Resumo
Foi realizada uma revisão sistemática com o objetivo de descrever o panorama e a evolução de estudos de custo-efetividade em saúde no Brasil. A busca de artigos sobre esse assunto foi feita nas principais bases de dados da área da saúde. A revisão identificou 83 estudos de custo-efetividade realizados em âmbito nacional. Entre os anos de 1990 a 2005 houve poucos estudos publicados sobre custo-efetividade e entre 2006 e 2014 houve um aumento expressivo do número de publicações. Quanto aos temas e objetivos dos estudos, as doenças de caráter crônico-degenerativas e as infectocontagiosas refletem a diversidade epidemiológica do Brasil. Identificou-se uma predominância dos estudos relativos à intervenção/tratamentos em saúde. Assim, a presente revisão revela um cenário compatível com a realidade epidemiológica brasileira, indicando uma necessidade no aumento de estudos e investimentos de recursos na área da prevenção em saúde.
Palavras-chave
Avaliação econômica; Custo-efetividade; Revisão sistemática; Saúde; Brasil
Abstract
A systematic review was performed with the aim of describing the landscape and evolution of cost-effectiveness studies in health in Brazil. The search for articles on cost-effectiveness was performed in the main electronic health databases. The review identified 83 cost-effectiveness studies conducted nationwide. Between the years 1990-2005 there were few studies published on cost-effectiveness, though between 2006 and 2014 there was a significant increase in the number of publications. As for the themes and objectives of the studies, the chronic degenerative diseases and infectious/contagious diseases reflect the epidemiological diversity of Brazil. A predominance of studies on health intervention/treatment was identified. Thus, this review reveals a compatible Brazilian epidemiological reality scenario, indicating a need to increase research and investment of funds in the area of preventive health.
Key words
Economic evaluation; Cost-effectiveness; Systematic review; Health; Brazil
Introdução
O financiamento da saúde é um tópico que sempre suscita debates no sentido de melhor definir a utilização e a alocação dos recursos para toda a sociedade. Para o cuidado com a saúde, a maioria dos países depara-se com custos crescentes, tanto em termos absolutos como em relativos, independente se o modelo de financiamento adotado for público, privado, baseados em arrecadação de tributos ou através do custeio direto dos usuários11. Brasil. Ministério da Saúde (MS). Diretrizes metodológicas: estudos de avaliação econômica de tecnologias em saúde. Brasília: MS; 2009. [acessado 2013 out 20]. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/avaliacao_economica_tecnologias_saude_2009.pdf
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoe... .
O crescimento dos gastos em saúde, aliado à necessidade de se buscar eficiência na alocação dos recursos, tem ocupado papel importante na pauta das discussões de políticas públicas11. Brasil. Ministério da Saúde (MS). Diretrizes metodológicas: estudos de avaliação econômica de tecnologias em saúde. Brasília: MS; 2009. [acessado 2013 out 20]. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/avaliacao_economica_tecnologias_saude_2009.pdf
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoe... . No Brasil, várias iniciativas foram adotadas na busca de incorporar as evidências científicas no processo de decisão coletiva nos últimos anos22. Brasil. Ministério da Saúde (MS). Avaliação econômica em saúde: desafios para a gestão no Sistema Único de Saúde. Brasília: MS; 2008. [acessado 2013 set 14]. Disponível em: http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/livro_aval_econom_saude.pdf
http://portal.saude.gov.br/portal/arquiv... .
Os estudos de avaliação econômica, como os de relação custo-efetividade, são adotados a fim de considerar o fator custo na tomada de decisão quanto às novas tecnologias, uma vez que os recursos financeiros, assim como os demais (físicos e humanos), são escassos e finitos. Na avaliação de tecnologias em saúde a análise de custo-efetividade é o método mais indicado para se comparar duas ou mais alternativas terapêuticas, diagnósticas ou preventivas por permitir a análise combinada de benefícios clínicos e os custos associados, fornecendo dados objetivos e explícitos para a tomada de decisão22. Brasil. Ministério da Saúde (MS). Avaliação econômica em saúde: desafios para a gestão no Sistema Único de Saúde. Brasília: MS; 2008. [acessado 2013 set 14]. Disponível em: http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/livro_aval_econom_saude.pdf
http://portal.saude.gov.br/portal/arquiv... . Além disso, estes apontam evidências científicas importantes para a melhoria da qualidade e eficiência da atenção no Sistema Público de Saúde (SUS) através da incorporação de tecnologias e a produção de diretrizes clínicas33. Silva LK. Avaliação tecnológica e análise custo-efetividade em saúde: a incorporação de tecnologias e a produção de diretrizes clínicas para o SUS. Cien Saude Colet 2003; 8(2):501-520..
A avaliação de custo-efetividade é um processo que visa determinar, de forma sistemática e objetiva, a relação entre os custos e os benefícios decorrentes de intervenções preventivas. Os estudos de custo-efetividade também podem ser entendidos como um instrumento de análise de valor das intervenções em saúde uma vez que o método busca preencher uma lacuna existente entre as preferências e a ciência. De um lado encontra-se a subjetividade da preferência que o individuo ou a sociedade apresenta diante de duas opções excludentes entre si. De outro, encontra-se a objetividade e a reprodutibilidade da ciência, considerando que o custo de uma nova tecnologia precisa ser gerenciado44. Secoli SR, Nita ME, Ono-Nita SK, Nobre M. Avaliação de tecnologia em saúde. II. A análise de custo-efetividade. Arq Gastroenterol 2010; 47(4):329-333.. Na avaliação de custo-efetividade os custos são confrontados com os desfechos clínicos na intenção de entender o impacto de diferentes alternativas identificando as com melhores efeitos do tratamento, em geral, em troca de um custo menor44. Secoli SR, Nita ME, Ono-Nita SK, Nobre M. Avaliação de tecnologia em saúde. II. A análise de custo-efetividade. Arq Gastroenterol 2010; 47(4):329-333.. A razão de custo-efetividade, uma das etapas para determinar se um programa ou tratamento deve ser implementado ou não, é definida como a diferença entre o custo de duas intervenções dividida pela diferença entre as suas consequências em termos de saúde (efetividade)22. Brasil. Ministério da Saúde (MS). Avaliação econômica em saúde: desafios para a gestão no Sistema Único de Saúde. Brasília: MS; 2008. [acessado 2013 set 14]. Disponível em: http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/livro_aval_econom_saude.pdf
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Outros tipos de análise econômica podem também ser realizados na saúde, como por exemplo, os de custo-benefício, custo-minimização e custo-utilidade. Os estudos de custo-benefício estão relacionados à avaliação da viabilidade econômica de intervenções onde tanto custos como benefícios são avaliados em termos monetários55. Piola SF, Vianna SM. Economia da saúde: conceitos e contribuição para a gestão da saúde. Brasília: IPEA; 1995.. Já os estudos de custo-minimização são utilizados para comparar os custos de diferentes intervenções que produzem as mesmas consequências. Como por exemplo, estudos comparativos dos custos de dois fármacos que possuem a mesma eficácia no tratamento de determinada doença66. Vanni T, Luz PM, Ribeiro RA, Novaes HMD, Polanczyk CA. Avaliação econômica em saúde: aplicações em doenças infecciosas. Cad Saude Publica2009; 25(12):2543-2552.. Por outro lado, os estudos de custo-utilidade são expressos em termos da duração e da qualidade da sobrevida obtida por diferentes tipos de intervenções em saúde. Este tipo de estudo é utilizado para comparar diferentes tratamentos, geralmente de alto custo, de impacto qualitativo e quantitativo pouco conhecido sobre a sobrevida de pacientes crônicos, cuja as principais medidas de efetividade utilizadas são o AVAQ (Anos de Vida Ajustados por Qualidade) e AVAI (Anos de Vida Ajustados por Incapacidade)55. Piola SF, Vianna SM. Economia da saúde: conceitos e contribuição para a gestão da saúde. Brasília: IPEA; 1995..
Nesse sentido, a análise econômica em saúde, que é a avaliação das opções de escolha da destinação de recursos, torna-se de fundamental importância, pois além de avaliar e comparar as opções facilita o uso e a destinação adequada dos recursos para as áreas que possam trazer maior benefício em termos de redução da morbimortalidade ou maior efeito clínico77. Vianna D. Há relação entre custo-efetividade de acordo com diferentes metas? Rev Bras Hipertensão 2010; 17(3):182-185.. Assim, o objetivo principal deste estudo foi descrever o panorama e evolução de estudos econômicos de custo-efetividade em saúde no Brasil por meio de uma revisão sistemática em bases de dados eletrônicas.
Método
Realizou-se um estudo de revisão, de forma sistematizada, por meio da utilização de bases de dados eletrônicas da área da saúde. A busca de artigos sobre custo-efetividade foi realizada nas seguintes bases de dados: Medline via PubMed, Lilacs, Science Direct e SciELO. Foram utilizados os seguintes descritores em inglês e seus correspondentes em português: "cost-effectiveness" (custo-efetividade), "cost-efffectiveness evaluation" (avaliação de custo-efetividade), "cost efficiency analysis" (análise custo-eficiência), "cost-utility" (custo-utilidade), health (saúde), "public health" (saúde pública) e Brazil (Brasil). Os descritores/termos utilizados foram obtidos por meio da seleção dos DeCs e MeSH fornecidos pelas bases Bireme e Pubmed, respectivamente. Para a busca, estes foram empregados de forma conjugada utilizando os operadores booleanos adequados. Nenhuma restrição quanto a ano ou idioma de publicação foi utilizada na estratégia de busca. Além da busca nas bases descritas, realizou-se também nas listas de referências dos estudos incluídos em periódicos científicos nacionais não indexados, na biblioteca Cochrane e no site do Google Acadêmico.
Todo o processo de busca, seleção e extração dos dados dos artigos foi realizado em pares. Após a busca, os artigos foram selecionados a partir dos seus títulos e resumos. Posteriormente, obteve-se o texto na íntegra de todos os artigos selecionados. Em caso de dúvidas, realizou-se uma reunião de consenso para verificar a inclusão ou não do artigo. Em caso de discordância, solicitou-se a avaliação e a decisão pela inclusão ou não do estudo por um terceiro autor.
Os critérios de inclusão adotados e utilizados para a seleção dos artigos foram: estudos que descrevessem análise de custo-efetividade ou custo-utilidade em saúde, estudos de âmbito nacional, ou seja, realizados no Brasil e não serem do tipo ensaio ou revisão literária. Foram excluídos estudos multicêntricos e estudos metodologicamente inconsistentes com a análise de custo-efetividade.
A partir dos artigos selecionados para o estudo, realizou-se a tabulação dos dados de forma padronizada e metodológica, incluindo informações sobre as características gerais e específicas e a análise de custos. Os seguintes itens foram incluídos e agrupados em tabelas: autoria, ano de publicação, localização/região da realização do estudo, população, objetivo principal do estudo (objeto da análise/desfecho/intervenção/tecnologia avaliada) e aspecto clínico (área terapêutica).
Os parâmetros metodológicos para a inclusão dos estudos de custo-efetividade na revisão foram baseados nos critérios descritos por Secoli et al.44. Secoli SR, Nita ME, Ono-Nita SK, Nobre M. Avaliação de tecnologia em saúde. II. A análise de custo-efetividade. Arq Gastroenterol 2010; 47(4):329-333., considerando a pergunta da pesquisa, a seleção das alternativas terapêuticas ou tecnológicas em saúde, a perspectiva da análise, seleção do desfecho, seleção das categorias de custo e os modelos de decisão clínica e avaliação econômica.
Resultados
Um total de 896 estudos foi obtido, inicialmente, pela estratégia de busca primária e após a combinação de todas as estratégias utilizadas identificaram-se 83 estudos que preencheram os critérios de inclusão estabelecidos. A Figura 1mostra o fluxograma das etapas do processo de seleção dos estudos incluídos na revisão e selecionados para análise elaborado conforme o protocolo PRISMA88. Moher D, Liberati A, Tetzlaff J, Altman DG, Group P. Preferred reporting items for systematic reviews and meta-analyses: the PRISMA statement. PLoS Medicine 2009; 6(7):e1000097..
A Figura 2 mostra o número de artigos publicados sobre custo-efetividade na área da saúde no Brasil por ano. Observou-se entre os anos de 1990 a 2005 uma quase inexistência de estudos publicados sobre o tema e que ocorreu um aumento expressivo de publicações a partir do ano de 2006.
Artigos publicados sobre custo-efetividade em saúde no Brasil, segundo o ano de publicação (1990-2014).
Nos Quadros 1 a 3 são apresentadas as características gerais dos estudos incluídos na revisão, por área terapêutica, conforme o objetivo principal do estudo: rastreio e diagnóstico (Quadro 1), prevenção (Quadro 2) e tratamento (Quadro 3). Identificou-se um predomínio de estudos na área de tratamento (53%) comparado às áreas de prevenção (30%) e diagnóstico (17%).
Dos estudos identificados verificou-se um predomínio do uso de delineamento do tipo coorte ou coorte hipotética dentre os métodos utilizados (41%), sendo o modelo de Markov o mais citado nas metodologias de análise. Em relação aos temas e objetivos dos estudos, observou-se uma distribuição homogênea entre doenças de caráter transmissíveis quanto às crônico-degenerativas não transmissíveis. Observou-se, também, dentre os objetivos dos estudos incluídos, uma vinculação destes sob a perspectiva do sistema de saúde público do país.
Discussão
O uso apropriado dos resultados das avaliações de custo não constitui tarefa fácil e, além disso, historicamente as avaliações realizadas representam um universo que por dificuldades específicas não chegam a se realizar99. Ala-Harja M, Helgason S. Em direção às melhores práticas de avaliação. Rev Serviço Público 2000; 51(4):5-60..
O aumento vertical nos estudos de avaliação de custo-efetividade, identificado nos últimos anos, é possivelmente alimentado pela preocupação com a elevação dos gastos em saúde. A identificação de fontes de desperdícios na organização e prestação de serviços de saúde vem resultando numa pressão sobre os gestores nas decisões sobre a alocação de recursos, além da crescente pressão de usuários e consumidores organizados e exigentes e pela necessidade de demonstrar os benefícios de diferentes tecnologias11. Brasil. Ministério da Saúde (MS). Diretrizes metodológicas: estudos de avaliação econômica de tecnologias em saúde. Brasília: MS; 2009. [acessado 2013 out 20]. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/avaliacao_economica_tecnologias_saude_2009.pdf
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoe... ,1010. Couttolenc BF. Por que avaliação econômica em saúde? Rev Assoc Med Bras 2001; 47(1):18-19..
A concentração de estudos na região Sudeste e a carência de dados nas demais correspondem, no geral, a uma tendência nacional das publicações de pesquisa em saúde. Nesse sentido, os dados encontrados, embora distintos, seguem o panorama nacional em relação aos grupos de pesquisa1111. Guimarães R. Pesquisa em saúde no Brasil: contexto e desafios. Rev Saude Publica 2006; 40(Special issue):3-10.,1212. Guimarães R, Santos LMP, Angulo-Tuesta A, Serruya SJ. Defining and implementing a National Policy for Science, Technology, and Innovation in Health: lessons from the Brazilian experience. Cad Saude Publica 2006; 22(9):1775-1785. em que a distribuição geográfica das atividades de pesquisa em geral e em saúde apresentam padrão de concentração regional que aponta 59% dos grupos de pesquisa na região Sudeste, 21% na região Sul, 12% na região Nordeste, 5% na região Centro-Oeste e 3% na região Norte.
Esta revisão observou uma predominância de estudos com aspectos clínicos para a escolha de tratamentos ou medicamentos seguidos por estudos de prevenção. Uma possível explicação para esse achado seria o fato da indústria farmacêutica investir fortemente em pesquisas de novos medicamentos a serem introduzidos no mercado de saúde. Pois o delineamento dos estudos de custo-efetividade favorece as análises de decisão para uso de uma medicação ou outra. Além disso, outro fator importante decorre de um aumento no número de editais de financiamento para estudos de avaliação econômica em saúde por meio de fomentos públicos e privados vinculados aos setores de pesquisa do Ministério da Saúde, da Educação e de Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa e Institutos de Pesquisas Privados. Estes procuraram contemplar os estudos de prevenção em custo-efetividade incluindo os específicos sobre vacinas, testes sorológicos, tomografias para vários tipos de câncer e avaliação de intervenções no SUS. Como exemplo, podemos citar que entre 2005 e 2013 a parceria entre os Ministérios da Saúde e da Ciência e Tecnologia, por meio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), lançou editais que totalizaram 23 milhões de reais para o atendimento de temas de pesquisa para diversos desenhos metodológicos, entre eles as avaliações econômicas em saúde.
O surgimento de novas tecnologias, modernização, industrialização e produção em alta escala de equipamentos, próteses, medicamentos ou vacinas pode alterar os custos num curto espaço de tempo uma vez que, na área da saúde, a maioria das novas tecnologias não é substitutiva, mas sim agregativa2727. Decit. Avaliação de Tecnologias em Saúde: institucionalização das ações no Ministério da Saúde. Rev Saude Publica 2006; 40(4):743-747..
Mesmo com a presença de estudos internacionais na área, anteriores aos anos 1950, observa-se que no Brasil a economia da saúde possui um desenvolvimento recente e que se encontra em um processo de consolidação. Pode-se tomar a criação da Associação Brasileira de Economia da Saúde (Abres), em 1989, como a base de sua instituição no país. A produção científica na área vem, desde 1993, se institucionalizando, principalmente por meio do apoio a programas de cooperação técnica internacional entre o Reino Unido e o Brasil, coordenados pelo Ministério da Saúde2828. Andrade EIG, Acúrcio FdA, Cherchiglia ML, Belisário SA, Guerra Júnior AA, Szuster DAC, Faleiros DR, Teixeira HV, Silva GD, Taveira TS. Pesquisa e produção científica em economia da saúde no Brasil. Rev Adm Pública 2007; 41(2):211-235..
A partir da década de 80, com o advento da reforma do Sistema Único de Saúde (SUS) do Brasil, começou a se desenvolver políticas para a incorporação de tecnologias resultando na criação da Secretaria de Ciência e Tecnologia e Insumos Estratégicos (SCTIE) e do Departamento de Ciência e Tecnologia (DECIT) voltadas para a área da Avaliação de Tecnologias em Saúde (ATS) no ano de 20005454. Kroeff L, Barcellos N, Godoy M. Aspectos norteadores da avaliação de tecnologias em saúde (ATS). In: Velho APM, Costa CKF, Yamaguchi UM, organizadores. Tecnologia e Saúde: debates interdisciplinares. Maringá: Unicesumar; 2014.. Este fato propiciou um aumento no interesse pela produção de novos estudos sobre custo-efetividade na área da saúde. Além disso, através da lei 12.041, de 28 de abril de 2011, foi criado a Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (CONITEC)5555. Brasil. Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS. Brasília: CONITEC, 2011. [acessado 2015 abr 16]. Disponível em: http://conitec.gov.br/index.php/2014-08-07-13-22-56
http://conitec.gov.br/index.php/2014-08-... , que assistida pelo Departamento de Gestão e Incorporação de Tecnologias em Saúde (DGITS) tem por objetivo assessorar o Ministério da Saúde nas atribuições relativas à incorporação, exclusão ou alteração de tecnologias em saúde pelo SUS, bem como na constituição ou alteração de Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas (PCDT). Para realizar a tomada de decisão são feitas análises baseadas em evidências, levando-se em consideração aspectos como a eficácia, a acurácia, a efetividade e a segurança da tecnologia, além da avaliação econômica comparativa dos benefícios e dos custos em relação às tecnologias já existentes. A CONITEC regula o processo de incorporação de novas tecnologias em saúde, entretanto, a lei estabelece a exigência do registro prévio do produto na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) para que este possa ser avaliado para a incorporação ao SUS. A CONITEC não está subordinada à ANVISA, porém esta agência tem a missão de regular as tecnologias, normatizando a entrada no mercado brasileiro dos produtos oriundos do complexo industrial da saúde e o seu correspondente uso público e privado nos diferentes setores de serviço, além de participar da construção do acesso a estas tecnologias5656. Brasil. Ministério da Saúde (MS). Política Nacional de Gestão de Tecnologias em Saúde. Brasília: MS; 2010. [acessado 2015 abr 18]. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_nacional_gestao_tecnologias_saude.pdf
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Observou-se na presente revisão, uma tendência de utilização de instrumentos refinados, como o modelo de Markov, para a análise econômica em saúde. O presente modelo assemelha-se à árvore de decisão em que se incorpora o ciclo de tempo de uma doença e pressupõe-se que a transição de um estado atual para um estado futuro não depende do passado e sim apenas do atual. Há cinco elementos a serem observados para a aplicação do modelo de Markov: um conjunto de dados, estados, ações, probabilidades de transições entre estados e consequências.
Esquematicamente, o modelo de Markov utiliza esses elementos para simular o caminho percorrido através de um ou mais estados de saúde com o acúmulo das consequências que surgirem ao longo do tempo de evolução da doença11. Brasil. Ministério da Saúde (MS). Diretrizes metodológicas: estudos de avaliação econômica de tecnologias em saúde. Brasília: MS; 2009. [acessado 2013 out 20]. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/avaliacao_economica_tecnologias_saude_2009.pdf
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As diversas estratégias para a utilização dos resultados de análises econômicas e os seus objetivos de intervenções em saúde têm como função auxiliar na decisão da alocação de recursos na área. Com base neste pressuposto é que deve ser avaliada a aplicabilidade dos resultados dos estudos de custo-efetividade, estabelecendo as intervenções economicamente favoráveis. Contudo, a utilidade das avaliações econômicas e das tecnologias em saúde dos estudos publicados de custo-efetividade, entre outros, pode ser afetado pelo lapso de tempo entre a época da realização do estudo e a publicação do mesmo. Nesta pesquisa foi observada uma média de três anos entre o início e a publicação do estudo. Em estudos de custo-efetividade o fator tempo entre a coleta dos dados e a publicação é muito importante, uma vez que a descoberta de novas tecnologias pode demonstrar que o resultado da pesquisa possa não ser mais custo-efetivo. Este hiato pode atrapalhar nas tomadas de decisão em saúde.
Alguns aspectos metodológicos sobre a presente revisão devem ser apontados. O presente estudo incluiu apenas artigos que relataram cálculos de custo-efetividade descartando outros modelos de análise econômica como minimização de custos, descrição de custos, entre outros. Um levantamento incluindo artigos que utilizam outros tipos de análise talvez venha a contribuir para um panorama mais completo sobre os estudos econômicos em saúde realizados em âmbito nacional.
Conclusão
Diferentemente do cenário internacional, os estudos de custo-efetividade realizados no Brasil são muito recentes. Dos 83 estudos que preencheram os critérios de inclusão estabelecidos, a grande maioria 96%, foi desenvolvida a partir de 2006. Além disso, observou-se que 48% dos estudos utilizaram dados nacionais, os demais estudos apresentaram grande disparidade regional predominando a região sudeste sobre as demais na coleta de dados que fundamentaram as análises.
Quanto aos temas e objetivos dos estudos, as doenças de caráter crônico-degenerativas e as infectocontagiosas refletem a diversidade epidemiológica do Brasil. Contudo, uma importante constatação foi a predominância dos estudos relativos a intervenção/tratamentos em saúde, seguidos dos relativos à prevenção de doenças e dos relativos a métodos diagnósticos. Vale ressaltar que o baixo número de estudos de diagnósticos no Brasil pode refletir uma fragilidade no desenvolvimento de pesquisas nesta área.
A presente revisão revelou um cenário compatível com a realidade epidemiológica brasileira, indicando uma necessidade no aumento de estudos e investimentos de recursos na área da prevenção em saúde. Com isso, espera-se que os estudos de custo-efetividade possam oferecer maior segurança aos tomadores de decisões, seja nas ações de saúde pública ou privada. Além disso, a avaliação econômica em saúde também inclui questões éticas, políticas e sociais nesse processo.
Os dados da presente revisão sistemática sobre o panorama dos estudos de custo-efetividade na área da saúde, realizados no contexto brasileiro, indicam um crescimento significativo da pesquisa em custo-efetividade, principalmente na última década. Estes achados indicam que a temática se encontra em debate acadêmico e pode apresentar uma importante estratégia para a obtenção de melhores resultados quando da aplicação de recursos e técnicas na área da saúde pública.
Referências
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Datas de Publicação
- Publicação nesta coleção
Out 2015
Histórico
- Recebido
02 Nov 2014 - Revisado
28 Maio 2015 - Aceito
30 Maio 2015