janeiro: Fiocruz; 2020. [acesso em 2023 maio 20]. Disponível em: https://www.arca.fiocruz.br/bitstream/handle/icict/44037/PROGRAMAS%20STRICTO%20GERAL.pdf?sequence=2&isAllowed=y.
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Os dados utilizados neste estudo são públicos. Dessa forma, não foi necessária a submissão deste ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP). A confidencialidade e a autonomia dos participantes foram preservadas, uma vez que nenhum dado permite identificar os respondentes, respeitando resoluções vigentes do Sistema CEP/Conep.

Resultados

Esta pesquisa analisou o perfil dos egressos que concluíram o Curso de Mestrado Profissional em Saúde Pública do IAM no período entre 2 de janeiro de 2013 a 31 de julho de 2020. Nesse período, 99 estudantes concluíram o curso, dos quais 54 (54,5%) participaram da pesquisa.

O perfil sociodemográfico dos egressos evidencia uma predominância do sexo feminino (85,2%) e da faixa etária de 31 a 40 anos (46,3%). O percentual de 64,8% se autodeclarou de pele preta ou parda, 98,1% informaram não ser pessoa com deficiência, 88% são residentes em Pernambuco e nenhum utilizou o sistema de cotas (tabela 1). A predominância de egressos residentes em Pernambuco sugere uma articulação pela forma como as turmas são oferecidas, ou seja, por demanda, geralmente da Secretaria de Saúde do Estado de Pernambuco ou pelo Ministério da Saúde.

Tabela 1
Perfil dos egressos do Curso de Mestrado Profissional do IAM (n = 54)

Quanto à categoria profissional, o maior percentual foi de profissionais da enfermagem (44,4%), seguido da odontologia (16,7%), e da medicina (9,3%). Outras categorias foram identificadas, a saber: fisioterapia, farmácia, medicina veterinária, nutrição biomedicina, ciências contábeis, fonoaudiologia, psicologia e serviço social, porém, juntas, não ultrapassaram o percentual de 29,6%. As principais instituições públicas de ensino superior do estado de Pernambuco e outras universidades federais da região Nordeste representam as instituições públicas que formaram 83,3% dos egressos respondentes. Apenas 16,7% são formados por instituições de ensino superior privadas localizadas em Pernambuco.

As características da inserção profissional dos egressos anteriormente ao ingresso no curso e suas expectativas de mobilidade ao término do mesmo podem ser observadas na tabela 2. Percebe-se que todos apresentavam algum tipo de vínculo profissional antes de iniciar o curso, assim distribuídos: 55,6% tinham vínculos com Secretarias Municipais de Saúde; 22,2% em Secretarias Estaduais de Saúde; 11,1% na esfera federal e demais vínculos com empresas públicas, privadas e instituições de ensino. O regime jurídico único (50%) prevaleceu no que se refere ao regime de contratação. Na sequência, tem-se o contrato temporário como pessoa física (16,6%), a Consolidação das Leis do Trabalho - CLT (9,3%), o cargo comissionado (3,7%) e o bolsista (1,8%).

Tabela 2
Inserção profissional dos egressos antes do curso (n = 54)

Quanto à expectativa dos egressos em relação à mobilidade, 61,1% expressaram a vontade de permanecer no município onde realizaram o curso; enquanto 33,3% expressavam a vontade de regressar para o município de residência antes da entrada no curso.

Na conclusão do curso, a maioria (79,6%) dos respondentes atuavam em atividades e instituições semelhantes àquelas onde atuavam antes de ingressar no curso, corroborando o papel estratégico do curso de mestrado profissional de resolubilidade de problemas no âmbito do serviço do profissional em formação. Por outro lado, 9,2% dos egressos passaram a trabalhar em outra atividade e em outra instituição após o término do curso. O restante, 5,5%, ‘trabalhava em outra atividade profissional, diferente daquela em que atuava antes de fazer o curso, mas continuou a trabalhar na mesma instituição’, e 5,5% ‘trabalhava na mesma atividade profissional em que atuava antes de fazer o curso, mas foi para outra instituição’.

A tabela 3 representa variáveis mais relacionadas com o impacto do curso na trajetória profissional do egresso, razão pela qual os egressos de 2019 e 2020 não foram convidados a responder esse bloco temático, pois, na ocasião da pesquisa, ainda era exíguo o tempo para que se demonstrasse a influência da formação na vida profissional. Dos respondentes, 97,6% permanecem com emprego/trabalho remunerado, sendo 56,1% com dois a três vínculos; seguidos de 34,2% com apenas um vínculo e de 7,3% com mais de três vínculos. No geral, essas atividades são realizadas no governo municipal (40%), seguido do governo estadual (22,5%) e do governo federal (20%), totalizando aproximadamente 80% nessas três esferas. Os demais vínculos ocorrem em universidades públicas e privadas e nas empresas privadas.

Tabela 3
Inserção profissional dos egressos após conclusão do curso

Com relação ao regime de contratação, o principal vínculo é o regime jurídico único (42,5%), corroborando a inserção dos egressos na esfera municipal. Em uma análise cruzada com o momento de ingresso no curso, sugere-se que não houve alterações significativas com regimes de contratação laboral, o que aponta para uma estabilidade de vínculo entre o início e o término do curso. O impacto se apresenta de forma significativa quando analisado o aumento salarial dos egressos, visto que 45% dos respondentes apontaram algum índice de aumento salarial. Dos que tiveram aumento salarial, 30% relataram que este foi de até 25%.

Quando questionados se a atividade profissional atual está relacionada com o mestrado, 80% dos egressos relatam que as duas estão muito relacionadas, 17,5% consideram que estão razoavelmente relacionadas, e 2,5%, pouco relacionadas com o curso que concluíram. Além disso, 45% dos que mudaram de atividade após ingressar no curso relacionam essa mudança com a conclusão do mestrado.

Quanto ao efeito do curso na vida profissional dos egressos à época, o egresso foi orientado a escolher uma ou mais alternativas contidas no formulário que refletissem sua percepção, o que justifica o fato de o número de respostas ser maior do que o de participantes. Assim, os respondentes afirmaram os efeitos positivos na sua vida profissional com o término do curso, refletidos no aumento do prestígio/reconhecimento dos colegas, no melhor desempenho das atividades que já exerciam, na qualificação para novas atividades e na melhoria da remuneração (gráfico 1).

No que se refere à produção técnico-científica oriunda da formação, destacam-se: apresentação de seus estudos para gestores e/ou trabalhadores e em evento científico, publicação de artigos, entre outras. Entretanto, 11 egressos apontaram que, até o momento da pesquisa, ainda não tiveram produção científica gerada.

Gráfico 1
Impacto da conclusão do curso na vida do egresso

Discussão

No processo de avaliação de programas profissionais na área da saúde coletiva, espera-se encontrar que os egressos tenham qualificado seus processos de trabalho, imbuídos do pensamento crítico e reflexivo, disseminado novos conhecimentos e contribuído para formulação de políticas públicas. Assim, conhecer o impacto da formação na vida profissional dos egressos por meio de processos avaliativos representa importante ferramenta de gestão dos programas, possibilitando reavaliar suas estratégias para obtenção do cumprimento da sua missão educacional88 Moimaz SAS, Saliba O, Garbin CAS, et al. Análise da atuação profissional de egressos da Pós-Graduação em Odontologia na área de Saúde Coletiva. RBPG; 2022 [acesso em 2024 mar 1]; 18(39):1-14. Disponível em: https://rbpg.capes.gov.br/rbpg/article/view/1957.
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, 2222 Desiderio TMP, Ferreira ASSBS. Avaliação de egresso da área da saúde: uma revisão. Rev Bras. Educ. Med. 2022 [acesso em 2024 mar 1]; 46(1):e039. Disponível em: https://doi.org/10.1590/1981-5271v46.1-20210267.
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Nessa linha, Hortale et al.1010 Hortale VA, Leal MC, Moreira COF, et al. Características e limites do mestrado profissional na área da Saúde: estudo com egressos da Fundação Oswaldo Cruz. Ciênc. saúde coletiva. 2010; 15(4):2051-2058. destacam, no contexto da autoavaliação de três cursos profissionais oferecidos pela Fiocruz, a importância da utilização da avaliação de egressos para melhoramento do processo ensino-aprendizagem dos programas e suas consequências para a sociedade.

Os indicadores utilizados apontam o efeito da formação na vida profissional do egresso/gestor visto em múltiplos aspectos, com base nas competências e habilidades adquiridas na construção do conhecimento. Assim, para atender às necessidades emanadas pelo SUS, há de se formar sujeitos capazes de oferecer serviços de qualidade e comprometidos com o pensamento da Reforma Sanitária, no sentido da construção de uma sociedade democrática11 Santos GB. O SUS na perspectiva da formação humana. In: Lopes JAV, organizador. Desafios institucionais da ordem de 1988. Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui Barbosa; 2014. p. 102-19..

Dada a complexidade do SUS, o processo de formação profissional, antes suprido pelos cursos de especialização, não atendia às necessidades ampliadas do sistema de saúde para a população brasileira1616 Goldbaum M. Mestrado profissionalizante em saúde coletiva: cenários possíveis: experiências e desafios profissionais na saúde. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz; 2006., enquanto os programas acadêmicos tinham, na sua essência, a formação de docentes e pesquisadores, independentemente de estarem dentro ou fora do ambiente dos serviços. Nesse momento, como resposta a essa carência de formação, surgiram os MP com o papel de formar profissionais vinculados aos serviços de saúde, voltados para responder aos problemas identificados na sua área de atuação e avaliar o impacto das intervenções aplicadas11 Santos GB. O SUS na perspectiva da formação humana. In: Lopes JAV, organizador. Desafios institucionais da ordem de 1988. Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui Barbosa; 2014. p. 102-19. 77 Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. Ficha de avaliação. Proposta de revisão da ficha utilizada para a avaliação do programa de pós-graduação que é conduzida pela Capes – Co-ordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. Brasília, DF: Capes; 2019. [acesso em 2023 maio 24]. Disponível em: https://www.gov.br/capes/pt-br/centrais-de-conteudo/10062019-fichaavaliacao-pdf.
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, 2323 Teixeira C. Significado estratégico do mestrado profissionalizante na consolidação do campo da saúde coletiva. In: Leal MC, Freitas CM, organizadores. Cenários possíveis: experiências e desafios do mestrado profissional na saúde coletiva. Rio de Janeiro: Fiocruz; 2006. p. 33-48., 2424 Cesse EAP, Veras, MASM. Mestrado Profissional em Saúde Coletiva: uma modalidade de formação para o Sistema Único de Saúde brasileiro. BIS, Bol. Inst. Saúde. 2014; 5:5-12., 2525 Barata RB. Avanços e desafios do mestrado profissionalizante. In: Leal MC, Freitas CM, organizadores. Cenários possíveis: experiências e desafios do mestrado profissional na saúde coletiva. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz; 2006. [acesso em 2023 maio 20]. Disponível em: http://books.scielo.org/id/sp.
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Entende-se que o sistema de saúde requer inovações em processos e produtos para melhoria da gestão, da atenção e do estado de saúde da população2626 Braga C, Albuquerque MFPM, Morais HM. A produção do conhecimento científico e as políticas de saúde pública: reflexões a partir da ocorrência da fila-riose na cidade do Recife, Pernambuco, Brasil. Cad. Saúde Pública. 2004; 20(2):351-361., 2727 Figueiró AC, Hartz Z, Samico I, et al. Usos e influência da avaliação em saúde em dois estudos sobre o Programa Nacional de Controle da Dengue. Cad. Saúde Pública. 2012; 28(11):2095-2105., 2828 Couto PC, Figueiró AC. Avaliação dos usos e influências de pesquisas sobre prevenção e controle da anemia em crianças. Saúde debate. 2019; 43(esp2):101-113.. É para atender a essa necessidade de criar inovações em processos e produtos que a formação de gestores/profissionais da saúde desponta como mola propulsora para a consolidação do SUS. Fazer o estudo da trajetória do egresso visando acompanhar sua vida profissional, os impactos promovidos pela formação e ter um canal aberto e disponível com a instituição formadora possibilita uma troca de informações capaz de compreender e ressignificar o processo de formação, para otimização da relação formação-trabalho.

A predominância do sexo feminino confirma tendências já observadas em outros estudos da área da saúde33 Delgado IF, Andrade CLT, Avanci JQ, et al. Trajetória profissional e impacto da formação em egressos da Especialização da Fiocruz. Ciênc. saúde coletiva. 2023 [acesso em 2023 maio 18]; 28(4):1253-1264. Disponível em: https://www.scielo.br/j/csc/a/3vNgrs953nv7nLbngwxwtdR/?lang=pt.
https://www.scielo.br/j/csc/a/3vNgrs953n...
, 44 Nuto SAS, Vieira-Meyer APGF, Vieira NFC, et al. Programa de Pós-Graduação em Saúde da Família no nordeste brasileiro: repercussões no exercício profissional dos egressos. Ciênc. saúde coletiva. 2021 [acesso em 2023 maio 20]; 26(5):1713-1725. Disponível em: https://www.scielo.br/j/csc/a/tpNKQySkDCJhDbDQpchM9tn/?format=pdf&lang=pt.
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, 55 Engstrom EM, Hortale VA, Moreira COF. Trajetória profissional de egressos de curso de Mestrado Profissional em Atenção Primária à Saúde no Município de Rio de Janeiro, Brasil: estudo avaliativo. Ciênc. saúde coletiva. 2020 [acesso em 2023 maio 20]; 25(4):1269-1280. Disponível em: https://www.scielo.br/j/csc/a/SXVVFsVLHz3zZ83NQXXdZ9Q/?format=pdf&lang
https://www.scielo.br/j/csc/a/SXVVFsVLHz...
, 66 Viniegra RFS, Silva LGP Aguiar AC, et al. Egressos de um Mestrado Profissional em Saúde da Família: expectativas, motivações e contribuições. Rev. Bras. Educ. Med. 2019 [acesso em 2023 maio 21]; 43(4):5-14. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbem/a/VLjbx8tKdFtcJv5xyMP4WRG/?lang=pt.
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, 88 Moimaz SAS, Saliba O, Garbin CAS, et al. Análise da atuação profissional de egressos da Pós-Graduação em Odontologia na área de Saúde Coletiva. RBPG; 2022 [acesso em 2024 mar 1]; 18(39):1-14. Disponível em: https://rbpg.capes.gov.br/rbpg/article/view/1957.
https://rbpg.capes.gov.br/rbpg/article/v...
. Historicamente, ações relacionadas com o cuidado e com a educação fazem parte do universo feminino, em uma analogia às atividades domésticas, colocando tais atuações em uma posição de desprestígio. Nesse contexto, a feminização dos profissionais da área da saúde pode estar intimamente relacionada com o modelo de sociedade patriarcal ainda muito presente no Brasil66 Viniegra RFS, Silva LGP Aguiar AC, et al. Egressos de um Mestrado Profissional em Saúde da Família: expectativas, motivações e contribuições. Rev. Bras. Educ. Med. 2019 [acesso em 2023 maio 21]; 43(4):5-14. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbem/a/VLjbx8tKdFtcJv5xyMP4WRG/?lang=pt.
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, 2929 Estevam HM, Guimarães S. Avaliação do perfil de egressos do Programa de Pós-graduação stricto sensu em Educação da UFU: impacto na formação docente e de pesquisador (2004-2009). Avaliação. 2011; 16(3):703-730..

Com relação à cor da pele autodeclarada, 64,8% dos egressos se declararam pretos ou pardos. Essa predominância chama a atenção e destoa de outras pesquisas. Quando observado o ingresso no curso por ações afirmativas, todos os participantes ingressaram sem a utilização da cota para autodeclarantes (cota racial e cota para pessoas com deficiência). Em uma análise comparativa com outros programas/cursos oferecidos pela Fiocruz, com base nos dados disponibilizados no CVF2121 Campus Virtual Fiocruz. Rio de Janeiro: Fiocruz; [data desconhecida] [acesso em 2023 maio 24]. Disponível em: https://app.powerbi.com/view?r=eyJrIjoiMmQ0OTRjNTUtOGZlOS00NWQ2-LWEwZDQtZTExMzUzNTcxNmUxIiwidCI6ImJjMzcyMWE2LTgwNjEtNGUxOS1hM2I0LTMxZTIwOTNlMjA5YSJ9.
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, há predominância de egressos que se autodeclaram de cor branca, corroborando outros achados33 Delgado IF, Andrade CLT, Avanci JQ, et al. Trajetória profissional e impacto da formação em egressos da Especialização da Fiocruz. Ciênc. saúde coletiva. 2023 [acesso em 2023 maio 18]; 28(4):1253-1264. Disponível em: https://www.scielo.br/j/csc/a/3vNgrs953nv7nLbngwxwtdR/?lang=pt.
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, 3030 Souza PGA, Pôrto ACCA, Souza A, et al. Socio-Economic and Racial profile of Medical Students from a Public University in Rio de Janeiro, Brazil. Rev. Bras. Educ. Med. 2020 [acesso em 2022 maio 22]; 44(3):e090. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbem/a/y8h6fFZnzSTMxBdzBNNC8nd/?format=pdf&lang=en.
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; porém, o índice de egressos que utilizaram a política de ações afirmativas é de menos de 1% dos estudantes, o que pode sugerir que as ações afirmativas precisam ser cada vez mais fortalecidas em nível institucional, como preconiza a Portaria nº 491, de 20 de setembro de 2021, da Presidência da Fiocruz3131 Fundação Oswaldo Cruz. Portaria nº 491, de 20 de setembro de 2021. Regulamenta as ações afirmativas na Fiocruz relativas aos cursos de Pós-graduação Stricto sensu, especialização – Lato sensu e residências em saúde. Rio de Janeiro: Fiocruz; 2021. [acesso em 2023 maio 22]. Disponível em: https://campusvirtual.fiocruz.br/portal/sites/default/files/SEI_FIOCRUZ_Portaria_presidencia_491_2021_21set21.pdf.
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, que versa sobre essa temática.

Ao observar dados que apontam que 88% dos egressos residem no estado de Pernambuco, é possível considerar que isso espelha o processo de interiorização da formação de profissionais. Essa percepção pode ser fortalecida com a observação quanto à expectativa dos egressos em relação à mobilidade, visto que 61,1% expressaram a vontade de permanecer no município onde realizaram o curso; enquanto 33,3% expressaram a vontade de regressar para o município onde moravam antes de ingressar no curso. Possivelmente, esses municípios compõem regiões mais distantes da capital pernambucana, locais onde ocorrem os cursos.

O estudo apontou uma diversidade de formação na graduação, com maior percentual para os profissionais da enfermagem (44,4%). Barata2525 Barata RB. Avanços e desafios do mestrado profissionalizante. In: Leal MC, Freitas CM, organizadores. Cenários possíveis: experiências e desafios do mestrado profissional na saúde coletiva. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz; 2006. [acesso em 2023 maio 20]. Disponível em: http://books.scielo.org/id/sp.
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considera essa diversidade de formações profissionais e experiências de trabalho variadas um nó crítico para o desenvolvimento do curso. Essa diversidade exige habilidade e competência por parte dos docentes na condução do processo de formação, na formulação das atividades acadêmicas cotidianas. A autora, por outro lado, também identifica esse universo de sujeitos com expertises e visões de mundo distintos, um ambiente fértil, propício para troca de saberes2525 Barata RB. Avanços e desafios do mestrado profissionalizante. In: Leal MC, Freitas CM, organizadores. Cenários possíveis: experiências e desafios do mestrado profissional na saúde coletiva. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz; 2006. [acesso em 2023 maio 20]. Disponível em: http://books.scielo.org/id/sp.
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. Nesse sentido, o uso de metodologias ativas se configura como estratégia de ensino-aprendizagem capaz de promover a motivação necessária do discente, pois está baseada na problematização, com utilização de situações reais, que estimulam o pensamento crítico e o debate de ideias. Nesse tipo de metodologia, o docente assume o papel de facilitador do processo de aprendizagem, e o estudante, o de protagonista da construção do seu próprio conhecimento3232 Colares KTP, Oliveira W. Metodologias ativas na formação profissional em saúde: uma revisão. Rev. Sust. 2019 [acesso em 2023 maio 22]; 6(2):300-320. Disponível em: https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/sustinere/article/view/36910.
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, 3333 Silva AN, Senna MAA, Teixeira MCB, et al. O uso de metodologia ativa no campo das Ciências Sociais em saúde: relato de experiência de produção audiovisual por estudantes. Interface (Botucatu). 2020 [acesso em 2023 maio 22]; 24:e190231. Disponível em: https://www.scielo.br/j/icse/a/9F3KQv5NHSwtPHN8qFhD4wr/?format=pdf&lang=pt.
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Fato relevante foi observado com relação à instituição de ensino de origem dos egressos: 83% são oriundos de instituições públicas e, quando analisados os campos de atuação profissional, aproximadamente 80% estão vinculados à esfera pública (municipal, estadual ou federal). Como os cursos profissionais são realizados por demanda, a formação na pós-graduação é financiada por órgãos públicos, logo, com contratos de instituições públicas reconhecidas pela Capes (no caso, a Fiocruz), fechando um ciclo de utilização das políticas públicas para o fortalecimento do SUS.

Com relação à inserção profissional dos egressos, 79,6% relataram que, no final do curso, permaneciam nas atividades laborais e nas mesmas instituições que exerciam antes do curso. Esse indicador foi avaliado como sendo um impacto positivo do curso na vida profissional dos egressos, que está relacionado com a manifestação do desejo dos profissionais da saúde em aprimorarem seus conhecimentos e buscarem ferramentas aplicáveis a soluções de problemas do seu território.

Destacamos o tipo de vínculo dos egressos nas suas instituições. O regime jurídico único prevaleceu, ponto considerado muito positivo, pois a qualificação de servidores aumenta a chance de o conhecimento ser sistematicamente compartilhado nas equipes de trabalho, visto que o profissional tem maior potencialidade de ser agente multiplicador do conhecimento adquirido, quando observada a estabilidade do vínculo trabalhista.

Quando questionados sobre eventuais mudanças relacionadas com o processo de formação, a maioria dos egressos apontou que houve efeito na vida profissional, com destaque para o aumento de prestígio/reconhecimento dos colegas, qualificação para as atividades que já exercia e qualificação para outras atividades diferentes. Essa constatação foi vista de forma positiva, corroborando a necessidade da aprendizagem permanente para profissionais da saúde, já que, nessa área, os processos são dinâmicos, as práticas mudam, os paradigmas são abandonados ou ressignificados, exigindo habilidades e competências para reorientação dos processos de trabalho55 Engstrom EM, Hortale VA, Moreira COF. Trajetória profissional de egressos de curso de Mestrado Profissional em Atenção Primária à Saúde no Município de Rio de Janeiro, Brasil: estudo avaliativo. Ciênc. saúde coletiva. 2020 [acesso em 2023 maio 20]; 25(4):1269-1280. Disponível em: https://www.scielo.br/j/csc/a/SXVVFsVLHz3zZ83NQXXdZ9Q/?format=pdf&lang
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Outros indicadores que apontam a atuação dos egressos para além das atividades laborais e que trazem impacto para o programa estão relacionados com o tipo de produção científica gerada durante ou após a formação, dentre os quais, destacam-se: apresentação do estudo em eventos científicos; publicação de artigos científicos e capítulos de livros; e apresentação do estudo para gestores, com predominância deste último. Isto pode significar um espaço de fala importante no mundo do serviço, com possibilidades de interferências nas tomadas de decisão pelos gestores, fato compreendido como resultado bastante significativo da formação. Em que pese o fato de esses produtos serem relevantes para fomentar o diálogo entre a academia e o serviço, não se pode deixar de destacar a necessidade da produção dos produtos técnicos/tecnológicos, sobretudo os aplicáveis, para a melhoria dos serviços de saúde3434 Porto EF, Pereira EB, Oliveira EZA, et al. Autoavaliação em um mestrado profissional em promoção da saúde: a percepção dos Egressos. RSD. 2023 [acesso em 2024 mar 1]; 12(2):e0312238560. Disponível em: https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/view/38560.
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Conclusões

O presente estudo apresentou resultados de uma pesquisa realizada de forma integrada, no âmbito da Fiocruz, em que os dados referentes a um curso de Mestrado Profissional em Saúde Pública foram extraídos, analisados e discutidos. Trata-se de um estudo que subsidiará uma pesquisa mais ampla, na qual a caracterização do perfil do egresso se configura como uma base importante e necessária.

O curso foi favoravelmente avaliado pelos egressos, que, em sua maioria, permanecem no âmbito do SUS, o que garante o cumprimento de sua proposta pedagógica na formação de sujeitos capazes de promover melhorias em seus ambientes de trabalho e empreender novas práticas que promovam desenvolvimento e fortalecimento do SUS.

Na relação formação-trabalho, o processo formativo promoveu o reconhecimento e a melhoria nas relações de trabalho entre equipes, apontou melhor desempenho nas atividades que os egressos já exerciam e na sua qualificação para novas atribuições. Entende-se esta como uma tríade virtuosa: melhorias nas relações de trabalho, no desempenho nas atividades e a capacidade de absorver novas atribuições com qualidade.

Como limitação, refere-se o pouco tempo de conclusão de curso para os egressos titulados em 2019 e 2020. Para a pesquisa, esse grupo não dispunha do tempo mínimo para uma avaliação adequada sobre o impacto da formação na sua vida profissional.

Com base nos resultados, reafirma-se a importância do acompanhamento de egressos como ferramenta de gestão para docentes e coordenadores de curso, no sentido da busca por um processo político-pedagógico que esteja articulado com necessidades e fortalecimento do SUS.

O processo de formação transpõe os limites de munir os profissionais/estudantes de ferramentas, conceitos, técnicas e produtos aplicáveis ao mundo do trabalho. Ademais, há de se considerar o capital humano na sua plenitude, como sujeitos políticos, com valores éticos que possam contribuir para uma saúde pública que atenda aos anseios da sociedade2222 Desiderio TMP, Ferreira ASSBS. Avaliação de egresso da área da saúde: uma revisão. Rev Bras. Educ. Med. 2022 [acesso em 2024 mar 1]; 46(1):e039. Disponível em: https://doi.org/10.1590/1981-5271v46.1-20210267.
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  • Suporte financeiro: não houve

Referências

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    15 Jul 2024
  • Data do Fascículo
    Apr-Jun 2024

Histórico

  • Recebido
    23 Ago 2023
  • Aceito
    26 Mar 2024
Centro Brasileiro de Estudos de Saúde RJ - Brazil
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