Disponibilidade de informação sobre quantidade de açúcar em alimentos industrializados

Camila Cremonezi Japur Dyessa Cardoso Bernardes Assunção Raíssa Aparecida Borges Batista Fernanda Rodrigues de Oliveira Penaforte Sobre os autores

Resumo

O objetivo foi avaliar a disponibilidade da informação sobre quantidade de açúcar e identificar sua posição na lista de ingredientes em alimentos industrializados. Este estudo caracteriza-se como transversal, com análise de todos os alimentos industrializados tradicionais, diet, light e zero comercializados em um hipermercado de grande porte, que contivessem na lista de ingredientes as palavras açúcar ou sacarose. A declaração da quantidade e a posição do açúcar na lista de ingredientes foram registrados após observação do rótulo. A informação de quantidade de açúcar também foi solicitada às indústrias de alimentos, por e-mail ou telefone. Foram analisados 2200 alimentos, sendo 2164 (98,4%) tradicionais e 36 (1,6%) diet, light e zero, nos quais a declaração da quantidade de açúcar foi observada em apenas 14,4% e 13,9% dos alimentos, respectivamente (p=0,84). Das 156 empresas contatadas, apenas 7,7% (n=12) disponibilizaram as informações solicitadas. Dentre os alimentos tradicionais, 75,8% apresentam o açúcar nas três primeiras posições da lista de ingredientes, enquanto nos diet, light e zero, 77,8% (p=0,93). Conclui-se que o açúcar é o principal ingrediente em grande parte dos alimentos analisados e que a disponibilidade de informação de sua quantidade é baixa.

Palavras-chave
Açúcares; Alimentos Industrializados; Rotulagem Nutricional

Introdução

Nas últimas décadas ocorreram diversas mudanças alimentares no Brasil e no mundo. Houve aumento do consumo de alimentos com alta densidade energética, ricos em açúcares, gorduras e sódio (ultraprocessados) e redução do consumo de alimentos fonte de fibras e micronutrientes. Tais alterações estão fortemente associadas ao aumento da prevalência de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), como diabetes mellitus, obesidade, hipertensão arterial sistêmica, doenças cardiovasculares e câncer11 Maire B, Lioret S, Gartner A, Delpeuch F. Nutritional transition and non-communicable diet-related chronic diseases in developing countries. Sante 2002; 12(1):45-55.

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-66 Rauber F, Louzada MLC, Steele E, Millett C, Monteiro CA, Levy RB. Ultra-Processed Food Consumption and Chronic Non-Communicable Diseases-Related Dietary Nutrient Profile in the UK (2008-2014). Nutrients 2018; 10(5):587..

Evidências epidemiológicas sugerem que o alto consumo de açúcares de adição especificamente é um fator de risco associado às DCNT77 Basu S, McKee M, Galea G, Stuckler D. Relationship of soft drink consumption to global overweight, obesity, and diabetes: a cross-national analysis of 75 countries. Am J Public Health 2013; 103(11):2071-2077.

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-1111 Vos MB, Kaar JL, Welsh JA, Van Horn LV, Feig DI, Anderson CAM, Patel MJ, Munos JC, Krebs NF, Xanthakos SA, Johnson RK, American Heart Association Nutrition Committee of the Council on Lifestyle and Cardiometabolic Health, Council on Clinical Cardiology, Council on Cardiovascular Disease in the Young, Council on Cardiovascular and Stroke Nursing, Council on Epidemiology and Prevention, Council on Functional Genomics and Translational Biology, and Council on Hypertension. Added Sugars and Cardiovascular Disease Risk in Children: A Scientific Statement From the American Heart Association. Circulation 2017; 135(19):e1017-e1034.. Açúcares de adição (ou livres) referem-se aos açúcares incorporados às bebidas e alimentos na preparação ou processamento industrial99 World Health Organization (WHO). Guideline: Sugars intake for adults and children. Genebra: WHO; 2015.,1212 Institute of Medicine. Dietary Reference Intakes for Energy, Carbohydrate, Fiber, Fat, Fatty Acids, Cholesterol, Protein, and Amino Acids (Macronutrients) Washington: National Academies Press; 2005..

Em 2015, a Organização Mundial de Saúde (OMS) sugeriu a redução do limite máximo diário de ingestão de açúcares de adição de 10% para 5%99 World Health Organization (WHO). Guideline: Sugars intake for adults and children. Genebra: WHO; 2015.. No ano seguinte, a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) propôs que alimentos processados e ultraprocessados sejam considerados ricos em açúcares quando a quantidade de açúcares livres for ≥10% do valor energético total (kcal) na porção recomendada1313 Organização Pan Americana de Saúde (OPAS). Modelo de Perfil Nutricional da Organização Pan-Americana da Saúde. Brasília: OPAS; 2016.. Para que ambas as proposições sejam seguidas, é necessária a disponibilização de informações sobre a quantidade de açúcares presentes nos rótulos de alimentos industrializados.

No Brasil, a declaração do conteúdo energético e de macronutrientes é obrigatória nas tabelas nutricionais de rótulos de alimentos industrializados. No entanto, não há obrigatoriedade de declaração da quantidade de açúcar em alimentos tradicionais, diet, light e zero1414 Brasil. Secretaria de Vigilância Sanitária (Anvisa). Resolução RDC n° 360, de 23 de dezembro de 2003. Regulamento técnico sobre rotulagem de alimentos embalados. Diário Oficial da União 2003; 23 dez.,1515 Brasil. Secretaria de Vigilância Sanitária (Anvisa). Portaria n° 29, de 13 de janeiro de 1998. Regulamento técnico para fixação de identidade e qualidade de alimentos para fins especiais. Diário Oficial da União 1998; 29 jan.. Essa ausência de informações sobre a quantidade de açúcares gera dificuldades para a escolha alimentar consciente e para o controle da ingestão de açúcar pela população. Portanto, o presente estudo objetivou avaliar a disponibilidade da informação sobre quantidade de açúcar e identificar a posição do açúcar na lista de ingredientes em alimentos tradicionais e diet, light e zero, de sabor doce e salgado, que contêm açúcar.

Métodos

Trata-se de um estudo transversal no qual foi realizada uma avaliação de alimentos industrializados, tradicionais, diet, light e zero, comercializados em um hipermercado da cidade de Uberlândia, Minas Gerais, mediante autorização por escrito da gerência do hipermercado. O estabelecimento foi selecionado de forma intencional, pois possui uma grande oferta de produtos industrializados e, de acordo com a Associação Brasileira de Supermercados (ABRAS), é considerada a segunda maior rede de supermercados do Brasil1616 Associação Brasileira de Supermercados (ABRAS). Ranking ABRAS/SuperHiper. São Paulo: ABRAS; 2014..

A pesquisa foi realizada durante o ano de 2015, em duas etapas. Na primeira foi realizada a observação dos rótulos de todos os alimentos disponíveis no hipermercado avaliado, e a inclusão no estudo de todos os alimentos, de diferentes marcas e sabores, que contivessem as palavras açúcar ou sacarose na lista de ingredientes, independentemente da sua posição. Foram excluídos produtos de mesma composição, marca e sabor, porém com tamanhos de embalagens diferentes. Optou-se por incluir apenas as denominações açúcar e sacarose, e não outros tipos de açúcares (como frutose, glicose líquida, maltodextrina, dextrose, xarope de milho, xarope de frutose, xarope de agrave, xarope de guaraná, lactose, polidextrose, galapolidextrose, maltose, galactose, suco de fruta concentrado, extrato de malte, manitol, xylitol, açúcar invertido, açúcar mascavo, amido, sorbitol, entre outros), por ser este o açúcar de mesa, que é comumente conhecido e utilizado pela população.

Após a seleção, havia o registro do nome técnico, nome fantasia, marca, serviço de atendimento ao consumidor (SAC), posição de sacarose e/ou açúcar na lista de ingredientes; presença ou não da quantidade de açúcar na tabela nutricional.

Na segunda etapa, houve o contato com as indústrias de alimentos, por meio de telefone quando este era gratuito, e-mail ou site do SAC, com o intuito de solicitar informações sobre quantidade de açúcar por porção ou 100g do alimento.

Os alimentos selecionados foram separados em dois grupos: Alimentos tradicionais e Alimentos diet, light e zero e classificados em 15 categorias, de acordo com o Sistema Brasileiro de Categorização de Alimentos da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)1717 Brasil. Secretaria de Vigilância Sanitária (Anvisa). Guia de Procedimentos para Pedidos de Inclusão e Extensão de Uso de Aditivos Alimentares e Coadjuvantes de Tecnologia de Fabricação na Legislação Brasileira. Brasília: Anvisa; 2015.. O termo diet é utilizado em alimentos para fins especiais: com restrição de nutrientes (total ou com quantidades insignificantes), ou naqueles exclusivamente empregados para controle de peso, ou alimentos para dieta de ingestão controlada de açúcares1515 Brasil. Secretaria de Vigilância Sanitária (Anvisa). Portaria n° 29, de 13 de janeiro de 1998. Regulamento técnico para fixação de identidade e qualidade de alimentos para fins especiais. Diário Oficial da União 1998; 29 jan.. O termo light é atribuído no rótulo como uma informação nutricional complementar, e seu uso é permitido quando há redução de algum nutriente em pelo menos 25% comparado ao tradicional, ou quando seu conteúdo absoluto respeita limites do atributo “baixo”; e o termo zero, quando de acordo com o atributo “não contém”, estabelecidos na RDC 54/20121818 Brasil. Secretaria de Vigilância Sanitária (Anvisa). Resolução RDC nº 54 de 12 de novembro de 2012. Regulamento técnico sobre informação nutricional complementar. Diário Oficial da União 2012; 12 nov..

Posteriormente à coleta e digitação dos dados, as informações foram revisadas por outros dois pesquisadores e executou-se análise estatística descritiva do número e da porcentagem dos resultados obtidos. A comparação dos percentuais de declaração da quantidade de açúcares e da presença do açúcar nas três primeiras posições da lista de ingredientes, entre alimentos tradicionais e diet, light e zero, foi feita pelo teste qui-quadrado, utilizando-se nível de significância de 5%. A análise estatística foi realizada no software GraphPad Instat versão 3.05.

Resultados

Foram avaliados 2.200 alimentos industrializados que continham na lista de ingredientes, independentemente de sua posição, a palavra açúcar ou sacarose. Do total de alimentos avaliados, 98% (n=2164) eram tradicionais e 1,6% eram diet, light e zero (n=36).

A informação quantitativa sobre o açúcar estava presente nos rótulos de 14,4% dos alimentos tradicionais e 13,9% dos diet, light e zero, sem diferença entre os grupos (p=0,84). A declaração de açúcar nos alimentos tradicionais foi encontrada principalmente nos grupos: Balas, doces, bombons e confeitos (35,3%); Preparados para adicionar ao leite (26,5%); Cereais e/ou produtos à base de cereais (22,9%); Petiscos (20,4%) e Produtos de panificação e Biscoitos (19,8%). Nos alimentos diet, light e zero, a declaração foi encontrada somente nos grupos: Preparados para adicionar ao leite (50,0%) e Produtos de panificação e biscoitos (30,0%), conforme descrito na Tabela 1.

Tabela 1
Distribuição absoluta e percentual da declaração da quantidade de açúcar nos rótulos dos alimentos tradicionais e diet, light ou zero por categoria alimentar.

O açúcar estava presente nas 3 primeiras posições da lista de ingredientes em 1.668 (75,8%) alimentos industrializados, que corresponde a 75,8% dos tradicionais e 77,8% dos diet, light e zero (p=0,93), conforme descrição detalhada nas Tabelas 2 e 3. Vale ressaltar que 29,1% dos alimentos tradicionais (n=629) e 8,3% dos diet, light e zero (n=3) são de sabor salgado, e 30% (n=189) e 66,7% (n=2) deles apresentavam o açúcar nas três primeiras posições da lista de ingredientes, respectivamente. Dentre os alimentos tradicionais de sabor doce, 94,5% deles apresentaram o açúcar nas 3 primeiras posições da lista de ingredientes e nos diet, light e zero de sabor doce, 78,8%. Quando analisados conjuntamente (tradicionais e diet, light e zero), 88,5% dos alimentos de sabor doce e 30,2% dos alimentos de sabor salgado possuem o açúcar nas três primeiras posições da lista de ingredientes.

Tabela 2
Distribuição absoluta e percentual de alimentos tradicionais com o açúcar nas três primeiras posições da lista de ingredientes.
Tabela 3
Distribuição absoluta e percentual de alimentos diet/light/zero com o açúcar nas três primeiras posições da lista de ingredientes.

Das 257 indústrias responsáveis pela produção dos alimentos analisados, 156 foram contatadas e apenas 12 (7,7%) disponibilizaram as informações solicitadas referentes à quantidade de açúcar nas porções dos alimentos industrializados. Das 144 (92,3%) restantes, 63 (43,8%) relataram que tais informações são segredos de formulação do produto e, de acordo com a política dessas empresas, não poderiam fornecê-las; 32 (22,2%) responderam que, como a legislação não obriga a rotulagem de açúcares, não há análise desses componentes separadamente; e 49 (34,0%) não responderam ao e-mail.

Discussão

O estudo mostrou que na maioria dos alimentos industrializados da amostra analisada não há declaração da quantidade de açúcar na tabela nutricional de seus rótulos. No entanto, em grande parte deles, o açúcar aparece nas primeiras posições da lista de ingredientes, ou seja, é um ingrediente predominante na composição desses produtos, tanto nos tradicionais, quanto nos diet, light e zero. Aproximadamente 30% dos alimentos que contém açúcar são de sabor salgado, e por isso a presença do açúcar não é evidente ao consumidor. Além da indústria de alimentos não disponibilizar a informação sobre a quantidade de açúcar nos rótulos de seus produtos e incluir o açúcar como principal ingrediente na maioria dos produtos alimentícios que o utilizam, quando solicitado via SAC, a informação sobre a quantidade de açúcar na maioria das vezes não é repassada.

A Pesquisa de Orçamentos Familiares (2008-2009) mostrou que 61,3% da população brasileira apresenta ingestão excessiva de açúcares, provenientes da adição de açúcar nos alimentos e do consumo de alimentos processados e ultraprocessados1919 Brasil. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Coordenação de Trabalho e Rendimento. Pesquisa de orçamentos familiares 2008-2009: análise do consumo alimentar pessoal no Brasil. Rio de Janeiro: IBGE; 2011.. Estima-se que, no Brasil, 21,5% dos alimentos consumidos pela população brasileira é proveniente de alimentos ultraprocessados, ricos em açúcares, gorduras e sódio2020 Louzada MLC, Martins APB, Canella DS, Baraldi LG, Levy RB, Claro RM, Moubarac J-C, Cannon G, Monteiro CA. Ultra-processed foods and the nutritional dietary profile in Brazil. Rev Saude Publica 2015; 49:38.. A associação do alto consumo de ultraprocessados à baixa disponibilidade de informação sobre açúcar, identificada no presente estudo, pode indicar que a população esteja consumindo altas quantidades de açúcares, de modo inconsciente. Isso mostra a importância da regulamentação da declaração obrigatória da quantidade de açúcares adicionados no rótulo de alimentos industrializados.

No Brasil, esforços têm sido feitos no sentido de orientar sobre as consequências relacionadas ao alto consumo de alimentos processados e ultraprocessados2121 Brasil. Ministério da Saúde (MS). Guia Alimentar para a População Brasileira. Brasília: MS; 2014. e também para regulamentar a oferta de açúcares em alimentos industrializados por meio de um acordo entre o Ministério da Saúde e o setor produtivo2222 Brasil. Ministério da Saúde (MS). Plano de Redução de açúcar em alimentos industrializados. Brasília: MS; 2017.. Outra tentativa foi a de regulamentar a oferta, propaganda e venda de alimentos ricos em açúcares com a exigência da declaração do aumento do risco de obesidade e de outras doenças crônicas quando o açúcar for consumido em grande quantidade2323 Brasil. Secretaria de Vigilância Sanitária (Anvisa). Resolução RDC nº 24, de 15 de junho de 2010. Dispõe sobre a oferta, propaganda, publicidade, informação e outras práticas correlatas cujo objetivo seja a divulgação e a promoção comercial de alimentos considerados com quantidades elevadas de açúcar, de gordura saturada, de gordura trans, de sódio, e de bebidas com baixo teor nutricional. Diário Oficial da União 2010; 24 jun.. Em alguns países como o Chile e Colômbia, desde 2012, uma lei determina que os alimentos com alto teor de açúcares não possam ser oferecidos ou comercializados em estabelecimentos de educação infantil, fundamental e média2424 Fraser B. Latin American countries crack down on junk food. Lancet 2013; 382(9890):385-386..

O açúcar é utilizado pela indústria de alimentos para melhor a palatabilidade dos produtos atraindo o consumidor, e também como aditivo alimentar, com diferentes funções: aromatizante, antioxidante, corante, preservativo, emulsificante, edulcorante, umectante, intensificador de sabor, enzima e nutrientes2222 Brasil. Ministério da Saúde (MS). Plano de Redução de açúcar em alimentos industrializados. Brasília: MS; 2017.. Isso pode justificar a presença do açúcar como principal ingrediente, tanto em alimentos doces como salgados.

Além de uma alta porcentagem de alimentos sem a declaração da quantidade de açúcar nos rótulos, não obtivemos resposta em relação a essa informação pela maioria das indústrias (92,3%). Apesar da legislação brasileira que regulamenta a informação nutricional em rótulos de alimentos não prever a obrigatoriedade da informação quantitativa sobre açúcares1414 Brasil. Secretaria de Vigilância Sanitária (Anvisa). Resolução RDC n° 360, de 23 de dezembro de 2003. Regulamento técnico sobre rotulagem de alimentos embalados. Diário Oficial da União 2003; 23 dez., o Código de Defesa do Consumidor, institui que “a informação adequada e clara sobre produtos e serviços, com especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade e preço, bem como sobre os riscos que apresentem” é um direito básico do consumidor2525 Brasil. Lei nº 8078, de 11 de setembro de 1990. Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras providências. Diário Oficial da União 1990; 11 set..

Com a ausência da informação sobre a quantidade de açúcar presente nos alimentos industrializados também não é possível calcular a quantidade real de açúcar consumida pelas pessoas. Isso prejudica o seguimento das recomendações nutricionais vigentes, que estabelece que o consumo de açúcar de crianças e adultos seja de até 10% do valor energético total (VET) da dieta, e que a redução para até 5% seria condicional, com possível aumento dos benefícios para a saúde99 World Health Organization (WHO). Guideline: Sugars intake for adults and children. Genebra: WHO; 2015..

O fato de alguns alimentos salgados terem o açúcar nas 3 primeiras posições na lista de ingredientes faz com que o consumidor possa fazer escolhas equivocadas diante da falta de informação no rótulo dos produtos. Alguns alimentos como macarrões, embutidos e carnes temperadas, molhos, salgadinhos e algumas preparações culinárias prontas para o consumo analisadas apresentavam o açúcar como um de seus primeiros ingredientes. A presença do açúcar em alimentos salgados pode ser justificada pelas funções tecnológicas associadas a ele2222 Brasil. Ministério da Saúde (MS). Plano de Redução de açúcar em alimentos industrializados. Brasília: MS; 2017..

Outro fator que pode levar a equívoco na escolha alimentar induzida pela falta de informação clara no rótulo é que a maioria das pessoas imagina que todos os alimentos diet, light e zero possuem um menor teor ou exclusão de açúcar, caloria e outros nutrientes. Quando trata-se de um alimento diet, light e zero a legislação somente obriga a declaração da informação do açúcar no rótulo destes quando não contém ou quando este não possui adição de açúcares1818 Brasil. Secretaria de Vigilância Sanitária (Anvisa). Resolução RDC nº 54 de 12 de novembro de 2012. Regulamento técnico sobre informação nutricional complementar. Diário Oficial da União 2012; 12 nov.. Ou seja, em casos como os dos alimentos analisados, em que há a presença de açúcar, não existe a obrigatoriedade desta declaração nos rótulos, mesmo sendo produtos diet, light e zero1515 Brasil. Secretaria de Vigilância Sanitária (Anvisa). Portaria n° 29, de 13 de janeiro de 1998. Regulamento técnico para fixação de identidade e qualidade de alimentos para fins especiais. Diário Oficial da União 1998; 29 jan..

No entanto, estão em vigência atualmente dois Regulamentos Técnicos do Mercosul sobre Rotulagem Nutricional de alimentos embalados e Informação Nutricional Complementar. Eles se aplicam aos alimentos produzidos e comercializados na Argentina, Brasil, Uruguai e Paraguai, e determinam que se houver declaração de propriedades nutricionais relacionada à carboidratos (informação nutricional complementar, como por exemplo o alimento light relacionado à redução de açúcares), a quantidade de açúcar deve ser declarada na tabela nutricional2626 Mercado Comum do Sul (MERCOSUL). MERCOSUL/GMC/RES no 46/03. Regulamento Técnico Mercosul sobre Rotulagem Nutricional de Alimentos Embalados. Montevidéu: Mercosul; 2003.,2727 Mercado Comum do Sul (MERCOSUL). MERCOSUL/GMC/RES. no 01/12. Regulamento Técnico Mercosul sobre Informação Nutricional Complementar (Declarações de Propriedades Nutricionais). Montevidéu: Mercosul; 2012.. Por outro lado, na União Europeia e Estados Unidos da América, a quantidade de açúcares presentes no alimento deve obrigatoriamente ser declarada nos rótulos de todos os alimentos industrializados2828 Food and Drug Administration (FDA). Federal Register - Food Labeling: Revision of the Nutrition and Supplement Facts Labels. Silver Spring: FDA; 2016.,2929 European Parliament. Regulation (EU) n°1169/2011 of the European Parliament and of the Council of 25 October 2011 on the provision of food information to consumers. EU; 2011..

Os dados em relação à presença do açúcar em alimentos industrializados podem estar subestimados, uma vez que foram incluídos na análise apenas alimentos com a denominação sacarose e/ou açúcar na lista de ingredientes, excluindo outros tipos de açúcares (mono e dissacarídeos), o que se configura como uma limitação do estudo.

Conclusão

A disponibilidade da informação sobre quantidade de açúcar em alimentos industrializados é precária, tanto na observação dos rótulos dos alimentos (em que apenas 15% dos produtos declaram a quantidade de açúcar na porção do alimento), quanto por meio do SAC (em que 92% das indústrias não repassam tal informação). Esses dados são preocupantes, uma vez que dentre os alimentos avaliados, 88,5% dos alimentos de sabor doce e 30,2% dos alimentos de sabor salgado possuem o açúcar nas três primeiras posições da lista de ingredientes, ou seja, têm o açúcar como principal ingrediente.

Agradecimentos

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pelo auxílio ao projeto com a concessão de uma bolsa de estudos, e à gerência do hipermercado, que, gentilmente, autorizou a coleta de dados dentro de suas dependências.

Referências

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    15 Mar 2021
  • Data do Fascículo
    Mar 2021

Histórico

  • Recebido
    22 Mar 2019
  • Aceito
    05 Jun 2019
  • Publicado
    07 Jun 2019
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