Este número da Revista Ciência e Saúde Coletiva é dedicado à temática Saúde & Ambiente, em função da realização do II Simpósio Brasileiro de Saúde e Ambiente (II SIBSA), organizado pelo Grupo Temático sobre Saúde e Ambiente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), a ser realizado em outubro de 2014, na cidade de Belo Horizonte.
Compartilhar diferentes saberes para a construção de um cenário ambiental e sanitário mais justo é o desafio do II SIBSA, onde movimentos sociais e academia, com clareza ideológica e postura política assumida, discutirão, a partir do tema central Desenvolvimento, Conflitos Territoriais e Saúde: Ciência e Movimentos Sociais para a Justiça Ambiental nas Políticas Públicas, propostas alternativas aos modelos produtivos dominantes atuais.
Estes modelos avançam sobre os ecossistemas, mercantilizam seus bens, geram profunda acumulação desigual de riquezas, enquanto espoliam ambientes, impactam vidas e geram conflitos sociais. Consequências se fazem sentir no processo saúde-doença, com graves implicações sobre o bem estar, o adoecer, a vida e a morte, especialmente, dos grupos sociais mais vulneráveis, tais como indígenas, quilombolas, comunidades tradicionais, camponeses, trabalhadores de baixa renda, moradores das zonas de sacrifício no campo, nas florestas, nas águas e nas cidades.
Outro componente do cenário vigente diz respeito à produção de conhecimento científico. O modelo hegemônico de ciência sofre o mesmo direcionamento mercantilista em que o produtivismo imposto é traduzido por fragmentação de objetos, neles incluídos a natureza, a saúde e a vida. Assim, consideramos importante para a Saúde Coletiva discutir os rumos da tecnociência numa perspectiva alternativa, que contemple a produção compartilhada de conhecimentos, orientados pelas necessidades da sociedade e não pelo mercado.
Finalmente, importa destacar os preceitos dos direitos humanos, da justiça ambiental e das políticas públicas. São temas que devem embasar análises de territorialidade dos coletivos sociais, das consequências da desregulamentação do Estado e da flexibilização do mundo do trabalho, permitindo a discussão de alternativas ao modelo hegemônico e à violência no campo e na cidade a ele associada. O Estado não tem reduzido os conflitos gerados por esse modelo, ou protegido os direitos fundamentais das populações mais atingidas. Pelo contrário: a crise socioambiental, quando reconhecida, busca ser resolvida por instrumentos que não priorizam rupturas com os processos de acumulação ambientalmente desastrosos. O que costuma ocorrer é o estímulo à produção mercantil energética e economicamente mais eficientes.
O II SIBSA será resultado conjunto de movimentos sociais e academia, momento alternativo que, cremos, pode semear as mudanças necessárias.
Gabriel Eduardo Schütz, Ary Carvalho de Miranda, William Waissman
Editores convidados
Datas de Publicação
- Publicação nesta coleção
Out 2014