Desafios da editoração de revistas científicas brasileiras da área da saúde

Rita Barradas Barata Sobre o autor

Resumo

O artigo visa trazer ao conhecimento dos leitores e potenciais autores parte da problemática vivida pelos editores científicos das revistas da área de saúde pública. São discutidos aspectos críticos, destacando as expectativas de autores, leitores, editores e editoras; e, resultados de pesquisas empíricas relativa aos preditores de publicação, estudos de tipos e qualidade da revisão por pares, características formais do processo de editoração, o processo de trabalho de duas revistas nacionais e uma estrangeira, questões éticas envolvendo autores e editores, dificuldades da editoração de revistas brasileiras de Saúde Coletiva e o futuro das publicações no modelo do acesso aberto.

Publicações científicas; Ética na publicação; Acesso aberto; Revisão por pares; Saúde pública

Introdução

Este artigo foi motivado pela constatação de que um número crescente de questões relativas à editoria de periódicos científicos vem sendo debatidas em diferentes fóruns incluindo coordenadores de pós-graduação, editores científicos, bases indexadoras, autores e alunos de pós-graduação ou até mesmo de iniciação científica. Entretanto observa-se nessas discussões que o conhecimento sobre muitos dos aspectos envolvidos na publicação científica são pouco ou mal compreendidos. Muitas vezes questões complexas são tratadas de maneira simplista. O último Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva organizou uma mesa redonda sobre o tema e este texto foi preparado para este debate.

A revisão narrativa aqui apresentada aborda de maneira sucinta diferentes facetas dos artigos científicos, os preditores de aceitação dos mesmos pelos periódicos mais conceituados, o processo de revisão por pares, a comparação de características formais das revistas de Saúde Coletiva brasileiras e estrangeiras, características do processo editorial de três dessas revistas, questões éticas relativas à autoria e à editoria, desafios editoriais para as revistas brasileiras do campo da Saúde Coletiva e finalmente uma breve discussão sobre o acesso aberto.

Diferentes facetas dos artigos científicos

A publicação dos resultados de pesquisa em artigos científicos busca, do ponto de vista acadêmico, submeter os conhecimentos produzidos ao julgamento dos pares, processo essencial à produção de conhecimentos verdadeiros; e, criar comunidade de interesse em torno a determinadas temáticas e objetos de investigação11. Barata RB. SciELO Saúde Pública: o desempenho dos Cadernos de Saúde Pública e da Revista de Saúde Pública. Cad Saude Publica 2007; 23(12):3031-3040. Da perspectiva social, para os praticantes da ciência, a publicação de artigos científicos parece cumprir dois objetivos principais: garantir o reconhecimento dos pares e assegurar a precedência nas descobertas e autoria das mesmas22. Veiga de Cabo J, Martin-Rodero H. Acceso abierto: nuevos modelos de edición científica en entornos web 2.0. Salud Colectiva 2011; 7(Supl. 1):S19-S27..

Mas, os artigos científicos atualmente também se constituem em mercadorias comercializadas pelas grandes editoras científicas comerciais que detém os direitos de publicação de parcela considerável do que é produzido no mundo. As editoras vendem as assinaturas dos periódicos que editoram para universidades e institutos de pesquisa e separatas de artigos para pesquisadores interessados. Além desse valor de uso dos artigos comercializados como mercadorias, há o valor de troca operando nos mercados de trocas simbólicas, em que o numero de artigos e suas citações desempenham papel relevante nos processos de avaliação de pesquisadores e grupos de pesquisa influenciando os mecanismos de repartição dos recursos para pesquisa e de bolsas para o treinamento de novos pesquisadores33. Castiel LD, Sanz-Valero J, Rede MeI-CYTED. Entre fetichismo e sobrevivência: o artigo científico é uma mercadoria acadêmica? Cad Saude Publica 2007; 23(12):3041-3050..

Essas características multifacetadas dos artigos científicos são acompanhadas por diversas expectativas por parte dos diferentes agentes sociais envolvidos no processo de publicação. Do ponto de vista dos autores, as expectativas incluem avaliação rápida, detalhada, criteriosa e justa; editoração correta e fiel ao seu texto, rapidez na publicação e impacto acadêmico e/ou social da publicação. Esse conjunto de expectativas dependem fundamentalmente da qualidade do artigo e dos processos editoriais das revistas. Os sistemas informatizados e a pré análise, ferramentas para tornar mais rápida a avaliação, o processo de revisão por pares, a qualidade da editoração e o prestígio da revista são elementos editoriais cruciais para atender as expectativas do autor44. Monteiro CA. Revisão por pares e outros pontos críticos na edição de revistas científicas. Fórum de Editores Científicos da área de Saúde Pública. 8° Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva. Rio de Janeiro; 2006..

Quanto aos leitores, suas expectativas são relativas à relevância e atualidade dos temas tratados, caráter inovador e correição dos artigos publicados, textos bem escritos e apresentados44. Monteiro CA. Revisão por pares e outros pontos críticos na edição de revistas científicas. Fórum de Editores Científicos da área de Saúde Pública. 8° Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva. Rio de Janeiro; 2006.. Além das expectativas de autores e leitores há que se considerar as expectativas dos editores científicos que incluem a recepção de artigos adequadamente construídos, relevantes e interessantes; poder contar com um processo de revisão por pares de qualidade, editoração profissional e ampla possibilidade de divulgação dos conteúdos publicados. Novamente, expectativas que dependem substancialmente da qualidade do artigo e do processo editorial mas também de um esforço para obter boa indexação do periódico e impactos bibliográficos crescentes. Outro aspecto a ter em conta quando se trata dos editores é a própria política editorial do periódico e sua relação com a política científica mais ampla praticada no país no qual a revista é produzida. Finalmente, as expectativas das editoras comerciais residem em publicar a maior parcela dos conhecimentos novos relevantes e obter lucro a partir de assinaturas, venda de separatas, venda de publicidade ou do custeio direto pelos autores no sistema de open access.

Há portanto, um conjunto de aspectos que desafiam o trabalho dos editores científicos, dentre os quais, pretende-se discutir na sequencia: os preditores de publicação, questões relativas ao peer review, aspectos formais da editoração, comportamento ético de autores e editores, questões particulares para os periódicos nacionais e o futuro da publicação científica.

Preditores de publicação

A decisão editorial está baseada na originalidade, na relevância, na utilidade, na qualidade metodológica do artigo, no público alvo da revista e também na política editorial. Muitos desses aspectos são subjetivos, dependendo da percepção do próprio editor científico e do grupo de avaliadores envolvidos no processo de análise55. Lee KP, Boyd EA, Holroyd-Leduc JM, Bacchetti P, Bero LA. Predictors of publication: characteristics of submitted manuscripts associated with acceptance at major biomedical journals. Med J Aust 2006; 184(12):621-626.. Assim sendo, alguns autores decidiram estudar quais são as características que aumentam a chance de um artigo ser aceito para publicação.

Um desses estudos, de 2003, analisou os artigos submetidos ao British Medical Journal, The Lancet e Annals of Internal Medicine. No período de estudo os periódicos receberam 1107 artigos, dos quais 68(6%) foram aceitos após revisão por pares, 777 (70%) foram recusados em pré-análise e 262 (24%) foram recusados após revisão por pares. Os principais preditores identificados estão apresentados na Tabela 1.

Tabela 1
Preditores da aceitação para publicação, em três periódicos selecionados, 2003.

Cada artigo foi também analisado segundo uma escala de 22 itens sobre a qualidade metodológica. A probabilidade de aceitação foi diretamente proporcional ao escore de qualidade reforçando o procedimento de pré-análise que é capaz de identificar qualidade. O único viés editorial evidenciado foi a seleção mais frequente de autores da nacionalidade do periódico55. Lee KP, Boyd EA, Holroyd-Leduc JM, Bacchetti P, Bero LA. Predictors of publication: characteristics of submitted manuscripts associated with acceptance at major biomedical journals. Med J Aust 2006; 184(12):621-626..

O processo de revisão por pares

No centro da publicação e divulgação da produção científica está o processo de revisão por pares que, embora criticado, continua sendo o principal modo de validação utilizado pelos periódicos científicos. O processo de revisão por pares traz uma série de dificuldades para a editoração de revistas científicas dentre as quais podem ser destacadas: a recusa em revisar, tipos de revisão, a qualidade da revisão e preparação dos revisores, conflitos de interesse econômicos e não econômicos.

Uma das maiores dificuldades dos editores tem sido conseguir um numero mínimo de bons revisores que atendam às solicitações por pareceres em tempo hábil, evitando a demora na publicação dos artigos pré-selecionados. Tite e Schroter66. Tite L, Schroter S. Why do peer reviewers decline to review? A survey. J Epidemiol Community Health 2007; 61(1):9-12. conduziram entrevistas semiestruturadas com pareceristas de quatro periódicos publicados pelo grupo editorial do British Medical Journal para estudar os motivos de recusa. A entrevista abrangia quatro grandes temas: motivos para declinar ou aceitar o pedido de revisão e opinião sobre incentivos financeiros e não financeiros.

Os fatores importantes na decisão de aceitar a solicitação para revisar um artigo foram a contribuição do artigo, relevância do artigo para a área de conhecimento do revisor, oportunidade de aprender algo novo com o artigo revisado, senso de dever profissional e reputação do periódico. Os fatores menos importantes foram pagamento monetário pelo trabalho, reputação dos autores do artigo, recompensa acadêmica para a carreira.

Dentre as razões apresentadas para a recusa as principais foram conflito com prazos para outras tarefas, receber muitos pedidos de revisão de diversos periódicos e prazo muito curto para completar a revisão. Dentre motivos menos importantes foram citados: ter revisado muitos artigos na mesma temática, tamanho do artigo, comentários não levados em conta em revisões anteriores, falta de reconhecimento formal da contribuição dos revisores e ter que usar o sistema on line de revisão.

Os entrevistados concordaram que os incentivos financeiros não são efetivos face a pouca disponibilidade de tempo e que pequenos incentivos não seriam suficientes para encorajar os revisores. Houve grande concordância, entretanto, com os seguintes tipos de incentivos: acesso livre ao conteúdo do periódico, reconhecimento anual na website do periódico, feedback sobre a decisão editorial e qualidade da revisão feita, possibilidade de vir a compor o corpo editorial.

Para contornar as recusas tem se solicitado aos autores a indicação de potenciais revisores. Wager et al.77. Wager E, Parkin Ec, Tamber PS. Are reviewers suggested by authors as good as those chosen by editors? Results of a rater-blinded retrospective study. BMC Medicine 2006; 4:13. analisaram 100 submissões comparando as revisões feitas por revisores indicados pelos autores a outros escolhidos pelos editores. Não houve diferença estatisticamente significante na qualidade ou no tom da revisão feita pelos dois tipos de revisores. Entretanto os revisores indicados pelos autores foram mais propensos a recomendar a publicação na etapa inicial de revisão. Após correções feitas pelos autores, as recomendações para aceitação foram semelhantes nos dois grupos. O tempo utilizado para completar a revisão foi igual nos dois grupos. Esses resultados demonstram que tal procedimento não compromete a qualidade das revisões nem a seriedade do processo de revisão por pares.

O processo de revisão por pares foi muito acusado de ser um processo enviesado prejudicando ideias novas, mulheres, jovens pesquisadores, aqueles que mudam de área e docentes de escolas de menor prestígio. Geralmente duas políticas tem sido adotadas pelos editores: a revisão duplo cega, na qual os autores não conhecem os revisores e vice-versa, e a revisão aberta em que ambas as identidades são reveladas88. Mainguy G, Motamedi MR, Mietchen D. Peer review – the newcomers’perspective. PLoS Biology 2005; 3(9):e326.. As revisões abertas tornam os revisores mais cautelosos, evitando argumentos pouco fundamentados e algumas vezes ofensivos, o uso de comentários irônicos e outras formas de análises menos respeitosas para com os autores99. Abbasi K. JRSM introduces open peer review. Journal of the Royal Society of Medicine 2006; 99(8):379..

A revista Biology Direct decidiu publicar qualquer artigo científico que três membros do corpo editorial concordem em revisar. Mesmo que os três pareceres sejam negativos o artigo será publicado desde que os autores concordem em ter seu artigo publicado ao lado dos três pareceres negativos. A ideia é que mesmo um artigo fraco mas suficientemente interessante para que três cientistas respeitados invistam seu tempo em revisá-lo trará mais aspectos positivos do que negativos ao ser publicado. Esta proposta que radicaliza o papel da revisão por pares busca minimizar os vieses apontados anteriormente.

Diversos editores têm se preocupado com a qualidade dos pareceres recebidos e alem de adotarem formulários semiestruturados recomendam aos revisores o uso de roteiros de avaliação buscando melhorar o desempenho dos mesmos. Esses instrumentos focam na importância e originalidade do artigo, qualidades e limitações metodológicas, aspectos formais do texto e uso de um tom respeitoso e construtivo com os autores1010. Garcia AM, Plasencia A, Fernandez E. La calidad de lãs evaluaciones de amnuscritos en Gaceta Sanitária. Gaceta Sanitária 2002; 16(3):244-249.. Há ainda algumas iniciativas de treinamentos on line para revisores e sistemas de avaliação periódica dos pareceristas pelos editores e pelos autores.

Estudo referido por Grivell1111. Grivell l. Through a glass darkly. EMBO Reports 2006; 7(6):567-570. analisou a qualidade de pareceres dados a um artigo no qual foram introduzidos oito erros relativos ao desenho, à análise e à interpretação dos resultados. O artigo modificado foi enviado a 420 revisores e cerca da metade enviaram pareceres sobre o mesmo. Em media apenas dois dos erros foram identificados. Apenas 10% das revisões identificaram quatro erros e 16% não identificaram nenhum deles. O estudo revelou que os avaliadores mais jovens, aqueles com maior quantidade de artigos publicados e os previamente bem avaliados pelos editores tiveram melhor desempenho.

Callaham e Tercier1212. Callaham ML, Tercier J. The relationship of previous training and experience of journal peer reviewers to subsequent review quality. PLoS Medicine 2007; 4(1):e40. avaliaram a qualidade de 2856 pareceres, emitidos por 308 revisores para a revista Annals of Emergency Medicine, tentando identificar aspectos da experiência e do treinamento dos revisores capazes de prever uma boa revisão. Infelizmente os resultados mostraram que nem os treinamentos prévios nem a experiência em pesquisa e avaliação podem prever adequadamente a qualidade dos pareceres (Tabela 2).

Tabela 2
Experiência, treinamento e qualidade do parecer. Annals of Emergence Medicine.

Outro aspecto sensível do processo de peer review é a presença de conflitos de interesses não financeiros como elementos que podem influenciar os julgamentos entre pares. Dentre eles são mencionados os conflitos entre áreas disciplinares, rivalidade entre autores e revisores e competição entre instituições. Para evitar esses conflitos os revisores podem declarar a presença de conflito e rejeitar a solicitação de parecer, os autores podem indicar nomes de revisores que não seriam aceitáveis, os autores devem ter assegurado o direito de pedir uma revisão da decisão sempre que se sentirem prejudicados e o processo pode ser cegado para evitar preconceitos1313. Abdoul H, Perrey C, Tubach F, Amiel P, Durand-Zaleski I, Alberti C. Non-financial conflicts of interests in academic Grant evaluation: a qualitative study of multiple stakeholders in France. PLoS One 2012; 7(4):e35247.. O Quadro 1 apresenta as dez regras elaboradas por Bourne e Korngreen1414. Bourne PE, Korngreen A. Ten simple rules for reviewers. PLoS Computational Biology 2006; 2(9):e110. para orientar o trabalho dos pareceristas.

Quadro 1
Regras para revisores.

Características formais de revistas de Saúde Pública: comparação entre revistas nacionais e estrangeiras

A coleção Saúde Pública do SciELO inclui 15 periódicos, sendo dois internacionais (Bulletin of the World Health Organizacion e Panamerican Journal of Public Health), dois espanhóis (Gaceta Sanitaria e Revista Española de Salud Publica) cinco brasileiras (Cadernos de Saúde Pública, Cien Saude Colet Interface, Revista Brasileira de Epidemiologia e Revista de Saúde Pública) e seis de outros países latino-americanos. Para fins de comparação foram selecionadas no JCR as quinze revistas de saúde pública com maior índice de impacto em 2013, uma delas internacional (International Journal of Epidemiology) e as demais, estrangeiras. Foram analisados os três últimos números de cada periódico publicados em 2014.

As revistas estrangeiras do grupo do JCR são editadas predominantemente por associações científicas (40%) ou editoras comerciais (33%) enquanto as revistas da coleção do SciELO são editadas predominantemente por organismos multilaterais ou ministérios da saúde (40%) ou por instituições de ensino superior (33%). Das cinco revistas brasileiras analisadas duas são editadas pela Abrasco (Associação Brasileira de Saúde Coletiva) e três são editadas por instituições de ensino superior.

As revistas estrangeiras são publicadas com maior frequência havendo entre as quinze analisadas, duas publicadas quinzenalmente e oito publicadas mensalmente. No grupo do SciELO predomina a periodicidade trimestral (5 periódicos) seguida da bimensal e mensal, cada uma com quatro periódicos. Não há periódicos quinzenais. Das revistas brasileiras, duas são trimestrais, duas são mensais e uma é bimestral.

O único periódico a ter uma distribuição de artigos dos cinco continentes é o Bulletin of the World Health Organization com cerca de 30% dos artigos provenientes da Europa, 25% da América do Norte e os outros 45% distribuídos entre África (16%), Ásia (13%), Oceania (13%) e América Latina (3%). Os outros periódicos da coleção SciELO concentram artigos de seus próprios continentes. As duas revistas espanholas concentram artigos europeus em mais de 90%. Das revistas latino-americanas, cinco tem 100% dos artigos da própria região, outras oito tem entre 74% e 96% dos artigos provenientes da América Latina e o restante da Europa e América do Norte inclusive o Panamerican Journal of Public Health. As revistas brasileiras seguem este mesmo padrão. O International Journal of Epidemiology tem artigos dos cinco continentes mas 55% deles são europeus e apenas 0,9% da América Latina. Seis periódicos publicam artigos predominantemente de autores norte-americanos e cinco, tanto de norte-americanos quanto europeus. Apenas um, o Environmental Research, tem 53% dos artigos europeus, 22% asiáticos e 20% norte-americanos.

O inglês é o único idioma aceito para as 15 revistas do grupo do JCR. Na coleção SciELO, 11 periódicos publicam artigos em inglês e espanhol, inglês e português ou exclusivamente em inglês. Quatro periódicos publicam exclusivamente artigos em espanhol e seis periódicos publicam artigos em português, espanhol e inglês.

A maioria dos periódicos publicam artigos originais, revisões, comentários, comunicações breves e artigos com potencial aplicação prática. No conjunto das revistas estrangeiras, duas publicam exclusivamente artigos de revisão e um número maior publica comentários se comparada às da coleção SciELO. Um número menor de periódicos em ambos os grupos publicam outros tipos de artigos como artigos metodológicos, atualidades, artigos especiais, ensaios teóricos, fórum de debates, entrevistas e ensaios fotográficos. Apenas uma dentre as revistas estrangeiras publica cartoons, glossário, educação e divulgação jornalística.

Todas as revistas analisadas selecionam os artigos através de peer-review, com exceção de uma das revistas que publica exclusivamente artigos de revisão de autores convidados. Todos os periódicos são indexados em uma ou mais bases bibliométricas. No grupo do JCR todos os periódicos são indexados também na base Scopus e o mesmo acontece com as revistas da coleção SciELO. Neste último grupo 10 periódicos são indexados também no JCR.

Considerando o fator de impacto calculado pelo JCR, as revistas estrangeiras apresentaram valores entre 2,890 (Social Science & Medicine) e 10,083 (The Lancet Global Health) com mediana de 5,339 enquanto os periódicos da coleção SciELO mostraram valores entre 0,102 (Salud Colectiva) e 5,089 (Bulletin WHO) com mediana de 0,881. As três revistas brasileiras apresentaram os seguintes valores: Revista de Saúde Pública (0,733), Ciência & Saúde Coletiva (0,881) e Cadernos de Saúde Pública (0,976).

Considerando o índice de impacto calculado na base Scopus (cites per doc) os valores, para os periódicos estrangeiros variaram entre 3,001 e 9,583 com mediana de 4,817 enquanto na coleção SciELO os valores variaram entre 0,082 e 4,172 com mediana de 0,793. Nesta base as revistas brasileiras apresentam o seguinte desempenho: Interface (0,225), Revista Brasileira de Epidemiologia (0,686), Revista de Saúde Pública (0,858), Ciência & Saúde Coletiva (1,029) e Cadernos de Saúde Pública (1,231).

Na base SciELO os fatores de impacto variaram entre 0,036 (Revista de Salud Pública) e 0,476 (Revista de Saúde Pública) com mediana de 0,268. Todas as revistas brasileiras apresentam impacto acima da mediana, exceto a revista Interface.

O índice h calculado na base Scopus variou entre 10 (The Lancet Global Health) e 194 (Environmental Health Perspectives) com mediana de 119 no grupo de periódicos do JCR. Para a coleção SciELO a variação foi de 6 (Revista Cubana de Salud Publica e Salud Colectiva) a 113 (Bulletin WHO) com mediana de 23. Apenas as revistas Interface e Revista Brasileira de Epidemiologia, entre as brasileiras apresentaram valor inferior ao mediano.

O SCImago Journal and Country Rank apresenta além dos indicadores já mencionados a proporção de itens do periódico agrupados em períodos de três anos que tenham sido citados ao menos uma vez durante os anos seguintes. Para o período de 2011-2013 essa taxa variou de 52 a 97% para os periódicos do grupo JCR e entre 7 e 66% para os do grupo SciELO. No primeiro grupo a mediana foi de 75% e no segundo, 40% (Quadro 2).

Quadro 2
Síntese das características formais dos periódicos da coleção SciELO Saúde Pública e os quinze periódicos de Saúde Pública com maior impacto no JCR.

Característica do processo editorial de três revistas: Revista de Saúde Pública (Brasil), Cadernos de Saúde Pública (Brasil) e Gaceta Sanitária (Espanha)

Para avaliar características do processo editorial selecionamos três publicações para as quais os dados necessários estavam disponíveis em artigos ou editoriais dos próprios editores, incluindo duas revistas brasileiras e uma espanhola a fim de permitir uma comparação externa.

A Revista de Saúde Pública, editada pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, foi criada em 1967 e conta com três editores científicos, uma editoria executiva e dezesseis editores associados, envolvendo mais de dois mil especialistas entre acadêmicos e profissionais da área, em todo o país e no exterior1515. Antunes JLF, França Jr. I, Andrade MTS, Barata RB, Monteiro CA. Desafios editoriais da Revista de Saúde Pública. Cien Saude Colet 2015; 20(7):1997-2006..

A Gaceta Sanitária, editada pela Sociedad Española de Salud Pública y Administración Sanitária desde 1988, tem um diretor e um diretor associado e dez editores associados em sua comissão editorial1616. Editorial. Gaceta Sanitária en 2014. Gaceta Sanitária 2015; 29(2):84-87..

O Cadernos de Saúde Pública, editado pela Escola Nacional de Saúde Publica da Fiocruz desde 1985, tem corpo editorial constituído por três editores científicos e 21 editores associados1717. Carvalho MS, Coeli CM, Travasso C. Uma breve história de Cadernos de Saúde Pública. Cien Saude Colet 2015; 20(7):2007-2012..

As três revistas analisadas têm muitos aspectos parecidos em seu processo editorial destacando-se a maior taxa de aceitação relativa pela Gaceta Sanitária, a maior proporção relativa de artigos originais na Revisa de Saúde Pública, o maior número de artigos publicados no Cadernos de Saúde Pública e os menores tempo entre submissão e aceitação e, submissão e publicação na Gaceta Sanitária (Tabela 3).

Tabela 3
Síntese dos dados editoriais da Revista de Saúde Pública, Gaceta Sanitária e Cadernos de Saúde Pública, 2014.

Questões editoriais envolvendo a ética da autoria

Há diversos aspectos que vêm preocupando os editores, relativos a comportamento inaceitável de cientistas tais como fraudes ou fabricação de resultados, duplicidade de publicação e plágio; e, práticas questionáveis de pesquisa tais como “fatiamento” da pesquisa resultante da divisão artificial dos resultados; repetição dos mesmos artigos apenas com maior tamanho de amostra ou replicação da pesquisa em grupos populacionais distintos sem uma justifica clara para tal; mal uso de referências bibliográficas; aumento artificial no número de autores1818. Fanelli D. How many scientists fabricate and falsify research? A systematic review and meta-analysis of survey data. PLoS One 2009; 4(5):e5738..

A fabricação e a falsificação de resultados estão entre aquelas faltas consideradas mais graves pelo dano que produzem à própria ciência e os potenciais prejuízos para a saúde humana, no caso das pesquisas biomédicas. É muito difícil estimar a extensão dessas práticas. Meta-análise de 18 inquéritos estimou em 1,97% (IC95%0,86-4,45) a frequência de fabricação ou falsificação de dados auto-referida por pesquisadores1818. Fanelli D. How many scientists fabricate and falsify research? A systematic review and meta-analysis of survey data. PLoS One 2009; 4(5):e5738.. A retratação de artigos é uma evidência de erros, fraude ou problemas éticos afetando 0,02% a 0,2% dos artigos. Diferentes estudos de artigos retratados tem encontrado que 30 a 40% das retratações são motivadas por fraudes1919. He T. Retraction of global scientific publications from 2001 to 2010. Scientometrics 2013; 96(2):555-561.,2020. Fanelli D, Costas R, Larivière V. Misconduct policies, academic culture and career stage, not gender or pressure to publish, affect scientific integrity. PLoS One 2015; 10(6):e0127556..

As taxas de retratação variam com a área do conhecimento sendo mais altas nas pesquisas multidisciplinares e em ciências da vida. São mais altas em países onde as publicações são recompensadas em dinheiro (Austrália, Alemanha, China, Coréia do Sul e Turquia), e menores naqueles em que a publicação influencia as carreiras ou os financiamentos institucionais. As retratações são mais comuns entre autores com pequeno histórico de publicações. Não são preditores de retração o sexo do autor, o numero de autores e a publicação em revistas de alto impacto1919. He T. Retraction of global scientific publications from 2001 to 2010. Scientometrics 2013; 96(2):555-561.,2020. Fanelli D, Costas R, Larivière V. Misconduct policies, academic culture and career stage, not gender or pressure to publish, affect scientific integrity. PLoS One 2015; 10(6):e0127556..

A publicação duplicada é aquela de um artigo que se sobrepõem substancialmente a outro já publicado sem referência clara e explícita à publicação prévia (International Committee of Medical Journal Editors) e plagiarismo é a apropriação de ideias, processos, resultados ou palavras de outra pessoa sem os respectivos créditos (National Library of Medicine). Ambos são tipos de má conduta científica responsáveis por parcela considerável da retratação de artigos2121. Amos KA. THe ethics of scholarly publishing: exploring differences in plagiarism and duplicate publication across nations. Journal of the Medical Library Association 2014; 102(2):87-91.. Citron e Ginsparg2222. Citron DT, Ginsparg P. Patterns of text reuse in a scientific corpus. PNAS 2015; 112(1):25-30. utilizaram o repositório arXiv (757 mil artigos de física, matemática e ciências da computação) para estudar o reuso de textos (repetição de sequências de 7 palavras) classificando os resultados em três categorias: auto plágio (reuso por um ou mais dos autores do artigo original), repetição de texto com citação do original e plágio (repetição sem menção ao original) Os autores classificaram como casos mais sérios aqueles nos quais mais de 100 blocos de sequências de 7 palavras foram reutilizados encontrando 11% de auto plágio, 1% de citações e 0,2% de plágio. Estes artigos são menos citados e geralmente copiam artigos também pouco citados passando muitas vezes desapercebidos2222. Citron DT, Ginsparg P. Patterns of text reuse in a scientific corpus. PNAS 2015; 112(1):25-30..

Questões editoriais envolvendo a ética de editores

Além dos problemas associados à má conduta de pesquisadores, a ética na publicação também inclui aspectos relativos ao comportamento dos editores e revisores externos. Os editores trabalham na interface entre autores, revisores e editoras respondendo ainda aos proprietários dos periódicos, estando sujeitos a diferentes tipos de pressão e conflitos de interesse.

São objeto de questionamento da conduta editorial os critérios utilizados na rejeição ou aprovação dos artigos que podem denotar favorecimentos na precedência de publicação para certos autores em detrimento de outros; privilégio na publicação de artigos de seu próprio grupo de pesquisa ou de sua autoria; parcialidade motivada por questões institucionais, regionais, de gênero, geração ou outras; censura a determinados tópicos ou abordagens metodológicas. Além desses aspectos vistos como injustos pelos autores, há má conduta relativa à fabricação de citações, através de distintos mecanismos como o estímulo pelo editor à citação de artigos anteriormente publicados ou troca combinada de citações entre diferentes periódicos.

Desafios editoriais para revistas brasileiras

Além dos problemas comuns a qualquer editor, como os acima mencionados, a publicação de revistas científicas no Brasil apresenta um conjunto de dificuldades próprias dos países com pouco investimento em ciência e tecnologia e com infraestrutura de pesquisa ainda incipiente.

O principal problema compartilhado por parcela significativa dos periódicos é a sustentabilidade financeira. Praticamente todos os periódicos tem problemas com a irregularidade e a insuficiência de recursos materiais, humanos e financeiros. O modelo de fomento estabelecido pelas agencias de ciência e tecnologia no pais, impede a utilização dos recursos para pagamento de pessoal, determinando assim, que as instituições patronas das revistas arquem com esses custos em sua totalidade. A forma de repartição e estabelecimento dos montantes de financiamento não são claros, havendo marcadas diferenças entre os periódicos1515. Antunes JLF, França Jr. I, Andrade MTS, Barata RB, Monteiro CA. Desafios editoriais da Revista de Saúde Pública. Cien Saude Colet 2015; 20(7):1997-2006.,2323. Almeida MF, Goldbaum M, Carvalheiro JR. A Revista Brasileira de Epidemiologia: 18 anos de contribuição à difusão do conhecimento. Cien Saude Colet 2015; 20(7):2031-2039.

24. Camargo Jr. KR. Celebrando Cien Saude Colet lembrando da trajetória da Physis. Cien Saude Colet 2015; 20(7):2053-2058.

25. Martins Cl, Ribeiro H, Alvarenga AT, Carvalheiro JR. Saúde e Sociedade: parceria e abertura para novas abordagens. Cien Saude Colet 2015; 20(7):2069-2080.
-2626. Minayo MCS, Gomes R. Ciência & Saúde Coletiva no contexto nacional e internacional da divulgação científica. Cien Saude Colet 2015; 20(7):2013-2022.. Outra dificuldade é a pouca ou nula profissionalização de etapas importantes do processo editorial. A grande maioria das revistas não conta com profissionais capacitados e adequadamente remunerados para exercer as atividades de editoria executiva e editoração.

A qualidade da revisão por pares adquire maior relevância na realidade brasileira em que o tamanho da comunidade científica e a barreira da língua tornam restritas as oportunidades de diversificação dos revisores. Alguns pesquisadores são bastante demandados por todos os periódicos o que acaba provocando maior taxa de recusa, atraso na emissão dos pareceres e perda de qualidade. Como a maioria dos artigos são submetidos em português a solicitação de revisão também fica restrita a pesquisadores nacionais1515. Antunes JLF, França Jr. I, Andrade MTS, Barata RB, Monteiro CA. Desafios editoriais da Revista de Saúde Pública. Cien Saude Colet 2015; 20(7):1997-2006.,2323. Almeida MF, Goldbaum M, Carvalheiro JR. A Revista Brasileira de Epidemiologia: 18 anos de contribuição à difusão do conhecimento. Cien Saude Colet 2015; 20(7):2031-2039..

A qualidade de algumas etapas do processo de editoração também se vê afetada pela insuficiência de recursos e pelo “amadorismo”. A necessidade de tradução para o inglês de parte ou da totalidade dos artigos representa um desafio para todos os periódicos. O volume de artigos e a escassez de tradutores com conhecimento dos temas compromete a qualidade das traduções e a circulação internacional dos artigos2525. Martins Cl, Ribeiro H, Alvarenga AT, Carvalheiro JR. Saúde e Sociedade: parceria e abertura para novas abordagens. Cien Saude Colet 2015; 20(7):2069-2080.,2626. Minayo MCS, Gomes R. Ciência & Saúde Coletiva no contexto nacional e internacional da divulgação científica. Cien Saude Colet 2015; 20(7):2013-2022..

Outro desafio para todos os editores é buscar aumentar o impacto científico e social dos artigos publicados. Se por um lado, as ferramentas virtuais facilitam a difusão do conhecimento, por outro, o volume de produção acaba funcionando como empecilho para que a produção de países periféricos no cenário científico possa ser considerada2323. Almeida MF, Goldbaum M, Carvalheiro JR. A Revista Brasileira de Epidemiologia: 18 anos de contribuição à difusão do conhecimento. Cien Saude Colet 2015; 20(7):2031-2039.,2424. Camargo Jr. KR. Celebrando Cien Saude Colet lembrando da trajetória da Physis. Cien Saude Colet 2015; 20(7):2053-2058.,2727. Cyrino AP, Lima EA, Garcia VL, Teixeira RR, Foresti MCPP, Schraiber LB. Um espaço interdisciplinar de comunicação científica na Saúde Coletiva: a revista Interdace- Comunicação, Saúde, Educação. Cien Saude Colet 2015; 20(7):2059-2068..

Traduzir o conhecimento científico em práticas e conhecimentos que possam ser absorvidos pelos profissionais da área, gestores da política e dos serviços de saúde e pela população em geral é outro desafio considerável. Apesar dos recursos hoje disponíveis como as redes sociais, os blogs, revistas eletrônicas de popularização da ciência, esse processo de translação não se mostra fácil e representa mais uma tarefa que requer profissionalização no processo editorial.

A busca por maior internacionalização na publicação dos artigos é outro dos desafios colocados pelas agencias de fomento para as editorias1717. Carvalho MS, Coeli CM, Travasso C. Uma breve história de Cadernos de Saúde Pública. Cien Saude Colet 2015; 20(7):2007-2012.,2424. Camargo Jr. KR. Celebrando Cien Saude Colet lembrando da trajetória da Physis. Cien Saude Colet 2015; 20(7):2053-2058.

25. Martins Cl, Ribeiro H, Alvarenga AT, Carvalheiro JR. Saúde e Sociedade: parceria e abertura para novas abordagens. Cien Saude Colet 2015; 20(7):2069-2080.
-2626. Minayo MCS, Gomes R. Ciência & Saúde Coletiva no contexto nacional e internacional da divulgação científica. Cien Saude Colet 2015; 20(7):2013-2022.. Pretende-se que as revistas brasileiras sejam capazes de atrair a publicação de autores estrangeiros dando assim, caráter mais internacional às publicações, o que, teoricamente levaria a um aumento no impacto do periódico. Tal suposição, no entanto, carece de comprovação empírica e ignora que revistas nacionais, brasileiras ou de outros países, tendem a publicar autores do próprio país ou região. Apenas as revistas publicadas por entidades internacionais apresentam maior diversidade de autores.

Futuro das publicações científicas: acesso aberto

O acesso aberto é um conjunto de estratégias para difundir a produção científica de forma livre e gratuita através da internet. Atualmente há quatro modalidades de divulgação ou diferentes níveis de abertura dos conteúdos dos periódicos científicos: o sistema fechado no qual o acesso é limitado à assinantes ou à compra avulsa de separatas; o modelo híbrido no qual parte dos artigos tem acesso aberto mediante pagamento pelos autores ou são tornados disponíveis após um embargo de 6 a 12 meses praticado pela editora; o acesso aberto imediatamente após a publicação em repositórios institucionais (Green Road) ou o acesso aberto imediato em livrarias virtuais (Golden Road) como Pubmed Central (US NIH’s National Library of Medicine), Public Library of Science (PLoS), Biomedcentral journals (BMC) ou SciELO2828. Marques F. Conhecimento Livre. Pesquisa FAPESP 2012; 201:34-39..

Entre 2000 e 2015 o numero de revistas científicas no Diretory of Open Access Journals (DOAJ) passou de 741 para 10.439. Em 2012, o país com o maior numero de revistas no DOAJ era os Estados Unidos com 1260 e, o Brasil era o segundo, com 782 revistas. Cerca de 20% dos artigos produzidos estão disponíveis em acesso aberto em todo o mundo2828. Marques F. Conhecimento Livre. Pesquisa FAPESP 2012; 201:34-39..

Dado novo nesse movimento é a transformação do papel das editores comerciais que, diante do crescimento dessa tendência, vem se preparando para adquirir ou já adquiriram, conjuntos de periódicos em acesso livre, como o BMC, encarecendo as taxas de publicação para os autores como forma de compensar a perda dos lucros na venda de assinaturas e acesso às separatas.

Em 2014, o grupo editor da Nature e Palgrave Macmillan divulgaram de forma distorcida os resultados de um inquérito realizado com mais de 30 mil pesquisadores analisando diversos aspectos inclusive a preferência ou não pelas publicações em acesso aberto. A divulgação optou por enfatizar o desconhecimento dos pesquisadores sobre as exigências de divulgação em acesso aberto das pesquisas financiadas pelo Welcome Trust (17%) ou pelo NIH (25%) e a preocupação expressa por 40% dos pesquisadores, que não haviam publicado em acesso aberto, quanto à qualidade dessas publicações. As editoras oportunamente ignoraram o fato de que 57% dos autores, que já haviam publicado em acesso aberto, consideraram essa a melhor opção para “colocar o conhecimento imediatamente ao dispor de todos” e “tornar os artigos mais amplamente conhecidos” alem de acreditaram que “artigos abertos geram maior numero de citações”2929. Martinovich V. La dimensión política del acceso abierto: el conocimiento como bien público o como mercancía? Salud Colectiva 2015; 11(3):297-300..

Outras tentativas falaciosas de desacreditar o acesso aberto incluem o “experimento” realizado por Bohannon, que enviou um artigo fictício para revista de acesso aberto selecionando grande numero daquelas que são denominadas “predadoras”, ou seja, que utilizam o acesso aberto para encobrir práticas condenáveis como conselhos editoriais fictícios, fatores de impacto inventados, bloqueios para identificação de plágio entre outras2929. Martinovich V. La dimensión política del acceso abierto: el conocimiento como bien público o como mercancía? Salud Colectiva 2015; 11(3):297-300.. No mesmo contexto de defesa dos interesses das editoras comerciais se inscrevem criticas grosseiras como as dirigidas a iniciativas sérias como o SciELO3030. Beall J. Is SciELO a publication favela? Emerald City Journal 30/07/2015..

A luta pelo acesso aberto e pela disseminação ampla dos conhecimentos científicos apenas começou. Haverão ainda muitos lances e tentativas das grandes casas editoriais em denegrir os esforços nessa direção e assegurar pelo menos por mais algum tempo seu negócio extremamente lucrativo visto que, a pesquisa em sua maioria é financiada por recursos públicos, o trabalho editorial, em sua etapa de mérito acadêmico é feito gratuitamente pela comunidade científica e o trabalho editorial é pago pelas entidades mantenedoras das publicações. Cabe às casas editoriais colocar o produto no mercado e receber os lucros por um produto no qual não investiram nada.

Comentários Finais

Procuramos nesta revisão narrativa abordar alguns dentre muitos aspectos que tem mobilizado a atenção daqueles que de uma maneira ou outra se veem envolvidos no preparo, submissão, avaliação e editoração de artigos científicos. Buscamos enfocar de maneira sintética vários pontos que podem dar aos leitores ideia da complexidade da tarefa enfrentada pelos editores científicos em suas relações com os autores, os avaliadores, as editoras comerciais ou não e as bases de indexação bibliográfica.

A variedade dos temas trazidos, ainda que de maneira sucinta, pode dar aos leitores um conjunto de referências e reflexões quanto aos diferentes ângulos do processo editorial e auxiliar o debate que a comunidade acadêmica vem travando em torno a temas importantes como o acesso livre à informação científica, reconfiguração do processo de avaliação por pares, ética autoral e editorial, exigências das bases indexadoras, dentre outros.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Mar 2019

Histórico

  • Recebido
    01 Ago 2016
  • Revisado
    21 Mar 2017
  • Aceito
    23 Mar 2017
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