A Agenda de alimentação e nutrição e seus desafios

Vania de Matos Fonseca Sobre o autor

A agenda de alimentação e nutrição vem sendo defendida na sua integralidade associada às demais ações do sistema de saúde. E de forma mais ampliada, com o campo Intersetorial da Segurança Alimentar e Nutricional (SAN). Essa bandeira necessita de espaços democráticos para se desenvolver, incorporar demandas e prioridades da sociedade brasileira, e se fortalecer como política de Estado. O sistema nacional de segurança alimentar e nutricional (SISAN) é responsável por articular diferentes setores, níveis de governo, programas e ações, garantindo o direito de todas as pessoas ao acesso regular e permanente a alimentos em quantidade e qualidade. Neste momento histórico, é um enorme desafio manter e fazer avançar a rede de proteção social que sustentou essa agenda11. Jaime PC, Delmuè DCC, Campello T, Silva DO, Santos LMP. Um olhar sobre a agenda de alimentação e nutrição nos trinta anos do Sistema Único de Saúde. Cien Saude Colet 2018; 23(6):1829-1836..

A presente edição da Revista de Ciência e Saúde Coletiva traça um panorama das várias áreas que se articulam ou conformam a agenda: vigilância alimentar e nutricional, promoção da alimentação adequada e saudável e prevenção e controle dos agravos nutricionais e suas interfaces22. Brasil. Ministério da Saúde (MS). Secretaria de Atenção à Saúde. Política Nacional de Alimentação e Nutrição. Brasília: MS; 2012..

A análise sobre insegurança alimentar e nutricional (IAN) em domicílios com adolescentes na Amazônia Legal Brasileira, aponta o efeito da disponibilidade e do consumo dos alimentos, influenciado pelo tamanho e composição das famílias. Os autores citam o baixo consumo de hortaliças, frutas e leguminosas; discutem o paradoxo da oferta e publicidade abundante de alimentos ultraprocessados (ricos em açúcar, sal e gordura) contra a escolha da comida habitual dos brasileiros (arroz, feijão, batata-doce, mandioca, frutas, carnes, peixes).

O balanço das ações de Promoção da Alimentação Adequada e Saudável (PAAS) no controle da obesidade infantil e seus diferentes condicionantes, com base nas políticas dos últimos 15 anos, aponta distintas concepções sobre o problema. A PAAS se choca com os interesses e disputas das corporações comerciais de alimentos processados e do agronegócio. Sabe-se que as estratégias de prevenção e enfrentamento da obesidade, por exemplo, passam necessariamente por dimensões que contemplem qualidade nutricional dos alimentos industrializados, publicidade, rotulagem e sustentabilidade. É preciso estar em sintonia com as diretrizes do Guia Alimentar para a população Brasileira que constitui um instrumento de educação em saúde33. Monteiro CA, Cannon G, Moubarac JC, Martins AP, Martins CA, Garzillo J, Canella DS, Baraldi LG, Barciotte M, Louzada ML, Levy RB, Claro RM, Jaime PC. Dietary guidelines to nourish humanity and the planet in the twenty-first century. A bluepront from Brazil. Public Health Nutr 2015; 18(130):2311-2322.. Na avaliação da qualidade global da dieta infantil persiste a inadequação, principalmente quanto ao baixo consumo de legumes e verduras, frutas e carnes, a ingestão elevada de gordura saturada, pouca variedade e presença de elevado teor de sódio e aditivos.

O controle de agravos nutricionais se faz presente no debate sobre a ingestão inadequada de nutrientes importantes pelos idosos; na automatização de inquéritos alimentares por meio de aplicativo móvel para coleta das informações sobre práticas alimentares de pacientes diabéticos; e na utilização de instrumento para avaliar o conhecimento de mulheres adultas sobre combinação de alimentos.

A presença e a atuação do nutricionista como líder aparece positivamente associado à segurança dos alimentos em restaurantes; ao esclarecimento de dúvidas sobre a nova classificação dos alimentos para estudantes, profissionais e população em geral; e na denúncia sobre a baixa disponibilidade de informações sobre a quantidade de lactose nos rótulos de alimentos industrializados.

O Programa de Alimentação Escolar brasileiro foi contemplado quanto ao desafio de garantir que a criança receba os nutrientes em quantidades adequadas; ao investimento dos municípios na compra de alimentos destinados ao programa e sua aproximação com a produção agrícola familiar; nas condições higiênico-sanitárias das Unidades de Alimentação e Nutrição Escolar (UANE); e na necessidade de medidas corretivas para se conseguirem Boas Práticas.

Referências

  • 1
    Jaime PC, Delmuè DCC, Campello T, Silva DO, Santos LMP. Um olhar sobre a agenda de alimentação e nutrição nos trinta anos do Sistema Único de Saúde. Cien Saude Colet 2018; 23(6):1829-1836.
  • 2
    Brasil. Ministério da Saúde (MS). Secretaria de Atenção à Saúde. Política Nacional de Alimentação e Nutrição. Brasília: MS; 2012.
  • 3
    Monteiro CA, Cannon G, Moubarac JC, Martins AP, Martins CA, Garzillo J, Canella DS, Baraldi LG, Barciotte M, Louzada ML, Levy RB, Claro RM, Jaime PC. Dietary guidelines to nourish humanity and the planet in the twenty-first century. A bluepront from Brazil. Public Health Nutr 2015; 18(130):2311-2322.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Dez 2018
ABRASCO - Associação Brasileira de Saúde Coletiva Rio de Janeiro - RJ - Brazil
E-mail: revscol@fiocruz.br