COVID-19 no estado do Ceará, Brasil: comportamentos e crenças na chegada da pandemia

Danilo Lopes Ferreira Lima Aldo Angelim Dias Renata Sabóia Rabelo Igor Demes da Cruz Samuel Carvalho Costa Flávia Maria Noronha Nigri Jiovanne Rabelo Neri Sobre os autores

Resumo

O objetivo deste estudo foi avaliar os aspectos comportamentais e as crenças da população cearense frente à pandemia de COVID-19. Foi realizado um questionário “on line” sobre aspectos sociodemográficos e crenças relacionados à pandemia. Foram calculadas frequências absoluta e relativa, a associação entre variáveis foi realizada com Qui-quadrado e o nível de significância foi de 5%. A amostra final contou com 2.259 participantes e foi observada associação entre o gênero feminino e se perceber com um alto risco de contaminação (p = 0,044) e o gênero masculino com a não realização voluntária da quarentena (p < 0,001). Pessoas com 80 anos ou mais realizaram quarentena parcialmente devido ao fluxo de pessoas em casa (p < 0,001). Os participantes com o ensino fundamental se perceberam com um risco menor de contaminação que aqueles com grau de escolaridade mais elevado (p < 0,001). Neste grupo estão as pessoas que menos fizeram quarentena voluntária (p < 0,001). Os participantes que moram no interior do estado, tiveram menos contato direto com alguém testado positivamente para o coronavírus (p = 0,031) e estão menos reclusos (p < 0,001). É possível concluir que a abordagem frente à pandemia de COVID-19 varia de acordo com aspectos sociais, como gênero, idade, escolaridade e local de residência, assim como o sistema de crenças da população do estado do Ceará.

Palavras-chave
Pandemias; Coronavírus; Comportamento social

Introdução

Desde o final de dezembro de 2019, um surto de uma nova doença de coronavírus (COVID-19, causada pelo Coronavírus 2 da Síndrome Respiratória Aguda Grave -SARS-CoV-2) foi relatado em Wuhan, China, e posteriormente afetou 26 países em todo o mundo11 Xu Z, Shi L, Wang Y, Zhang J, Huang L, Zhang C, Liu S, Zhao P, Liu H, Zhu L, Tai Y, Bai C, Gao T, Song J, Xia P, Dong J, Zhao J, Wang FS. Pathological findings of COVID-19 associated with acute respiratory distress syndrome. Lancet Respir Med 2020; 18.pii:S2213-2600(20):30076-X.,22 Wu F, Zhao S, Yu B, Chen YM, Wang W, Song ZG, Hu Y, Tao ZW, Tian JH, Pei YY, Yuan ML, Zhang YL, Dai FH, Liu Y, Wang QM, Zheng JJ, Xu L, Holmes EC, Zhang YZ. A new coronavirus associated with human respiratory disease in China. Nature 2020; 579(7798):265-269.. Em geral, a COVID-19 é uma doença respiratória aguda, que apresenta uma taxa de mortalidade de 2%22 Wu F, Zhao S, Yu B, Chen YM, Wang W, Song ZG, Hu Y, Tao ZW, Tian JH, Pei YY, Yuan ML, Zhang YL, Dai FH, Liu Y, Wang QM, Zheng JJ, Xu L, Holmes EC, Zhang YZ. A new coronavirus associated with human respiratory disease in China. Nature 2020; 579(7798):265-269.. O início da doença pode resultar em morte devido a danos alveolares maciços e insuficiência respiratória progressiva11 Xu Z, Shi L, Wang Y, Zhang J, Huang L, Zhang C, Liu S, Zhao P, Liu H, Zhu L, Tai Y, Bai C, Gao T, Song J, Xia P, Dong J, Zhao J, Wang FS. Pathological findings of COVID-19 associated with acute respiratory distress syndrome. Lancet Respir Med 2020; 18.pii:S2213-2600(20):30076-X.

2 Wu F, Zhao S, Yu B, Chen YM, Wang W, Song ZG, Hu Y, Tao ZW, Tian JH, Pei YY, Yuan ML, Zhang YL, Dai FH, Liu Y, Wang QM, Zheng JJ, Xu L, Holmes EC, Zhang YZ. A new coronavirus associated with human respiratory disease in China. Nature 2020; 579(7798):265-269.
-33 Huang C, Wang Y, Li X, Ren L, Zhao J, Hu Y, Zhang L, Fan G, Xu J, Gu X, Cheng Z, Yu T, Xia J, Wei Y, Wu W, Xie X, Yin W, Li H, Liu M, Xiao Y, Gao H, Guo L, Xie J, Wang G, Jiang R, Gao Z, Jin Q, Wang J, Cao B. Clinical features of patients infected with 2019 novel coronavirus in Wuhan, China. Lancet 2020; 95(10223):497-506..

A COVID-19 chegou à América Latina em 25 de fevereiro de 2020, quando o Ministério da Saúde do Brasil confirmou o primeiro caso da doença, um homem brasileiro, de 61 anos, que viajou de 9 a 20 de fevereiro de 2020 para a Lombardia, norte da Itália, onde está ocorrendo um surto significativo44 Rodriguez-Morales AJ, Gallego V, Escalera-Antezana JP, Méndez CA, Zambrano LI, Franco-Paredes C, Suárez JA, Rodriguez-Enciso HD, Balbin-Ramon GJ, Savio-Larriera E, Risquez A, Cimerman S. COVID-19 in Latin America: The implications of the first confirmed case in Brazil. Travel Med Infect Dis 2020; 29:101613.. Até o dia 26.03.2020, o Brasil já tinha 2.915 casos confirmados da COVID-19 e 77 óbitos, de acordo com os dados oficiais do Ministério da Saúde55 Brasil. Ministério da Saúde (MS). Ministério da Saúde declara transmissão comunitária nacional. Brasília: MS; 2020. [acessado 2020 Mar 22]. Disponível em: https://www.saude.gov.br/noticias/agencia-saude/ 46568-ministerio-da-saude-declara-transmissao-comunitaria-nacional
https://www.saude.gov.br/noticias/agenci...
. Enquanto isso, ocorria, no Mundo, um incremento no número de casos e mortes, chegando a 526.006 pessoas contaminadas com 23.720 óbitos66 Worldometer. Real time world statistics. [acessado 2020 Mar 22]. Disponível em: https://www.worldometers.info/coronavirus/
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.

O Governo do estado do Ceará, através de um decreto estadual com efeito a partir do dia 20.03.202077 Governo do Estado do Ceará. Decreto nº 33.519, de 19 de março de 2020. Intensifica as medidas para enfrentamento da infecção humana pelo novo coronavírus. Diário Oficial do Estado do Ceará 2020; 19 mar., determinou medidas mais duras visando conter a propagação da COVID-19 que, naquele momento, contava com 20 casos notificados, sendo o estado da Região Nordeste com maior número de pacientes infectados e o quarto lugar dentre todos os estados brasileiros55 Brasil. Ministério da Saúde (MS). Ministério da Saúde declara transmissão comunitária nacional. Brasília: MS; 2020. [acessado 2020 Mar 22]. Disponível em: https://www.saude.gov.br/noticias/agencia-saude/ 46568-ministerio-da-saude-declara-transmissao-comunitaria-nacional
https://www.saude.gov.br/noticias/agenci...
. Em 26.03.2020, os casos positivados para a Covid-19 subiram para 235 pessoas, com 3 mortes, passando o estado a ocupar a terceira posição no país55 Brasil. Ministério da Saúde (MS). Ministério da Saúde declara transmissão comunitária nacional. Brasília: MS; 2020. [acessado 2020 Mar 22]. Disponível em: https://www.saude.gov.br/noticias/agencia-saude/ 46568-ministerio-da-saude-declara-transmissao-comunitaria-nacional
https://www.saude.gov.br/noticias/agenci...
. A elevada taxa de disseminação da COVID-19 tem despertado a curiosidade da comunidade científica, uma vez que um dos fatores mais importantes na avaliação do perigo representado por uma epidemia de doença infecciosa é a transmissibilidade dos patógenos88 Lodge EK, Schatz AM, Drake JM. Protective Population Behavior Change in Outbreaks of Emerging Infectious Disease. bioRxiv 2020; 01.27.921536..

Muitos fatores podem afetar a rapidez com que práticas eficazes de controle de doenças são implementadas, como campanhas de informação, práticas locais de saúde, comportamento social e sistema de crenças99 Freimuth V, Linnan HW, Potter P. Communicating the threat of emerging infections to the public. Emerg Infect Dis 2000; 6(4):337-347.,1010 Feigenbaum JJ, Muller C, Wrigley-Field E. Regional and Racial Inequality in Infectious Disease Mortality in U.S. Cities, 1900-1948. Demography 2019; 56(4):1371-1388.. A transmissão de pessoa para pessoa ocorre principalmente pelo contato direto ou por gotículas espalhadas pela tosse ou espirro de um indivíduo infectado1111 Rothan HA, Byrareddy SN. The epidemiology and pathogenesis of coronavirus disease (COVID-19) outbreak. J Autoimmun 2020; 26:102433.. Sendo assim, o combate à disseminação da COVID-19 preconiza lavar as mãos frequentemente, evitar abraços, beijos e apertos de mãos e adotar medidas de afastamento social, como quarentena1212 Lai CC, Shih TP, Ko WC, Tang HJ, Hsueh PR. Severe acute respiratory syndrome coronavirus 2 (SARS-CoV-2) and coronavirus disease-2019 (COVID-19):The epidemic and the challenges. Int J Antimicrob Agents 2020; 55(3):105924..

Embora, o Ceará seja acometido regularmente por endemias como Dengue1313 Vasconcelos PFC, Lima JWO, Rosa APAT, Timbó MJ, Rosa EST, Lima HR, Rodrigues SG, Rosa JFST. Epidemia de dengue em Fortaleza, Ceará: inquérito soro-epidemiológico aleatório. Rev Saude Publica 1998, 32(5):447-454.,1414 Oliveira RMAB, Araújo FMC, Cavalcanti LPG. Aspectos entomológicos e epidemiológicos das epidemias de dengue em Fortaleza, Ceará, 2001-2012. Epidemiol Serv Saúde 2018; 27(1):e201704414., Chikungunya1515 Campos RKGG, Vieira RC, Maniva SJFC, Morais ICO. Manejo clínico da suspeita de febre de chikungunya: conhecimento de profissionais de saúde da atenção básica. Rev Fun Care Online 2020; 12(1):236-241. e Zika1616 Duarte NFH, Alencar CH, Cavalcante KKS, Correia FGS, Romijn PC, Araujo DB, Favoretto SR, Heukelbach J. Increased detection of rabies virus in bats in Ceará State (Northeast Brazil) after implementation of a passive surveillance programme. Zoonoses Public Health 2020; 67(2):186-192., além de relatos históricos de epidemias1717 Reis NRB. Rodolfo Teófilo e a luta contra a varíola no Ceará, 1905. Hist Cienc Saude-Manguinhos 2001; 8(1):286-289., as características de contágio e as medidas de controle de disseminação são profundamente diferentes da COVID-1911 Xu Z, Shi L, Wang Y, Zhang J, Huang L, Zhang C, Liu S, Zhao P, Liu H, Zhu L, Tai Y, Bai C, Gao T, Song J, Xia P, Dong J, Zhao J, Wang FS. Pathological findings of COVID-19 associated with acute respiratory distress syndrome. Lancet Respir Med 2020; 18.pii:S2213-2600(20):30076-X.. Entender como retardar e controlar a disseminação de patógenos é uma prioridade na previsão e prevenção de epidemias de doenças infecciosas88 Lodge EK, Schatz AM, Drake JM. Protective Population Behavior Change in Outbreaks of Emerging Infectious Disease. bioRxiv 2020; 01.27.921536.. Desta forma, o presente estudo teve como objetivo avaliar os aspectos comportamentais e as crenças da população cearense frente à pandemia de COVID-19.

Métodos

O presente estudo transversal trata-se de uma pesquisa do tipo de opinião sem identificação dos participantes, obedecendo às normas das Resoluções CNS/MS 466/121818 Brasil. Ministério da Saúde (MS). Conselho Nacional de Saúde. Resolução nº 466, de 12 de dezembro de 2012. Diário Oficial da União 2013; 13 jun. e 510/161919 Brasil. Ministério da Saúde (MS). Conselho Nacional de Saúde. Resolução nº 510, de 7 de abril de 2016. Diário Oficial da União 2016; 24 maio.,2020 Guerreiro ICZ. Resolução nº 510 de 7 de abril de 2016 que trata das especificidades éticas das pesquisas nas ciências humanas e sociais e de outras que utilizam metodologias próprias dessas áreas. Cien Saude Colet 2016; 21(8):2619-2629.. Foi realizado com residentes no estado do Ceará, com 18 anos ou mais, capazes de responder através de computadores ou smartphones todos os questionamentos. Questionários parcialmente respondidos foram excluídos do estudo.

Foi realizado um questionário on line através do Formulários Google® e utilizadas as redes sociais, de forma pública, Instagram@, Facebook@ e Whatsapp@ como disseminadores do mesmo. O instrumento ficou disponível durante as 24 horas que antecederam à ordem governamental de fechamento de todos os estabelecimentos que não fossem de utilidade pública e que a população permanecesse em regime de quarentena em seus domicílios. Desta forma, a coleta de dados ocorreu no dia 19 de março de 2020. A necessidade da observação imediata da população ocorreu devido a possíveis mudanças de crenças decorrentes do período de confinamento, já que alguns realizavam quarentenas voluntárias.

Coleta de dados

O questionário foi construído a partir de perguntas fechadas contendo aspectos sociodemográficos e 12 perguntas versando sobre crenças a respeito da pandemia. Foram investigados: gênero (feminino, masculino, transgênero feminino, transgênero masculino), faixa etária (18/19 anos, 20-39 anos; 40-59 anos; 60-79 anos; 80 anos ou mais), local de residência (Região Metropolitana de Fortaleza-RMF, interior do estado do Ceará), estado civil (casado, separado/divorciado, solteiro, viúvo), nível de escolaridade (fundamental completo/incompleto, médio completo/incompleto, superior completo/incompleto, pós-graduado completo/incompleto), área de atuação (comércio, educação, estudante, desempregado, gestão/jurídica/humanas, indústria, saúde, tecnologia, outra área não citada)

As perguntas realizadas foram: P1- Você considera a sua área de atuação para o contágio com o Coronavírus em qual nível? (alto, médio, baixo); P2- Você está em contato direto com alguém que testou positivo para o coronavírus? (sim, não); P3- Você está em quarentena? (não estou; estou em quarentena parcial, saio às vezes de casa; estou em quarentena parcial, mas recebo pessoas como faxineiras, cuidadores etc.; estou totalmente recluso; P4- Sobre a quarentena, você segue as informações que recebe: (de órgãos oficiais do governo; do que vejo nas mídias sociais; de líderes religiosos; de profissionais de saúde próximos; de amigo ou familiares; P5- Você crê que a contaminação no Brasil: (será menor que no restante dos países mais afetados, será semelhante aos países mais afetados, será maior que no restante dos países mais afetados); P6- Você crê que a contaminação no Ceará: (será menor que no restante do Brasil, será semelhante ao restante do Brasil, será maior que no restante do Brasil); P7- Você crê que a contaminação em Fortaleza: (será menor que nas outras capitais brasileiras, será semelhante às outras capitais brasileiras, será maior que nas outras capitais brasileiras); P8- Você crê que temos alguma proteção ao vírus diferente de outros lugares? (sim, não); P9- Você crê que nosso clima quente favorecerá a diminuição da pandemia no estado do Ceará? (sim, não); P10- Você crê que as constantes viroses às quais nos submetemos favorecerá a diminuição da pandemia no estado do Ceará? (sim, não); P11- Você crê que as constantes viroses às quais nos submetemos favorecerá a uma ação mais fraca do coronavírus? (sim, não); P12- Você crê que a convivência com condições sanitárias ruins por nossa população mais pobre favorecerá a sua contaminação em que nível? (maior que na população de alta renda, menor que na população de alta renda, todos serão igualmente contaminados).

Análise estatística

Os dados foram tabulados em planilha de Excel e analisados por meio do software SPSS versão 24.0®. Foram calculadas frequências absoluta e relativa de todas as variáveis do estudo. A associação entre variáveis foi verificada por meio do teste Qui-quadrado. Foi adotado um nível de significância de 5% para os procedimentos inferenciais.

Resultados

Um total de 2.364 pessoas respondeu ao questionário. Entretanto, ao excluir aqueles questionários incompletos a amostra final contou com 2.259 participantes. Destes, a maioria era do sexo feminino (68,1%). Os solteiros (49%), na faixa etária de 20-39 anos (61,6%), com ensino superior completo ou incompleto (47,3%), com atuação na área da saúde (29,5%) e com residência fixada na Região Metropolitana de Fortaleza (80,4%) foram prevalentes.

Com relação às perguntas realizadas com o grupo total, 61,4% consideravam alto o risco de contágio pelo coronavírus na sua área de atuação; 98,1% não tiveram contato direto com alguém que testou positivo para o coronavírus; 52,5% estavam em quarentena parcial, saindo às vezes de casa e 65,8% seguiam as informações de órgãos oficiais do governo.

Com relação à contaminação com o coronavírus no Brasil, 43,4% acreditavam que será semelhante aos países mais afetados do mundo. Do mesmo modo, consideraram semelhante na comparação do Ceará com outros estados brasileiros (53,6%) e a contaminação de Fortaleza quando comparada a outras capitais brasileiras (59,9%).

Um total de 79,2% dos entrevistados não crê que temos alguma proteção ao vírus diferente de outros lugares. Em relação ao clima quente local favorecer a diminuição da pandemia, 57,3% não acreditam nessa proteção. Igualmente não aceitam a suposição de que as constantes viroses às quais nos submetemos favorecerá a diminuição da pandemia no estado (84,5%), nem que tais viroses favoreçam a uma ação mais fraca do coronavírus (82,4%). Já no tocante à convivência com condições sanitárias ruins por parte da população mais pobre, 60,5% afirmaram a crença de que sua contaminação será mais alta que na população de alta renda.

Quando as perguntas realizadas tiveram suas respostas comparadas entre os gêneros masculino e feminino foi observada associação do gênero feminino com se perceber em alto risco de contaminação (p = 0,044) e o gênero masculino com a não realização voluntária da quarentena (p < 0,001). Quando comparadas aos homens, mulheres não crêem que: temos alguma proteção ao vírus diferente de outros lugares (p = 0,013); nosso clima quente favorecerá a diminuição da pandemia no estado do Ceará (p < 0,001), as constantes viroses às quais nos submetemos favorecerá a diminuição da pandemia no estado do Ceará (p = 0,014) e ainda não acreditam que as constantes viroses às quais nos submetemos favorecerão a uma ação mais fraca do coronavírus (p < 0,001) (Tabela 1).

Tabela 1
Associação entre as respostas do questionário com o gênero dos participantes.

Com relação às respostas e sua relação com as faixas etárias propostas no estudo, observou-se que pessoas com 80 anos ou mais consideram que o que fazem tem risco médio de contaminação com a COVID-19 enquanto que o grupo entre 20-39 anos considera-o alto (p < 0,001). Este mesmo grupo com 80 anos ou mais é o que tem sua quarentena parcialmente realizada por causa do fluxo de pessoas em casa (p < 0,001) e cujas informações são menos concentradas como em todos os outros grupos, pois ouvem bastante os profissionais de saúde aos quais mantêm vínculos (p = 0,008). Para estes, existe a crença de que a pandemia será menor no Brasil que no resto dos países mais afetados (p < 0,001), que temos proteção ao vírus diferente de outros lugares (p = 0,002), que o clima do Ceará favorecerá a diminuição da pandemia no estado (p < 0,001) e que condições sanitárias ruins levará a população mais pobre a um nível de contaminação maior que na população de alta renda (p = 0,042) (Tabela 2).

Tabela 2
Associação entre as respostas do questionário com a faixa etária dos participantes.

Na associação entre as respostas do questionário e o nível de escolaridade, os participantes com o ensino fundamental consideraram que estão em um nível de risco menos alto que os participantes com grau de escolaridade mais elevado (p < 0,001). Neste grupo estão as pessoas que menos fizeram quarentena voluntária (p < 0,001) e recebem informações principalmente das mídias sociais (p < 0,001). Também os que possuem ensino fundamental acreditam que a contaminação no Brasil será menor que no restante dos países mais afetados (p < 0,001), assim como no Ceará será menor que em outros estados (p < 0,001) e Fortaleza será menor que em outras capitais (p < 0,001). Aqueles com pós-graduação consideram não ter proteção alguma contra o vírus diferente de outros lugares (p < 0,001), nosso clima não favorecerá a diminuição da pandemia no estado (p < 0,001), as constantes viroses que nos atingem não favorecerão a diminuição da pandemia no Ceará (p < 0,001) e nem a uma ação mais fraca do coronavírus (p < 0,001). As pessoas com ensino fundamental também crêem que a situação sanitária em que vive a maioria da população mais pobre fará com que a contaminação pela COVID-19 seja menor que na população de alta renda (Tabela 3).

Tabela 3
Associação entre as respostas do questionário com o nível de escolaridade dos participantes.

Tendo em vista a associação entre as respostas dos participantes com o local de residência, aqueles que moram no interior do estado tiveram menos contato direto com alguém testado positivamente para o coronavírus (p = 0,031), estão menos totalmente reclusos (p < 0,001) e procuram mais as mídias sociais para receberem informações (p = 0,009). Eles também acreditam que a contaminação no Ceará será menor que no restante do país (p < 0,001), que nosso clima é fator positivo contra o aumento de casos (p = 0,049) e que as constantes viroses que ocorrem no estado favorecerão a diminuição da pandemia (p = 0,033) quando comparados àqueles que moram na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF).

Discussão

Iniciada na cidade de Wuhan, na Província de Hubei, localizada no sudeste da China, a COVID-19 teve seus primeiros pacientes diagnosticados em novembro de 2019 e, cedo, espalhou-se pelo resto do país2121 World Health Organization (WHO). Report of the WHO-China Joint Mission on Coronavirus Disease 2019 (COVID-19). [acessado 2020 Mar 22]. Disponível em: https://www.who.int/docs/default-source/coronaviruse/who-china-joint-mission-on-covid-19-final-report.pdf.
https://www.who.int/docs/default-source/...
. Logo, países próximos e que recebem grande quantidade de viajantes oriundos da China, como Japão e Coreia do Sul, apresentaram seus primeiros casos. Contudo, a propagação maior deu-se de leste para oeste, atingindo países asiáticos e, posteriormente, os europeus2222 Zhuang Z, Zhao S, Lin Q, Cao P, Lou Y, Yang L, He D. Preliminary estimation of the novel coronavirus disease (COVID-19) cases in Iran: A modelling analysis based on overseas cases and air travel data. Int J Infect Dis 2020; 11(1):1-9..

A separação oceânica do continente americano atrasou mais o contágio, embora os Estados Unidos tenham começado logo a notificar a presença da COVID-19 dada a quantidade de viajantes que recebem, tendo sido essa a forma inicial de contágio2323 American College Health Association (ACHA). Guidelines. Preparing for COVID-19. [acessado 2020 Mar 22]. Disponível em: https://www.acha.org/documents/resources/guidelines/ACHA_Preparing_for_COVID-19_March-3-2020.pdf
https://www.acha.org/documents/resources...
. No Brasil, o contágio aconteceu igualmente, tendo a cidade de São Paulo registrado o primeiro caso da América Latina44 Rodriguez-Morales AJ, Gallego V, Escalera-Antezana JP, Méndez CA, Zambrano LI, Franco-Paredes C, Suárez JA, Rodriguez-Enciso HD, Balbin-Ramon GJ, Savio-Larriera E, Risquez A, Cimerman S. COVID-19 in Latin America: The implications of the first confirmed case in Brazil. Travel Med Infect Dis 2020; 29:101613.. Enquanto a pandemia se alastrava, ficava evidente que as medidas de contenção a serem tomadas eram retardadas. A pandemia de influenza A (H1N1), em 2009, já havia demonstrado a existência de várias lacunas na capacidade de resposta global às emergências em saúde pública2424 Fineberg HV. Pandemic preparedness and response--lessons from the H1N1 influenza of 2009. N Engl J Med 2014; 370(14):1335-1342.. No estado do Ceará, cuja capital é das que mais recebe turistas no Brasil, inclusive muitos estrangeiros, a espera por medidas governamentais de mitigação do contágio pela COVID-19 ocorreu em meio a comportamentos e crenças.

O comportamento comunitário é um dos fatores cruciais para evitar a elevação do número de casos e de mortes por infecções virais88 Lodge EK, Schatz AM, Drake JM. Protective Population Behavior Change in Outbreaks of Emerging Infectious Disease. bioRxiv 2020; 01.27.921536.,2525 Lemos DRQ, Neto RJP, Perdigão ACB, Guedes IF, Araújo FMC, Ferreira GE, Oliveira FR, Cavalcanti LPG. Fatores de risco associados à gravidade e óbitos por influenza durante a Pandemia de Influenza A (H1N1) 2009 em região tropical/semi-árida do Brasil. J Health Biol Sci 2015; 3(2):77-85.. A Coreia do Sul e o Japão já haviam mostrado uma curva achatada de progressão da doença através de medidas restritivas2626 World Health Organization (WHO). Situation report - 63. Coronavirus disease 2019 (COVID-19). 23 March 2020. [acessado 2020 Mar 22]. Disponível em: https://www.who.int/docs/default-source/coronaviruse/situation-reports/20200323-sitrep-63-covid-19.pdf?sfvrsn = d97cb6dd_2
https://www.who.int/docs/default-source/...
,2727 Day M. Covid-19: Italy confirms 11 deaths as cases spread from north. BMJ 2020; 368:m757.. Já Irã e Itália, que tardaram a tomar essas medidas ou tiveram dificuldade no controle da população em obedecê-las, começaram a contabilizar muitos doentes e/ou mortos2626 World Health Organization (WHO). Situation report - 63. Coronavirus disease 2019 (COVID-19). 23 March 2020. [acessado 2020 Mar 22]. Disponível em: https://www.who.int/docs/default-source/coronaviruse/situation-reports/20200323-sitrep-63-covid-19.pdf?sfvrsn = d97cb6dd_2
https://www.who.int/docs/default-source/...
,2727 Day M. Covid-19: Italy confirms 11 deaths as cases spread from north. BMJ 2020; 368:m757.. Entretanto, a modificação do comportamento depende do contexto e é difícil de prever devido às características sociais, diferenças socioeconômicas e comportamentais entre as populações88 Lodge EK, Schatz AM, Drake JM. Protective Population Behavior Change in Outbreaks of Emerging Infectious Disease. bioRxiv 2020; 01.27.921536.,2828 Bauch CT, Galvani AP. Social Factors in Epidemiology. Science 2013; 342(4):47-49.. Diferente dos países europeus e asiáticos, o Brasil tem pouca experiência com catástrofes e calamidades não existindo a cultura local de prevenção dessas situações. Somente na Segunda Guerra Mundial foi criado um órgão responsável pela proteção civil e que atuasse em emergências e calamidade pública, a Defesa Civil, que tem sido ativa em situações pontuais desde então2929 Weintraub ACAM, Noal DS, Vicente LN, Knobloch F. Atuação do psicólogo em situações de desastre: reflexões a partir da práxis. Interface (Botucatu) 2015; 19(53):287-297..

A grande responsabilidade da comunidade em conter a progressão da pandemia estava no fato de que muitos Sistemas de Saúde poderiam colapsar, como de fato ocorreu em alguns países. Em estudo com 182 países, constatou-se que 33% tinham baixa capacidade de responder a um evento de saúde pública e 24% possuíam pouca capacidade funcional disponível, mesmo com o apoio de recursos vindos de outros lugares. Entre esses eventos incluem-se as doenças infecciosas3030 Kandel N, Chungong S, Omaar A, Xing J. Health security capacities in the context of COVID-19 outbreak: an analysis of International Health Regulations annual report data from 182 countries. Lancet 2020; 395(10229):1047-1053..

No presente estudo, o gênero feminino acreditou ter um alto risco de contaminação por coronavírus (Tabela 1), fato explicado devido ao maior senso de autocuidado das mulheres3131 Gomes R, Nascimento EF, Araújo FC. Por que os homens buscam menos os serviços de saúde do que as mulheres? As explicações de homens com baixa escolaridade e homens com ensino superior. Cad Saude Publica 2007; 23(3):565-574.. Adicionalmente, a maior percepção de maior risco de contaminação pela COVID-19 pelas mulheres, talvez, seja devido ao fato do estudo ter incluído muitos profissionais de saúde, que estão sob maior risco, pois no setor saúde a mão de obra é predominantemente feminina. Entretanto, a contaminação por COVID-19 parece ter uma predileção por sexo3232 Chen N, Zhou M, Dong X, Qu J, Gong F, Han Y, Qiu Y, Wang J, Liu Y, Wei Y, Xia J, Yu T, Zhang X, Zhang L. Epidemiological and clinical characteristics of 99 cases of 2019 novel coronavirus pneumonia in Wuhan, China: a descriptive study. Lancet 2020; 395(10223):507-513.,3333 Cheng ZJ, Shan J. 2019 Novel coronavirus: where we are and what we know. Infection 2020; 48:155-163.. De acordo com Chen et al.3232 Chen N, Zhou M, Dong X, Qu J, Gong F, Han Y, Qiu Y, Wang J, Liu Y, Wei Y, Xia J, Yu T, Zhang X, Zhang L. Epidemiological and clinical characteristics of 99 cases of 2019 novel coronavirus pneumonia in Wuhan, China: a descriptive study. Lancet 2020; 395(10223):507-513., foi observado que um número maior de homens foi contaminado por COVID-19 do que mulheres. Em epidemias anteriores de SARS e MERS, os homens também eram mais propensos a serem infectados do que as mulheres. Isso pode ter a ver com o importante papel que os cromossomos X da mulher e os hormônios sexuais desempenham no sistema imunológico do corpo3434 Jaillon S, Berthenet K, Garlanda C. Sexual dimorphism in innate immunity. Clin Rev Allergy Immunol 2019; 56(3):308-321.. Embora mais susceptíveis à contaminação por coronavírus, os participantes do gênero masculino foram mais negligentes e não realizaram quarentena de forma voluntária (Tabela 1). No imaginário social, o homem se vê como um ser invulnerável, o que contribui para que se cuide menos e se exponha mais a situações de risco3131 Gomes R, Nascimento EF, Araújo FC. Por que os homens buscam menos os serviços de saúde do que as mulheres? As explicações de homens com baixa escolaridade e homens com ensino superior. Cad Saude Publica 2007; 23(3):565-574..

As pandemias já causaram graves danos durante toda a História. Nos últimos três séculos ocorreram pelo menos dez grandes pandemias, que em poucas semanas, causaram grande impacto na morbimortalidade, afetando principalmente crianças e adultos jovens e provocando situações de ruptura social. A cidade de Fortaleza chegou a ter mil mortos em um só dia na epidemia de varíola ocorrida em 18681717 Reis NRB. Rodolfo Teófilo e a luta contra a varíola no Ceará, 1905. Hist Cienc Saude-Manguinhos 2001; 8(1):286-289.,3535 Brasil. Ministério da Saúde (MS). Grupo Executivo Interministerial. Plano de Contingência do Brasil para o enfrentamento de uma Pandemia de Influenza. Versão Preliminar - Parte I. Brasília: MS; 2005.. Pessoas de todas as idades podem ser infectadas por coronavírus3333 Cheng ZJ, Shan J. 2019 Novel coronavirus: where we are and what we know. Infection 2020; 48:155-163.. No presente estudo, o grupo entre 20-39 anos considerou ter um alto risco de contaminação (Tabela 2). Aproximadamente, 72% dos casos confirmados de infecção por COVID-19 têm idade igual ou superior a 40 anos3333 Cheng ZJ, Shan J. 2019 Novel coronavirus: where we are and what we know. Infection 2020; 48:155-163.. Adicionalmente, idosos são considerados um fator de preocupação para a contaminação com COVID-19, uma vez que o aumento da idade está associado à morte3636 Zhou F, Yu T, Du R, Fan G, Liu Y, Liu Z, Xiang J, Wang Y, Song B, Gu X, Guan L, Wei Y, Li H, Wu X, Xu J, Tu S, Zhang Y, Chen H, Cao B. Clinical course and risk factors for mortality of adult inpatients with COVID-19 in Wuhan, China: a retrospective cohort study. Lancet 2020; pii:S0140-6736(20)30566-3.. Para os participantes do estudo com 80 anos ou mais o seu sistema de crenças favorece um comportamento negligente, pois acreditam ter risco médio de contaminação, acham que a pandemia será menor no Brasil e que temos uma proteção maior para a COVID-19 (Tabela 2). Este grupo também relatou que sua quarentena é parcialmente realizada por causa do fluxo de pessoas em casa, fato que pode ser explicado devido ao vínculo geracional encontrado nas famílias brasileiras, onde há uma proteção aos idosos3737 Inouye K, Barham EJ, Pedrazzani ES, Pavarini SCI. Percepções de suporte familiar e qualidade de vida entre idosos segundo a vulnerabilidade Social Psicol Reflex Crit 2010; 23(3):582-592., além da figura do cuidador presente, principalmente na última década3838 Araújo JS, Vidal GM, Brito FN, Golçalves DCA, Leite DKM, Dutra CDT, Pires CAA. Perfil dos cuidadores e as dificuldades enfrentadas no cuidado ao idoso, em Ananindeua, PA. Rev Bras Geriatr Gerontol 2013; 16(1):149-158.. Portanto, os dados indicam uma maior vulnerabilidade dos participantes idosos do estado do Ceará à contaminação por COVID-19 devido aos aspectos sociais e comportamentais. A principal limitação deste estudo é ter sido feito em amostra de conveniência, o que limita a generalização externa dos achados.

O nível de escolaridade pode ser considerado um fator de risco para a disseminação de doenças infecciosas virais e para a evolução ao óbito2525 Lemos DRQ, Neto RJP, Perdigão ACB, Guedes IF, Araújo FMC, Ferreira GE, Oliveira FR, Cavalcanti LPG. Fatores de risco associados à gravidade e óbitos por influenza durante a Pandemia de Influenza A (H1N1) 2009 em região tropical/semi-árida do Brasil. J Health Biol Sci 2015; 3(2):77-85.,3939 Lenzi L, Wiens A, Grochocki MH, Pontarolo R. Study of the relationship between socio-demographic characteristics and new influenza A (H1N1). Braz J Infect Dis 2011; 15(5):457-461.. No presente estudo, os participantes com o ensino fundamental consideraram que estão em um nível de risco menos alto que os participantes com grau de escolaridade mais elevado e fizeram menos quarentena voluntária (Tabela 3). Entretanto, o que se observa nas pesquisas é que o nível de escolaridade e a gravidade da doença pode estar associada à classe social do indivíduo, sugerindo que os hábitos, as condições de vida e o conhecimento sobre a doença influenciam no prognóstico2525 Lemos DRQ, Neto RJP, Perdigão ACB, Guedes IF, Araújo FMC, Ferreira GE, Oliveira FR, Cavalcanti LPG. Fatores de risco associados à gravidade e óbitos por influenza durante a Pandemia de Influenza A (H1N1) 2009 em região tropical/semi-árida do Brasil. J Health Biol Sci 2015; 3(2):77-85.,3939 Lenzi L, Wiens A, Grochocki MH, Pontarolo R. Study of the relationship between socio-demographic characteristics and new influenza A (H1N1). Braz J Infect Dis 2011; 15(5):457-461.. Desta forma, indivíduos com escolaridade mais baixa estariam mais propensos a contrair a infecção, pois utilizam o transporte público, moram e frequentam locais com maior número de indivíduos e têm menos acesso a recursos médicos. Entre outros fatores, eles teriam menos recursos para adotar medidas preventivas, como o uso de álcool em gel para higienização das mãos, bem como medidas terapêuticas, como o uso de medicamentos paliativos, predispondo esses indivíduos à morte por infecção3939 Lenzi L, Wiens A, Grochocki MH, Pontarolo R. Study of the relationship between socio-demographic characteristics and new influenza A (H1N1). Braz J Infect Dis 2011; 15(5):457-461..

A chegada do coronavírus no Brasil deu-se através de pessoas que estiveram no exterior e iniciou-se pelas grandes capitais, dessa forma era de se esperar no momento em que o questionário fosse aplicado que aqueles que moram na RMF tivessem mais chances de contato direto com alguém testado positivamente para o coronavírus comparados aos que moram no interior (p = 0,031). Isso faz também com que estes estejam menos reclusos (p < 0,001). Mesmo tendo um alto nível de escolaridade (85,1% com nível superior e pós-graduação), pessoas que vivem fora de grandes centros tendem a estarem mais próximas. Segundo Vargas4040 Vargas MA. Moradia e pertencimento: a defesa do Lugar de viver e morar por grupos sociais em processo de vulnerabilização. Cad Metrop 2016; 18(36):535-557., uma vida mais interiorana e fora de grandes centros urbanos proporciona uma maior teia de suporte social, ajudando na sobrevivência, suprindo a própria ausência do estado nas suas muitas necessidades. Tal situação cria vínculos que podem tornar a distância e o isolamento mais difíceis. Provavelmente, esses vínculos e a ligação social mais próxima em cidades do interior sirvam de fortalecimento de determinadas crenças presentes na Tabela 4.

Tabela 4
Associação entre as respostas do questionário com o local de residência dos participantes.

Conclusão

É possível concluir que a aproximação da pandemia de COVID-19 no estado do Ceará gerou diferenças significativas de crenças quando comparados gênero, idade, escolaridade e local de residência. O sistema de crenças e comportamentos locais demonstrou que homens, pessoas com baixa escolaridade, idosos a partir de 80 anos e aqueles residentes em cidades do interior do estado estão mais vulneráveis à infecção pelo coronavírus.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    08 Maio 2020
  • Data do Fascículo
    Maio 2020

Histórico

  • Recebido
    24 Mar 2020
  • Aceito
    28 Mar 2020
  • Publicado
    30 Mar 2020
ABRASCO - Associação Brasileira de Saúde Coletiva Rio de Janeiro - RJ - Brazil
E-mail: revscol@fiocruz.br