Entre os dias 7 e 11 de outubro de 2017, Florianópolis sediará o 10º Congresso Brasileiro de Epidemiologia. O evento contará com 250 convidados e, ao longo de cinco dias, serão realizadas quase cem palestras, debates e mesas-redondas. Pouco mais de 3.000 trabalhos serão apresentados e 44 cursos e oficinas serão oferecidos aos cerca de 3.500 congressistas esperados.
Esses números evidenciam, 27 anos depois da primeira edição do evento, o seu impressionante crescimento. Participam duas vezes mais pessoas e são apresentados seis vezes mais trabalhos, refletindo o desenvolvimento desse campo do conhecimento no Brasil. Ainda mais importante que isso, o Congresso Brasileiro de Epidemiologia consolidou-se como um momento privilegiado para um debate altamente qualificado entre pesquisadores, docentes, estudantes, profissionais dos serviços de saúde e gestores. Para o congresso, têm sido trazidos os avanços teóricos e metodológicos do campo, que são combinados às discussões sobre o atual contexto epidemiológico brasileiro. Com isso, é reforçada a tradição da epidemiologia brasileira, uma disciplina realizada com rigor metodológico, mas colada com a sua missão social.
Concomitantemente ao estabelecimento do Congresso Brasileiro de Epidemiologia como um dos maiores do mundo, essas quase três décadas também foram testemunhas de transformações expressivas na sociedade brasileira. A luta coletiva de tantos atores viabilizou a construção do maior sistema público universal de saúde do mundo, o Sistema Único de Saúde (SUS). Em conjunto, políticas de inclusão social implementadas nesse período, ainda que de forma mais tímida do que o grave quadro de desigualdade brasileiro exige, resultaram em melhores e mais dignas condições de vida ao povo brasileiro.
No entanto, antes de nos consolidarmos como um país em que o acesso aos direitos e serviços esteja assegurado de forma equânime, corremos o risco de retrocedermos em décadas nos direitos sociais, aí incluído o entendimento que pactuamos na Constituição Federal de 1988 de que a saúde é um direito de todo cidadão e um dever do Estado. Os estudos epidemiológicos têm produzido fartas evidências da relevância e da necessidade das políticas sociais a favor da justiça social. Também temos identificado a necessidade do fortalecimento do SUS como um dos pilares para assegurar saúde e desenvolvimento para o país. É nesse contexto que a Comissão Científica do 10º Congresso Brasileiro de Epidemiologia faz um chamamento à comunidade científica ao adotar como tema do evento: “Epidemiologia em defesa do SUS: formação, pesquisa e intervenção”.
A nossa expectativa é estimular o debate sobre de que forma a epidemiologia tem contribuído e pode continuar contribuindo com o SUS - na formação de profissionais de saúde, na produção de evidências científicas ou na avaliação e proposição de ações, programas e políticas. Além disso, a epidemiologia pode instrumentalizar as políticas de enfrentamento do complexo quadro sanitário nacional, em que a elevada carga de doenças e agravos ameaça o próprio desenvolvimento humano em nosso país.
Paralelamente a esses temas, em consonância com movimentos internacionais, estão pautados no congresso outros assuntos de grande relevância para o campo científico, como ética e integridade em pesquisa, métodos e técnicas em estudos epidemiológicos, vigilância em saúde, causalidade, trabalho e saúde, inovação em saúde, ciência e tecnologia.
Além disso, a Comissão Científica e a Comissão Organizadora inovam e reafirmam compromissos ao incorporar fortemente a perspectiva de equidade de gênero e de sustentabilidade ecológica na organização e realização do evento. No caso do gênero, nosso desejo é dar visibilidade à desigualdade que ainda existe no meio científico no que diz respeito ao reconhecimento do papel das mulheres em todas as etapas do processo de produção do conhecimento. Ainda não conseguimos enfrentar completamente outras desigualdades, como a questão racial e as iniquidades regionais, mas trabalhamos com o espírito de que, ainda que timidamente, avançamos também nessa direção. A questão geracional também está presente, reconhecendo o papel dos que vieram antes e contribuíram para construir o campo, abrindo espaço para que os mais jovens pudessem discutir os desafios de iniciar uma carreira como epidemiologistas. Quanto à sustentabilidade, cada ato da organização e da realização do evento prevê a preservação de nosso meio ambiente e a reparação dos meios naturais que inevitavelmente consumimos.
O 10º Congresso Brasileiro de Epidemiologia também é um espaço para reforçar as parcerias históricas da epidemiologia brasileira com grupos e pesquisadores de vários países do mundo, imprescindíveis ao necessário diálogo para construção do conhecimento.
Por fim, é essencial destacar a entusiasmada e emocionante colaboração de toda a comunidade científica para viabilizar o evento. A organização do congresso deu-se em um cenário de restrições econômicas importantes e num contexto político extremamente complexo para eventos de saúde coletiva e que buscam a defesa intransigente do SUS. Assim, o 10º Congresso Brasileiro de Epidemiologia só está acontecendo em 2017 porque a comunidade científica, identificada com seus princípios, uniu-se à Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) e o viabilizou economicamente. Que a adversidade econômica que vigorou durante toda a construção do evento deixe como legado o fortalecimento do espírito coletivo e solidário que tem dado o tom de nossa área ao longo das décadas.
Datas de Publicação
- Publicação nesta coleção
Jul-Sep 2017