O estudo da epidemiologia, tanto descritiva quanto analítica, tem sido objeto de livros e artigos científicos. A obra de Carlos Henrique Mudado Maletta é resultado de seu pós-doutoramento na Universidade Federal de Viçosa e é mais uma obra que amplia as possibilidades de análise e interpretação de dados epidemiológicos.
O primeiro capítulo, O Processo Saúde Doença, o único de autoria coletiva, enfatiza que os conceitos de saúde e doença sofreram modificações no decorrer da história. Nele, destaca-se o Quadro 1, que sintetiza aspectos históricos da prática da medicina desde antes do século VI a.C. até meados do século XX em diante. Além disso, os autores desenvolvem muito claramente a ideia do que é considerado ‘normal’ em medicina e estabelecem a relação com curva normal, média e desvio padrão.
O Capítulo 2, Introdução ao Estudo da Epidemiologia, trata do conceito da epidemiologia e do método epidemiológico. A ênfase fica na comparação entre o quadro clínico e o quadro epidemiológico (Figura 2), onde se faz um paralelo entre a semiologia e a epidemiologia. O autor lista e explica oitenta e sete (87) expressões de uso frequente em epidemiologia. Entretanto, o autor poderia ter sido mais específico, pois termos como sensibilidade, especificidade, prevalência, risco e razão, não estão discriminados. Além disso, deveria esclarecer que são termos que não são frequentemente utilizados em epidemiologia analítica, mas sim em epidemiologia descritiva e no campo da vigilância epidemiológica. Ao final do capítulo, seguem trinta e cinco exercícios a serem solucionados.
No terceiro capítulo, denominado História Natural das Doenças, faz-se uma diferença oportuna entre promoção da saúde e proteção específica, distinção esta que não é muito explícita em livros de epidemiologia. Para tecer as explicações, o autor utiliza-se da história natural de quatro doenças: sarampo, cólera, leishmaniose e hepatite B. O capítulo se encerra com 22 exercícios.
Introdução ao Estudo da População, o quarto capítulo, é bastante detalhado nas explicações das pirâmides etárias e nas características de populações. O autor dedica uma parte do capítulo aos censos demográficos e é minucioso quanto às taxas de crescimento demográficas utilizadas. Contudo, vale ressaltar um equívoco: o autor ainda faz uso do termo “razão de masculinidade”, que foi abolido na demografia desde a década de 1990 e substituído pelo termo razão de sexos. Finalmente, o capítulo termina com treze exercícios.
O capítulo 5, Caracteres Epidemiológicos, aborda as características relacionadas ao tempo, lugar e pessoa, apresentando e nomeando essas características. Ao final, são apresentados 30 exercícios.
O sexto capítulo, Delineamento de uma Pesquisa, tem alguns pontos altos, a saber: oito exemplos de estudos descritivos de mortalidade e de morbidade, que, embora apenas nomeados, são úteis para cursos introdutórios e tornam o desenho de estudo menos abstrato para o aluno ou estudioso da área de epidemiologia; a apresentação, de forma curta e direta, do cálculo de tamanho de amostra para a amostragem aleatória simples; vinte e um exercícios resolvidos com explicações detalhadas de todos os cálculos; vinte e sete exercícios a serem resolvidos; um quadro resumo referente a vantagens e desvantagens dos principais tipos de estudo.
Taxas Epidemiológicas, o capítulo 7, tem virtudes importantes, como a apresentação e a construção das tabelas de vida. Porém, o autor coloca os conceitos incidência, prevalência e letalidade, imprescindíveis para o aluno ou estudioso da Epidemiologia, junto às outras taxas, deixando-os pouco evidentes. Além disso, apresenta dois itens – Indicadores Epidemiológicos de Medicina do Tráfego e Estatísticas Hospitalares – que se distanciam das taxas epidemiológicas clássicas, o que pode confundir aqueles sem conhecimentos prévios sobre tais conceitos. Dessa forma, esses itens teriam ficado mais bem dispostos ao final da obra, em um capítulo que mencionasse claramente seu caráter complementar. Contudo, os 28 exercícios ao final do capítulo são muito bem elaborados e bastante diretos, atingindo o que é preciso, de fato, depreender das taxas epidemiológicas.
O capítulo 8, Qualidade dos Instrumentos de Medida, traz de forma direta o essencial sobre os instrumentos de triagem. São apenas quatro exercícios propostos ao final do capítulo. Todavia, parece pouco espaço dedicado a esse tema, visto que tem sido tão fundamentalmente estudado e cobrado em concursos públicos e provas de residências médicas, além de muito debatido entre epidemiologistas.
O penúltimo (Capítulo 9) e o último capítulo (Capítulo 10) – Avaliação de Programas e Serviços de Saúde e Análise de Séries Cronológicas, respectivamente, são materiais adicionais muito interessantes. No caso do Capítulo 9, se o curso de Epidemiologia se propuser abordar políticas de saúde no Brasil, ou o estudioso se interessar sobre esse assunto, certamente será beneficiado dessa leitura, pois o autor pontua indicadores de cobertura e processo utilizados no Brasil. Este penúltimo capítulo não possui exercícios, por ser bastante teórico. Já o Capítulo 10, em contraste com o anterior, é bem aplicado e atende à demanda daquelas pessoas que, com dados de vários períodos (anos, meses ou semanas) ao seu alcance, gostariam de inferir uma tendência nos dados ao longo do tempo. Para tanto, o autor introduz o leitor à análise de séries cronológicas. Cuidadosamente, não chama de séries temporais, metodologia de trabalho já bem definida por estudiosos da economia, por exemplo. O capítulo conta com doze exercícios ao final.
As Respostas dos Exercícios e o Índice Remissivo fecham a obra de Carlos Henrique Mudado Maletta.
O livro poderia ter sido mais enfático em conceitos epidemiológicos claros, como a relação entre incidência, prevalência, e letalidade. Mas o autor preferiu trazer esses conceitos de forma mais dispersa e intuitiva, entremeando-os entre os capítulos e resgatando esses conceitos quando necessário. Ou seja, como em toda a obra, vêm à tona preferências do autor, que podem ser admiradas ou contestadas. Mas, sem dúvida, este livro é uma importante adição aos estudos de Epidemiologia e deve ser considerada pelos epidemiologistas mais clássicos ou por outros profissionais de saúde que desejem compreender onde se situa a Epidemiologia dentro de seus estudos específicos, dada a linguagem acessível e a leitura leve que é apresentada.
Datas de Publicação
- Publicação nesta coleção
Maio 2017