Intervenções educativas para prevenção e conduta dos eventos adversos pós-vacinação: uma revisão sistemática

Débora Amorim de Vasconcelos Alberto Matos dos Santos Jéssica Carvalho Nascimento Camila Tahis dos Santos Silva Andreia Freire de Menezes Maria do Socorro Claudino Barreiro Camila Belo Tavares Ferreira Glebson Moura Silva Sobre os autores

Resumo

O estudo tem como objetivo investigar as intervenções educativas para a prevenção e conduta dos eventos adversos pós-vacinação. Trata-se de uma revisão sistemática realizada por meio da análise de estudos observacionais sem restrição de idioma e ano com registro no PROSPERO pelo identificador CRD42022313144 e busca nas bases de dados MEDLINE, LILACS, Embase, CINAHL e Scopus. Dois pesquisadores selecionaram os estudos, extraíram os dados e avaliaram o risco de viés, as discordâncias foram resolvidas por um terceiro pesquisador. Atenderam os critérios de inclusão da revisão sistemática um total de seis artigos e os estudos apresentaram melhoras significativas pós-intervenção na conduta dos profissionais em relação à imunização. Conclui-se que o fornecimento de estratégias educativas de educação permanente no âmbito vacinal da atenção primária é eficaz para reduzir e/ou erradicar os erros de imunização e eventos adversos pós-vacinação.

Palavras-chave:
Educação permanente; Enfermagem; Efeitos colaterais e reações adversas relacionados a medicamentos; Vacinação; Revisão sistemática

Introdução

Os eventos adversos pós-vacinação (EAPV) são definidos pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como eventualidades médicas que acontecem após a vacinação de maneira indesejada e sem que tenha, necessariamente, uma relação de causa com a vacina11 World Health Organization (WHO). Global manual os surveillance of adverse events following immunization [Internet]. [cited 2022 jul 23]. Available from: https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665 /206144/9789241507769_eng.pdf
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Esses eventos têm como fatores a composição vacinal, o organismo do indivíduo vacinado e a atividade de vacinação. A prática dos profissionais está relacionada ao não cumprimento de normas e técnicas e que geram ou não danos ao cliente, de forma que esses erros recebem o nome de erro de imunização (EI)22 Brasil. Ministério da Saúde (MS). Manual de vigilância epidemiológica de eventos adversos pós-vacinação [Internet]. 2021. [acessado 2022 jul 8]. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/centrais-de-conteudo/publicacoes/publicacoes-svs/vacinacao-imunizacao-pni/manual_eventos_adversos_pos_vacinacao_4ed_atualizada.pdf/view
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Pesquisa realizada em 2020 com cinco países da língua inglesa mostrou que existia uma prevalência de EIs de 1,15 a cada 10.000 doses de vacina33 Morse-Brady J, Marie Hart A. Prevalence and types of vaccination errors from 2009 to 2018: a systematic review of the medical literature. Vaccine 2020; 38(7):1623-1629.. Com isso, em vários países o EI é o responsável por esses EAPVs e por isso são os primeiros a serem analisados numa investigação22 Brasil. Ministério da Saúde (MS). Manual de vigilância epidemiológica de eventos adversos pós-vacinação [Internet]. 2021. [acessado 2022 jul 8]. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/centrais-de-conteudo/publicacoes/publicacoes-svs/vacinacao-imunizacao-pni/manual_eventos_adversos_pos_vacinacao_4ed_atualizada.pdf/view
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. Autores afirmam que a hesitação vacinal pode ter associação com a ocorrência de EIs44 Bisetto LHL, Ciosak SL. Análise da ocorrência de evento adverso pós-vacinação decorrente de erro de imunização. Rev Bras Enferm 2017; 70(1):87-95..

A enfermagem tem papel fundamental no processo de imunização. Participando de diversas etapas, no acolhimento, na triagem vacinal, no preparo, manuseio e administração correta dos imunobiológicos, no esclarecimento de dúvidas e nas orientações sobre as vacinas administradas e os possíveis EAPVs. Diante de um EAPV, esses profissionais, por meio da notificação e investigação desses eventos, contribuem para o fortalecimento da qualidade e segurança do paciente nas etapas de vacinação55 Moura ADA, Roubert ESC, Lima FET, Chaves CS, Canto SVE, Lima GG. Avaliação da vigilância dos eventos adversos pós-vacinação em um estado do nordeste brasileiro. Braz J Health Rev 2020; 3(6):16789-16793..

Diante de seu processo de trabalho, a enfermagem enfrenta algumas dificuldades, como estrutura física deficiente, problemas organizacionais, além de qualificação profissional de baixa qualidade. Entre essas dificuldades, as que mais se destacam para o cuidado seguro são as relacionadas ao conhecimento e às atitudes perante a jornada de trabalho66 Barboza JSA, Sales MLH, Veras JDN, Nagliate PC, Rodrigues ARA, Oliveira AS, Fonseca ECM. Safe patient care in the vaccine room: a scoping review. Res Soc Dev 2022; 11(7):e42611729250..

Portanto, é indispensável o conhecimento e a segurança nas condutas e orientações por parte da equipe de enfermagem nas etapas da vacinação na atenção primária à saúde (APS), com a finalidade de otimizar os serviços de saúde em conformidade com o Programa Nacional de Imunização (PNI)77 Porfirio TC, Moreira RL. Assistência de enfermagem nos eventos adversos pós-vacinação da BCG na infância. Braz J Hea Rev 2019; 22(6):1455-1470.. Condutas específicas podem ser adotadas para prevenção de um EAPV, desde o acolhimento e triagem para verificação de adiamento ou contraindicações da vacina até a segurança e qualidade da vacinação, bem como o monitoramento e a conduta frente aos EAVPs66 Barboza JSA, Sales MLH, Veras JDN, Nagliate PC, Rodrigues ARA, Oliveira AS, Fonseca ECM. Safe patient care in the vaccine room: a scoping review. Res Soc Dev 2022; 11(7):e42611729250..

Assim, pensar em estratégias de ensino e aprendizado que promovam uma aprendizagem significativa é relevante e atual88 Martins JRT, Viegas SMF, Oliveira VC, Rennó HMS. A vacinação no cotidiano: vivências indicam a Educação Permanente. Esc Anna Nery 2019; 23(4):e20180365.. Estudos apontam a educação permanente em saúde (EPS) para os profissionais da área como uma estratégia para a melhoria da segurança no âmbito da imunização99 Araújo TM, Souza FO, Pinho PS. Vaccination and associated factors among health workers. Cad Saude Publica 2019; 35(4):e00169618..

Dessa forma, como reforço para a qualificação dos profissionais da enfermagem na área vacinal, o Ministério da Saúde (MS), em 2004, instituiu a Política Nacional de Educação Permanente em Saúde (PNEPS), com o objetivo de promover mudanças envolvendo o avanço na formação dos profissionais de saúde por meio de metodologias ativas que estimulam a reflexão, resolução e construção de soluções através da problematização da realidade1010 Brasil. Ministério da Saúde (MS). Portaria GM/MS nº 198, de 13 de fevereiro de 2004. Institui a Política Nacional de Educação Permanente em Saúde como estratégia do Sistema Único de Saúde para a formação e o desenvolvimento de trabalhadores para o setor e dá outras providências. Diário Oficial da União 2004; 13 fev..

A EPS torna a aprendizagem significativa, pois possibilita que os profissionais envolvidos sejam protagonistas e se proponham a reordenar seus processos de trabalho a partir de reflexões sobre suas práticas em serviço. Assim, a educação permanente é indispensável para a construção de um serviço de qualidade1111 Brasil. Ministério da Saúde (MS). Política Nacional de Educação Permanente em Saúde: o que se tem produzido para o seu fortalecimento? Brasília: MS; 2018..

Os estudos sobre a educação permanente para a enfermagem em relação à prevenção e conduta dos EAPVs ainda são insuficientes nos últimos dez anos, de acordo com o Google Acadêmico e a Biblioteca Virtual de Saúde (BVS). A literatura científica apresenta, no Brasil, um relato de experiência do ano de 2015, por meio de uma discussão sobre EAPVs, e um estudo descritivo com abordagem qualitativa do ano de 2021 utilizando como recurso a simulação realística para capacitação do profissional no processo de imunização na atenção primária à saúde. Embora os estudos promovam a EPS sobre a temática, não ocorreu a avaliação da efetividade das ações1212 Ternopolski CA, Baratieri T, Lenstck MH. Eventos adversos pós-vacinação: educação permanente para a enfermagem. Espaç Saude 2015; 16(4):109-119.,1313 Rodrigues SB, Assis GDP, Siva BS, Oliveira GCCF, Tavares LOM, Amaral GG, Oliveira VC, Guimarães EAA. Simulação realística na capacitação de profissionais de enfermagem em sala de vacinação. Res Soc Dev 2021; 10(3):e20810313314..

Desse modo, o presente estudo tem como objetivo investigar as intervenções educativas para a prevenção de eventos adversos pós-vacinação, bem como a conduta a ser adotada quando manifestados.

Métodos

Trata-se de uma revisão sistemática (RS) cujo protocolo foi redigido com base no Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analysis (PRISMA) - P1414 Moher D, Shamseer L, Clarke M, Ghersi D, Liberati A, Petticrew M, Shekelle P, Stewart LA; PRISMA-P Group. Preferred reporting items for systematic review and meta-analysis protocols (PRISMA-P) 2015 statement. Syst Rev 2015; 4(1):1. e em seguida registrado no International Prospective Register of Systematic Reviews (PROSPERO) com o identificador CRD42022313144.

Para a descrição do manuscrito, utilizou-se o checklist e o fluxograma do PRISMA 20201515 Page MJ, McKenzie JE, Bossuyt PM, Boutron I, Hoffmann TC, Mulrow CD, Shamseer L, Tetzlaff JM, Akl EA, Brennan SE, Chou R, Glanville J, Grimshaw JM, Hróbjartsson A, Lalu MM, Li T, Loder EW, Mayo-Wilson E, McDonald S, McGuinness LA, Stewart LA, Thomas J, Tricco AC, Welch VA, Whiting P, Moher D. The PRISMA 2020 statement: an updated guideline for reporting systematic reviews. BMJ 2021; 372:n71.. Ressalta-se que as etapas de seleção, extração e avaliação do risco de viés dos artigos foram realizadas por dois pesquisadores de forma independente e as discordâncias foram resolvidas por um terceiro pesquisador.

Por meio do acrônimo PICOS (P = população, I = intervenção, C = comparação, O = outcome/desfecho e S = study/tipo de estudo), elaborou-se a seguinte questão norteadora: “As intervenções educativas para profissionais de saúde promovem a prevenção e o manejo adequado dos eventos adversos pós-vacinação?”

Para elegíveis os artigos que envolvessem intervenções educativas com profissionais de saúde atuantes na vacinação para prevenção e conduta dos EAPV e estudos observacionais sem restrições de idioma, e os critérios de exclusão foram estudos com duplicatas de revisão ou de dados, sem resumo, sem textos completos disponíveis após comunicação com o autor, que não respondiam à questão norteadora, revisões, relatos de casos, resumo apresentado em congressos e conferências, protocolos de estudo, carta ao editor, opiniões pessoais, análise institucional, manuais, dissertações, teses, livros e capítulos.

As bases de dados escolhidas foram MEDLINE, Embase, LILACS, CINAHL e Scopus. Para a formulação das estratégias de busca, foram utilizados termos controlados permitidos por cada base e não controlados, e também implementou-se o Peer Review of Electronic Search Strategies (PRESS) para atingir uma melhor qualidade na busca1616 McGowan J, Sampson M, Salzwedel DM, Cogo E, Foerster V, Lefebvre C. PRESS peer review of electronic search strategies: 2015 guideline statement. J Clin Epidemiol 2016; 75:40-64.. Essas estratégias estão disponíveis no Quadro 1.

Quadro 1
DOI da estratégia de busca de acordo com a base de dados.

Para a seleção dos artigos, estes foram exportados para o gerenciador de referências Mendeley, com a finalidade de remover as duplicatas, e em seguida enviados para o aplicativo Rayyan, onde foi realizada uma triagem por meio de uma leitura dos títulos e resumos, sendo selecionados os que seriam lidos na íntegra, os estudos excluídos foram justificados. A extração de dados se deu por meio de uma ficha, considerando dados gerais do estudo, método, desfecho e intervenções.

Assim, como os estudos se configuram em quase experimentais, foi utilizado o instrumento Joanna Briggs Institute (JBI) Critical Appraisal Checklist for Quasi-Experimental Studies para avaliação do risco de viés. A lista de avaliação crítica define que a resposta “sim” está relacionada à ausência de viés. Desse modo, os estudos que tiveram respostas “sim” menor ou igual a 49% foram considerados com alto risco de viés, aqueles que tinham entre 50% e 69% apresentavam risco moderado, e 70% ou mais, baixo risco1717 Joanna Briggs Institute (JBI). Critical appraisal checklist for quasi-experimental studies [Internet]. 2017. [cited 2022 jul 8]. Available from: https://jbi.global/sites/default/files/2019-05/JBI_Quasi-Experimental_Appraisal_Tool2017_0.pdf
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Os dados desta revisão foram separados, tabulados e analisados de acordo com base de dados, autores, ano e periódico de publicação, título, país do estudo, idioma de publicação, objetivo, população do estudo, tipo de intervenções educativas, instrumento de avaliação da efetividade das intervenções educativas e desfecho. Dessa forma, foram discutidos de modo descritivo.

Resultados

Seleção dos estudos da revisão sistemática

Inicialmente foram encontrados 2.627 artigos nas cinco bases de dados. Após exclusão das duplicatas, restaram 2.230, os quais foram selecionados para leitura dos títulos e resumos. Aplicando os critérios de inclusão e exclusão, nove artigos foram considerados elegíveis. Entretanto, em um estudo não foi possível ter acesso ao texto completo. Assim, oito foram avaliados por meio de leitura do texto completo e dois foram excluídos por não responderem à questão norteadora. Dessa forma, após as divergências na seleção dos artigos serem resolvidas por um terceiro pesquisador, houve a inclusão de seis artigos na revisão sistemática, conforme apresentado na Figura 1.

Figura 1
Fluxograma de seleção de artigos em cada fase da revisão sistemática segundo o Prisma 2020.

Características dos estudos da revisão sistemática

O Quadro 2 reúne informações sobre autores e ano de publicação, base de dados, periódico, título, país do estudo, idioma de publicação, objetivo e população do estudo. Entre os seis artigos, quatro1818 Sebastian J, Parthasarathi G, Ravi MD. Impact of educational intervention on the best immunization practices among practicing health care professionals in a south Indian city. Ther Adv Vaccines Immunother 2021; 9:25151355211032590.,2020 Mallik S, Mandal PK, Chatterjee C, Ghosh P, Manna N, Chakrabarty D, Bagchi SN, Dasgupta S. Assessing cold chain status in a metro city of India: an intervention study. Afr Health Sci 2011; 11(1):128-133.,2222 Lee S, Lim HS, Kim O, Nam J, Kim Y, Woo H, Noh W, Kim K. Vaccine storage practices and the effects of education in some private medical institutions. J Prev Med Public Health 2012; 45(2):78-89. estão indexados na base de dados MEDLINE, um1919 Musa OI, Parakoyi DB, Akanbi AA. Evaluation of health education intervention on safe immunization injection among health workers in Ilorin, Nigeria. Ann Afr Med 2006; 5(3):122-128. na Embase e um2323 Holla N, Borker S, Bahat S. Vaccination sessions; challenges and opportunities for improvement: experiences from Karnataka. Ann Trop Med Public Health 2013; 6(5):559-564. na CINAHL. Todos os estudos incluídos foram publicados entre 2006 e 2021.

Quadro 2
Dados gerais e método dos estudos selecionados para a revisão sistemática.

Foram conduzidos na Índia1818 Sebastian J, Parthasarathi G, Ravi MD. Impact of educational intervention on the best immunization practices among practicing health care professionals in a south Indian city. Ther Adv Vaccines Immunother 2021; 9:25151355211032590.,2020 Mallik S, Mandal PK, Chatterjee C, Ghosh P, Manna N, Chakrabarty D, Bagchi SN, Dasgupta S. Assessing cold chain status in a metro city of India: an intervention study. Afr Health Sci 2011; 11(1):128-133.,2323 Holla N, Borker S, Bahat S. Vaccination sessions; challenges and opportunities for improvement: experiences from Karnataka. Ann Trop Med Public Health 2013; 6(5):559-564., na Nigéria1919 Musa OI, Parakoyi DB, Akanbi AA. Evaluation of health education intervention on safe immunization injection among health workers in Ilorin, Nigeria. Ann Afr Med 2006; 5(3):122-128., nos Estados Unidos2121 McKeirnan KC, Frazier KR, Nguyen M, MacLean LG. Training pharmacy technicians to administer immunizations. J Am Pharm Assoc 2018; 58(2):174-178. e na Coreia do Sul2222 Lee S, Lim HS, Kim O, Nam J, Kim Y, Woo H, Noh W, Kim K. Vaccine storage practices and the effects of education in some private medical institutions. J Prev Med Public Health 2012; 45(2):78-89.. A população variou entre 20 e 323 profissionais de saúde, sendo eles enfermeiros, médicos, farmacêuticos, auxiliares de enfermagem e farmácia, agentes de saúde, parteiras e manipuladores de rede de frio.

De acordo com o Quadro 3, os conteúdos ministrados em imunização foram: administração de vacinas1818 Sebastian J, Parthasarathi G, Ravi MD. Impact of educational intervention on the best immunization practices among practicing health care professionals in a south Indian city. Ther Adv Vaccines Immunother 2021; 9:25151355211032590.,1919 Musa OI, Parakoyi DB, Akanbi AA. Evaluation of health education intervention on safe immunization injection among health workers in Ilorin, Nigeria. Ann Afr Med 2006; 5(3):122-128.,2121 McKeirnan KC, Frazier KR, Nguyen M, MacLean LG. Training pharmacy technicians to administer immunizations. J Am Pharm Assoc 2018; 58(2):174-178.,2323 Holla N, Borker S, Bahat S. Vaccination sessions; challenges and opportunities for improvement: experiences from Karnataka. Ann Trop Med Public Health 2013; 6(5):559-564., descarte de resíduos1818 Sebastian J, Parthasarathi G, Ravi MD. Impact of educational intervention on the best immunization practices among practicing health care professionals in a south Indian city. Ther Adv Vaccines Immunother 2021; 9:25151355211032590.,1919 Musa OI, Parakoyi DB, Akanbi AA. Evaluation of health education intervention on safe immunization injection among health workers in Ilorin, Nigeria. Ann Afr Med 2006; 5(3):122-128.,2121 McKeirnan KC, Frazier KR, Nguyen M, MacLean LG. Training pharmacy technicians to administer immunizations. J Am Pharm Assoc 2018; 58(2):174-178.,2323 Holla N, Borker S, Bahat S. Vaccination sessions; challenges and opportunities for improvement: experiences from Karnataka. Ann Trop Med Public Health 2013; 6(5):559-564., cuidados com a rede de frio1818 Sebastian J, Parthasarathi G, Ravi MD. Impact of educational intervention on the best immunization practices among practicing health care professionals in a south Indian city. Ther Adv Vaccines Immunother 2021; 9:25151355211032590.,2020 Mallik S, Mandal PK, Chatterjee C, Ghosh P, Manna N, Chakrabarty D, Bagchi SN, Dasgupta S. Assessing cold chain status in a metro city of India: an intervention study. Afr Health Sci 2011; 11(1):128-133.,2323 Holla N, Borker S, Bahat S. Vaccination sessions; challenges and opportunities for improvement: experiences from Karnataka. Ann Trop Med Public Health 2013; 6(5):559-564., EAPVs1818 Sebastian J, Parthasarathi G, Ravi MD. Impact of educational intervention on the best immunization practices among practicing health care professionals in a south Indian city. Ther Adv Vaccines Immunother 2021; 9:25151355211032590.,2323 Holla N, Borker S, Bahat S. Vaccination sessions; challenges and opportunities for improvement: experiences from Karnataka. Ann Trop Med Public Health 2013; 6(5):559-564., calendário vacinal2121 McKeirnan KC, Frazier KR, Nguyen M, MacLean LG. Training pharmacy technicians to administer immunizations. J Am Pharm Assoc 2018; 58(2):174-178.,2323 Holla N, Borker S, Bahat S. Vaccination sessions; challenges and opportunities for improvement: experiences from Karnataka. Ann Trop Med Public Health 2013; 6(5):559-564., problemas associados ao processo de imunização1919 Musa OI, Parakoyi DB, Akanbi AA. Evaluation of health education intervention on safe immunization injection among health workers in Ilorin, Nigeria. Ann Afr Med 2006; 5(3):122-128., perigos relacionados à prática de injeção insegura1919 Musa OI, Parakoyi DB, Akanbi AA. Evaluation of health education intervention on safe immunization injection among health workers in Ilorin, Nigeria. Ann Afr Med 2006; 5(3):122-128., registro de imunização2121 McKeirnan KC, Frazier KR, Nguyen M, MacLean LG. Training pharmacy technicians to administer immunizations. J Am Pharm Assoc 2018; 58(2):174-178., conceitos básicos de imunização2121 McKeirnan KC, Frazier KR, Nguyen M, MacLean LG. Training pharmacy technicians to administer immunizations. J Am Pharm Assoc 2018; 58(2):174-178. e cobertura vacinal2121 McKeirnan KC, Frazier KR, Nguyen M, MacLean LG. Training pharmacy technicians to administer immunizations. J Am Pharm Assoc 2018; 58(2):174-178..

Quadro 3
Características das intervenções e desfecho dos estudos selecionados para a revisão sistemática.

As intervenções educativas variaram entre quatro horas e três meses, e em relação ao instrumento de avaliação da efetividade dessas ações, a maioria das pesquisas fez uso de questionários pré-teste e pós-teste, exceto um estudo2020 Mallik S, Mandal PK, Chatterjee C, Ghosh P, Manna N, Chakrabarty D, Bagchi SN, Dasgupta S. Assessing cold chain status in a metro city of India: an intervention study. Afr Health Sci 2011; 11(1):128-133., que utilizou somente na fase pós-intervenção. Outros instrumentos foram empregados para a avaliação, como inspeção visual2020 Mallik S, Mandal PK, Chatterjee C, Ghosh P, Manna N, Chakrabarty D, Bagchi SN, Dasgupta S. Assessing cold chain status in a metro city of India: an intervention study. Afr Health Sci 2011; 11(1):128-133., lista de verificação2222 Lee S, Lim HS, Kim O, Nam J, Kim Y, Woo H, Noh W, Kim K. Vaccine storage practices and the effects of education in some private medical institutions. J Prev Med Public Health 2012; 45(2):78-89., supervisão de apoio2323 Holla N, Borker S, Bahat S. Vaccination sessions; challenges and opportunities for improvement: experiences from Karnataka. Ann Trop Med Public Health 2013; 6(5):559-564., número de imunizações e relato de profissionais sobre ocorrência de EAPVs pós-treinamento2121 McKeirnan KC, Frazier KR, Nguyen M, MacLean LG. Training pharmacy technicians to administer immunizations. J Am Pharm Assoc 2018; 58(2):174-178., conforme demonstrado no Quadro 3.

Quanto à eficácia das intervenções, as pesquisas apontaram melhorias significativas dos profissionais em relação à imunização na fase pós-intervenção, como apresentado no Quadro 3. Um estudo1818 Sebastian J, Parthasarathi G, Ravi MD. Impact of educational intervention on the best immunization practices among practicing health care professionals in a south Indian city. Ther Adv Vaccines Immunother 2021; 9:25151355211032590. demonstrou que um conteúdo validado transmitido por módulo educativo foi eficaz para a transmissão de conhecimentos em todas as etapas do processo de imunização.

Outro estudo1919 Musa OI, Parakoyi DB, Akanbi AA. Evaluation of health education intervention on safe immunization injection among health workers in Ilorin, Nigeria. Ann Afr Med 2006; 5(3):122-128. enfatizou como conteúdo a administração segura de vacinas e o descarte de resíduo, com eficácia na ampliação de conhecimento dos profissionais, porém as melhoras não foram significativas na prática dos mesmos devido às condições precárias de trabalho. Além disso, o estudo afirmou que a capacitação deve ser fornecida para todas as pessoas envolvidas nas atividades de vacinação, inclusive os profissionais da limpeza.

Por conseguinte, um dos artigos2020 Mallik S, Mandal PK, Chatterjee C, Ghosh P, Manna N, Chakrabarty D, Bagchi SN, Dasgupta S. Assessing cold chain status in a metro city of India: an intervention study. Afr Health Sci 2011; 11(1):128-133. apontou que a formação aprofundada sobre rede de frio, com apresentação no programa PowerPoint e discussão detalhada, seguidas de treinamento prático com visitas de campo, foi bastante adequada, e outra pesquisa2121 McKeirnan KC, Frazier KR, Nguyen M, MacLean LG. Training pharmacy technicians to administer immunizations. J Am Pharm Assoc 2018; 58(2):174-178. mostrou que um estudo piloto para ajuste de horas da intervenção deve ser realizado, assim, no contexto pesquisado, o treinamento ao vivo passou de duas horas para quatro horas, com a finalidade de melhorar o tempo de prática dos profissionais. O artigo também enfatizou que a combinação de treinamento online e ao vivo é eficaz.

Uma pesquisa2222 Lee S, Lim HS, Kim O, Nam J, Kim Y, Woo H, Noh W, Kim K. Vaccine storage practices and the effects of education in some private medical institutions. J Prev Med Public Health 2012; 45(2):78-89. considerou que a orientação individual e a entrega de folhetos educativos com conteúdo sobre cuidados com o armazenamento de vacinas é efetiva para a capacitação dos profissionais. E por último, outra pesquisa2323 Holla N, Borker S, Bahat S. Vaccination sessions; challenges and opportunities for improvement: experiences from Karnataka. Ann Trop Med Public Health 2013; 6(5):559-564. apresentou que a supervisão de apoio é um método apropriado para o aprendizado dos profissionais em todas as etapas do processo de imunização, uma vez que o ambiente e a rotina pertencem ao próprio local de trabalho dos participantes.

Alguns artigos1818 Sebastian J, Parthasarathi G, Ravi MD. Impact of educational intervention on the best immunization practices among practicing health care professionals in a south Indian city. Ther Adv Vaccines Immunother 2021; 9:25151355211032590.,2020 Mallik S, Mandal PK, Chatterjee C, Ghosh P, Manna N, Chakrabarty D, Bagchi SN, Dasgupta S. Assessing cold chain status in a metro city of India: an intervention study. Afr Health Sci 2011; 11(1):128-133.,2222 Lee S, Lim HS, Kim O, Nam J, Kim Y, Woo H, Noh W, Kim K. Vaccine storage practices and the effects of education in some private medical institutions. J Prev Med Public Health 2012; 45(2):78-89. afirmaram que as intervenções não devem ser pontuais, mas contínuas, assim, um deles2020 Mallik S, Mandal PK, Chatterjee C, Ghosh P, Manna N, Chakrabarty D, Bagchi SN, Dasgupta S. Assessing cold chain status in a metro city of India: an intervention study. Afr Health Sci 2011; 11(1):128-133. adotou essa questão como justificativa para os resultados positivos, porém insatisfatórios, na identificação das vacinas sensíveis ao calor e ao frio, na manutenção preventiva dos equipamentos da cadeia de frio em dia fixo mensal, na manutenção da temperatura nos feriados e na formulação de um plano de contingência de emergência adequado, alertando para a necessidade de reorientação.

Assim, é indispensável o desenvolvimento de intervenções educativas no processo de imunização para prevenção e conduta de EAPVs, para isso, a estratégia educativa deve se aproximar da realidade dos profissionais e um estudo piloto deve ser realizado para o desenvolvimento da intervenção. A combinação de recursos educacionais, o fornecimento periódico de intervenções no processo de imunização para todos os funcionários envolvidos, além de condições apropriadas para o desenvolvimento das atividades no âmbito da vacinação, também são necessários.

Risco de viés dos estudos da revisão sistemática

Conforme apresentado no Quadro 4, entre os seis estudos incluídos, quatro1818 Sebastian J, Parthasarathi G, Ravi MD. Impact of educational intervention on the best immunization practices among practicing health care professionals in a south Indian city. Ther Adv Vaccines Immunother 2021; 9:25151355211032590.,2020 Mallik S, Mandal PK, Chatterjee C, Ghosh P, Manna N, Chakrabarty D, Bagchi SN, Dasgupta S. Assessing cold chain status in a metro city of India: an intervention study. Afr Health Sci 2011; 11(1):128-133.,2121 McKeirnan KC, Frazier KR, Nguyen M, MacLean LG. Training pharmacy technicians to administer immunizations. J Am Pharm Assoc 2018; 58(2):174-178.,2323 Holla N, Borker S, Bahat S. Vaccination sessions; challenges and opportunities for improvement: experiences from Karnataka. Ann Trop Med Public Health 2013; 6(5):559-564. apresentaram moderado risco de viés, e dois1919 Musa OI, Parakoyi DB, Akanbi AA. Evaluation of health education intervention on safe immunization injection among health workers in Ilorin, Nigeria. Ann Afr Med 2006; 5(3):122-128.,2222 Lee S, Lim HS, Kim O, Nam J, Kim Y, Woo H, Noh W, Kim K. Vaccine storage practices and the effects of education in some private medical institutions. J Prev Med Public Health 2012; 45(2):78-89. baixo risco. Todos os artigos atenderam às questões 1, 2, 3 e 7, porém a questão 4, seguida da 5, não foram contempladas na maioria dos estudos. Apenas três estudos1919 Musa OI, Parakoyi DB, Akanbi AA. Evaluation of health education intervention on safe immunization injection among health workers in Ilorin, Nigeria. Ann Afr Med 2006; 5(3):122-128.,2121 McKeirnan KC, Frazier KR, Nguyen M, MacLean LG. Training pharmacy technicians to administer immunizations. J Am Pharm Assoc 2018; 58(2):174-178.,2222 Lee S, Lim HS, Kim O, Nam J, Kim Y, Woo H, Noh W, Kim K. Vaccine storage practices and the effects of education in some private medical institutions. J Prev Med Public Health 2012; 45(2):78-89. atenderam aos critérios da questão 6, e só um2121 McKeirnan KC, Frazier KR, Nguyen M, MacLean LG. Training pharmacy technicians to administer immunizations. J Am Pharm Assoc 2018; 58(2):174-178. não atendeu aos itens 8 e 9 do instrumento de avaliação do risco de viés.

Quadro 4
Avaliação crítica dos estudos selecionados para a revisão sistemática.

Discussão

A Índia se destacou nas pesquisas que avaliam a eficácia de intervenções educativas no processo de vacinação para prevenção e manejo adequado dos EAPVs. O Serum Institute está localizado nesse país e é o maior produtor de vacinas, acredita-se que isso justifica o destaque na produção científica2424 Guimarães R. Vacinas: da saúde pública ao big business. Cien Saude Colet 2021; 26(5):1847-1852.. Uma revisão de literatura que abordou como temática o desperdício de vacinação também mostrou esse país como o mais prevalente nos estudos2525 Mai S, Rosa RD, Herrmann F. Desperdício de vacinas: uma revisão da literatura. Rev Baiana Saude Publica 2020; 44(4):305-320..

A RS também aponta a classe médica com maior número de participantes, porém a enfermagem se mostra como participativa, mesmo em número reduzido na metade dos estudos. Nos países onde ocorreram as pesquisas, as atividades de vacinação são realizadas também por outras classes, dessa forma, nota-se uma diferença em relação ao Brasil, pois a enfermagem é responsável pelo trabalho na sala de vacinas, onde o enfermeiro é o supervisor desse trabalho e da promoção da EPS para a equipe2626 Brasil. Ministério da Saúde (MS). Manual de normas e procedimentos para vacinação. Brasília: Ministério da Saúde [Internet]. 2014. [acessado 2022 out 22]. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_procedimentos_vacinacao.pdf
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Estudos da revisão mostram a falta de um supervisor nas atividades de vacinação1818 Sebastian J, Parthasarathi G, Ravi MD. Impact of educational intervention on the best immunization practices among practicing health care professionals in a south Indian city. Ther Adv Vaccines Immunother 2021; 9:25151355211032590.,2222 Lee S, Lim HS, Kim O, Nam J, Kim Y, Woo H, Noh W, Kim K. Vaccine storage practices and the effects of education in some private medical institutions. J Prev Med Public Health 2012; 45(2):78-89.,2323 Holla N, Borker S, Bahat S. Vaccination sessions; challenges and opportunities for improvement: experiences from Karnataka. Ann Trop Med Public Health 2013; 6(5):559-564.. No território brasileiro, o enfermeiro desempenha diversas atribuições na APS, sabe-se que essa sobrecarga de trabalho delimita a atuação desse profissional na vacinação. Esse achado corrobora uma revisão integrativa com estudos brasileiros que indagou sobre a ausência ou pouca participação do enfermeiro na sala de vacinas, de forma que consequentemente as atividades desse profissional acabam sendo desempenhadas pelo técnico de enfermagem, desse modo, erros no processo de imunização ocorrem pela falta de orientação, supervisão e educação permanente propiciada pelo enfermeiro2727 Barbosa FS, Barbosa R, Lima MCV. Atuação do enfermeiro em sala de vacina na Atenção Primária. Rev Acad FACOTTUR-RAF 2021; 2(1):89-100..

A RS mostra diferentes recursos e durações para as intervenções educativas. Esses aspectos devem ser suficientes para a promoção da educação permanente. Em outras palavras, eles devem proporcionar ao profissional uma reflexão sobre o processo de trabalho, promovendo melhorias na assistência ao cliente2828 Assad SGB, Corvino MPF, Santos SCP, Cortez EA, Souza FL. Educação permanente em saúde e atividades de vacinação: revisão integrativa. Rev Enferm UFPE 2017; 11(1):410-421..

No que se refere ao conteúdo, a revisão apresenta intervenções educativas em todas as etapas do processo de imunização. É importante que a intervenção aborde o cuidado com a rede de frio, o acolhimento e a triagem do paciente, o preparo, manuseio e administração de vacinas, assim como as ações de vigilância dos EAPVs2929 Batista EC, Ferreira AP, Oliveira VC, Amaral GG, Jesus RF, Quintino ND, Viegas SM, Guimarães EA. Vigilância ativa de eventos adversos pós-vacinação na atenção primária à saúde. Acta Paul Enferm 2021; 34:eAPE002335.. Dessa forma, será discutida a seguir a análise de conteúdo dos estudos desta revisão de acordo as etapas do processo de imunização.

As pesquisas apresentaram como barreira a falta de equipamentos da rede de frio1818 Sebastian J, Parthasarathi G, Ravi MD. Impact of educational intervention on the best immunization practices among practicing health care professionals in a south Indian city. Ther Adv Vaccines Immunother 2021; 9:25151355211032590.,2020 Mallik S, Mandal PK, Chatterjee C, Ghosh P, Manna N, Chakrabarty D, Bagchi SN, Dasgupta S. Assessing cold chain status in a metro city of India: an intervention study. Afr Health Sci 2011; 11(1):128-133.. Além disso, um estudo da RS afirma que a situação do acondicionamento de vacinas tem sido negligenciada e que todas as atenções estão voltadas para as coberturas vacinais2222 Lee S, Lim HS, Kim O, Nam J, Kim Y, Woo H, Noh W, Kim K. Vaccine storage practices and the effects of education in some private medical institutions. J Prev Med Public Health 2012; 45(2):78-89..

Esses achados concordam com uma pesquisa que avaliou a situação da sala de vacinas em uma cidade no estado da Paraíba, apontando condições inadequadas dos refrigeradores e ausência de termômetros, além de caixas térmicas em quantidades insuficientes e inadequadas. O estudo ainda apresentou fragilidades no conhecimento dos profissionais na checagem correta da temperatura das vacinas3030 França KTG. Avaliação das salas de vacinas na perspectiva de enfermeiros da atenção primária à saúde [dissertação]. Campina Grande: Universidade Estadual da Paraíba; 2021.. Essas barreiras levam aos Eis, e consequentemente podem provocar EAPVs, além de danos na efetividade dos imunobiológicos3131 Cunha JO, Bispo MM, Farias LHS, Silva GM, Menezes AF, Santos AD. Análise das unidades de vacinação públicas do município de Aracaju/SE. Enferm Foco 2020; 11(3):136-143..

Um artigo destacou que a intervenção após a capacitação melhorou significativamente a conscientização do profissional referente ao registro da temperatura do refrigerador que armazenava os imunobiológicos2222 Lee S, Lim HS, Kim O, Nam J, Kim Y, Woo H, Noh W, Kim K. Vaccine storage practices and the effects of education in some private medical institutions. J Prev Med Public Health 2012; 45(2):78-89.. Para ter bons resultados na qualificação dos profissionais, as estratégias educativas devem ter como base a problematização do processo de trabalho vivenciado pela equipe de enfermagem para gerar mudanças no ambiente por meio do envolvimento dos profissionais e da gestão do estabelecimento3232 Oliveira VC, Tavares LOM, Maforte NTP, Silva LNLR, Rennó HMS, Amaral GG, Viegas SMF. A percepção da equipe de enfermagem sobre a segurança do paciente em sala de vacinação. Rev Cuid 2018; 10(1):e590..

A triagem é realizada em conjunto com o acolhimento no processo de vacinação e busca verificar as necessidades e prioridades em relação à situação vacinal, e também orientar o cliente sobre as vacinas que serão administradas. O acolhimento, por sua vez, tem como objetivo promover a escuta e transmitir confiança ao paciente44 Bisetto LHL, Ciosak SL. Análise da ocorrência de evento adverso pós-vacinação decorrente de erro de imunização. Rev Bras Enferm 2017; 70(1):87-95.,2626 Brasil. Ministério da Saúde (MS). Manual de normas e procedimentos para vacinação. Brasília: Ministério da Saúde [Internet]. 2014. [acessado 2022 out 22]. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_procedimentos_vacinacao.pdf
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Estudos desta revisão destacaram fragilidades na comunicação entre profissionais e pais ou responsáveis das crianças vacinadas, e que essa relação é necessária para garantir a confiança que leva à adesão vacinal1818 Sebastian J, Parthasarathi G, Ravi MD. Impact of educational intervention on the best immunization practices among practicing health care professionals in a south Indian city. Ther Adv Vaccines Immunother 2021; 9:25151355211032590.,2323 Holla N, Borker S, Bahat S. Vaccination sessions; challenges and opportunities for improvement: experiences from Karnataka. Ann Trop Med Public Health 2013; 6(5):559-564.. As etapas de acolhimento, triagem e orientação buscam envolver o paciente por meio de uma comunicação que gere confiabilidade em relação ao processo de imunização para combater a hesitação vacinal3333 Souto EP, Kabad J. Hesitação vacinal e os desafios para enfrentamento da pandemia de COVID-19 em idosos no Brasil. Rev Bras Geriatr Gerontol 2020; 23(5):e210032..

O estudo de Donnini et al.3434 Donnini DA, Silva CMB, Gusmão JD, Matozinhos FP, Silva RB, Amaral GG, Guimarães EAA, Oliveira VC. Incidence of immunization errors in the state of Minas Gerais, Brazil: a cross-sectional study, 2015-2019. Epidemiol Serv Saude 2022; 31(3):e2022055. apresentou como erro mais frequente a administração de vacinas fora da idade recomendada. Acredita-se que a fragilidade no conhecimento e aperfeiçoamento dos profissionais acerca do calendário vacinal e a semelhança dos rótulos das vacinas podem ser os fatores para esse tipo de EI, o que configura uma falha nas etapas de triagem, preparo, manuseio e administração de vacinas.

Assim, orienta-se que os fabricantes mudem a rotulagem dos imunobiológicos para facilitar a identificação correta do frasco no momento da vacinação3535 Samad F, Burton SJ, Kwan D, Porter N, Smetzer J, Cohen MR, Tuttle J, Baker D, Doherty DE. Strategies to reduce errors associated with 2-component vaccines. Pharmaceut Med 2021; 35(1):1-9.. Outras formas de diminuir a ocorrência de EIs é a qualificação dos profissionais, a participação do cliente, a supervisão do enfermeiro na vacinação, além de uma gestão que se empenhe para a diminuição desses riscos3636 Barboza TC, Guimarães RA, Gimenes FRE, Silva AEBC. Retrospective study of immunization errors reported in an online Information System. Rev Lat Am Enferm 2020; 28:e3303..

As fragilidades da equipe de enfermagem ocorrem com frequência na etapa de preparo, manuseio e administração de vacinas. Teixeira et al.3737 Teixeira TBC, Raponi MBG, Felix MMS, Ferreira LA, Barichello E, Barbosa MH. Avaliação da segurança do paciente na sala de vacinação. Texto Contexto Enferm 2021; 30:e20200126. indicam em sua pesquisa que os erros mais frequentes são preparo de várias doses de vacinas ao mesmo tempo, posição inapropriada da agulha, aspiração antes da administração da vacina e agulhas inseridas na borracha dos frascos multidoses. Acrescentando, o estudo de Barboza et al.3636 Barboza TC, Guimarães RA, Gimenes FRE, Silva AEBC. Retrospective study of immunization errors reported in an online Information System. Rev Lat Am Enferm 2020; 28:e3303. mostra que o erro na técnica de administração de vacina foi responsável pela maioria dos EAPVs.

Na etapa de preparo, manuseio e administração de vacinas há o descarte de resíduos sólidos em saúde (RSS), que também necessita de treinamento, pois falhas nessa atividade são considerados EIs e levam à propagação de doenças entre trabalhadores e na população, bem como contamina o meio ambiente3838 Reis CAB, Sousa FLL, Sousa ASS, Filho PAM, Teixeira AB. Resíduos biológicos e descarte de vacinas [Internet]. 2019. [acessado 2023 jan 10]. Disponível em: https://www.doity.com.br/anais/conexaounifametro 2019/trabalho/124548
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Para se preparar para o manejo adequado dos RSS é necessária a implementação de um Programa de Gerenciamento de Resíduos Sólidos em Saúde (PGRSS), embora ele seja ignorado pela gestão e profissionais do serviço de saúde, é por meio dele que ocorre a definição e detalhamento das etapas do manejo de RSS de acordo com as normas vigentes, assim, ele ajuda no treinamento dos trabalhadores nessa atividade3939 Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). RDC nº 222, de 28 de março de 2018. Regulamenta as boas práticas de gerenciamento dos resíduos de serviços de saúde e dá outras providências. Diário Oficial da União 2018; 29 de mar..

No que concerne às orientações após a administração de vacinas, um estudo dessa RS destacou que os profissionais não orientaram os pais para aguardar até 30 minutos no serviço de saúde para verificar a ocorrência de reações adversas, indicando que não fizeram isso por falta de espaço na sala de espera1818 Sebastian J, Parthasarathi G, Ravi MD. Impact of educational intervention on the best immunization practices among practicing health care professionals in a south Indian city. Ther Adv Vaccines Immunother 2021; 9:25151355211032590.. Batista et al.2929 Batista EC, Ferreira AP, Oliveira VC, Amaral GG, Jesus RF, Quintino ND, Viegas SM, Guimarães EA. Vigilância ativa de eventos adversos pós-vacinação na atenção primária à saúde. Acta Paul Enferm 2021; 34:eAPE002335. também apontaram que a maioria dos usuários não recebeu orientações sobre as vacinas administradas, os possíveis EAPVs e a conduta no surgimento desses.

Essas orientações contribuem para a vigilância dos eventos adversos pós-vacinação, conduta necessária para proporcionar práticas seguras na vacinação. Sabe-se que, quando uma recomendação é fornecida por um profissional, há um aumento da adesão vacinal, mas para isso o profissional deve estar pronto para responder a questionamentos e preocupações4040 Centers for Disease Control and Prevention (CDC). Pinkbook: vaccine administration [Internet]. [cited 2023 jan 15]. Available from: https://www.cdc.gov/vaccines/pubs/pinkbook/vac-admin.html
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Um artigo desta revisão mostrou que, depois da intervenção educacional em administração de vacinas, os profissionais sentiram mais confiança em administrar o imunobiológico, registrar a vacinação e fornecer orientações2121 McKeirnan KC, Frazier KR, Nguyen M, MacLean LG. Training pharmacy technicians to administer immunizations. J Am Pharm Assoc 2018; 58(2):174-178..

Como forma de contribuir para a educação permanente, um protocolo gráfico foi criado para estabelecer a vacinação segura em crianças menores de um ano, essa ferramenta contemplou as etapas de acolhimento, triagem, preparo e administração de vacinas e orientação. Concluiu-se que a tecnologia colaborou para a minimização de EIs e, consequentemente, dos EAPVs presentes nessas etapas4141 Farias ERG. Construção e validação de protocolo gráfico para o cuidado seguro na vacinação em criança menor de 1 ano de idade [dissertação]. Natal: Universidade Federal do Rio Grande do Norte; 2021..

A partir da análise de conteúdo, um estudo da revisão demonstrou que o conhecimento inadequado sobre o processo de notificação de eventos adversos pós-vacinais e a falta de tempo ensejaram a baixa notificação desses eventos1818 Sebastian J, Parthasarathi G, Ravi MD. Impact of educational intervention on the best immunization practices among practicing health care professionals in a south Indian city. Ther Adv Vaccines Immunother 2021; 9:25151355211032590..

Todavia, no Brasil a subnotificação ou notificação incompleta de EAPVs e/ou EI é uma realidade, que pode ser justificada, na maioria das vezes, por medo, déficit de conhecimento sobre a notificação, descompromisso e sobrecarga de trabalho dos profissionais. Embora os EAPVs estejam associados à EI, o ambiente físico inapropriado para o exercício profissional contribuiu para a ocorrência desses eventos4242 Alves MD, Carvalho DS, Albuquerque GS. Motivos para a não notificação de incidentes de segurança do paciente por profissionais de saúde: revisão integrativa. Cien Saude Colet 2019; 24(8):2895-2908.,4343 Mascarenhas FAS, Anders JC, Gelbcke FL, Lanzoni GMM, Ilha P. Facilidades e dificuldades dos profissionais de saúde frente ao processo de notificação de eventos adversos. Texto Contexto Enferm 2019; 28:e20180040..

Nesse contexto, vale ressaltar que a origem desses fatores reside na formação desses profissionais e na continuidade do processo educacional, além do suporte da gestão do trabalho. Contudo, faz-se necessário destacar que os profissionais reconhecem a necessidade e a importância de se qualificarem na temática4242 Alves MD, Carvalho DS, Albuquerque GS. Motivos para a não notificação de incidentes de segurança do paciente por profissionais de saúde: revisão integrativa. Cien Saude Colet 2019; 24(8):2895-2908.,4343 Mascarenhas FAS, Anders JC, Gelbcke FL, Lanzoni GMM, Ilha P. Facilidades e dificuldades dos profissionais de saúde frente ao processo de notificação de eventos adversos. Texto Contexto Enferm 2019; 28:e20180040..

Nessa perspectiva, frisa-se que a falta de reconhecimento e conduta adequada diante de um EAPV reflete na adesão vacinal, haja vista contribuir com a evasão em salas de vacina, e consequentemente produz uma maximização de mitos e tabus, que, atrelados aos movimentos antivacinas, desencadeiam o surgimento de doenças imunopreveníveis outrora erradicadas ou controladas4444 Santos LB. A notificação de evento adverso pós-vacinação como instrumento para tomada de decisão do profissional enfermeiro [tcc]. Ariquemes: Faculdade de Educação e Meio Ambiente; 2019..

Perante o exposto, torna-se mister a educação permanente para amenizar o medo dos profissionais, principalmente da equipe de enfermagem, de realizar a notificação e fomentar o reconhecimento, o manejo adequado e a prevenção dos EAPVs e/ou EI4545 Ascari RA, Heinrichs BC, Weihermann AM. Eventos adversos e o cuidado seguro de enfermagem na atenção primária à saúde. Rev Enferm Atual Derme 2021; 95(34):e-021048..

O método pré-teste e pós-teste foi utilizado para a avaliação das intervenções nesta revisão e tem como como objetivo avaliar uma intervenção intencional antes e depois sem grupo-controle4646 Polit DF, Beck CT. Fundamentos de pesquisa em enfermagem: avaliação de evidências para a prática da enfermagem. Porto Alegre: Artmed; 2018.. Mesmo sem ter um grupo de comparação, esse método é eficiente para o progresso das intervenções, pois permite julgar se ela é eficaz ou não e se necessita de mudanças, assim possibilita a transformação de um espaço e contribui para o aperfeiçoamento de determinado grupo4747 Brousselle A, Champagne F, Contandriopoulos AP, Hartz Z, direction. L'évaluation: concepts et méthodes. Montréal: Presses de l'Université de Montréal; 2011..

Este estudo constata que intervenções educacionais para a prevenção e conduta dos EAPVs são eficientes para a qualificação dos profissionais que atuam na vacinação, mas para isso, faz-se necessário que elas se aproximem da realidade vivenciada pelo profissional de saúde, ou seja, sejam pautadas na problematização, além disso, devem ser garantidas periodicamente e ser testadas previamente para ajuste de conteúdo, recurso e duração. Vale salientar que as intervenções só garantem melhorias se associadas a boas condições de trabalho. Martins et al.4848 Martins JRT, Alexandre BGP, Oliveira VC, Viegas SMF. Permanent education in the vaccination room: what is the reality? Rev Bras Enferm 2018; 71(Suppl. 1):668-676. destacaram que elas são ainda incipientes e escassas e que têm sido realizadas por meio de metodologias tradicionais, contrariando o que é previsto pela PNEPS.

A revisão apresentou algumas limitações, como ausência de busca na literatura cinzenta e de metanálise, devido à heterogeneidade dos estudos, além disso, a RS avaliou apenas estudos do tipo observacional.

Ressalta-se que a gestão de saúde deve fornecer melhorias para as condições de trabalho em vacinação por meio de ambiente e equipamentos apropriados, além de profissionais que atendam à demanda vacinal de forma segura, principalmente o enfermeiro, para a supervisão do trabalho. Destaca-se ainda a necessidade de capacitação dos profissionais por intermédio da EPS para o desenvolvimento das atividades, conforme preconiza o PNI. Espera-se que essa revisão contribua para outros estudos científicos, a fim de melhorar o processo de imunização com vistas à redução e/ou erradicação dos EIs e EAPVs por meio de intervenções educativas que contribuam para a educação permanente em vacinação na atenção primária à saúde.

Agradecimentos

Nosso sincero reconhecimento e agradecimento a Kent Murnaghan, da Canadian Memorial Chiropractic College, que colaborou com o aprimoramento da estratégia de busca por meio do Peer Review of Electronic Search Strategies.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    01 Jul 2024
  • Data do Fascículo
    Jul 2024

Histórico

  • Recebido
    05 Maio 2023
  • Aceito
    01 Fev 2024
  • Publicado
    14 Fev 2024
ABRASCO - Associação Brasileira de Saúde Coletiva Rio de Janeiro - RJ - Brazil
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