Resumo
O objetivo é verificar a associação entre maturação sexual e atividade física na adolescência. Trata-se de um estudo de revisão sistemática elaborado a partir de artigos publicados entre 2008 a 2018 nas bases de dados Medline-PubMed, SciELO, Web of Science, Scopus, Lilacs e Adolec BVS. Utilizou-se os descritores e palavras-chave adolescente, maturação sexual, inquérito, questionário e atividade física, no idioma português e sua equivalência na língua inglesa e foram identificados 806 artigos. Após aplicação dos critérios de seleção foram incluídos 12 artigos. Maior nível da prática de atividade física foi observado em adolescentes em fase de maturação sexual inicial. A evolução do desenvolvimento maturacional sexual parece estar correlacionado à redução dos níveis de atividade física. Os achados não evidenciam um consenso sobre associação entre maturação sexual e nível de atividade física quanto à predisposição direta ou inversa da maturação sexual em relação ao nível de atividade física entre adolescentes. São necessárias mais pesquisas para compreender essa relação e possibilitar aos profissionais envolvidos com a saúde do adolescente agir efetivamente no combate à inatividade física.
Palavras-chave
Adolescente; Maturação sexual; Inquérito; Questionário; Atividade física
Introdução
Atualmente, diversos estudos epidemiológicos buscam mensurar o nível de atividade física populacional e os principais fenômenos associados a não adesão à prática de atividade física11 Mielke GI. Diferenças regionais e fatores associados à prática de atividade física no lazer no Brasil: resultados da Pesquisa Nacional de Saúde-2013. Rev Bras Epidemiol 2015; 18(2): 158-169.
2 Bauman AE, Reis RS, Sallis JF, Wells JC, Loos RJ, Martin BW. Correlates of physical activity: why are some people physically active and others not? Lancet 2012; 21(6): 258-271.
3 Carvalho MD, Cezário A C, Moura LM, Neto OLS, Junior JBA . Construção da vigilância e prevenção das doenças crônicas não transmissíveis no contexto do Sistema Único de Saúde. Epidemiol Serv Saude 2006; 15(3): 47-65.
4 Alves CFA, Silva RCR, Assis AMO, Souza CO, Pinto EJ, Frainer DES. Factors associated with physical inactivity in adolescents aged 10-14 years, enrolled in the public school network of the city of Salvador, Brazil. Rev Bras Epidemiol 2012; 15(4): 858-870.
5 Hallal PC, Andersen LB, Bull FC, Guthold R, Haskell W, Ekelund U. Global physical activity levels: surveillance progress, pitfalls, and prospects. Lancet 2012; 38(1): 247-257.-66 Ceschini FL, Miranda MLJ, Andrade EL, Oliveira LC, Araújo TL, Matsudo VR, Figueira Junior AJ. Nível de atividade física em adolescentes brasileiros determinado pelo Questionário Internacional de Atividade Física (IPAQ). R Bras Ci Mov 2016; 24(4): 199-212.. Especialmente com relação aos adolescentes, a Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda que pratiquem o mínimo de 300 minutos de atividade física semanal com intensidade de moderada a vigorosa, especificamente por meio de exercícios aeróbicos, fortalecimento muscular e flexibilidade77 World Health Organization (WHO). Physical activity and young people. Geneva: WHO; 2010.,88 Sociedade Brasileira de Pediatria. Promoção da Atividade Física na Infância e Adolescência. Manual de orientação para atividade física - Grupo de Trabalho em Atividade Física. nº 1, Julho de 2017.. Tais recomendações contribuem para o crescimento e desenvolvimento saudáveis do jovem, assim como favorece e estimula bons hábitos de vida na idade adulta, o que potencializa a prevenção das doenças crônico degenerativas99 Chaves TO, Balassiano DH, Araujo CGS. Influência dos hábitos de exercício na infância e adolescência na flexibilidade de adultos sedentários. Rev Bras Med Esporte 2016; 22(4): 256-260..
A inatividade física correlaciona-se ao aumento de gordura corporal e, consequentemente, às doenças cardíacas na fase adulta, bem como outras afecções, tais como diabetes mellitus, hipertensão arterial, osteoporose e alguns tipos de câncer1010 Francisco PMSB, Segri NS, Barros MBA, Malta DC. Sociodemographic inequalities in non-communicable chronic disease risk and protection factors: telephone survey in Campinas, São Paulo, Brazil. Epidemiol Serv Saude 2015; 24(1): 7-18.,1111 Onis Mercedes de. Prevenção do sobrepeso e da obesidade infantis. J Pediatr 2015; 91(2): 105-107.. A obesidade, especificamente, é uma doença multifatorial considerada epidêmica mun dialmente e atinge indivíduos de todas as faixas etárias1010 Francisco PMSB, Segri NS, Barros MBA, Malta DC. Sociodemographic inequalities in non-communicable chronic disease risk and protection factors: telephone survey in Campinas, São Paulo, Brazil. Epidemiol Serv Saude 2015; 24(1): 7-18.
11 Onis Mercedes de. Prevenção do sobrepeso e da obesidade infantis. J Pediatr 2015; 91(2): 105-107.
12 World Health Organization (WHO). Obesity: preventing and managing the globalepidemic. Geneva: WHO; 2000. [cited 2021 Set 8]. Available from: www.who.int/dietphysicalactivity/childhood/en/
www.who.int/dietphysicalactivity/childho...
13 Silva Júnior LM. Prevalence of excess weight and associated factors in adolescents of private schools of an Amazonic urban area, Brazil. Rev Paul Pediatr 2012; 30(2): 217-222.-1414 Neto VG, Palma A. Blood pressure and its association with physical activity and obesity in adolescents: a systematic review. Cien Saude Colet 2014; 19(3): 797-818.. Elevadas taxas de sobrepeso e obesidade são evidenciadas em adolescentes e o aumento excessivo dos níveis de gordura corporal prejudica e interfere na qualidade de vida dessa população1212 World Health Organization (WHO). Obesity: preventing and managing the globalepidemic. Geneva: WHO; 2000. [cited 2021 Set 8]. Available from: www.who.int/dietphysicalactivity/childhood/en/
www.who.int/dietphysicalactivity/childho...
13 Silva Júnior LM. Prevalence of excess weight and associated factors in adolescents of private schools of an Amazonic urban area, Brazil. Rev Paul Pediatr 2012; 30(2): 217-222.
14 Neto VG, Palma A. Blood pressure and its association with physical activity and obesity in adolescents: a systematic review. Cien Saude Colet 2014; 19(3): 797-818.-1515 Castro JM, Ferreira EF, Silva DC, Oliveira RAR. Prevalência de sobrepeso e obesidade e os fatores de risco associados em adolescentes. Rev Bras Obes Nutr Emagr 2018; 12(69): 84-93.. Neto e colaboradores acentuam que o ganho de massa gordurosa intensifica a resistência insulínica, provoca disfunção e rigidez dos vasos sanguíneos e prejudicando os níveis pressóricos1414 Neto VG, Palma A. Blood pressure and its association with physical activity and obesity in adolescents: a systematic review. Cien Saude Colet 2014; 19(3): 797-818.. Neste contexto, o principal risco para doenças cardiovasculares na adolescência é o excesso de gordura corporal1313 Silva Júnior LM. Prevalence of excess weight and associated factors in adolescents of private schools of an Amazonic urban area, Brazil. Rev Paul Pediatr 2012; 30(2): 217-222..
É importante chamar atenção para os altos índices de inatividade física em adolescentes nas práticas clínica e científica44 Alves CFA, Silva RCR, Assis AMO, Souza CO, Pinto EJ, Frainer DES. Factors associated with physical inactivity in adolescents aged 10-14 years, enrolled in the public school network of the city of Salvador, Brazil. Rev Bras Epidemiol 2012; 15(4): 858-870.
5 Hallal PC, Andersen LB, Bull FC, Guthold R, Haskell W, Ekelund U. Global physical activity levels: surveillance progress, pitfalls, and prospects. Lancet 2012; 38(1): 247-257.
6 Ceschini FL, Miranda MLJ, Andrade EL, Oliveira LC, Araújo TL, Matsudo VR, Figueira Junior AJ. Nível de atividade física em adolescentes brasileiros determinado pelo Questionário Internacional de Atividade Física (IPAQ). R Bras Ci Mov 2016; 24(4): 199-212.
7 World Health Organization (WHO). Physical activity and young people. Geneva: WHO; 2010.
8 Sociedade Brasileira de Pediatria. Promoção da Atividade Física na Infância e Adolescência. Manual de orientação para atividade física - Grupo de Trabalho em Atividade Física. nº 1, Julho de 2017.
9 Chaves TO, Balassiano DH, Araujo CGS. Influência dos hábitos de exercício na infância e adolescência na flexibilidade de adultos sedentários. Rev Bras Med Esporte 2016; 22(4): 256-260.
10 Francisco PMSB, Segri NS, Barros MBA, Malta DC. Sociodemographic inequalities in non-communicable chronic disease risk and protection factors: telephone survey in Campinas, São Paulo, Brazil. Epidemiol Serv Saude 2015; 24(1): 7-18.
11 Onis Mercedes de. Prevenção do sobrepeso e da obesidade infantis. J Pediatr 2015; 91(2): 105-107.
12 World Health Organization (WHO). Obesity: preventing and managing the globalepidemic. Geneva: WHO; 2000. [cited 2021 Set 8]. Available from: www.who.int/dietphysicalactivity/childhood/en/
www.who.int/dietphysicalactivity/childho...
13 Silva Júnior LM. Prevalence of excess weight and associated factors in adolescents of private schools of an Amazonic urban area, Brazil. Rev Paul Pediatr 2012; 30(2): 217-222.
14 Neto VG, Palma A. Blood pressure and its association with physical activity and obesity in adolescents: a systematic review. Cien Saude Colet 2014; 19(3): 797-818.
15 Castro JM, Ferreira EF, Silva DC, Oliveira RAR. Prevalência de sobrepeso e obesidade e os fatores de risco associados em adolescentes. Rev Bras Obes Nutr Emagr 2018; 12(69): 84-93.-1616 World Health Organization (WHO). Nutrition in adolescence: issues and challenges for the health sector. Geneva: WHO; 2006., pois a prevalência da prática de atividade física nos adolescentes é bastante variável e discrepante em algumas pesquisas55 Hallal PC, Andersen LB, Bull FC, Guthold R, Haskell W, Ekelund U. Global physical activity levels: surveillance progress, pitfalls, and prospects. Lancet 2012; 38(1): 247-257.,66 Ceschini FL, Miranda MLJ, Andrade EL, Oliveira LC, Araújo TL, Matsudo VR, Figueira Junior AJ. Nível de atividade física em adolescentes brasileiros determinado pelo Questionário Internacional de Atividade Física (IPAQ). R Bras Ci Mov 2016; 24(4): 199-212.,1717 Castilhos CB, Schneider BC, Muniz LC, Assunção MCF. Qualidade da dieta de jovens aos 18 anos de idade, pertencentes à coorte de nascimentos de 1993 da cidade de Pelotas (RS), Brasil. Cien Saude Colet 2015; 20(11): 3309-3318.. Estudos buscam associar elementos ambientais, sociais, econômicos, nutricionais, psicológicos e maturacionais, no intuito de entender os fatores determinantes dos baixos níveis de atividade física em jovens44 Alves CFA, Silva RCR, Assis AMO, Souza CO, Pinto EJ, Frainer DES. Factors associated with physical inactivity in adolescents aged 10-14 years, enrolled in the public school network of the city of Salvador, Brazil. Rev Bras Epidemiol 2012; 15(4): 858-870.
5 Hallal PC, Andersen LB, Bull FC, Guthold R, Haskell W, Ekelund U. Global physical activity levels: surveillance progress, pitfalls, and prospects. Lancet 2012; 38(1): 247-257.
6 Ceschini FL, Miranda MLJ, Andrade EL, Oliveira LC, Araújo TL, Matsudo VR, Figueira Junior AJ. Nível de atividade física em adolescentes brasileiros determinado pelo Questionário Internacional de Atividade Física (IPAQ). R Bras Ci Mov 2016; 24(4): 199-212.
7 World Health Organization (WHO). Physical activity and young people. Geneva: WHO; 2010.
8 Sociedade Brasileira de Pediatria. Promoção da Atividade Física na Infância e Adolescência. Manual de orientação para atividade física - Grupo de Trabalho em Atividade Física. nº 1, Julho de 2017.
9 Chaves TO, Balassiano DH, Araujo CGS. Influência dos hábitos de exercício na infância e adolescência na flexibilidade de adultos sedentários. Rev Bras Med Esporte 2016; 22(4): 256-260.
10 Francisco PMSB, Segri NS, Barros MBA, Malta DC. Sociodemographic inequalities in non-communicable chronic disease risk and protection factors: telephone survey in Campinas, São Paulo, Brazil. Epidemiol Serv Saude 2015; 24(1): 7-18.
11 Onis Mercedes de. Prevenção do sobrepeso e da obesidade infantis. J Pediatr 2015; 91(2): 105-107.
12 World Health Organization (WHO). Obesity: preventing and managing the globalepidemic. Geneva: WHO; 2000. [cited 2021 Set 8]. Available from: www.who.int/dietphysicalactivity/childhood/en/
www.who.int/dietphysicalactivity/childho...
13 Silva Júnior LM. Prevalence of excess weight and associated factors in adolescents of private schools of an Amazonic urban area, Brazil. Rev Paul Pediatr 2012; 30(2): 217-222.
14 Neto VG, Palma A. Blood pressure and its association with physical activity and obesity in adolescents: a systematic review. Cien Saude Colet 2014; 19(3): 797-818.
15 Castro JM, Ferreira EF, Silva DC, Oliveira RAR. Prevalência de sobrepeso e obesidade e os fatores de risco associados em adolescentes. Rev Bras Obes Nutr Emagr 2018; 12(69): 84-93.
16 World Health Organization (WHO). Nutrition in adolescence: issues and challenges for the health sector. Geneva: WHO; 2006.
17 Castilhos CB, Schneider BC, Muniz LC, Assunção MCF. Qualidade da dieta de jovens aos 18 anos de idade, pertencentes à coorte de nascimentos de 1993 da cidade de Pelotas (RS), Brasil. Cien Saude Colet 2015; 20(11): 3309-3318.-1818 Silveira EF, Silva MC. Conhecimento sobre atividade física dos estudantes de uma cidade do sul do Brasil. Motriz Rev de Educ Fis 2011; 17(3): 456-467.. Assim, algumas investigações se propuseram a analisar a associação entre maturação biológica e nível de prática de atividade física1919 Benítez-Porres J, Alvero-Cruz JR, Albornoz MC, Correas-Gómez L, Barrera-Expósito J, Dorado-Guzmán M, Moore JB, Carnero EA. The Influence of 2-Year Changes in Physical Activity, Maturation, and Nutrition on Adiposity in Adolescent Youth. PLoS One 2016; 11(9).
20 Lee Ey ANK, Jeon JY, Rodgers WM, Harber VJ, Spence JC. Biological Maturation and Physical Activity in South Korean Adolescent Girls. Med Sci Sports Exerc 2016; 48(12):2454-2461.
21 Machado DRL, Barbanti VJ, Borges GA, Januário JA, Puggina EF, Tourinho Filho H. Fidedignidade do questionário puberal simplificado de Cameron. R Bras Ci Mov 2012; 20(2): 43-51.-2222 Silva SP, Freitas DL, Beunen GP, Maia JAR. The relevance of training in the TW3 method for the evaluation of biological maturation. Rev Bras Cineantropom Desempenho Hum 2010; 12(5): 352-358..
Neste cenário, vários estudos sugerem que a prática de atividade física está mais relacionada à idade biológica do que cronológica. Jovens com faixas etárias iguais podem apresentar estágios de desenvolvimento puberal e níveis de atividade física distintos, podendo-se provavelmente considerar a maturação sexual como um fator essencial na mensuração da prática de atividade física no período da adolescência2020 Lee Ey ANK, Jeon JY, Rodgers WM, Harber VJ, Spence JC. Biological Maturation and Physical Activity in South Korean Adolescent Girls. Med Sci Sports Exerc 2016; 48(12):2454-2461.,2323 Bacil EDA, Júnior OM, Rechb CR, Legnani RFS, Campos W. Atividade física e maturação biológica: uma revisão sistemática. Rev Paul Pediatr 2015; 33(1): 114-121.,2424 Fawkner S, Henretty J, Knowles AM, Nevill A, Niven A. The influence of maturation, body size and physical self-perceptions on longitudinal changes in physical activity in adolescent girls. J Sports Sciences 2014; 32(4): 392-401.. No entanto, observam-se também estudos inconclusivos sobre esta associação2525 Davison KK, Werder JL, Trost SG, Baker BL, Birch LL. Why are early maturing girls test active? Links between pubertal develooment, psychological well-being, and physical activity among girls at ages 11 and 13. Soc Sci Med 2007; 64(2): 391-404.,2626 Simon AE, Wardle J, Jarvis MJ, Steggles N, Cartwright M. Examining the relationship between pubertal stage, adolescent health behavicurs and stress. Psychol Med 2003; 33(1): 369-379..
Considerando-se que ainda não está claro o entendimento da associação entre maturação sexual e nível de atividade física, o objetivo do presente trabalho consiste em investigar e avaliar, na literatura contemporânea, a associação entre maturação sexual e nível de atividade física na adolescência, sendo pertinente o conhecimento dessa associação na busca de novos indicadores de pressuposições para orientar as práticas e intervenções de saúde no público adolescente, assim como despertar políticas públicas direcionadas à promoção da saúde nesta população. Diante disso, o presente estudo pretende responder à questão: Há associação entre a maturação sexual e o nível de atividade física em adolescentes?
Métodos
Trata-se de revisão sistemática da literatura realizada em bases de dados eletrônicas com a finalidade de identificar publicações que especifiquem a associação entre maturidade sexual e o nível de atividade física entre adolescentes. Foram incluídos nesta revisão artigos internacionais e nacionais, independente do sexo contido nas amostras dos estudos, desde que respondessem à pergunta da revisão. O período de busca das publicações foi de 2008 a 2018, realizada por três pesquisadores independentes.
O trabalho está vinculado ao Programa de Pós Graduação Mestrado Acadêmico em Ciências da Saúde da Universidade Federal de São João del-Rei, Campus Centro-Oeste Dona Lindu, Divinópolis, Minas Gerais.
Foram consultadas as bases de periódicos eletrônicos da Medical Literature Analysis and Retrieval System Online, US National Library of Medicine National Institutes of Health, Medline, Pubmed, Scientific Electronic Library Online (SciELO), Web of Science, Scopus, Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (Lilacs) e Biblioteca Virtual em Saúde do Adolescente (BVS Adolec Brasil). Utilizaram-se como descritores e palavras-chave adolescente, maturação sexual, inquérito, questionário e atividade física, no idioma português e sua equivalência na língua inglesa, respeitando-se a estratégia PECO, que caracteriza um acrônimo para participantes, exposição, comparação e outcomes (resultados/desfecho)2727 Santos CMC, Pimenta CAM, Nobre MRC. A estratégia PICO para a construção da pergunta de pesquisa e busca de evidências. Rev Latino-Am Enferm 2007; 15(3): 508-511.. Em analogia ao termo atividade física utilizou-se a expressão exercício físico. Os operadores booleanos usados foram or e and.
Para esta investigação sistemática, foram selecionados estudos com os seguintes critérios de inclusão: epidemiológicos - transversais, casos-controle, coortes e ensaios clínicos -, que analisaram a relação entre maturação e nível de atividade física em adolescentes de ambos os sexos, publicados entre 2008 e 2018. Estudos de caso, revisão da literatura, relatórios de pesquisa, relatórios técnicos, projetos, documentos governamentais, literatura cinzenta e estudos que envolveram animais foram excluídos.
A combinação dos descritores e palavras-chave em inglês de acordo com o Medical Subject Headings (MeSH) foram: physical activity OR physical exercise AND sexual maturation AND surveysand questionnaires AND adolescent; physical activity OR physical exercise AND sexual maturation AND adolescent e em português segundo as palavras-chave e os Descritores de Ciência e Saúde (Decs) foram: atividade física OR exercício físico AND maturação sexual AND inquérito e questionário AND adolescente; atividade física OR exercício físico AND maturação sexual AND adolescente. Subsequentemente, aplicou-se o filtro para a delimitação para a busca na faixa etária dos 10 aos 19 anos, artigos publicados nos últimos dez anos (de janeiro de 2008 a julho de 2018), manuscritos publicados em todos os idiomas.
A coleta de dados ocorreu em 12 de julho de 2018. Realizou-se uma triagem inicial baseada nos títulos de todos os artigos encontrados e nos resumos em consonância com os critérios de inclusão e exclusão e que respondiam à pergunta do estudo. O processo de identificação, triagem, elegibilidade e inclusão dos artigos encontrados atendeu ao protocolo Preferred Reporting Items for Systematic Review and Meta-Analysis (PRISMA)2828 Galvão TF, Pansani TSA, Harrad D. Principais itens para relatar Revisões sistemáticas e Meta-análises: A recomendação PRISMA. Epidemiol Serv Saude 2015; 24(2): 335-342..
O processo de seleção e avaliação dos trabalhos foi efetuado por três pesquisadores (CG Campos, FM Carlos, LA Muniz), de maneira autônoma. Posteriormente, os artigos foram analisados integralmente, na observação dos critérios para a inclusão no presente estudo. As imprecisões entre os três pesquisadores foram sanadas em plenária, de modo a estabelecer consenso segundo os critérios de inclusão e exclusão. O nível de evidência científica dos estudos foi classificado conforme a categorização da Agency for Healthcare Researchand Quality (AHRQ)2929 Agency for Health Care Research and Quality (AHRQ). Quality indicators [cited 2020 Sept 8]. Available from: http://www.qualityindicators.ahrq.gov
http://www.qualityindicators.ahrq.gov... .
Resultados
Inicialmente, ao utilizar a busca pelos descritores foram detectados 806 artigos. Em seguida foram aplicados os filtros e limites, critérios de inclusão e exclusão, leitura dos títulos e resumos, discussão entre os pesquisadores, eliminação dos artigos identificados como repetidos em bases de dados diferentes, o que resultou num total de 51 artigos selecionados.
A leitura integral foi realizada em 51 artigos selecionados, e verificou-se permanentemente se respondiam à pergunta da pesquisa. Finalmente, 12 estudos foram selecionados (Figura 1).
Fluxograma da pesquisa: identificação, triagem, elegibilidade e inclusão dos artigos científicos na revisão sistemática, conforme PRISMA23.
As amostras dos 12 estudos selecionados, todos internacionais, somaram 13.120 indivíduos. Dentre os artigos, seis (50,0%) apresentaram delineamento transversal e os outros desenho longitudinal (50,0%). No Quadro 1 estão descritas as principais informações referentes aos doze artigos selecionados para a inclusão na revisão.
Com relação à faixa etária, os trabalhos contemplaram os três períodos da adolescência: inicial (dos 10 aos 13 anos), intermediária (dos 14 aos 16 anos) e final (dos 17 aos 20 anos incompletos)2929 Agency for Health Care Research and Quality (AHRQ). Quality indicators [cited 2020 Sept 8]. Available from: http://www.qualityindicators.ahrq.gov
http://www.qualityindicators.ahrq.gov... . Dentre todos os trabalhos finais selecionados, 91,7% (n = 11) encontravam-se na fase inicial da adolescência2020 Lee Ey ANK, Jeon JY, Rodgers WM, Harber VJ, Spence JC. Biological Maturation and Physical Activity in South Korean Adolescent Girls. Med Sci Sports Exerc 2016; 48(12):2454-2461.,3030 Marques A, Branquinho C, De Matos MG. Girls' physical activity and sedentary behaviors: Does sexual maturation matter? A cross-sectional study with HBSC 2010 Portuguese survey. Am J Hum Biol 2016; 28(4): 471-475.,2424 Fawkner S, Henretty J, Knowles AM, Nevill A, Niven A. The influence of maturation, body size and physical self-perceptions on longitudinal changes in physical activity in adolescent girls. J Sports Sciences 2014; 32(4): 392-401.,3131 Guinhouya BC, Fairclough SJ, Zitouni D, Samouda H, Vilhelm C, Zgaya h, Beaufort C, Lemdani M, Hubert H. Does biological maturity actually confound gender-related differences in physical activity in preadolescence? Child: care. Health Dev 2012; 39(6): 835-844.
32 Cairney J, Veldhuizen S, Kwan M, Hay J, Faught BE. Biological age and sex-related declines in physical activity during adolescence. Med Sci Sports Exerc 2014; 46(4):730-735.
33 Lätt E, Mäestu J, Rääsk T, Purge P, Jürimäe T, Jürimäe J. Maturity-related differences in moderate, vigorous, and moderate-to-vigorous physical activity in 10-14-year-old boys. Percept Mot Skills 2015; 120(2): 659-670.
34 Erlandson MC, Sherar LB, Mosewich AD, Kowalski KC, Bailey DA, Baxter-Jones AD. Does controlling for biological maturity improve physical activity tracking? Med Sci Sports Exerc 2011; 43(5): 800-807.
35 Finne E, Bucksch J, Lampert T, Kolip P. Age, puberty, body dissatisfaction, and physical activity decline in adolescents. Results of the German Health Interview and Examination Survey (KiGGS). Int J Behav Nutr Phys Act 2011; 8: 119.
36 Knowles AM, Niven AG, Fawkner SG, Henretty JM. A longitudinal examination of the influence of maturation on physical self-perceptions and the relationship with physical activity in early adolescent girls. J Adolesc 2009; 32(3): 555-566.
37 Cumming SP, Standage M, Gillison F, Malina RM. Sex differences in exercise behavior during adolescence: is biological maturation a confounding factor? J Adolesc Health 2008; 42(5): 480-485.-3838 Kristensen PL, Korsholm L, Moller NC, Wedderkopp N, Andersen LB, Froberg K. Sources of variation in habitual physical activity of children and adolescents: the European youth heart study. Scand J Med Sci Sports 2008; 18(3):298-308.. Nenhum estudo avaliou o período correspondente à adolescência como um todo, de acordo com a OMS3939 Campos CG, Muniz LA, Belo VS, Romano MCC, Lima MC. Conhecimento de adolescentes acerca dos benefícios do exercício físico para a saúde mental. Cien Saude Colet 2019; 24(8): 2951-2958..
Em cinco artigos foi identificada relação inversa entre maturação sexual e nível de atividade física2020 Lee Ey ANK, Jeon JY, Rodgers WM, Harber VJ, Spence JC. Biological Maturation and Physical Activity in South Korean Adolescent Girls. Med Sci Sports Exerc 2016; 48(12):2454-2461.,3030 Marques A, Branquinho C, De Matos MG. Girls' physical activity and sedentary behaviors: Does sexual maturation matter? A cross-sectional study with HBSC 2010 Portuguese survey. Am J Hum Biol 2016; 28(4): 471-475.,3131 Guinhouya BC, Fairclough SJ, Zitouni D, Samouda H, Vilhelm C, Zgaya h, Beaufort C, Lemdani M, Hubert H. Does biological maturity actually confound gender-related differences in physical activity in preadolescence? Child: care. Health Dev 2012; 39(6): 835-844.,3434 Erlandson MC, Sherar LB, Mosewich AD, Kowalski KC, Bailey DA, Baxter-Jones AD. Does controlling for biological maturity improve physical activity tracking? Med Sci Sports Exerc 2011; 43(5): 800-807.,3535 Finne E, Bucksch J, Lampert T, Kolip P. Age, puberty, body dissatisfaction, and physical activity decline in adolescents. Results of the German Health Interview and Examination Survey (KiGGS). Int J Behav Nutr Phys Act 2011; 8: 119.. No entanto, dois estudos especificamente demonstraram associação direta, e evidenciaram que meninas e meninos mais maduros ou em estados maturacionais sexuais mais avançados tendem a ser mais ativos fisicamente2424 Fawkner S, Henretty J, Knowles AM, Nevill A, Niven A. The influence of maturation, body size and physical self-perceptions on longitudinal changes in physical activity in adolescent girls. J Sports Sciences 2014; 32(4): 392-401.
25 Davison KK, Werder JL, Trost SG, Baker BL, Birch LL. Why are early maturing girls test active? Links between pubertal develooment, psychological well-being, and physical activity among girls at ages 11 and 13. Soc Sci Med 2007; 64(2): 391-404.
26 Simon AE, Wardle J, Jarvis MJ, Steggles N, Cartwright M. Examining the relationship between pubertal stage, adolescent health behavicurs and stress. Psychol Med 2003; 33(1): 369-379.
27 Santos CMC, Pimenta CAM, Nobre MRC. A estratégia PICO para a construção da pergunta de pesquisa e busca de evidências. Rev Latino-Am Enferm 2007; 15(3): 508-511.
28 Galvão TF, Pansani TSA, Harrad D. Principais itens para relatar Revisões sistemáticas e Meta-análises: A recomendação PRISMA. Epidemiol Serv Saude 2015; 24(2): 335-342.
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30 Marques A, Branquinho C, De Matos MG. Girls' physical activity and sedentary behaviors: Does sexual maturation matter? A cross-sectional study with HBSC 2010 Portuguese survey. Am J Hum Biol 2016; 28(4): 471-475.
31 Guinhouya BC, Fairclough SJ, Zitouni D, Samouda H, Vilhelm C, Zgaya h, Beaufort C, Lemdani M, Hubert H. Does biological maturity actually confound gender-related differences in physical activity in preadolescence? Child: care. Health Dev 2012; 39(6): 835-844.
32 Cairney J, Veldhuizen S, Kwan M, Hay J, Faught BE. Biological age and sex-related declines in physical activity during adolescence. Med Sci Sports Exerc 2014; 46(4):730-735.-3333 Lätt E, Mäestu J, Rääsk T, Purge P, Jürimäe T, Jürimäe J. Maturity-related differences in moderate, vigorous, and moderate-to-vigorous physical activity in 10-14-year-old boys. Percept Mot Skills 2015; 120(2): 659-670.. Três trabalhos apontaram que as mudanças na prática de atividade física são mais influenciadas pelo sexo do que pela maturação1919 Benítez-Porres J, Alvero-Cruz JR, Albornoz MC, Correas-Gómez L, Barrera-Expósito J, Dorado-Guzmán M, Moore JB, Carnero EA. The Influence of 2-Year Changes in Physical Activity, Maturation, and Nutrition on Adiposity in Adolescent Youth. PLoS One 2016; 11(9).,3232 Cairney J, Veldhuizen S, Kwan M, Hay J, Faught BE. Biological age and sex-related declines in physical activity during adolescence. Med Sci Sports Exerc 2014; 46(4):730-735.,3737 Cumming SP, Standage M, Gillison F, Malina RM. Sex differences in exercise behavior during adolescence: is biological maturation a confounding factor? J Adolesc Health 2008; 42(5): 480-485.. Knowles e colaboradores demonstraram que a diminuição nos níveis de atividade física não é influenciada pelo estágio maturacional3636 Knowles AM, Niven AG, Fawkner SG, Henretty JM. A longitudinal examination of the influence of maturation on physical self-perceptions and the relationship with physical activity in early adolescent girls. J Adolesc 2009; 32(3): 555-566.. Também Kristensen e colaboradores relataram que a maturidade não está relacionada à prática de atividade física em adolescentes3838 Kristensen PL, Korsholm L, Moller NC, Wedderkopp N, Andersen LB, Froberg K. Sources of variation in habitual physical activity of children and adolescents: the European youth heart study. Scand J Med Sci Sports 2008; 18(3):298-308..
Alguns instrumentos foram utilizados para a avaliação do estado maturacional nos artigos pesquisados e dentre eles estão os estágios de Tanner (autoavaliação)3535 Finne E, Bucksch J, Lampert T, Kolip P. Age, puberty, body dissatisfaction, and physical activity decline in adolescents. Results of the German Health Interview and Examination Survey (KiGGS). Int J Behav Nutr Phys Act 2011; 8: 119.; the criterion of predicted percentage of maturity (adultstature), usado para predizer a estatura adulta a partir da idade atual, constituindo o método de Khamis-Roche1919 Benítez-Porres J, Alvero-Cruz JR, Albornoz MC, Correas-Gómez L, Barrera-Expósito J, Dorado-Guzmán M, Moore JB, Carnero EA. The Influence of 2-Year Changes in Physical Activity, Maturation, and Nutrition on Adiposity in Adolescent Youth. PLoS One 2016; 11(9).,4040 Khamis HJ, Roche AF. Predicting Adult Stature without Using Skeletal Age the Khamis-Roche Method. Pediatrics 1994; 94(4): 504-507.; the pubertal development scale2020 Lee Ey ANK, Jeon JY, Rodgers WM, Harber VJ, Spence JC. Biological Maturation and Physical Activity in South Korean Adolescent Girls. Med Sci Sports Exerc 2016; 48(12):2454-2461.,2424 Fawkner S, Henretty J, Knowles AM, Nevill A, Niven A. The influence of maturation, body size and physical self-perceptions on longitudinal changes in physical activity in adolescent girls. J Sports Sciences 2014; 32(4): 392-401.,3232 Cairney J, Veldhuizen S, Kwan M, Hay J, Faught BE. Biological age and sex-related declines in physical activity during adolescence. Med Sci Sports Exerc 2014; 46(4):730-735.,3636 Knowles AM, Niven AG, Fawkner SG, Henretty JM. A longitudinal examination of the influence of maturation on physical self-perceptions and the relationship with physical activity in early adolescent girls. J Adolesc 2009; 32(3): 555-566.. Também foram utilizadas perguntas para determinar a idade da menarca (status quo method)3030 Marques A, Branquinho C, De Matos MG. Girls' physical activity and sedentary behaviors: Does sexual maturation matter? A cross-sectional study with HBSC 2010 Portuguese survey. Am J Hum Biol 2016; 28(4): 471-475. e a somatic maturity status3131 Guinhouya BC, Fairclough SJ, Zitouni D, Samouda H, Vilhelm C, Zgaya h, Beaufort C, Lemdani M, Hubert H. Does biological maturity actually confound gender-related differences in physical activity in preadolescence? Child: care. Health Dev 2012; 39(6): 835-844..
Quanto à prática de atividade física, os instrumentos utilizados foram: o physical activity questionnaire for adolescents (PAQ-A) (19,41,o) physical activity questionnaire for older children (PAQ-C)2020 Lee Ey ANK, Jeon JY, Rodgers WM, Harber VJ, Spence JC. Biological Maturation and Physical Activity in South Korean Adolescent Girls. Med Sci Sports Exerc 2016; 48(12):2454-2461.,4242 Lee JG, Spence JC, Jeon J. Developing a Korean version of the physical activity questionnaire for older children. Int J Human Movement Sci 2010; 3(2): 61-74.; acelerômetro3131 Guinhouya BC, Fairclough SJ, Zitouni D, Samouda H, Vilhelm C, Zgaya h, Beaufort C, Lemdani M, Hubert H. Does biological maturity actually confound gender-related differences in physical activity in preadolescence? Child: care. Health Dev 2012; 39(6): 835-844.,3333 Lätt E, Mäestu J, Rääsk T, Purge P, Jürimäe T, Jürimäe J. Maturity-related differences in moderate, vigorous, and moderate-to-vigorous physical activity in 10-14-year-old boys. Percept Mot Skills 2015; 120(2): 659-670.,3838 Kristensen PL, Korsholm L, Moller NC, Wedderkopp N, Andersen LB, Froberg K. Sources of variation in habitual physical activity of children and adolescents: the European youth heart study. Scand J Med Sci Sports 2008; 18(3):298-308., questionários3232 Cairney J, Veldhuizen S, Kwan M, Hay J, Faught BE. Biological age and sex-related declines in physical activity during adolescence. Med Sci Sports Exerc 2014; 46(4):730-735.,3434 Erlandson MC, Sherar LB, Mosewich AD, Kowalski KC, Bailey DA, Baxter-Jones AD. Does controlling for biological maturity improve physical activity tracking? Med Sci Sports Exerc 2011; 43(5): 800-807.,3535 Finne E, Bucksch J, Lampert T, Kolip P. Age, puberty, body dissatisfaction, and physical activity decline in adolescents. Results of the German Health Interview and Examination Survey (KiGGS). Int J Behav Nutr Phys Act 2011; 8: 119.,3737 Cumming SP, Standage M, Gillison F, Malina RM. Sex differences in exercise behavior during adolescence: is biological maturation a confounding factor? J Adolesc Health 2008; 42(5): 480-485.; o seven day physical activity recall3030 Marques A, Branquinho C, De Matos MG. Girls' physical activity and sedentary behaviors: Does sexual maturation matter? A cross-sectional study with HBSC 2010 Portuguese survey. Am J Hum Biol 2016; 28(4): 471-475. e o the physical activity questionnaire for children2424 Fawkner S, Henretty J, Knowles AM, Nevill A, Niven A. The influence of maturation, body size and physical self-perceptions on longitudinal changes in physical activity in adolescent girls. J Sports Sciences 2014; 32(4): 392-401.,3636 Knowles AM, Niven AG, Fawkner SG, Henretty JM. A longitudinal examination of the influence of maturation on physical self-perceptions and the relationship with physical activity in early adolescent girls. J Adolesc 2009; 32(3): 555-566..
Observou-se grande variabilidade de ferramentas e parâmetros utilizados para avaliar maturação biológica e atividade física nos artigos encontrados, bem como bastante diversidade nas análises em relação à associação investigada.
Discussão
No presente estudo, não consensuamos possível associação entre predisposição direta ou inversa da maturação sexual em relação ao nível de atividade física entre adolescentes.
Benítez-Porres e colaboradores, em seu estudo longitudinal, não encontraram associação estatística entre maturação sexual e nível de atividade física. No entanto, uma relação entre atividade física e o sexo foi estatisticamente significante (p < 0,05) ao longo de seu trabalho, e mostrou que os meninos apresentavam um escore maior de atividade física do que as meninas, demonstrativo de que os garotos foram mais ativos do que as garotas1919 Benítez-Porres J, Alvero-Cruz JR, Albornoz MC, Correas-Gómez L, Barrera-Expósito J, Dorado-Guzmán M, Moore JB, Carnero EA. The Influence of 2-Year Changes in Physical Activity, Maturation, and Nutrition on Adiposity in Adolescent Youth. PLoS One 2016; 11(9).. Contudo, grande parte dos estudos que comparam os sexos, os meninos são mais ativos quando comparados às meninas, não havendo entendimento quanto aos fatores que determinam essa diferença1919 Benítez-Porres J, Alvero-Cruz JR, Albornoz MC, Correas-Gómez L, Barrera-Expósito J, Dorado-Guzmán M, Moore JB, Carnero EA. The Influence of 2-Year Changes in Physical Activity, Maturation, and Nutrition on Adiposity in Adolescent Youth. PLoS One 2016; 11(9).,3131 Guinhouya BC, Fairclough SJ, Zitouni D, Samouda H, Vilhelm C, Zgaya h, Beaufort C, Lemdani M, Hubert H. Does biological maturity actually confound gender-related differences in physical activity in preadolescence? Child: care. Health Dev 2012; 39(6): 835-844.,3232 Cairney J, Veldhuizen S, Kwan M, Hay J, Faught BE. Biological age and sex-related declines in physical activity during adolescence. Med Sci Sports Exerc 2014; 46(4):730-735.,3737 Cumming SP, Standage M, Gillison F, Malina RM. Sex differences in exercise behavior during adolescence: is biological maturation a confounding factor? J Adolesc Health 2008; 42(5): 480-485..
Finne e colaboradores concluíram que meninos com amadurecimento mais precoce apresentam risco elevado de serem inativos quando comparados aos seus pares (OR = 2,20, IC 95% = 1,36-3,56). No entanto, em meninas a inatividade física foi mais associada àquelas que apresentavam menstruação irregular (OR = 1,71, IC 95% = 1,06-2,75)3535 Finne E, Bucksch J, Lampert T, Kolip P. Age, puberty, body dissatisfaction, and physical activity decline in adolescents. Results of the German Health Interview and Examination Survey (KiGGS). Int J Behav Nutr Phys Act 2011; 8: 119.. Resultado de estudo longitudinal com duração de 12 meses demonstrou que a diminuição nos níveis de atividade física não estão relacionados com o status maturacional3636 Knowles AM, Niven AG, Fawkner SG, Henretty JM. A longitudinal examination of the influence of maturation on physical self-perceptions and the relationship with physical activity in early adolescent girls. J Adolesc 2009; 32(3): 555-566.. Do mesmo modo, Kristensen e colaboradores não encontraram relação entre estado maturacional e atividade física3838 Kristensen PL, Korsholm L, Moller NC, Wedderkopp N, Andersen LB, Froberg K. Sources of variation in habitual physical activity of children and adolescents: the European youth heart study. Scand J Med Sci Sports 2008; 18(3):298-308..
Lee Eun-Young e colaboradores em um estudo com adolescentes sul-coreanos encontraram uma relação inversa entre maturidade biológica e atividade física, evidenciando que os indivíduos com o estado puberal mais desenvolvido apresentavam menor prática de atividade física (p <0.001)2020 Lee Ey ANK, Jeon JY, Rodgers WM, Harber VJ, Spence JC. Biological Maturation and Physical Activity in South Korean Adolescent Girls. Med Sci Sports Exerc 2016; 48(12):2454-2461.. Além disso, outro trabalho comparou a prática de atividade física e o comportamento sedentário em 1.324 meninas pré e pós-menarca, demonstrando que o período gasto para a prática de atividade física regular é maior entre as meninas pré-menarca (3,5 ± 1,9 vezes / semana vs. 3,0 ± 1,7 vezes / semana, p < 0,001) do que entre as garotas pós-menarca, dado estatisticamente significativo. No entanto, esse estudo não evidenciou diferença significativa entre o período pré e pós-menarca quanto ao tempo em horas por semana gasto na prática de atividade física3030 Marques A, Branquinho C, De Matos MG. Girls' physical activity and sedentary behaviors: Does sexual maturation matter? A cross-sectional study with HBSC 2010 Portuguese survey. Am J Hum Biol 2016; 28(4): 471-475..
Guinhouya e colaboradores avaliaram a maturação biológica pelo método da idade estimada e observaram correlação entre o tempo total de atividade física realizada e maturação em meninas, evidenciando que o nível de atividade física das pré-adolescentes aumentava significativamente até o limite máximo do pico de velocidade em estatura esperado (p = 0,028). No entanto, os mesmos autores demonstraram que após atingirem esse pico de crescimento, o nível de atividade física diminuía de maneira expressiva, ou seja, as jovens com maturação tardia exibiam níveis baixos de atividade física, o mesmo constatado nos meninos (p = 0,06)3131 Guinhouya BC, Fairclough SJ, Zitouni D, Samouda H, Vilhelm C, Zgaya h, Beaufort C, Lemdani M, Hubert H. Does biological maturity actually confound gender-related differences in physical activity in preadolescence? Child: care. Health Dev 2012; 39(6): 835-844..
Ainda em relação à prática de atividade física moderada e vigorosa, Guinhouya e colaboradores também encontraram correlação estatisticamente significativa entre o tempo gasto praticando atividade e a idade estimada pelo pico da velocidade em estatura padronizada por sexo, obtendo p = 0,016 nos meninos e p = 0,155 nas meninas. Ao comparar a intensidade total de atividade física praticada (leve, moderada e vigorosa), o sexo masculino foi expressivamente mais ativo do que o feminino, (p < 0,0001)3131 Guinhouya BC, Fairclough SJ, Zitouni D, Samouda H, Vilhelm C, Zgaya h, Beaufort C, Lemdani M, Hubert H. Does biological maturity actually confound gender-related differences in physical activity in preadolescence? Child: care. Health Dev 2012; 39(6): 835-844.. A respeito disto, um estudo de Cairney e colaboradores evidenciou que o nível de atividade física começa a diminuir a partir da idade dos 12 anos, em ambos os sexos. No entanto, esse decréscimo é superior no sexo feminino3232 Cairney J, Veldhuizen S, Kwan M, Hay J, Faught BE. Biological age and sex-related declines in physical activity during adolescence. Med Sci Sports Exerc 2014; 46(4):730-735..
Davison e colaboradores investigaram a relação entre maturação sexual e atividade física em 178 adolescentes norte-americanos. Ao utilizarem como instrumentos de mensuração sexual a escala de desenvolvimento puberal, os critérios de Tanner e os níveis de estradiol, os pesquisadores concluíram que os participantes com maior maturação sexual realizavam menos atividade física2525 Davison KK, Werder JL, Trost SG, Baker BL, Birch LL. Why are early maturing girls test active? Links between pubertal develooment, psychological well-being, and physical activity among girls at ages 11 and 13. Soc Sci Med 2007; 64(2): 391-404.. O inverso foi mostrado no estudo de Simon e colaboradores que, ao utilizar a escala de desenvolvimento puberal e questionário de atividade física, avaliou 4.320 adolescentes em trinta e seis escolas na cidade de Londres, e concluíram que a maturação sexual avançada estava associada a uma maior prática de atividade física nos escolares2626 Simon AE, Wardle J, Jarvis MJ, Steggles N, Cartwright M. Examining the relationship between pubertal stage, adolescent health behavicurs and stress. Psychol Med 2003; 33(1): 369-379..
A prática regular de atividade física parece declinar com o decorrer da idade nos dois gêneros. A progressão da idade é seguida de uma propensão à diminuição dos gastos energéticos regulares mediante aos menores níveis de prática de atividade física diária. As atribuições escolares, profissionais, o acesso às tecnologias e o aumento da insegurança nos grandes centros urbanos são os principais fatores sociais e comportamentais que favorecem o estilo de vida menos ativo. Similarmente, poucos espaços públicos livres para prática de atividade física e a maior destinação desses lugares sendo direcionados para a população infantil e os jovens em fase inicial da adolescência contribuem para os baixos níveis de atividade física evidenciados em adolescentes em fase de adolescência média e final99 Chaves TO, Balassiano DH, Araujo CGS. Influência dos hábitos de exercício na infância e adolescência na flexibilidade de adultos sedentários. Rev Bras Med Esporte 2016; 22(4): 256-260.,3737 Cumming SP, Standage M, Gillison F, Malina RM. Sex differences in exercise behavior during adolescence: is biological maturation a confounding factor? J Adolesc Health 2008; 42(5): 480-485..
Ademais, maior disponibilidade de tempo para a prática de atividade física pode ser encontrada em jovens no estágio da adolescência inicial, pois estes apresentam menores períodos de tempo diário dedicados às atividades estudantis e laborais. Do mesmo modo, relações de dependência e independência familiar podem influenciar níveis de prática de atividade física nas diferentes fases da adolescência, cenário no qual os adolescentes mais jovens podem ser mais influenciados pelos pais e por isso tende a praticar mais atividade física e apresentam maiores níveis de atividade física. Contudo, ao se tonarem mais independentes esta essencialidade diminui, e os níveis de atividade física decrescem44 Alves CFA, Silva RCR, Assis AMO, Souza CO, Pinto EJ, Frainer DES. Factors associated with physical inactivity in adolescents aged 10-14 years, enrolled in the public school network of the city of Salvador, Brazil. Rev Bras Epidemiol 2012; 15(4): 858-870.,99 Chaves TO, Balassiano DH, Araujo CGS. Influência dos hábitos de exercício na infância e adolescência na flexibilidade de adultos sedentários. Rev Bras Med Esporte 2016; 22(4): 256-260.,3737 Cumming SP, Standage M, Gillison F, Malina RM. Sex differences in exercise behavior during adolescence: is biological maturation a confounding factor? J Adolesc Health 2008; 42(5): 480-485..
Contudo, em um estudo longitudinal de 18 meses encontrou diferenças estatisticamente significativas entre maturação e atividade física. Os sujeitos da pesquisa que apresentavam maior maturação sexual eram também os mais ativos fisicamente2424 Fawkner S, Henretty J, Knowles AM, Nevill A, Niven A. The influence of maturation, body size and physical self-perceptions on longitudinal changes in physical activity in adolescent girls. J Sports Sciences 2014; 32(4): 392-401.. Similarmente, estudos de Kemper e colaboradores4343 Kemper HC, Post GB, Twisk JW. Rate of maturation during the teenage years: nutrient intake and physical activity between ages 12 and 22. Int J Sport Nutr 1997; 7(2):29-40.37., e Simon e colaboradores2626 Simon AE, Wardle J, Jarvis MJ, Steggles N, Cartwright M. Examining the relationship between pubertal stage, adolescent health behavicurs and stress. Psychol Med 2003; 33(1): 369-379., propõem que os pubescentes que apresentam maior maturação sexual são fisicamente mais ativos e apresentam maiores níveis de prática de atividade física, o que atende às recomendações internacionais. Lätt e colaboradores também investigaram as diferenças nos níveis de atividade física entre adolescentes em fase de maturação precoce, média e tardia, evidenciando que os meninos em etapas maturacionais média e tardia praticam mais atividade física em comparação aos garotos em início de maturação3333 Lätt E, Mäestu J, Rääsk T, Purge P, Jürimäe T, Jürimäe J. Maturity-related differences in moderate, vigorous, and moderate-to-vigorous physical activity in 10-14-year-old boys. Percept Mot Skills 2015; 120(2): 659-670..
Os instrumentos mais utilizados para a mensuração da atividade física em adolescentes foram questionários, acelerômetros e pedômetros1919 Benítez-Porres J, Alvero-Cruz JR, Albornoz MC, Correas-Gómez L, Barrera-Expósito J, Dorado-Guzmán M, Moore JB, Carnero EA. The Influence of 2-Year Changes in Physical Activity, Maturation, and Nutrition on Adiposity in Adolescent Youth. PLoS One 2016; 11(9).,2020 Lee Ey ANK, Jeon JY, Rodgers WM, Harber VJ, Spence JC. Biological Maturation and Physical Activity in South Korean Adolescent Girls. Med Sci Sports Exerc 2016; 48(12):2454-2461.,2424 Fawkner S, Henretty J, Knowles AM, Nevill A, Niven A. The influence of maturation, body size and physical self-perceptions on longitudinal changes in physical activity in adolescent girls. J Sports Sciences 2014; 32(4): 392-401.,3030 Marques A, Branquinho C, De Matos MG. Girls' physical activity and sedentary behaviors: Does sexual maturation matter? A cross-sectional study with HBSC 2010 Portuguese survey. Am J Hum Biol 2016; 28(4): 471-475.
31 Guinhouya BC, Fairclough SJ, Zitouni D, Samouda H, Vilhelm C, Zgaya h, Beaufort C, Lemdani M, Hubert H. Does biological maturity actually confound gender-related differences in physical activity in preadolescence? Child: care. Health Dev 2012; 39(6): 835-844.-3232 Cairney J, Veldhuizen S, Kwan M, Hay J, Faught BE. Biological age and sex-related declines in physical activity during adolescence. Med Sci Sports Exerc 2014; 46(4):730-735.. Guedes e colaboradores citam que os melhores métodos para avalição da prática de atividade física e dispêndio de energia são os parâmetros laboratoriais, nos quais se incluem a água duplamente marcada e a calorimetria, que evidenciam alta qualidade dos resultados e critérios exatos de categorização. No entanto, são procedimentos onerosos, que requerem profissionais treinados, laboratórios aprimorados, além de não discriminarem a intensidade, duração e frequência da prática de atividade física realizada4444 Guedes DP, Guedes JERP. Measuring physical activity in brazilian youth: reproducibility and validity of the paq-c and paq-a. Rev Bras Med Esporte 2015; 21(6)..
Os acelerômetros e os pedômetros são dispositivos satisfatoriamente usados em estudos epidemiológicos com adolescentes e escolares, pois sensores de movimento podem inferir a prática ou níveis de atividade física dos jovens, mas o uso desses equipamentos ainda não é uma realidade nas investigações que contemplam grandes amostras4444 Guedes DP, Guedes JERP. Measuring physical activity in brazilian youth: reproducibility and validity of the paq-c and paq-a. Rev Bras Med Esporte 2015; 21(6).,4545 Barbosa SC, ColedamDHC, Neto AS, Elias RGM, Neto RO. School environment, sedentary behavior and physical activity in preschool children. Rev Paul Pediatr 2016; 34(3): 301-308.. Diante disso, os questionários são os instrumentos mais usados em pesquisas nacionais com o público adolescente. Mesmo apresentando limitações e questões correlacionadas à subjetividade, subestimação ou superestimação, são considerados documentos fundamentais por apresentarem baixo custo, fácil aplicação, possibilidade de treinamento aos aplicadores e oportunidade de criação de políticas públicas de acordo com os resultados encontrados nas avaliações4646 Bacil EDA, Piola TS, Watanabe PI, Silva MP, Legnani RFS, Santos RF, Campos W. Reproducibility of a questionnaire on physical activity among school students from 9 to 15 years of age. Cien Saude Col 2018;23(11): 3.841-3.848.,4747 Guedes DP, Lopes CC, Guedes JERP. Reprodutibilidade e validade do questionário internacional de atividade física em adolescentes. Rev Bras Med Esporte 2005; 11(2): 151-158..
A diferença entre os gêneros foi evidenciada nos artigos analisados, talvez justificada pelo tempo de desenvolvimento físico entre os sexos, em que as meninas apresentam o início da puberdade anteriormente aos meninos3232 Cairney J, Veldhuizen S, Kwan M, Hay J, Faught BE. Biological age and sex-related declines in physical activity during adolescence. Med Sci Sports Exerc 2014; 46(4):730-735.,4848 Thompson AM, Baxter-Jones AD, Mirwald RL, Bailey DA. Comparison of physical activity in male and female children: does maturation matter? Med Sci Sports Exerc 2003; 35(10): 1684-1690.. Neste aspecto, é benéfico direcionar intervenções de saúde pública em conformidade com a idade biológica e o sexo ao invés da idade cronológica em populações adolescentes4949 Sherar LB, Esliger DW, Baxter-Jones AD, Tremblay MS. Age andgender differences in youth physical activity: does physical maturity matter? Med Sci Sports Exerc 2007; 39(5): 830-835..
O uso de diversos instrumentos para aferir atividade física nas pesquisas dificulta possíveis comparações, inferências ou conclusões quanto às recomendações internacionais e nacionais, o mesmo acontece para o estágio maturacional5050 Campos MC, Felicidade CA, Aguiar SC, Vieira DSR. Psychometric properties of physical activity questionnaires in adolescence: systematic review. Rev Bras Ativ Fis Saude 2018;23(4): e0045.
51 Instituto Brasileira de Geografia e Estatítica (IBGE). Pesquisa nacional de saúde do escolar: 2015. Coordenação de População e Indicadores Sociais. Rio de Janeiro: IBGE; 2016. 132 p.-5252 Macêdo MM, Linhares RV, Filho JF. Equations for determining bone age and sexual maturation of children and adolescents. Rev Salud Publica 2015;17(2): 267-276..
Além disso, somente um trabalho empregou os critérios de estágio de Tanner para investigação3535 Finne E, Bucksch J, Lampert T, Kolip P. Age, puberty, body dissatisfaction, and physical activity decline in adolescents. Results of the German Health Interview and Examination Survey (KiGGS). Int J Behav Nutr Phys Act 2011; 8: 119.. Tanner investigou e estruturou o seguimento dos episódios maturacionais na adolescência, cujos parâmetros analisados foram fundamentados no desenvolvimento de pêlos pubianos, genitália e mamas, respectivamente no sexo masculino e feminino. Tal classificação pode ser avaliada clinicamente, por um profissional de saúde qualificado, ou autoaplicada, este último o modo mais utilizado em estudos populacionais5353 Faria ER, Franceschini SCC, Peluzio MCG, Sant’Ana LFR, Priore SE.Aspectos metodológicos e éticos da avaliação da maturação sexual de adolescentes. Rev Paul Pediatr 2013; 31(3): 398-405..
No Brasil, a escala de Tanner, muito utilizada na semiologia do adolescente, consta na Caderneta de Saúde do Adolescente e é um instrumento recomendado pelo Ministério da Saúde para a avaliação da maturação sexual5353 Faria ER, Franceschini SCC, Peluzio MCG, Sant’Ana LFR, Priore SE.Aspectos metodológicos e éticos da avaliação da maturação sexual de adolescentes. Rev Paul Pediatr 2013; 31(3): 398-405.,5454 Ministério da Saúde (MS). Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas. Estratégicas. Área Técnica de Saúde de Adolescente. Caderneta de saúde do adolescente, 2ª edição, 1ª reimpressão. Brasília; 2012.. Inúmeros fatores são capazes de sugestionar a maneira que o adolescente compreende a sua adolescência e a repercussão que esse período tem na escolha do jovem ser fisicamente ativo5555 Kantomaa MT, Stamatakis E, Kankaanpää A, Kajantie E, Taanila A, Tammelin T. Associations of Physical Activity and Sedentary Behavior With Adolescent Academic Achievement. J Research Adolesc 2015; 26 (3): 432-442.. Por conseguinte, verifica-se que a prática regular de atividade física é estabelecida pela interação de fatores biológicos, sociais, psíquicos e ambientais, caracterizada por um fenótipo comportamental complexo. Tal modelo comportamental é suficientemente dinâmico para realizar interações fisiológicas com o desenvolvimento maturacional biológico sexual, o que corrobora com as ascensões das taxas de inatividade física durante a adolescência5656 Malina RM. Biocultural factors in developing physical activity levels. In: Youth Physical Activity and Inactivity. Smith AL, Biddle SJH, editor. Champaign, IL: Human Kinetics, 2008..
A redução da prática de atividade física parece ser observada em todos os animais mamíferos durante o período de amadurecimento sexual e tal fenômeno pode estar correlacionado a alterações neuroendócrinas ainda pouco elucidadas pela ciência, posto que a maturação do eixo hipotálamo-hipófise-gonadal media a liberação de hormônios que atuam na reorganização neural e nas transformações corporais e sexuais dos adolescentes, o que pode interferir nos níveis de prática de atividade física5757 Sherar LB, Cumming SP, Eisenmann JC, Baxter-Jones AD, Malina RM. Adolescent biological maturity and physical activity: biology meets behavior. Pediatr Exerc Sci 2010; 22(3): 332-349..
Estudo postulou hipótese para esclarecer altas e baixas taxas de atividade física, defendendo um centro de controle e regulação da prática de atividade física ou do gasto energético pelo sistema nervoso central. Diante desse princípio, parece haver associação entre a redução da prática atividade física em relação a períodos de crescimento e desenvolvimento corporal dado a ampla necessidade energética para suprir a composição corporal em crescimento, insinuando um mecanismo tático de racionamento de energia pelo organismo, mas são essenciais outras pesquisas para analisar essa condição em adolescentes5757 Sherar LB, Cumming SP, Eisenmann JC, Baxter-Jones AD, Malina RM. Adolescent biological maturity and physical activity: biology meets behavior. Pediatr Exerc Sci 2010; 22(3): 332-349.
58 Rowland TW. The biological basis of physical activity. Med Sci Sports Exerc 1998; 30: 392-399.-5959 Rowland TW. Biologic regulation of physical activity. New Zealand: Human Kinetics; 2017..
Outra questão biológica está relacionada ao encéfalo, na medida em que o cérebro adolescente ainda não está completamente maturado e intensas modificações ocorrem para o desenvolvimento e aperfeiçoamento do púbere. Alterações neuroquímicas e na neurotransmissão podem induzir nos jovens sentimentos de insegurança, medo, curiosidade, excitação, mudanças de humor, incapacidade de avaliação dos riscos, impulsividade e a busca por novas possibilidades6060 Giedd N. Maturação do cérebro adolescente. Enciclopédia sobre o Desenvolvimento na Primeira Infância. 2013; p. 1-5.,6161 Soares HLR, Gonçalves HCB, Werner JJ. Cérebro e o uso de drogas na infância e adolescência. Rev Psicol 2010; 22(3): 639-640.. Além disso, a compreensão analítica e o comportamento reflexivo do adolescente somente serão alcançados com o transcorrer da adolescência, dado que o comportamento desafiador e o ato de encarar riscos tendem a diminuir no período pós-puberal. Neste contexto, certos estudos sustentam maior atividade física dos púberes na fase final da adolescência por apresentarem nesse período condições neurofisiológicas e psicológicas aperfeiçoadas para os cuidados com o corpo e com a saúde física2424 Fawkner S, Henretty J, Knowles AM, Nevill A, Niven A. The influence of maturation, body size and physical self-perceptions on longitudinal changes in physical activity in adolescent girls. J Sports Sciences 2014; 32(4): 392-401.,3333 Lätt E, Mäestu J, Rääsk T, Purge P, Jürimäe T, Jürimäe J. Maturity-related differences in moderate, vigorous, and moderate-to-vigorous physical activity in 10-14-year-old boys. Percept Mot Skills 2015; 120(2): 659-670.,6262 Johnson SB, Blum RW, Giedd JN. Adolescent Maturity and the Brain: the promise and pitfalls of neuroscience research in adolescent health policy. J Adoles Health 2009; 45(3): 216-221.,6363 Barbosa PV, Wagner A. A autonomia na adolescência: revisando conceitos, modelos e variáveis. Est Psicol 2013; 18(4): 639-648..
A dopamina é um neurotransmissor capaz de modificar a atividade motora habitual. No período da adolescência a quantidade de receptores dopaminérgicos está reduzida, o que sugere o declínio das atividades nesse estágio. Assim, algumas mudanças ocorrem no sistema de recompensa e motivação do púbere. Atividades que na infância proporcionavam prazer, na adolescência transformam-se em motivo de tédio, o que leva o jovem à busca de novos comportamentos, recompensas e experiências, necessitando assim de mais estímulos para atingir níveis de prazer vivenciados na fase pré-puberal6060 Giedd N. Maturação do cérebro adolescente. Enciclopédia sobre o Desenvolvimento na Primeira Infância. 2013; p. 1-5.,6464 Arain M, Haque M, Johal L, Mathur P, Nel W, Rais A, Sandhu R, Sharma S. Maturation of the adolescent brain. Neuropsyc dis treat 2013; 9 (nº padrão): 449-461..
A escassez de artigos científicos torna-se um limitante dessa revisão. A carência de estudos nacionais, a ausência de unificação de protocolos, critérios e instrumentos padronizados para a mensuração da maturação sexual e do nível de atividade física pelos pesquisadores, além da própria variabilidade do conceito de adolescência na literatura, são fatores prejudiciais à formalização desse consenso. Desse modo, são necessários mais estudos que associem maturidade sexual e atividade física.
Conclusão
Os achados não evidenciam um consenso sobre essa associação. A possível associação entre o estágio de maturação sexual e o nível de atividade física em adolescentes requer mais pesquisas. Novos conhecimentos na área são importantes para possibilitar aos profissionais envolvidos com a saúde do adolescente agir efetivamente no combate à inatividade física.
Agradecimentos
O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior-Brasil (CAPES).
Agradecemos ao Programa de Pós-Graduação Mestrado Acadêmico em Ciências da Saúde da Universidade Federal de São João del-Rei, Campus Centro-Oeste Dona Lindu, Divinópolis, Minas Gerais.
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Datas de Publicação
- Publicação nesta coleção
28 Maio 2021 - Data do Fascículo
Maio 2021
Histórico
- Recebido
18 Out 2018 - Revisado
01 Ago 2019 - Aceito
03 Ago 2019