Trilhas da Promoção e da Atenção à Saúde: contribuições da Rede Nordeste de Formação em Saúde da Família

Maria Socorro de Araújo Dias Fabiane do Amaral Gubert Talitha Rodrigues Ribeiro Fernandes Pessoa Anya Pimentel Gomes Fernandes Vieira-Meyer Maristela Inês Osawa Vasconcelos Sharmênia de Araújo Soares Nuto Roberto Wagner Júnior Freire de Freitas Sobre os autores

As trilhas nos remetem, basicamente, a diferentes caminhos: os a serem seguidos, quando já construídos, e os a serem desbravados, quando necessários. O trilhar em saúde tem nos desafiado em um movimento contra-hegemônico para a percepção da nossa humanidade. O que parece paradoxal, encontra sentido na necessidade daqueles que precisam - a população brasileira - ser amparados à garantia do direito à Saúde conquistado. Assim, continuar percorrendo, bem como desbravando as trilhas da Promoção e da Atenção à Saúde no Brasil, é imperativo e papel do Sistema Único de Saúde (SUS), aliado às redes de formação e de produção do conhecimento.

A Estratégia Saúde da Família (ESF), em seu papel prioritário na organização da Atenção Primária à Saúde (APS), mesmo em meio aos desafios (des)estruturantes, tem cumprido essa missão. Contudo, seu contínuo aperfeiçoamento, por meio da geração e disseminação do conhecimento, é imperativo para o adequado cuidado a saúde da população em diferentes territórios e nas constantes mudanças da dinâmica do processo saúde-doença nas diversas comunidades.

À medida em que avançamos na busca da consecução dos princípios do SUS, reafirma-se a necessidade de reconhecimento dos determinantes do processo saúde-adoecimento em sua multidimensionalidade e o requerimento de políticas públicas orientadas por uma visão e promoção de saúde centrada na equidade, na participação social e na intersetorialidade11 Brasil. Ministério da Saúde (MS). Portaria de Consolidação nº 2, de 28 de setembro de 2017. Política Nacional de Promoção da Saúde: PNPS: Anexo I. Consolida as normas sobre as políticas nacionais de saúde do SUS. Diário Oficial da União; 2018.. O contexto da pandemia COVID-19 pôs lentes sobre o quanto as desigualdades estruturantes afetam a produção de saúde e os modos de viver, desafiando cientistas, gestores e trabalhadores a repensarem modos de atenção e promoção da saúde.

É necessário uma resposta rápida e coordenada para proteger a saúde das populações. É necessário enfrentar as causas dos problemas, a causa das causas. Agir sobre os determinantes. Fazer conexões para adoção de práticas que considerem e respeitem as diferenças de classe social, filiações culturais, gerações, orientação sexual, identidade de gênero e etnias-raças.

É nesse contexto que o tema central deste número temático, intitulado Trilhas da Promoção e da Atenção à Saúde, adquire ainda mais relevância. O foco recai sobre a importância da APS, que se mostrou essencial para superarmos retrocessos ocorridos nas políticas de saúde.

Nesta perspectiva, a Rede Nordeste de Formação em Saúde da Família (RENASF) apresenta-se como uma iniciativa inspiradora, na qual um conjunto de instituições de ensino, pesquisa, e serviço (e.g., secretarias municipais e estaduais de saúde), da região Nordeste do país, juntas, por meio do Programa de Pós-Graduação Profissional em Saúde da Família, produziram e vêm produzindo conhecimento, a partir do compromisso ético político com o desenvolvimento de pesquisas e tecnologias socialmente comprometidas com o SUS. Essa iniciativa, exclusiva para profissionais de diferentes formações que atuam na APS, é descentralizada e envolve a participação de mais de 18 instituições em cinco estados do Nordeste22 Nuto SAS, Vieira-Meyer APGF, Vieira NFC, Freitas RWJF, Amorim KPC, Dias MSA, Vasconcelos MIO, Machado MFAS. Programa de Pós-Graduação em Saúde da Família no nordeste brasileiro: repercussões no exercício profissional dos egressos. Cien Saude Colet 2021; 26(5):1713-1725..

Nesta edição, somos convidados a repensar a promoção e a atenção à saúde de uma forma crítica e reflexiva na medida em que compreendemos que estas práticas envolvem o ecossistema da ciência e da inovação, o saber e fazer. As trilhas da promoção e da atenção nos permitem explorar o desconhecido, o duvidoso, o incerto; e nos conduz a um lugar, muitas vezes desconhecido na produção do cuidado.

Embora haja um caminho árduo a percorrer, as trilhas produzidas nesta publicação apontam uma boa direção. A produção de conhecimentos técnico-científicos sobre a promoção e atenção à saúde são essenciais, mas é igualmente importante incorporar seus princípios ao senso crítico e prático de cada profissional, caminhando juntos, na mesma trilha. É hora também de atentar para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), na busca de um futuro melhor e mais sustentável para todas e todos.

Referências

  • 1
    Brasil. Ministério da Saúde (MS). Portaria de Consolidação nº 2, de 28 de setembro de 2017. Política Nacional de Promoção da Saúde: PNPS: Anexo I. Consolida as normas sobre as políticas nacionais de saúde do SUS. Diário Oficial da União; 2018.
  • 2
    Nuto SAS, Vieira-Meyer APGF, Vieira NFC, Freitas RWJF, Amorim KPC, Dias MSA, Vasconcelos MIO, Machado MFAS. Programa de Pós-Graduação em Saúde da Família no nordeste brasileiro: repercussões no exercício profissional dos egressos. Cien Saude Colet 2021; 26(5):1713-1725.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    31 Jul 2023
  • Data do Fascículo
    Ago 2023
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