Os adoecimentos e sofrimentos de longa duração, designados pela biomedicina de doenças crônicas, incluem um conjunto amplo de doenças que atualmente ocupam lugar importante no quadro de morbimortalidade da população brasileira, em processo de envelhecimento, de transições demográfica e epidemiológica. Coube, tradicionalmente, à Epidemiologia preocupar-se com a incidência, prevalência, mortalidade e morbidade relacionadas a estas doenças e, pelo menos durante algum tempo, as ciências sociais em saúde nacionais pouco contribuíram com seus conceitos e metodologias para investigar os acometidos por elas, ao contrário da tradição anglo-saxônica que tem acúmulos importantes nas pesquisas a respeito.
Entretanto, na década de 2000, cresceu o interesse de cientistas sociais e de profissionais de saúde que usam os enfoques e as metodologias das ciências sociais na investigação de um leque de objetos, incluindo as interlocuções entre epidemiologia e ciências sociais, preocupadas com as determinações sociais das doenças, com o modo de vida das populações, com o sistema de signos, significados e ações, com a aplicação de estudos etnográficos, complementares às investigações epidemiológicas, entre outras abordagens.
Investigações específicas das ciências sociais sobre os adoecimentos e sofrimentos de longa duração estão na literatura nacional abordando reflexões sobre o saber médico erudito e suas teorias sobre alguns destes adoecimentos e sofrimentos; os conteúdos das mensagens midiáticas; as explicações de senso comum; a experiência e representações; a construção social de algumas doenças, a história de doenças; o gerenciamento dos tratamentos, o cuidado; as intervenções educativas e seus modelos, além de estudos específicos sobre as políticas, os modelos assistenciais e de gestão compartilhados com a área de política e de planejamento.
Interessa a este número temático divulgar as contribuições de pesquisadores nacionais e de alguns internacionais sobre certos adoecimentos e sofrimentos de longa duração, centrados, principalmente, nas interpretações dos adoecidos quanto aos modos de refletir, atuar e de lidar com os adoecimentos, seus tratamentos, diagnósticos, efeitos e implicações sobre as suas vidas e biografias. Uma parte dos estudos compôs as apresentações do GT sobre Adoecimentos e Sofrimentos de Longa Duração, do VII Congresso Brasileiro de Ciências Sociais e Humanas em Saúde, realizado em Cuiabá, em 2016, coordenado pelos organizadores deste número temático.
Não se trata de abordar um amplo leque de condições de adoecimento e sofrimentos de longa duração, mas de trazer algumas reflexões conceituais e metodológicas que podem ser incorporadas aos futuros estudos; de abordar experiências e cuidados com doenças raras de origem genética ou de outra natureza, de enfocar tipos de tratamentos e de terapêuticas aplicados a certas doenças e que requerem longo tempo de submissão dos adoecidos a eles.
Datas de Publicação
- Publicação nesta coleção
Fev 2018