Diversidade, unidade e saúde coletiva

Romeu Gomes Maria Cecília de Souza Minayo Antônio Augusto Moura da Silva Sobre os autores

Hannah Arendt11 Arendt H. A condição humana. Rio de Janeiro: Editora Forense Universitária; 2014. nos lembra que o mundo não é habitado pelo homem, e sim pelos homens. Ao dizer isso, ela demarca a pluralidade da condição humana, que, embora seja humana, jamais determina a existência de um homem genérico. Levando esse pensamento para pensar a coletividade, podemos considerar que não há uma coletividade genérica, e sim diferentes coletivos que a integram. A saúde coletiva, em sua concepção, se volta para as necessidades da população, mas, por estar também intimamente articulada à defesa dos direitos humanos, precisa assegurar que os movimentos que expressam a diversidade das situações singulares e grupais tenham reconhecimento social, político e jurídico.

Tal afirmação aparentemente pode nos levar a um impasse: como definir princípios e políticas de saúde coletiva para uma pluralidade de segmentos, ou até mesmo para um conjunto de individualidades, que habitam o coletivo? Buscamos nos ancorar no pensamento de Mary Douglas22 Douglas M. Símbolos naturais: explorações em cosmologia. São Paulo: Editora Unesp; 2021. para caminhar na direção da resposta a essa questão. Assim como Douglas22 Douglas M. Símbolos naturais: explorações em cosmologia. São Paulo: Editora Unesp; 2021., que considera haver regularidades em diferentes culturas, também podemos pensar em regularidades que unem os diferentes segmentos de uma coletividade. E afirmar que todos os segmentos de uma mesma sociedade, ainda que diferentes, almejam a saúde como um bem coletivo. Complementando esse pensamento e parafraseando Arendt11 Arendt H. A condição humana. Rio de Janeiro: Editora Forense Universitária; 2014., consideramos que a Saúde Coletiva vive com o paradoxo da pluralidade dos segmentos que conformam o coletivo.

É a partir da reflexão que articula o pertencimento ao todo e o respeito às diferenças que apresentamos este número especial. Ele põe em foco a diversidade de temas que vêm sendo desenvolvidos ou que podem se inserir na pauta do campo da saúde coletiva. Alguns dos textos que figuram nesta edição são ensaios teóricos que discutem a relação entre a temática e o campo mencionado. Outros defendem uma saúde voltada para identidades sociais que, ao mesmo tempo, são estáveis, provisórias e resultados de diversos processos de socialização que, em conjunto, “constroem os indivíduos, definem as instituições”33 Dubar C. A socialização: construção das identidades sociais e profissionais. São Paulo: Martins Fontes; 2005. e também enriquecem o coletivo. Boa leitura!

Referências

  • 1
    Arendt H. A condição humana. Rio de Janeiro: Editora Forense Universitária; 2014.
  • 2
    Douglas M. Símbolos naturais: explorações em cosmologia. São Paulo: Editora Unesp; 2021.
  • 3
    Dubar C. A socialização: construção das identidades sociais e profissionais. São Paulo: Martins Fontes; 2005.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    16 Set 2022
  • Data do Fascículo
    Out 2022
ABRASCO - Associação Brasileira de Saúde Coletiva Rio de Janeiro - RJ - Brazil
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