“O valor da inovação: criar o futuro do sistema de saúde”, de Casimiro Cavaco Dias, analisa a inovação como forma do sistema de saúde se transformar para responder aos novos desafios em saúde. O tema é particularmente relevante no atual contexto de crise econômica e financeira na Europa, assim como no Brasil.
O livro foca-se no setor hospitalar dado a sua relevância em termos do seu papel e da proporção de recursos disponibilizados face ao orçamento da saúde. Contudo, os resultados têm implicações para todo o sistema de saúde, e as suas implicações vão para além do setor hospitalar.
O autor, Casimiro Cavaco Dias, economista da saúde da Organização Mundial de Saúde, traz um pensamento sistêmico na procura de soluções para assegurar a melhoria de desempenho e a sustentabilidade do sistema de saúde, assim como uma compreensão dinâmica da inovação como motor dessa transformação. É neste contexto que o valor da inovação é analisado ao longo do processo integrado de cuidados como o trajeto das pessoas ao longo das diferentes organizações de saúde enquanto uma verdadeira “cadeia de valor.
“O valor da inovação” centra-se nas questões: Como pode a inovação transformar o setor da saúde? O que esta mudança significa para o futuro da saúde? Ao longo do livro, vamos descobrindo porque é que alguns hospitais, e não outros, inovam e melhoram continuamente o seu desempenho.
O livro aborda os principais temas sobre a inovação em saúde: desde os objetivos dos inovadores, os principais motores de inovação, as novas competências dos inovadores, até a transformação de conhecimento em inovação, o papel estratégico da flexibilidade organizacional, o valor da inovação em saúde, assim como as medidas para a promoção da inovação em saúde.
A discussão destes temas faz-se ao longo de dez capítulos estruturados em torno do círculo virtuoso da própria transformação do sistema de saúde através da inovação. Esta transformação é essencial para assegurar a capacidade do sistema de saúde responder, de forma mais efetiva, aos novos desafios, assim como a sua própria sustentabilidade.
Nos primeiros capítulos são apresentados os principais conceitos e métodos utilizados no estudo para permitir a discussão crítica dos resultados. O estudo de natureza mista analisa e interliga dados quantitativos e qualitativos em três fases sucessivas. Na primeira fase são analisadas as respostas ao questionário sobre inovação e flexibilidade aplicado aos membros de conselhos de administração de 61 hospitais em Portugal. Na segunda etapa, é analisado o conteúdo das entrevistas a membros dos conselhos de administração dos hospitais mais inovadores e com melhor desempenho. Na última fase, um painel de peritos discutiu os resultados, assim como identificou e priorizou as medidas para melhorar o desempenho do sistema de saúde através da inovação. Dado o seu rigor científico, este estudo de investigação recebeu o Prêmio Dr. António Arnaut para a “Excelência em Investigação de Sistemas de Saúde”, em 2015.
No terceiro capítulo, o autor destaca os principais objetivos dos inovadores assim como as características específicas da inovação no setor da saúde. A inovação é reconhecida como a chave para assegurar melhorias de desempenho, assim como a criação e utilização de novos conhecimentos mais avançados. No capítulo seguinte são apontados os principais motores da inovação no setor da saúde. Aqui, é revelada a nova natureza da inovação em saúde, marcada por três características principais: o foco no utilizador dos serviços enquanto coprodutor, a crescente interacção das novas tecnologias em novas formas de organização, e a sua integração em redes dinâmicas e suficientemente amplas para incluir os diferentes setores da sociedade e economia.
No quinto capítulo, os serviços de saúde são analisados enquanto organizações de aprendizagem, que simultaneamente criam e utilizam novos conhecimentos na melhoria do seu desempenho. Nestas organizações de aprendizagem, os avanços científicos são alinhados, em maior ou menor grau, com novas formas de criação de conhecimento enquanto resultado da prática clínica diária. No sexto capítulo são identificadas as novas competências necessárias à inovação no setor da saúde. Discute-se ainda como o desenvolvimento destas competências está centrado sobretudo no apoio ao envolvimento ativo dos profissionais de saúde na criação e disseminação de inovações. O capítulo seguinte analisa a influência da flexibilidade dos serviços de saúde na sua adaptação a um meio externo cada vez mais turbulento. Face a esta crescente turbulência, é demasiado arriscado confiar na tradicional gestão estratégica, tornando-se a flexibilidade organizacional uma opção para os hospitais e serviços de saúde. O oitavo capítulo descreve o verdadeiro valor da inovação em saúde. A partir de uma análise crítica dos resultados, destaca-se que a inovação não resulta necessariamente em maiores níveis de desempenho. Por outro lado, o impacto da inovação vai para além de melhorias de desempenho, incluindo o seu valor econômico, social e em saúde. De seguida, o autor apresenta as principais medidas para tornar o sistema de saúde mais inovador. Discutem-se assim as doze medidas identificadas e priorizadas por um painel de peritos, incluindo os investimentos em sistemas de informação e a integração de serviços de saúde centrados na pessoa e no utilizador. Por último, são destacadas as principais implicações deste estudo para os vários atores do sistema de saúde, desde os decisores políticos até os profissionais e os utilizadores dos serviços, assim como os cidadãos e comunidades locais.
A partir das implicações deste estudo, torna-se possível imaginar e criar o futuro do sistema de saúde em que seus profissionais, decisores políticos, gestores e inovadores concentrem os esforços na criação de valor para as pessoas.
A questão política sobre a sustentabilidade do sistema de saúde gerou um infindável número de editoriais e debates. Contudo, a discussão tem conduzido sobretudo a propostas sem efeito sistêmico na reforma do setor da saúde. A promoção de cirurgias em ambulatório, o aumento da proporção de medicamentos genéricos ou o aumento do número de médicos de família correspondem a medidas isoladas, sem potencial para transformar verdadeiramente o sistema de saúde. Maximizar o potencial dos benefícios da inovação requer mudanças radicais nos diferentes níveis do sistema de saúde. As políticas e as regulações da saúde podem ser modernizadas, os profissionais podem desenvolver novas competências e práticas, os investigadores podem contribuir para compreender melhor o verdadeiro valor da inovação, as pessoas podem aceder mais facilmente à informação e educação no sentido de promoverem a sua própria saúde e gerirem as suas doenças.
Compreender o real valor da inovação em saúde implica necessariamente envolver outros setores da sociedade, destacando o papel central da pessoa e das comunidades locais enquanto coprodutores. O valor da inovação vai para além do desempenho organizacional, refletindo-se nas suas dimensões econômicas, sociais e de saúde. Face à atual crise, o sistema de saúde deve assim assumir-se como motor para maior coesão social, maior competitividade e para o relançamento da economia.
Datas de Publicação
- Publicação nesta coleção
Jun 2016