Plantas medicinais e pessoas com tuberculose: descrição de práticas de cuidado no norte da Bahia, 2017**Estudo oriundo da dissertação de mestrado de autoria de Walter Ataalpa de Freitas Neto, intitulada ‘Condições de vida e o consumo de plantas medicinais no itinerário terapêutico de pessoas com tuberculose no norte da Bahia, 2017’, apresentada junto ao Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde e Biológicas da Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF) em 2019.

Plantas medicinales y personas con tuberculosis: descripción de prácticas de cuidado en el norte de Bahia, 2017

Walter Ataalpa de Freitas Neto Silvânia Suely Caribé de Araújo Andrade Gabriela Drummond Marques da Silva Joilda Silva Nery Mauro Niskier Sanchez Stefano Barbosa Codenotti Maria Aline Siqueira Santos Cheila Nataly Galindo Bedor Gabriela Lemos de Azevedo Maia Sobre os autores

Resumo

Objetivo:

Descrever as plantas medicinais utilizadas por pessoas com tuberculose (TB) em municípios do norte da Bahia, em 2017.

Métodos:

Realizou-se um estudo descritivo com dados primários sobre plantas medicinais utilizadas por pessoas com TB ≥ 18 anos, apresentados por nomenclatura botânica e frequência de consumo.

Resultados:

Das 80 pessoas entrevistadas, 50 referiram consumir alguma planta medicinal; essas pessoas eram principalmente do sexo masculino (34), ≥47 anos (22), pardas/pretas (34), com até o ensino primário completo (25), casadas (26), não economicamente ativas (30), dispondo de até R$ 300,00/mês (26), com tosse (33) e sem história anterior de TB (44). Duas espécies protagonizaram as citações, Chenopodium ambrosioides L. (mastruz: 23 citações) e Solanum capsicoides All. (melancia-da-praia: 17 citações).

Conclusão:

Observou-se ampla utilização de plantas medicinais como prática de cuidado com a TB em seis municípios do norte da Bahia.

Palavras-chave:
Plantas Medicinais; Tuberculose; Terapias Complementares; Estudos Transversais

Resumen

Objetivo:

Describir las plantas medicinales utilizadas por personas con tuberculosis (TB) en municipios del norte de Bahia, en 2017.

Métodos:

Se realizó un estudio descriptivo con datos primarios sobre plantas medicinales utilizadas por personas con TB ≥18 años, presentado por nomenclatura botánica y frecuencia de consumo

Resultados:

De las 80 personas entrevistadas, 50 informaron consumir alguna planta medicinal, entre las cuales, principalmente hombres (34), ≥47 años (22), pardos/negros (34), con educación primaria completa (25), casados (26), no económicamente activos (30), con hasta 300,00 reales/mes (26), con tos (33) y sin antecedentes de TB (44). Dos especies aparecen en las citas, Chenopodium ambrosioides L. (paico: 23 citas) y Solanum capsicoides All. (baya cucaracha: 17 citas).

Conclusión:

Se observó el uso generalizado de plantas medicinales como práctica para el cuidado de la TB en seis municipios del norte de Bahia.

Palabras clave:
Plantas Medicinales; Tuberculosis; Terapias Complementarias; Estudios Transversales

Introdução

Anualmente, são diagnosticados cerca de 70 mil casos novos de tuberculose (TB) no Brasil,11. Souza Júnior EV, Nunes GA, Cruz DP, Boery EN, Boery RNSO. Internações hospitalares e impacto financeiro por tuberculose pulmonar na Bahia, Brasil. Enferm Actual Costa Rica [Internet]. 2018 dez [citado 2020 jul 3];(35):38-51. Disponível em: http://dx.doi.org/10.15517/revenf.v0i35.31868
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onde pessoas com maior vulnerabilidade social estão mais susceptíveis ao adoecimento.22. Andrade KVF, Nery JS, Araújo GS, Barreto ML, Pereira SM. Associação entre desfecho do tratamento, características sociodemográficas e benefícios sociais recebidos por indivíduos com tuberculose em Salvador, Bahia, 2014-2016*. Epidemiol Serv Saúde [Internet]. 2019 jun [citado 2020 jul 3];28(2):e2018220. Disponível em: https://doi.org/10.5123/s1679-49742019000200004
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,33. Oliosi JGN, Reis-Santos B, Locatelli RL, Sales CMM, Silva Filho WG, Silva KC, et al. Effect of the Bolsa Familia Programme on the outcome of tuberculosis treatment: a prospective cohort study. Lancet Glob Health [Internet]. 2019 Dec [cited 2020 Jul 2];7(2):e219-26. Available from: https://doi.org/10.1016/S2214-109X(18)30478-9
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A TB é uma doença de tratamento longo, com diferentes fármacos que podem causar efeitos adversos.44. Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Vigilância em Saúde. Manual de recomendações para o controle da tuberculose no Brasil [Internet]. 2. ed. atual. Brasília: Ministério da Saúde; 2019 [citado 2019 out 23]. 364 p. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_recomendacoes_controle_tuberculose_brasil_2_ed.pdf
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,55. Rabahi MF, Silva Júnior JLR, Ferreira ACG, Tannus-Silva DGS, Conde MB. Tuberculosis treatment. J Bras Pneumol [Internet]. 2017 Nov-Dec [cited 2020 Jul 3];43(6):472-86. Available from: http://jornaldepneumologia.com.br/detalhe_artigo.asp?id=2741
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Na busca pelo bem-estar e qualidade de vida, as plantas medicinais tornaram-se uma alternativa, dada sua credibilidade terapêutica e baixo custo. Estas condições se apresentam como convite para a introdução de terapias alternativas, na busca pela cura ou até mesmo para amenizar efeitos adversos dos medicamentos.

É crescente o uso de terapias complementares no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), em particular o uso de plantas medicinais e fitoterápicos;66. Ministério da Saúde (BR). Departamento de Atenção Básica. Política nacional de práticas integrativas e complementares no SUS: atitude de ampliação de acesso [Internet]. Brasília: Ministério da Saúde; 2006 [citado 2020 jul 3]. 92 p. Disponível em: http://189.28.128.100/dab/docs/publicacoes/geral/pnpic.pdf
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7. Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos. Política e programa nacional de plantas medicinais e fitoterápicos [Internet]. Brasília: Ministério da Saúde; 2016 [citado 2019 jul 12]. 190 p. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_programa_nacional_plantas_medicinais_fitoterapicos.pdf
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8. Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Atenção à Saúde. Política nacional de práticas integrativas e complementares no SUS: atitude de ampliação de acesso [Internet]. Brasília: Ministério da Saúde; 2018 [citado 2020 abr 13]. 96 p. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_praticas_integrativas_complementares_sus_2ed_1_reimp.pdf
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9. Tesser CD, Sousa IMC, Nascimento MC. Práticas integrativas e complementares na atenção primária à saúde brasileira. Saúde Debate [Internet]. 2018 [citado 2020 jul 3];42(n. esp):174-88. Disponível em: https://doi.org/10.1590/0103-11042018s112
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-1010. Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Atenção à Saúde. Manual de implantação de serviços de práticas integrativas e complementares no SUS [Internet]. Brasília: Ministério da Saúde; 2018 [citado 2020 jun 2]. Disponível em: http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/publicacoes/manual_implantacao_servicos_pics.pdf
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entretanto, não existem no Brasil recomendações sobre essas práticas de cuidado no tratamento da TB. Apesar disso, na busca pelo bem-estar e qualidade de vida, as plantas medicinais tornaram-se uma alternativa, dada sua credibilidade terapêutica e baixo custo.1111. Organización Mundial de la Salud - OMS. Estrategia de la OMS sobre medicina tradicional 2002–2005 [Internet]. Ginebra: Organización Mundial de la Salud; 2002 [citado 2019 jul 17]. Disponível em: https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_docman&view=download&alias=796-estrategia-oms-sobre-medicina-tradicional-2002-2005-6&category_slug=vigilancia-sanitaria-959&Itemid=965
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Estas condições se apresentam como convite para a introdução de terapias alternativas, na busca pela cura ou até mesmo para amenizar efeitos adversos dos medicamentos.

O presente estudo teve o objetivo de descrever o consumo de plantas medicinais utilizadas por pessoas diagnosticadas com TB em municípios do norte do estado da Bahia, no ano de 2017.

Métodos

Trata-se de um estudo descritivo, baseado em entrevistas domiciliares com pessoas diagnosticadas com TB (casos novos e retratamentos), residentes em municípios do norte baiano, no ano de 2017.

A Bahia é constituída por 417 municípios, distribuídos em nove Núcleos Regionais de Saúde (NRS), e somava uma população estimada para o ano de 2017 em 15.344.447 habitantes.1111. Organización Mundial de la Salud - OMS. Estrategia de la OMS sobre medicina tradicional 2002–2005 [Internet]. Ginebra: Organización Mundial de la Salud; 2002 [citado 2019 jul 17]. Disponível em: https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_docman&view=download&alias=796-estrategia-oms-sobre-medicina-tradicional-2002-2005-6&category_slug=vigilancia-sanitaria-959&Itemid=965
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O NRS Norte da Bahia contempla 28 municípios e uma população que representava, aproximadamente, 7% da população baiana no ano do estudo.1212. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. Conheça cidades e Estados do Brasil [Internet]. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística; 2017 [citado 2020 jul 3]. Disponível em: https://cidades.ibge.gov.br/
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13. Governo do Estado da Bahia. Casa Civil. Lei n. 13.204, de 11 de dezembro de 2014. Modifica a estrutura organizacional da Administração Pública do Poder Executivo Estadual e dá outras providências [Internet]. Diário Oficial do Estado da Bahia; Salvador (BA); 2014 maio 11 [citado 2020 abr 17]. Disponível em: http://www.secom.ba.gov.br/arquivos/File/LEI13204.pdf
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-1414. Secretaria da Saúde do Estado da Bahia - SESAB. Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia. A regionalização da Secretaria de Saúde do Estado da Bahia [Internet]. Salvador: SESAB; 2018 [citado 2020 jul 3]. Disponível em: http://www.sei.ba.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=2597&Itemid=701,%20acessado%20em%2003/07/2018
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A população estudada foi composta por todos os indivíduos notificados com TB em 2017, residentes em municípios da região norte da Bahia e que apresentaram (i) uma população >50 mil habitantes e/ou (ii) >10 casos de TB notificados em 2016. Estes critérios foram adotados para assegurar a existência de casos e a viabilidade do estudo no território. As entrevistas domiciliares aconteceram entre 1° de outubro e 30 de dezembro de 2017, por meio de um instrumento semiestruturado, com que um único entrevistador questionou sobre a prática do consumo de plantas medicinais antes do diagnóstico da TB ou depois do início do tratamento. Registra-se, ainda, que foram excluídos indivíduos em tratamento há mais de dois meses, os menores de 18 anos de idade e aqueles com limitação cognitiva.

As questões abertas foram propostas por livre expressão do entrevistado, e suas citações, sintetizadas pelos pesquisadores após a compilação das falas. A síntese das citações foi feita com base nos seguintes questionamentos:

“Você utilizou alguma planta medicinal antes ou depois do início do tratamento da TB?”

“Qual?”

“Para que você utilizou planta medicinal?”

e

“Com quem você aprendeu a utilizar as plantas medicinais?”

Também foram observadas as variáveis independentes da pessoa, durante sua entrevista:

  1. sexo (masculino; feminino);

  2. faixa etária (em anos: 18 a 36; 37 a 46; 47 ou mais);

  3. estado civil (solteira; casada; outros);

  4. escolaridade (até o ensino primário completo; até o ensino fundamental completo; ensino médio ou mais);

  5. raça/cor da pele (autodeclarada: parda/preta; branca/amarela/indígena);

  6. ocupação (autodeclarada: economicamente ativa; não economicamente ativa);

  7. rendimento econômico pessoal (reais [R$]/mês);

  8. consumo de álcool (sim; não);

  9. consumo de tabaco (sim; não);

  10. condição de domicílio (próprio; não próprio);

  11. história anterior de TB (sim; não);

  12. presença de tosse (sim; não);

  13. presença de febre (sim; não);

  14. sudorese (sim; não); e

  15. perda de peso (sim; não).

As variáveis foram agrupadas considerando-se o prévio conhecimento da literatura científica e suas distribuições. As fontes de dados foram (i) o registro populacional1212. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. Conheça cidades e Estados do Brasil [Internet]. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística; 2017 [citado 2020 jul 3]. Disponível em: https://cidades.ibge.gov.br/
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dos 27 municípios da região administrativa e (ii) o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan),1515. Ministério da Saúde (BR). DATASUS: informações de saúde (TABNET) - demográficas e socioeconômicas [Internet]. Brasília: Ministério da Saúde; 2017 [citado 2017 dez 3]. Disponível em: http://www.datasus.gov.br/informacoes-de-saude/tabnet
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consultado para a confirmação dos casos notificados.

As análises descritivas foram processadas com uso do software Stata/MP 12.0, pelo qual se registraram valores absolutos para a medida do consumo de plantas e apresentação das espécies citadas, que, por sua vez, tiveram a nomenclatura botânica conferida nas bases de dados Tropicos®. Missouri Botanical Garden, versão on-line.1616. Tropicos. Missouri botanical garden [Internet]. Saint Louis: Tropicos; 2019 [cited 2020 Apr 18]. Available from: http://legacy.tropicos.org/home.aspx
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O projeto do estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Vale do São Francisco (CEP-UNIVASF): Certificado de Apresentação para Apreciação Ética (CAAE) n° 67456117.3.0000.5196, de 23 de setembro de 2017. Todos os participantes assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Resultados

Os municípios do norte da Bahia que preencheram os critérios de elegibilidade para o estudo foram Campo Formoso, Casa Nova, Juazeiro, Paulo Afonso, Pindobaçu e Senhor do Bonfim. No ano de 2017, foram notificados no Sinan 199 casos de TB nesses municípios. Desse total de casos notificados, 29 (14,6%) tiveram desfecho de tipo óbito, 36 (18,0%) transferência para outras localidades, 10 (5,0%) privação da liberdade e 10 (5,0%) abandono do tratamento no momento da coleta de dados. No período do estudo, 114 casos foram considerados viáveis para investigação; entretanto foram excluídas 12 pessoas (6,0%) não encontradas em suas residências, 10 (5,0%) menores de 18 anos de idade, 5 (2,5%) com limitações cognitivas no momento da entrevista e 7 (3,5%) por recusa em participar da pesquisa.

Foram entrevistadas 80 pessoas com TB, e entre elas, 50 referiram o uso de plantas medicinais como prática de cuidado com a doença. Observou-se maior frequência de uso de planta medicinal por pessoas do sexo masculino (34), com 47 anos ou mais de idade (22), de raça/cor da pele parda ou preta (34), com até o ensino primário completo (25), casadas (26), não economicamente ativas (30), dispondo de até R$ 300,00/mês (26), com tosse (33) e sem história anterior da doença (44) (Tabela 1).

Tabela 1
Caracterização socioeconômica, demográfica, sobre estilo de vida e sintomas das pessoas com tuberculose e uso de plantas medicinais, em seis municípios do norte da Bahia, 2017

Duas plantas destacaram-se: Chenopodium ambrosioides L. (mastruz), citada por 23 pessoas; e Solanum capsicoides All. (melancia-da-praia), citada por 17 pessoas. Entretanto, o uso de outras ervas medicinais foi citado como prática de cuidado com a TB (Figuras 1 e 2). Os entrevistados atribuíram às plantas medicinais o alívio da tosse (13) ou expectoração (10), controle da febre e outros sintomas da doença (7), sendo o seu uso também relacionado ao controle dos efeitos colaterais advindos dos medicamentos adotados no tratamento da TB. O conhecimento sobre o uso de plantas medicinais foi atribuído, principalmente, ao aprendizado com pais e avós (30), e com amigos, vizinhos e conhecidos (8) (Figura 3).

Figura 1
Plantas medicinais utilizadas por pessoas com tuberculose em seis municípios do norte da Bahia, 2017
Figura 2
Plantas medicinais utilizadas por pessoas com tuberculose, segundo citação e indicação de uso, em seis municípios do norte da Bahia, 2017
Figura 3
Síntese dos discursos proferidos por pessoas com tuberculose frente ao questionamento do motivo e momento do uso de plantas medicinais (n=40 respostas citadas nas três categorias), em seis municípios do norte da Bahia, 2017

Discussão

Neste estudo, foi possível observar a alta prevalência do consumo de plantas medicinais entre as pessoas com TB, motivado pela tosse e outros sintomas da doença. Observou-se a influência da família na manutenção transgeracional desse conhecimento, amplamente discutido na literatura científica.1717. Pio IDSL, Lavor AL, Damasceno CMD, Menezes PMN, Silva FS, Maia GLA. Traditional knowledge and uses of medicinal plants by the inhabitants of the islands of the São Francisco river, Brazil and preliminary analysis of Rhaphiodon echinus (Lamiaceae). Braz J Biol [Internet]. 2018 Jan-Mar [cited 2020 Jul 3];79(1):87-99. Available from: https://doi.org/10.1590/1519-6984.177447
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,1818. Silva AR, Sousa AI, Sant’Anna CC. Práticas de cuidado empregadas no tratamento de crianças e adolescentes com infecção latente por tuberculose. Epidemiol Serv Saúde [Internet]. 2014 jul-set [citado 2020 jul 3];23(3):547-52. Disponível em: https://doi.org/10.5123/S1679-49742014000300018
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A planta mais citada, mastruz (Chenopodium ambrosioides L.), é utilizada na medicina popular para diversos fins;1919. Penido AB, Morais SM, Ribeiro AB, Silva AZ. Ethnobotanical study of medicinal plants in Imperatriz, State of Maranhão, Northeastern Brazil. ACTA Amaz [Internet]. 2016 Oct-Dec [cited 2020 Jul 3];46(4):345-54. Available from: https://doi.org/10.1590/1809-4392201600584
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sua atividade antimicrobiana contra cepas de M. tuberculosis confere melhoras dos sintomas da TB, por inibir o crescimento do bacilo,2020. Jesus RS, Piana M, Freitas RB, Brum TF, Alves CFS, Belke BV, et al. In vitro antimicrobial and antimycobacterial activity and HPLC–DAD screening of Jun [cited 2020 Jul 3];49(2):296-302. Available from: https://doi.org/10.1016/j.bjm.2017.02.012
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e o fato pode motivar a incorporação dessa espécie na prática do cuidado prestados às pessoas com TB. Contudo, sob condição alguma, ela deve substituir o tratamento comprovadamente capaz de levar à cura.44. Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Vigilância em Saúde. Manual de recomendações para o controle da tuberculose no Brasil [Internet]. 2. ed. atual. Brasília: Ministério da Saúde; 2019 [citado 2019 out 23]. 364 p. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_recomendacoes_controle_tuberculose_brasil_2_ed.pdf
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Utilizada na forma de “lambedor”, semelhante ao xarope caseiro, a melancia-da-praia (Solanum capsicoides All.) foi a segunda planta mais citada nas entrevistas: seu uso esteve relacionado ao alívio da tosse, expectoração e gripe, embora não se tenha encontrado evidência científica que a relacionasse à prática do cuidado da pessoa com TB; dada a frequente citação de consumo, sugere-se a continuidade da investigação sobre essa espécie.

As pessoas entrevistadas já se encontravam em tratamento medicamentoso, razão por que, na tentativa de minimizar o viés de recordatório no resgate das informações sobre uso de plantas medicinais antes do início do tratamento, as entrevistas aconteceram no início do tratamento. É mister, também, destacar o tamanho da amostra, insuficiente para analisar associações do uso das plantas medicinais, durante o tratamento, com variáveis de interesse. Em que pesem as limitações consideradas, os dados obtidos, além de servirem para ampliar a discussão sobre formas e práticas de cuidado, evidenciam a inserção de espécies vegetais no cenário da TB.

Há mais de 40 anos, a Organização Mundial da Saúde tem incentivado a incorporação do conhecimento tradicional às atividades de Atenção Primária à Saúde.77. Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos. Política e programa nacional de plantas medicinais e fitoterápicos [Internet]. Brasília: Ministério da Saúde; 2016 [citado 2019 jul 12]. 190 p. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_programa_nacional_plantas_medicinais_fitoterapicos.pdf
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No Brasil, a publicação da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS, em 2006 apontou a necessidade de fornecer treinamento aos profissionais da saúde para o manejo adequado dessas práticas.66. Ministério da Saúde (BR). Departamento de Atenção Básica. Política nacional de práticas integrativas e complementares no SUS: atitude de ampliação de acesso [Internet]. Brasília: Ministério da Saúde; 2006 [citado 2020 jul 3]. 92 p. Disponível em: http://189.28.128.100/dab/docs/publicacoes/geral/pnpic.pdf
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Os gestores do SUS devem colaborar para a efetivação dessa política, mediante incentivo financeiro e manutenção do tema na pauta de educação permanente. Da mesma forma, universidades e faculdades podem considerar e discutir a possibilidade de inclusão desse conhecimento nos currículos de ensino da área da Saúde.2121. Zeni ALB, Parisotto AV, Mattos G, Helena ETS. Utilização de plantas medicinais como remédio caseiro na Atenção Primária em Blumenau, Santa Catarina, Brasil. Ciênc Saúde Coletiva [Internet]. 2017 ago [citado 2020 jul 3];22(8):2703-12. Available from: https://doi.org/10.1590/1413-81232017228.18892015
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Observou-se ampla utilização de plantas medicinais como prática de cuidado com a TB em municípios do norte da Bahia. Nesse panorama, recomenda-se questionar e orientar sobre seu uso adequado, e, na ausência de evidência científica que sustente os benefícios trazidos por elas durante o tratamento da doença, desaconselhar a manutenção da terapia combinada.

  • *
    Estudo oriundo da dissertação de mestrado de autoria de Walter Ataalpa de Freitas Neto, intitulada ‘Condições de vida e o consumo de plantas medicinais no itinerário terapêutico de pessoas com tuberculose no norte da Bahia, 2017’, apresentada junto ao Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde e Biológicas da Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF) em 2019.

Referências

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    » https://doi.org/10.1016/S2214-109X(18)30478-9
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    » https://doi.org/10.1590/1413-81232017228.18892015

  • Errata

    No artigo “Plantas medicinais e pessoas com tuberculose: descrição de práticas de cuidado no norte da Bahia, 2017”, com número de doi: 10.1590/S1679-49742020000500006, publicado no periódico Epidemiologia e Serviços de Saúde, 29(5):1-9, na página 1:
    Onde se lia:
    “TB ≤18 anos”
    Leia-se:
    “TB ≥18 anos”
    E nas páginas 2 e 3:
    Onde se lia:
    "27 municípios"
    Leia-se:
    "28 municípios"

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    06 Nov 2020
  • Data do Fascículo
    2020

Histórico

  • Recebido
    03 Mar 2020
  • Aceito
    03 Jun 2020
Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente - Ministério da Saúde do Brasil Brasília - Distrito Federal - Brazil
E-mail: ress.svs@gmail.com