RESUMO:
Introdução:
O consumo de alimentos fora do lar vem crescendo no Brasil, sendo associado a escolhas alimentares menos nutritivas.
Objetivo:
Descrever a ingestão de energia e nutrientes específicos entre consumidores e não consumidores de alimentos fora do lar, na Região Nordeste.
Métodos:
Foram analisados dados do Inquérito Nacional de Alimentação (INA), provenientes da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2008-2009, em uma amostra de 11.674 indivíduos residentes na Região Nordeste, que forneceram dois registros alimentares em dias não consecutivos, com informação sobre o local de consumo dos alimentos (dentro ou fora do lar). Alimentação fora do lar foi definida como todo alimento adquirido e consumido fora de casa. Modelos de regressão linear foram desenvolvidos para avaliar a relação entre o consumo alimentar fora do lar em um dos dois dias de registro e a ingestão de energia e nutrientes, ajustados por idade, sexo e renda per capita.
Resultados:
O consumo de alimentos fora do lar, em pelo menos um dos dois dias de registro alimentar, foi reportado por 42% dos indivíduos. Os indivíduos que consomem alimentos fora do lar apresentaram pior ingestão de nutrientes em comparação com os que não consomem alimentos fora do lar, com maior consumo de energia, açúcar livre, gordura saturada, gordura trans e menor ingestão de proteína, ferro e fibra alimentar, independente da idade, sexo e renda (p < 0,05).
Conclusão:
A alimentação fora do lar no Nordeste contribuiu para uma maior ingestão de energia e uma pior ingestão de nutrientes. Assim, faz-se necessária a elaboração de políticas públicas e estratégias que favoreçam a escolha de alimentos mais saudáveis quando os indivíduos optam por se alimentar fora do lar.
Palavras-chave:
Hábitos alimentares; Nutrientes; Consumo de energia; Inquéritos sobre dieta; Ingestão de alimentos; Comportamento alimentar
INTRODUÇÃO
Os processos crescentes de urbanização, industrialização e modernização no comércio de alimentos têm proporcionado importantes modificações no estilo de vida das pessoas. Dentre essas mudanças, destaca-se o desenvolvimento de novos hábitos alimentares, como o aumento na realização de refeições fora do lar11. Moratoya EE, Carvalhaes GC, Wander AE, Almeida LMMC. Mudanças no padrão de consumo alimentar no Brasil e no mundo. Rev Política Agrícola 2013; 22(1): 72-84.,22. Moreira SA. Alimentação e comensalidade: aspectos históricos e antropológicos. Cienc Cult 2010; 62(4): 23-6..
O consumo de alimentos fora do lar é um dos componentes associados à dieta que parece ter contribuição considerável para escolhas alimentares menos nutritivas e com teor calórico excessivo, com consequente influência no ganho excessivo de peso33. Bezerra IN, Junior EV, Pereira RA, Sichieri R. Away-from-home eating: nutritional status and dietary intake among Brazilian adults. Public Health Nutr 2014; 18(6): 1011-7.,44. Nago ES, Lachat CK, Dossa RA, Kolsteren PW. Association of Out-of-Home Eating with Anthropometric Changes: A Systematic Review of Prospective Studies. Crit Rev Food Sci Nutr 2014; 54(9): 1103-16..
Estudo recente comparando o consumo de macronutrientes entre consumidores e não consumidores de alimentos fora do lar, nas áreas urbanas do Brasil, demonstrou maiores inadequações entre os consumidores de alimentos fora do domicílio33. Bezerra IN, Junior EV, Pereira RA, Sichieri R. Away-from-home eating: nutritional status and dietary intake among Brazilian adults. Public Health Nutr 2014; 18(6): 1011-7.. Dessa forma, a alimentação fora do lar vem sendo alvo de ações de promoção da saúde e prevenção de doenças crônicas relacionadas à má alimentação, como obesidade, diabetes e hipertensão55. Lachat C, Naska A, Trichopoulou A, Engeset D, Fairgrieve A, Marques HÁ, et al. Essential actions for caterers to promote healthy eating out among European consumers: results from a participatory stakeholder analysis in the HECTOR project. Public Health Nutr 2011; 14(2): 193-202..
A Região Nordeste, apesar de concentrar uma grande parte dos estados com baixos Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) do país (www.pnud.org.br), apresenta percentual importante de consumo de alimentação fora do lar: 41% dos adolescentes, 35% dos adultos e 13% dos idosos relataram consumir alimentos fora de casa33. Bezerra IN, Junior EV, Pereira RA, Sichieri R. Away-from-home eating: nutritional status and dietary intake among Brazilian adults. Public Health Nutr 2014; 18(6): 1011-7..
Apesar do hábito de se alimentar fora do domicílio ter crescido nos últimos anos, a realização de estudos nessa temática ainda é limitada, especialmente na Região Nordeste, que já se destaca no cenário nacional com elevadas prevalências de excesso de peso em suas capitais66. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa. Vigitel Brasil 2013: vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico. Brasília: Ministério da Saúde; 2014. Disponível em: http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/saude/arquivos/morbidade/Vigitel-2013.pdf (Acessado em: 30 de julho de 2015).
http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/s... .
Em toda a Região, 42,9% do sexo masculino e 46% do sexo feminino estão com sobrepeso e 9,9% dos homens e 15,2% das mulheres encontram-se obesos77. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Pesquisa de Orçamentos Familiares 2008-2009: antropometria e estado nutricional de crianças, adolescentes e adultos no Brasil. Rio de Janeiro: IBGE; 2010. Disponível em: http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv45419.pdf (Acessado em: 24 de julho de 2015).
http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizac... .
Uma vez que o consumo de alimentos fora do lar pode contribuir com a ingestão inadequada de energia e nutrientes e favorecer o desenvolvimento de doenças relacionadas à má nutrição, como a obesidade, o presente estudo tem como objetivo descrever a ingestão de energia e nutrientes específicos entre consumidores e não consumidores de alimentos fora do lar na Região Nordeste.
MÉTODOS
Trata-se de um estudo transversal, descritivo e analítico realizado com base nos dados secundários do Inquérito Nacional de Alimentação (INA), módulo de consumo alimentar individual da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), conduzido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), entre maio de 2008 e maio de 2009.
A pesquisa utilizou um plano complexo de amostragem, com base em um conjunto de 12.800 setores censitários, denominado de “Amostra Mestra”, considerada em todas as pesquisas nacionais do IBGE com amostra domiciliar. A seleção da amostra ocorreu em dois estágios. No primeiro estágio, os setores censitários foram as unidades primárias de amostragem, selecionados por amostragem sistemática, com probabilidade proporcional ao número de domicílios em cada setor. As unidades secundárias de amostragem foram os domicílios, selecionados por amostragem aleatória simples. Os setores censitários passaram por estratificação geográfica e estatística com o intuito de permitir análises em diferentes domínios geográficos e socioeconômicos, incluindo as cinco grandes regiões brasileiras.
Os dados de consumo alimentar foram coletados em uma subamostra de 25% dos domicílios da POF 2008-2009, correspondendo a 13.569 domicílios, selecionados aleatoriamente a partir da amostra da pesquisa. Todos os membros com dez anos de idade ou mais desses domicílios foram selecionados para participar do inquérito alimentar (n = 38.340). A taxa de não resposta foi de 11%, resultando em uma amostra final de 34.003 respondentes. Para este trabalho, foram incluídos somente os indivíduos residentes na Região Nordeste do Brasil (n = 12.615). Grávidas e nutrizes (n = 482) foram excluídas da amostra, totalizando um conjunto final de 11.674 indivíduos, cada um com dois dias de registro alimentar.
Os dados de consumo alimentar foram coletados por meio de registros alimentares aplicados em dois dias não consecutivos. Os entrevistados foram orientados a registrar todos os alimentos e bebidas consumidos de forma detalhada, especificando a quantidade de todos os itens consumidos, o tipo de preparação de alimentos específicos, hora e local de consumo (dentro ou fora de casa). A classificação do consumo de alimentos fora do lar incluiu todos os alimentos e bebidas que foram adquiridos e consumidos fora de casa, sem passar pelo estoque domiciliar. Para o presente estudo, avaliaram-se os dois dias de registro alimentar, considerando consumidores de alimentos fora do lar, os indivíduos que consumiram pelo menos um item fora de casa em um dos dois dias de registro.
Questionários com dados socioeconômicos e demográficos foram aplicados aos moradores dos domicílios durante as entrevistas. As variáveis socioeconômicas e demográficas utilizadas neste estudo são: idade, sexo e renda familiar per capita. As medidas caseiras e porções relatadas de alimentos consumidos foram transformadas em gramas ou mililitros utilizando-se a tabela de medidas referidas para os alimentos consumidos no Brasil88. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Pesquisa de Orçamentos Familiares 2008-2009: Tabela de medidas referidas para os alimentos consumidos no Brasil. Rio de Janeiro: IBGE; 2011.. Em seguida, a composição nutricional foi estimada a partir da tabela de composição nutricional dos alimentos consumidos no Brasil, especialmente desenvolvida para o inquérito99. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Pesquisa de Orçamentos Familiares 2008-2009: Tabela de composição nutricional para os alimentos consumidos no Brasil. Rio de Janeiro: IBGE; 2011..
Calculou-se a média dos dois dias de registro alimentar para estimar o consumo de energia, carboidratos, açúcar livre, lipídeos, gordura saturada, gordura trans, proteínas, fibras e micronutrientes específicos (sódio, cálcio, ferro e vitamina C). A análise do consumo de nutrientes (macro e micronutrientes) foi ajustada pelo consumo calórico total por meio do método da densidade de nutriente, obtida pela divisão do valor de consumo do nutriente pelo total energético consumido. Os macronutrientes, gordura saturada, gordura trans e açúcar livre foram estimados segundo o percentual de consumo de energia, os micronutrientes foram estimados em mg/1000kcal, e as fibras foram estimadas em g / 1000 kcal.
Estimou-se a frequência de consumo fora do lar por sexo e idade. A média de ingestão de energia e macro e micronutrientes foi estimada segundo o consumo de alimentos fora de casa, e modelos de regressão linear foram desenvolvidos para avaliar a relação entre consumir alimentos fora de casa em um dos dois dias de registro alimentar (sim/não) e a ingestão de energia e macro e micronutrientes. Os modelos foram inicialmente ajustados por idade e sexo e, em seguida, por idade, sexo e renda familiar per capita. Consideraram-se significativas as relações que apresentaram valor p < 0,05.
Para o cálculo das estimativas, foi utilizado o software SAS, versão 9.3, considerando a complexidade da amostra da POF e os fatores de expansão da pesquisa.
RESULTADOS
O consumo de alimentos fora do lar, em pelo menos um dos dois dias de registro alimentar, foi reportado por 42% dos indivíduos da região Nordeste. A média de idade foi de 35,9 anos (erro-padrão [EP] = 0,3), e 50% eram mulheres. O consumo de alimentos fora do lar foi maior na área urbana (45,3%; IC95% 43,1 - 47,5) do que na rural (33,7%; IC95% 30,1 - 37,3) e maior entre os adolescentes do que em adultos e idosos (53,2, 43,3 e 16,9%, respectivamente). Os homens reportaram consumo de alimentos fora do lar com maior frequência do que as mulheres (45,7 versus 38,5%, valor p < 0,0001). Os indivíduos que reportaram consumo de alimentos fora do lar possuíam menor média de idade e maior média de anos de estudo e de renda domiciliar per capita (Tabela 1).
Características da população (médias e intervalos de confiança de 95%), segundo consumo de alimentos fora do lar na Região Nordeste. Inquérito Nacional de Alimentação 2008-2009.
Os consumidores de alimentos fora do lar apresentaram um consumo calórico total significativamente maior do que os indivíduos que não consumiram fora do lar (2.137 kcal versus 1.730 kcal, valor p < 0,0001). Quanto aos macronutrientes, os indivíduos que consumiram alimentos fora do lar apresentaram maior ingestão de gordura total, saturada e trans e açúcar livre do que os que não comem fora (p < 0,05) (Tabela 2). Por outro lado, a ingestão de proteína, fibra alimentar e ferro foi significativamente inferior nos indivíduos que se alimentaram fora do lar, quando comparados aos indivíduos que não se alimentaram fora (p < 0,05) (Tabela 2). Essas relações permaneceram estatisticamente significativas mesmo após ajuste por idade, sexo e renda familiar per capita (Tabela 3).
DISCUSSÃO
Os indivíduos que consomem alimentos fora do lar apresentaram maior consumo de energia, açúcar livre, gordura saturada, gordura trans e menor ingestão de cálcio, proteína, ferro e fibra alimentar, fatos que corroboram outros trabalhos que descreveram contribuição importante da alimentação fora do lar para o consumo total de calorias, gorduras e açúcares33. Bezerra IN, Junior EV, Pereira RA, Sichieri R. Away-from-home eating: nutritional status and dietary intake among Brazilian adults. Public Health Nutr 2014; 18(6): 1011-7.,1010. Lachat C, Nago E, Verstraeten R, Roberfroid D, Van Camp J, Kolsteren P. Eating out of home and its association with dietary intake: a systematic review of the evidence. Obes Rev 2012; 13(4): 329-46..
A ingestão de alimentos com alta densidade energética tem sido associada com o crescimento da obesidade e de síndrome metabólica1111. Mendoza JA, Watson K, Cullen KW. Change in dietary energy density after implementation of the Texas Public School Nutrition Policy. J Am Diet Assoc 2010; 110(3): 434-40., sendo o aumento no tamanho das porções e a alta palatabilidade1212. Moubarac JC, Martins AP, Claro RM, Levy RB, Cannon G, Monteiro CA. Consumption of ultra-processed foods and likely impact on human health. Evidence from Canada. Public Health Nutr 2013; 16(12): 2240-8. dos alimentos consumidos fora do lar um importante fator contribuinte para o consumo elevado de calorias. Um estudo brasileiro analisou as características do consumo de alimentos fora do lar e constatou que os grupos de alimentos preferidos foram aqueles de maior densidade energética, como bebidas alcoólicas, salgadinhos fritos e assados, pizza, refrigerantes e sanduíches1313. Bezerra IN, Souza AM, Pereira RA, Sichieri R. Consumo de alimentos fora do domicílio no Brasil. Rev Saúde Pública 2013; 47(1): 200S-11S.. Vale salientar que a redução da densidade energética da dieta é considerada uma estratégia relevante para reduzir a prevalência de sobrepeso e obesidade na população1111. Mendoza JA, Watson K, Cullen KW. Change in dietary energy density after implementation of the Texas Public School Nutrition Policy. J Am Diet Assoc 2010; 110(3): 434-40..
O consumo aumentado de gordura total, saturada e trans entre consumidores de alimentos fora do lar pode ser explicado pela maior quantidade de gordura saturada e trans em alimentos preparados fora do domicílio, principalmente quando são alimentos fritos, como os servidos em restaurantes do tipo fast-food1414. Larson N, Neumark-Sztainer D, Laska MN, Story M. Young adults and eating away from home: associations with dietary intake patterns and weight status differ by choice of restaurant. J Am Diet Assoc 2011; 111(11): 1696-703..
O açúcar livre deve ser consumido em até 10% do valor calórico diário1515. World Health Organization (WHO). Diet, nutrition and the prevention of chronic diseases. Technical Report Series 916. Geneva; 2003. [Internet]. Disponível em: http://whqlibdoc.who.int/trs/who_trs_916.pdf. (Acessado em: 29 de julho de 2015).
http://whqlibdoc.who.int/trs/who_trs_916... , estando elevado, não somente entre os que consomem alimentos fora, como também entre os que não consomem fora do lar. Sabe-se que os alimentos preparados fora de casa possuem elevado teor de açúcar1010. Lachat C, Nago E, Verstraeten R, Roberfroid D, Van Camp J, Kolsteren P. Eating out of home and its association with dietary intake: a systematic review of the evidence. Obes Rev 2012; 13(4): 329-46.. Os refrigerantes são considerados importantes veículos para o consumo de açúcar1616. Basu S, McKee M, Galea G, Stuckler D. Relationship of soft drink consumption to global overweight, obesity, and diabetes: a cross-national analysis of 75 countries. Am J Public Health 2013; 103(11): 2071-7. e são apontados como um dos produtos mais consumidos fora de casa1717. Malik VS, Popkin BM, Bray GA, Després JP, Hu FB. Sugar-sweetened beverages, obesity, type 2 diabetes mellitus, and cardiovascular disease risk. Circulation 2010; 121(11): 1356-64.,1818. Bezerra IN, de Moura Souza A, Pereira RA, Sichieri R. Contribution of foods consumed away from home to energy intake in Brazilian urban areas: the 2008-9 Nationwide Dietary Survey. Br J Nutr 2013; 109(7): 1276-83., inclusive na Região Nordeste1818. Bezerra IN, de Moura Souza A, Pereira RA, Sichieri R. Contribution of foods consumed away from home to energy intake in Brazilian urban areas: the 2008-9 Nationwide Dietary Survey. Br J Nutr 2013; 109(7): 1276-83., o que pode contribuir para a ingestão de açúcar livre. Assim, o consumo de refrigerante é reconhecidamente prejudicial à saúde dos indivíduos, apresentando associação positiva com o excesso de peso, obesidade e diabetes1616. Basu S, McKee M, Galea G, Stuckler D. Relationship of soft drink consumption to global overweight, obesity, and diabetes: a cross-national analysis of 75 countries. Am J Public Health 2013; 103(11): 2071-7.,1919. Gulati S, Misra A. Sugar intake, obesity, and diabetes in India. Nutrients 2014; 6(12): 5955-74..
Um achado relevante deste estudo foi a menor ingestão de fibras e micronutrientes entre consumidores de alimentos fora do lar. Dados semelhantes também foram reportados pela POF 2008-2009, onde constatou-se que 68% da população brasileira não atinge a recomendação diária de fibras2020. Instituto brasileiro de geografia e estatística (IBGE). Pesquisa de Orçamentos Familiares 2008-2009: análise do consumo alimentar no Brasil. Rio de Janeiro: IBGE; 2011. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/condicaodevida/pof/2008_2009_analise_consumo/pofanalise_2008_2009.pdf. (Acessado em: 24 de julho de 2015).
http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/... . Essa situação tem relação direta com o consumo insatisfatório de frutas, verduras e cereais integrais e a baixa qualidade dietética apresentada pelos indivíduos2121. Lin BH, Wendt M, Guthrie JF. Impact on energy, sodium and dietary fibre intakes of vegetables prepared at home and away from home in the U.S.A. Public Health Nutr 2013; 16(11): 1937-43.. A ingestão deficiente de fibras também está associada a características dos alimentos predominantemente consumidos fora do lar2020. Instituto brasileiro de geografia e estatística (IBGE). Pesquisa de Orçamentos Familiares 2008-2009: análise do consumo alimentar no Brasil. Rio de Janeiro: IBGE; 2011. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/condicaodevida/pof/2008_2009_analise_consumo/pofanalise_2008_2009.pdf. (Acessado em: 24 de julho de 2015).
http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/... , os quais, além de serem pobres em fibras, dispõem de alta densidade energética e baixa qualidade nutricional, configurando, assim, uma dieta predisponente de carências nutricionais e doenças crônicas não transmissíveis2222. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Guia alimentar para a população brasileira. Brasília; 2014. Disponível em: http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/publicacoes/guia_alimentar_populacao_brasileira.pdf. (Acessado em: 27 de julho de 2015).
http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab... .
Essa baixa qualidade da dieta de consumidores de alimentos fora do lar na Região Nordeste não impactou o peso corporal da população. Apesar da prevalência de sobrepeso entre os indivíduos que consomem alimentos fora do lar ter sido maior nos homens adultos e mulheres idosas, essas diferenças não foram estatisticamente significantes (dados não mostrados). Estudo conduzido por Bezerra e Sichieri (2009)2323. Bezerra IN, Sichieri R. Eating out of home and obesity: a Brazilian nationwide survey. Public Health Nutr 2009; 12(11): 2037-43. demonstrou uma relação positiva entre o hábito de realizar as refeições fora do lar e prevalências de sobrepeso e obesidade somente entre os homens das áreas urbanas do Brasil.
O fato pelo qual a alimentação fora do lar contribui para o crescente aumento nas prevalências de excesso de peso pode estar relacionado com a qualidade nutricional da dieta. Os alimentos oferecidos nos serviços de alimentação, com quantidade elevadas de calorias, alto conteúdo de gorduras, com baixo teor em fibras, com uma variedade de alimentos palatáveis bem como o consumo elevado de refrigerantes e doces e o aumento do tamanho das porções são os prováveis mecanismos que associam a alimentação fora do lar ao ganho de peso1010. Lachat C, Nago E, Verstraeten R, Roberfroid D, Van Camp J, Kolsteren P. Eating out of home and its association with dietary intake: a systematic review of the evidence. Obes Rev 2012; 13(4): 329-46.,2424. Bezerra IN, Curioni C, Sichieri R. Association between eating out of home and body weight. Nutr Rev 2012; 70(2): 65-79..
Por outro lado, é importante considerar que o padrão alimentar dentro do domicílio também pode contribuir para o consumo inadequado de energia e nutrientes. Um estudo que avaliou a qualidade de refeições consumidas dentro e fora do lar na cidade de São Paulo revelou que a qualidade nutricional dessas refeições era similar, com exceção do almoço consumido fora do domicílio, que apresentou pior qualidade nutricional do que o consumido dentro do lar. No entanto, as autoras ressaltam que, tanto dentro quanto fora do lar, as escolhas alimentares devem ser reconsideradas, uma vez que foi observada uma baixa ingestão de alimentos marcadores de uma dieta saudável, tais como, frutas, verduras e grãos integrais e um alto consumo de gordura total e saturada2525. Gorgulho BM, Fisberg MR, Marchioni DML. Nutritional quality of major meals consumed away from home in Brazil and its association with the overall diet quality. Prev Med 2013; 57(2): 98-101..
Além disso, a disponibilidade domiciliar de alimentos, no Brasil, tem-se alterado nos últimos anos, com a substituição de alimentos tradicionais, como arroz, feijão e tubérculos, por alimentos ultraprocessados, prontos para consumo2626. Levy RB, Claro RM, Mondini L, Sichieri R, Monteiro CA. Distribuição regional e socioeconômica da disponibilidade domiciliar de alimentos no Brasil em 2008-2009. Rev Saúde Pública 2012; 46(1): 6-15.. Esses alimentos possuem características que favorecem o seu consumo excessivo, como ingestão elevada de energia, propiciada pela comercialização em grandes porções; alta palatabilidade; longa durabilidade, além de serem de fácil transporte para o consumidor, o que estimula seu consumo entre as refeições ou mesmo as substitui, associando-se, portanto, ao ganho excessivo de peso1212. Moubarac JC, Martins AP, Claro RM, Levy RB, Cannon G, Monteiro CA. Consumption of ultra-processed foods and likely impact on human health. Evidence from Canada. Public Health Nutr 2013; 16(12): 2240-8..
Apesar deste estudo ser pioneiro em identificar a ingestão de energia e nutrientes na Região Nordeste, comparando consumidores e não consumidores de alimentos fora do lar, os achados devem ser vistos com cautela, uma vez que o método de coleta dos dados foi por meio de registros alimentares, que podem alterar o hábito alimentar dos entrevistados2727. Fisberg RM, Marchioni DML, Colucci ACA. Avaliação do consumo alimentar e da ingestão de nutrientes na prática clínica. Arq Bras Endrocrinol Metab 2009; 53(5): 617-24.. Apesar de se utilizar, no INA, o método de registro alimentar, os entrevistadores também foram treinados para realização de revisão detalhada desses registros alimentares. A revisão foi baseada no método dos múltiplos passos, que envolve perguntas de sondagem sobre alimentos frequentemente esquecidos e sobre detalhes de alimentos consumidos. Além disso, os entrevistadores foram orientados a confirmar as informações em duas situações: quando nada fora consumido entre as refeições com intervalos maiores de três horas e quando houvesse registros com apenas cinco itens consumidos em um dia. Uma vez que a avaliação do consumo de alimentos fora de casa foi baseada exclusivamente em dois dias, pode-se ter subestimado a ingestão de energia e nutrientes fora do lar, visto que possíveis consumidores de alimentos fora do lar podem não ter consumido nenhum alimento nos dias de registro. No entanto, a coleta de mais de dois dias de registro em inquéritos dietéticos com amostra representativa da população apresenta custos elevados. Muitos países também investigam o consumo de alimentos fora do lar considerando dois dias de consumo alimentar e alguns apresentam dados de somente um dia2828. Orfanos P, Naska A, Trichopoulou A, Grioni S, Boer JM, van Bakel MM, et al. Eating out of home: energy, macro- and micronutrient intakes in 10 European countries. The European Prospective Investigation into Cancer and Nutrition. Eur J Clin Nutr 2009; 63(Suppl 4): S239-62.,2929. Kwon YS, Ju SY. Trends in nutrient intakes and consumption while eating-out among Korean adults based on Korea National Health and Nutrition Examination Survey (1998-2012) data. Nutr Res Pract 2014; 8(6): 670-8..
CONCLUSÃO
Os indivíduos que consomem alimentos fora do lar, na Região Nordeste do Brasil, apresentaram maior consumo de energia, gordura saturada, gordura trans e menor ingestão de proteína, ferro e fibra alimentar em comparação com os que não relataram consumo fora de casa. Assim, faz-se necessária a elaboração de políticas públicas e estratégias de educação alimentar que favoreçam a escolha de alimentos mais saudáveis quando os indivíduos optam por se alimentar fora do lar.
REFERÊNCIAS
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- 10Lachat C, Nago E, Verstraeten R, Roberfroid D, Van Camp J, Kolsteren P. Eating out of home and its association with dietary intake: a systematic review of the evidence. Obes Rev 2012; 13(4): 329-46.
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- Fonte de financiamento: Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Edital Chamada 13/2013 - Processo de inscrição 2014/2015 e Edital Chamada 08/2012 - Processo de inscrição 2014/2015
Datas de Publicação
- Publicação nesta coleção
Jan-Mar 2017
Histórico
- Recebido
22 Out 2015 - Aceito
01 Set 2016