Introdução de alimentos ultraprocessados e fatores associados em crianças menores de seis meses no sudoeste da Bahia, Brasil

Introduction of ultra-processed foods and associated factors among children under six months of age in the Southwest of the state of Bahia, Brazil

Jéssica Prates Porto Vanessa Moraes Bezerra Michele Pereira Netto Daniela da Silva Rocha Sobre os autores

Resumo

O objetivo do estudo foi avaliar a frequência e os fatores de risco para a introdução de alimentos ultraprocessados (AUP) em crianças menores de seis meses residentes em um município do sudoeste da Bahia. Trata-se de um recorte de um estudo coorte prospectiva realizado com duplas de mães/bebês. A introdução de AUP foi definida pela ingestão de pelo menos um AUP antes dos seis meses de vida. As informações socioeconômicas, maternas, paternas, gestacionais e relacionadas a criança foram obtidas por meio da aplicação de questionários. Para análise dos fatores associados ao desfecho foi realizada regressão de Poisson de acordo com um modelo hierárquico. Foram avaliadas 300 duplas de mães/bebês. Antes dos 6 meses, 31,3% das crianças já haviam recebido AUP. Houve maior frequência de introdução de bolacha/biscoito (23,3%) e petit suísse (14,3%). A introdução de AUP antes dos seis meses de vida foi maior entre famílias com menor renda (p=0,038), menor escolaridade materna (p=0,031), menor idade materna (p=0,017) e paterna (p=0,013), em criança que receberam leite de vaca antes dos 6 meses (p<0,001) e chá antes dos 30 dias (p=0,005). Os resultados demonstram a necessidade de intervenções voltadas para redução da introdução de AUP, principalmente para famílias de baixa renda, com menor grau de instrução e entre pais mais jovens.

Key words:
Industrialized foods; Suckling child

Abstract

The scope of this study was to assess the prevalence and associated factors with the introduction of ultra-processed food (UPF) among children under six months of age living in the southwest of Bahia state. This is an excerpt from a prospective cohort study conducted with pairs of mothers/babies. The introduction of UPF was defined by the intake of at least one UPF before the age of six months. Socioeconomic, maternal, paternal, gestational, and child-related information was gathered by the application of questionnaires. To analyze the factors associated with the outcome, Poisson regression was performed according to a hierarchical model. P-value<0.05 and 95% confidence interval are considered. A total of 300 mother/baby pairs were evaluated. Before 6 months, 31.3% of children have already received UPF. With greater introduction of cookies/biscuits (23.3%) and yogurt (14.3%). The introduction of UPF before six months of age was higher among families with lower income (p=0.038), lower maternal education (p=0.031), lower maternal (p=0.017) and paternal (p=0.013) age, among children who had cow’s milk <6 months (p<0.001) and tea <30 days (p=0.005). The results demonstrate the need for interventions aimed at reducing the introduction of UPF, especially for low-income families, with less education and among younger parents.

Key words:
Industrialized foods; Suckling child

Introdução

Os alimentos ultraprocessados (AUP) se constituem em formulações industriais que contêm alta densidade energética e elevado teor de sódio, açúcar, gorduras (saturadas e trans), e aditivos alimentares11 Monteiro CA, Cannon G, Lawrence M, Costa Louzada ML, Machado PP. Ultra-Processed Foods, Diet Quality, and Health Using the NOVA Classification System. Rome: FAO; 2019.,22 Rauber F, Costa Louzada ML, Steele EM, Millett C, Monteiro CA, Levy RB. Ultra-Processed Food Consumption and Chronic Non-Communicable Diseases-Related Dietary Nutrient Profile in the UK (2008-2014). Nutrients 2018; 10(5):587.. Por esta razão, são contraindicados nos primeiros anos de vida e devem ser evitados por adultos33 Brasil. Ministério da Saúde (MS). Secretaria de Atenção Primária à Saúde. Departamento de Promoção da Saúde. Guia alimentar para crianças brasileiras menores de dois anos. Brasília: MS; 2019.. No entanto, a compra e venda desses produtos vem crescendo mundialmente ao longo dos anos44 Organización Panamericana de la Salud (OPAS). Alimentos y bebidas ultraprocesados en América Latina: tendencias, efecto sobre la obesidad e implicaciones para las políticas públicas. Washington D.C.: OPAS; 2015..

Esses alimentos possuem baixo valor nutricional e, quando ofertados à lactentes, atrapalham a digestão e absorção dos nutrientes, além de prejudicar a aceitação de alimentos in natura, já que AUP são hiper palatáveis e causam dependência11 Monteiro CA, Cannon G, Lawrence M, Costa Louzada ML, Machado PP. Ultra-Processed Foods, Diet Quality, and Health Using the NOVA Classification System. Rome: FAO; 2019.,33 Brasil. Ministério da Saúde (MS). Secretaria de Atenção Primária à Saúde. Departamento de Promoção da Saúde. Guia alimentar para crianças brasileiras menores de dois anos. Brasília: MS; 2019.,55 Brasil. Ministério da Saúde (MS). Secretaria de Atenção Primária à Saúde. Departamento de Promoção da Saúde. Dez passos para uma alimentação saudável: guia alimentar para crianças menores de dois anos: um guia para o profissional da saúde na atenção básica. Brasília: MS; 2013.. Louzada et al.66 Louzada MLC, Martins APB, Canella DS, Baraldi LG, Levy RB, Claro RM, Moubarac JC, Cannon G, Monteiro CA. Impacto de alimentos ultraprocessados sobre o teor de micronutrientes da dieta no Brasil. Rev Saude Publica 2015; 49:45., ao avaliarem o impacto dos alimentos ultraprocessados no teor de micronutrientes na dieta total da população brasileira, encontrou associação inversa entre o aumento da participação de AUP e o teor de micronutrientes na dieta, como vitamina B12, D, E, niacina, piridoxina, cobre ferro, fosforo, magnésio, selênio e zinco na dieta.

Os alimentos ofertados nos dois primeiros anos de vida são cruciais para a formação dos hábitos alimentares33 Brasil. Ministério da Saúde (MS). Secretaria de Atenção Primária à Saúde. Departamento de Promoção da Saúde. Guia alimentar para crianças brasileiras menores de dois anos. Brasília: MS; 2019.. O consumo de AUP ao longo da vida se constitui em fatores de risco para morbimortalidades ainda na infância, adolescência e vida adulta, como anemia, alergias alimentares, cárie dentária, excesso de peso, obesidade, alterações cardiometabólicas e outras doenças crônicas não transmissíveis22 Rauber F, Costa Louzada ML, Steele EM, Millett C, Monteiro CA, Levy RB. Ultra-Processed Food Consumption and Chronic Non-Communicable Diseases-Related Dietary Nutrient Profile in the UK (2008-2014). Nutrients 2018; 10(5):587.,33 Brasil. Ministério da Saúde (MS). Secretaria de Atenção Primária à Saúde. Departamento de Promoção da Saúde. Guia alimentar para crianças brasileiras menores de dois anos. Brasília: MS; 2019.,77 Louzada MLC, Baraldi LG, Steele EM, Martins APB, Canella DS, Moubarac JC, Levy RB, Cannon G, Afshin A, Imamura F, Mozaffarian D, Monteiro CA. Consumption of ultra-processed foods and obesity in Brazilian adolescents and adults. Prev Med 2015; 81:9-15.

8 Costa CS, Rauber F, Leffa PS, Sangalli CN, Campagnolo PDB, Vitolo MR. Ultra-processed food consumption and its effects on anthropometric and glucose profile: A longitudinal study during childhood. Nutr Metab Cardiovasc Dis 2019; 29(2):177-184.

9 Beserra JB, Soares NIS, Marreiros CS, Carvalho CMRG, Martins MCC, Freitas BJSA, Santos MM, Frota KMG. Crianças e adolescentes que consomem alimentos ultraprocessados possuem pior perfil lipídico? Uma revisão sistemática. Cien Saude Colet 2020; 25(12):4979-4989.
-1010 Rocha NP, Milagres LC, Longo GZ, Ribeiro AQ, Novaes JFd. Association between dietary pattern and cardiometabolic risk in children and adolescents: a systematic review. J Pediatr 2017; 93(3):214-222..

Apesar dos malefícios causados pelos AUP em 2017-2018, a Pesquisa de Orçamentos Familiares identificou que esse grupo de alimentos representa um quinto das calorias consumidas pelos brasileiros (adolescentes, adultos e idosos)1111 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Pesquisa de orçamentos familiares 2017-2018: análise do consumo alimentar pessoal no Brasil. Rio de Janeiro: IBGE; 2020.. O seu consumo também tem sido observado entre crianças menores de dois anos, demonstrando uma introdução precoce e elevada até mesmo antes dos seis meses1212 Lopes WC, Pinho L, Caldeira AP, Lessa AC. Consumo de alimentos ultraprocessados por crianças menores de 24 meses de idade e fatores associados. Rev Paul Pediatr 2020; 38:e2018277.

13 Giesta JM, Zoche E, Corrêa RS, Bosa VL. Fatores associados à introdução precoce de alimentos ultraprocessados na alimentação de crianças menores de dois anos. Cien Saude Colet 2019; 24(7):2387-2397.

14 Dallazen C, Silva SA, Gonçalves VSS, Nilson EAF, Crispim SP, Lang RMF, Moreira JD, Tietzmann DC, Vitolo MR. Introdução de alimentos não recomendados no primeiro ano de vida e fatores associados em crianças de baixo nível socioeconômico. Cad Saude Publica 2018; 34(2):e00202816.
-1515 Lopes WC, Marques FKS, Oliveira CF, Rodrigues JA, Silveira MF, Caldeira AP, Pinho L. Alimentação de crianças nos primeiros dois anos de vida. Rev Paul Pediatr 2018; 36(2):164-170.. Um estudo apontou que o aleitamento materno reduz a chance de consumo de AUP nos primeiros seis meses de vida1616 Spaniol AM, Costa THM, Bortolini GA, Gubert MB. Breastfeeding reduces ultra-processed foods and sweetened beverages consumption among children under two years old. BMC Public Health 2020; 20(1):330.. E que fatores socioeconômicos e maternos se associam à maior ingestão de AUP em lactentes. Enquanto a literatura aponta essa associação com a menor renda familiar, há divergências quanto a escolaridade e idade maternas1313 Giesta JM, Zoche E, Corrêa RS, Bosa VL. Fatores associados à introdução precoce de alimentos ultraprocessados na alimentação de crianças menores de dois anos. Cien Saude Colet 2019; 24(7):2387-2397.,1414 Dallazen C, Silva SA, Gonçalves VSS, Nilson EAF, Crispim SP, Lang RMF, Moreira JD, Tietzmann DC, Vitolo MR. Introdução de alimentos não recomendados no primeiro ano de vida e fatores associados em crianças de baixo nível socioeconômico. Cad Saude Publica 2018; 34(2):e00202816.,1717 Saldiva SRDM, Bonini PG, Venancio SI, Francisco RPV, Vieira SE. Feeding and nutritional profiles of children at 12 months of age living in the western region of the city of São Paulo: The Procriar Project. Rev Nutr 2017; 30(6):691-701.,1818 Relvas GRB, Buccini GDS, Venancio SI. Ultra-processed food consumption among infants in primary health care in a city of the metropolitan region of Sao Paulo, Brazil. J Pediatr 2018; 95(5):584-592..

Embora existam estudos que avaliem a introdução de AUP e fatores associados em crianças nos primeiros dois anos de vida1212 Lopes WC, Pinho L, Caldeira AP, Lessa AC. Consumo de alimentos ultraprocessados por crianças menores de 24 meses de idade e fatores associados. Rev Paul Pediatr 2020; 38:e2018277.

13 Giesta JM, Zoche E, Corrêa RS, Bosa VL. Fatores associados à introdução precoce de alimentos ultraprocessados na alimentação de crianças menores de dois anos. Cien Saude Colet 2019; 24(7):2387-2397.

14 Dallazen C, Silva SA, Gonçalves VSS, Nilson EAF, Crispim SP, Lang RMF, Moreira JD, Tietzmann DC, Vitolo MR. Introdução de alimentos não recomendados no primeiro ano de vida e fatores associados em crianças de baixo nível socioeconômico. Cad Saude Publica 2018; 34(2):e00202816.
-1515 Lopes WC, Marques FKS, Oliveira CF, Rodrigues JA, Silveira MF, Caldeira AP, Pinho L. Alimentação de crianças nos primeiros dois anos de vida. Rev Paul Pediatr 2018; 36(2):164-170., são escassos estudos voltados para crianças menores de 6 meses, sobretudo na região Nordeste do Brasil. O consumo de alimentos diferentes do leite materno não é recomendado antes dos seis meses1919 World Health Organization (WHO). Global strategy for infant and young child feeding. Geneva: WHO; 2003., pois o lactente não possui maturidade fisiológica e neurológica para receber outros alimentos, o que justifica a importância de investigar o primeiro semestre de vida88 Costa CS, Rauber F, Leffa PS, Sangalli CN, Campagnolo PDB, Vitolo MR. Ultra-processed food consumption and its effects on anthropometric and glucose profile: A longitudinal study during childhood. Nutr Metab Cardiovasc Dis 2019; 29(2):177-184.,2020 Brasil. Ministério da Saúde (MS). Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Saúde da criança: aleitamento materno e alimentação complementar. Brasília: MS; 2015.. Diante disso, o objetivo desse estudo foi avaliar a frequência e os fatores de risco para a introdução de AUP em crianças menores de seis meses residentes em um município do sudoeste da Bahia.

Métodos

Trata-se de um recorte de uma coorte prospectiva intitulada “Acompanhamento das práticas de aleitamento materno e alimentação complementar em crianças menores de um ano residentes no município de Vitória da Conquista”, realizada no período de fevereiro de 2017 a outubro de 2018. A coleta de dados da coorte ocorreu, inicialmente, em todas as maternidades do município e, posteriormente, aos 30 dias, 6 meses e 12 meses de vida das crianças, por meio de visitas domiciliares. Para este artigo serão apresentadas as informações referentes aos dados coletados na maternidade e às visitas dos 30 dias e 6 meses de vida.

Vitória da Conquista é a terceira maior cidade da Bahia e a quarta maior do interior do nordeste, localizada na região sudoeste do estado, com 3.705,838 km² de extensão territorial, índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 0,678, em 2010 e população, estimada para 2019, composta por 338.480 habitantes2121 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Cidades e Estados.Vitória da Conquista: 2020 [Internet]. [acessado 2020 abr 4]. Disponível em: https://www.ibge.gov.br/cidades-e-estados/ba/vitoria-da-conquista.html.
https://www.ibge.gov.br/cidades-e-estado...
. O município possui quatro maternidades, sendo que uma delas atende exclusivamente pelo SUS, outra apenas particular e duas atendem tanto pelo SUS como particular.

Foram incluídas na coorte mães/bebês residentes na zona urbana do município de Vitória da Conquista, recém-nascidos saudáveis, que não precisaram de internação em UTI, não gemelares e com idade gestacional igual/superior a 37 semanas. Foram excluídas as mães portadoras do vírus HIV e crianças nascidas com má formação que comprometesse a amamentação.

O cálculo do tamanho da amostra da coorte foi realizado considerando-se a incidência do aleitamento materno exclusivo aos 30 dias de vida de 59,3%2222 Vieira GO, Martins CC, Vieira TO, Oliveira NF, Silva LR. Fatores preditivos da interrupção do aleitamento materno exclusivo no primeiro mês de lactação. J Pediatr 2010; 86(5):441-444., risco relativo de 1,2, poder de 80%, nível de confiança de 95%. O número mínimo foi de 252, a esse valor acrescentou-se 30% de perda, resultado numa amostra de 328 mães/bebês. O cálculo do poder da amostra do presente estudo considerou um intervalo de confiança de 95% e as incidências de introdução de AUP nas categorias das variáveis explicativas, resultando em poder que variou de 81,4% a 100%.

O recrutamento da amostra ocorreu através de visitas diárias às maternidades pelos pesquisadores responsáveis pela coleta de dados. Em cada visita, eram selecionadas três duplas de mães/bebês que estavam com 24 horas pós-parto e se enquadravam nos critérios de inclusão, por meio de um sorteio aleatório simples. A inclusão de três duplas por dia foi estabelecida para viabilizar o acompanhamento dos participantes ao longo da coorte. As puérperas selecionadas receberam informações sobre a pesquisa e seus objetivos. Aquelas que aceitaram participar do estudo assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).

Após seleção da amostra, os primeiros dados foram coletados nos prontuários da maternidade e, por meio de entrevistas individuais com a aplicação de um questionário. Posteriormente, foram realizadas entrevistas nos domicílios aos 30 dias e 6 meses de vida das crianças. Os dados coletados nas maternidades utilizados para esse estudo foram às informações socioeconômicas (renda familiar mensal, escolaridade materna e escolaridade paterna), maternas (idade materna e raça/cor materna), familiares (idade paterna) e gestacionais (paridade e número de consultas pré-natal). Na entrevista realizada aos 30 dias de vida utilizou-se, para esse estudo, a variável referente à oferta de chá para a criança no primeiro mês de vida; e aos 6 meses de vida incluiu-se as variáveis trabalho materno, situação conjugal materna, cuidado com a alimentação da criança, tempo de aleitamento materno exclusivo, aleitamento materno aos 6 meses, introdução de alimentos ultraprocessados, fórmula infantil antes dos 6 meses, leite de vaca antes dos 6 meses e uso de chupeta e de mamadeira.

A introdução de AUP foi definida pela ingestão de pelo menos um AUP antes dos seis meses de vida da criança. Para a obtenção dessa variável foi apresentada uma lista de 8 alimentos no momento da entrevista e a mãe deveria responder se já havia oferecido a criança com as seguintes opções de respostas: “Não ou Sim” e qual a idade de introdução em dias. Os seguintes alimentos foram considerados como ultraprocessados: suco artificial (néctar, bebida concentrada ou refresco), iogurte/bebida láctea, refrigerante, petit suísse, bolacha/biscoito, macarrão instantâneo, doces (bala, pirulito, guloseimas) e achocolatado. Os alimentos foram selecionados baseados na classificação dos alimentos ultraprocessados proposta por Monteiro et al.11 Monteiro CA, Cannon G, Lawrence M, Costa Louzada ML, Machado PP. Ultra-Processed Foods, Diet Quality, and Health Using the NOVA Classification System. Rome: FAO; 2019. e pelo Guia Alimentar da População Brasileira2323 Brasil. Ministério da Saúde (MS). Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Guia alimentar para a população brasileira. Brasília: MS; 2014..

Utilizou-se um modelo hierarquizado para alocação das variáveis estu dadas dividindo-se em três blocos: distal, intermediário e proximal, conforme o modelo proposto por Victora et al.2424 Victora CG, Huttly SR, Fuchs SC, Olinto MT. The role of conceptual frameworks in epidemiological analysis: a hierarchical approach. Int J Epidemiol 1997; 26(1):224-227. (Figura 1). As variáveis independentes foram selecionadas considerando outros estudos1313 Giesta JM, Zoche E, Corrêa RS, Bosa VL. Fatores associados à introdução precoce de alimentos ultraprocessados na alimentação de crianças menores de dois anos. Cien Saude Colet 2019; 24(7):2387-2397.,1414 Dallazen C, Silva SA, Gonçalves VSS, Nilson EAF, Crispim SP, Lang RMF, Moreira JD, Tietzmann DC, Vitolo MR. Introdução de alimentos não recomendados no primeiro ano de vida e fatores associados em crianças de baixo nível socioeconômico. Cad Saude Publica 2018; 34(2):e00202816. e também variáveis peculiares do presente estudo. Os blocos foram divididos em: Características socioeconômicas (bloco distal): renda familiar mensal (≤1; >1 salário mínimo, considerando R$ 937 vigente em fevereiro de 2017); escolaridade materna e paterna (≤8; >8 anos de estudo); trabalho materno (não; sim). Características maternas, paternas e gestacionais (bloco intermediário): idade materna e paterna (<20 anos; 20 a 34 anos; ≥35 anos); raça/cor materna (branca/amarela; preta/parda); situação conjugal materna (sem companheiro; com companheiro); paridade (primípara; multípara); número de consultas pré-natal (<6 consultas; ≥6 consultas). Características da criança (bloco proximal): pessoa responsável pela alimentação da criança (mãe e/ou pai; avó/outro); aleitamento materno (não; sim); introdução de fórmula infantil antes dos 6 meses (não; sim); introdução de leite de vaca antes dos 6 meses (não; sim); introdução de chá antes de 30 dias (não; sim); uso de chupeta (não; sim); uso de mamadeira (não; sim).

Figura 1
Modelo teórico hierárquico dos fatores associados à introdução de alimentos ultraprocessados em crianças menores de 6 meses de vida em um município do sudoeste da Bahia, 2018.

Foi realizada análise descritiva da introdução de AUP por meio das frequências absoluta (n) e relativas (%) para as variáveis categóricas. As diferenças entre as proporções foram avaliadas pelos testes Qui-quadrado de Pearson e exato de Fisher. Para variáveis quantitativas utilizou-se média e desvio padrão ou mediana. A análise dos fatores de risco ao desfecho foi realizada por meio de regressão de Poisson com variância robusta, estimando-se os Riscos Relativos (RR) bruto e ajustado e os respectivos intervalos de confiança de 95% (IC95%).

As variáveis independentes foram incluídas no modelo de regressão do bloco distal para o proximal (Figura 1). As variáveis com valor de p<0,20 na análise bivariada foram incluídas na análise multivariada de cada bloco. Para a definição do modelo final foi considerado o nível de significância de 5%. Para testar a adequação do modelo utilizou-se o critério de Akaike (AIC). O programa Stata, versão 15.0 (Stata Corporation, College Station, EUA) foi utilizado para as análises dos dados.

A presente pesquisa respeitou aos aspectos éticos de estudos que envolvem seres humanos, regidos pela Resolução nº 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde. Este trabalho obteve aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade da Federal da Bahia, no dia 12 de dezembro de 2016, sob o número de CAAE 62807516.2.0000.5556 e protocolo de número 1.861.163. Antes da aprovação pelo Comitê de Ética, as maternidades foram informadas do objetivo do estudo e assinaram um ofício consentindo a coleta de dados.

Resultados

Foram recrutadas para participar do estudo 388 mães/bebês que compuseram a linha de base da coorte nas maternidades. Houve uma perda de seguimento de 15,2% na amostra inicial, totalizando 329 duplas mães/bebês aos 30 dias de vida. E uma perda de 8,8% dos 30 dias aos 6 meses, totalizando 300 duplas mães/bebê. As perdas ocorreram devido a mudanças de número telefônico, endereço ou cidade e desistência. Constatou-se que não houve diferença estatisticamente significativa ao se comparar as variáveis “renda familiar mensal”, “idade materna” “idade paterna”, “escolaridade materna” e “escolaridade paterna” entre as duplas mães/bebês que permaneceram no estudo e as perdas de seguimento.

Das 300 mães entrevistadas, 76,7% tinham >8 anos de estudos, 73,0% viviam com renda familiar mensal ≤1 salário mínimo e 71,0% tinham entre 20 a 34 anos. Quanto aos pais, 71,3% tinham >8 anos de estudos e 65,4% tinham entre 20 e 34 anos. Entre as crianças, 16,0% foram amamentadas exclusivamente por 180 dias ou mais, 73,0% estavam em aleitamento materno aos 6 meses de vida; 40,0% receberam leite de vaca antes dos 6 meses de vida e 29,0% chá antes dos 30 dias (Tabela 1).

Tabela 1
Distribuição das características das crianças menores de 6 meses residentes em um município do sudoeste da Bahia, 2018.

A frequência de introdução de pelo menos um alimento ultraprocessado antes dos 6 meses de vida das crianças foi de 31,3% (IC95%=26,6-36,8). Ao analisar os alimentos consumidos, observou-se que 23,3% das crianças já haviam recebido bolacha/biscoito (mediana de introdução de 150 dias de vida); 14,3% petit suísse, (mediana de 150 dias de vida); 6,3% doces (mediana de 150 dias); 1,3% suco artificial (mediana de 135 dias de vida); 1,3% iogurte/bebida láctea (mediana de 150 dias de vida); 0,7% macarrão instantâneo (mediana de 135 dias) e 0,3% achocolatado (mediana de 120 dias) (Tabela 2, dados de mediana não apresentados em tabela). Nenhuma criança consumiu refrigerante antes dos 6 meses.

Tabela 2
Distribuição da introdução dos alimentos ultraprocessados em crianças menores de 6 meses residentes em um município do sudoeste da Bahia, 2018.

Na análise bivariada, as variáveis socioeconômicas e maternas que apresentaram maiores riscos de introdução de AUP foram menor renda familiar mensal, menor escolaridade materna e paterna, menor idade materna e paterna, cor materna preta/parda e a mãe não possuir companheiro. Entre variáveis relacionadas à criança, maiores riscos foram observados em mãe/pai ser responsável pela alimentação, a criança não estar em aleitamento materno, ter recebido leite de vaca antes dos 6 meses e chá antes dos 30 dias de vida, ter usado de chupeta e mamadeira (Tabela 3).

Tabela 3
Análise Bivariada e Multivariada dos fatores de risco para a introdução de alimentos ultraprocessados em crianças menores de 6 meses em um município do sudoeste da Bahia, 2018.

Na análise multivariada, permaneceram como fatores de risco independentes para a introdução de AUP em crianças menores de seis meses a renda familiar mensal ≤1 salário mínimo (RR=1,49; IC95%=1,02-2,17), a mãe possuir ≤8 anos de estudos (RR=1,52; IC95%=1,04-2,23), a idade materna <20 anos (RR=2,68; IC95%=1,19-6,02), a idade paterna <20 anos (RR=2,17; IC95%=1,18-3,99), a criança ter recebido leite de vaca antes dos 6 meses de vida (RR=3,20; IC95%=2,03-5,03) e ter recebido chá antes dos 30 dias de vida (RR=1,66; IC95%=1,17-2,37) (Tabela 3).

Discussão

O presente estudo investigou a introdução de AUP e fatores de risco em crianças menores de 6 meses de vida em Vitória da Conquista, Bahia. Os resultados apontaram elevada frequência de introdução de pelo menos um alimento ultraprocessado antes dos 6 meses de vida, com destaque para a bolacha/biscoito e o petit suísse. Os fatores de risco para a introdução desses alimentos foram a menor renda familiar, menor escolaridade materna, menor idade materna e paterna, a criança ter recebido leite de vaca antes dos seis meses e chá antes dos 30 dias.

O acesso a alimentação em quantidade e qualidade adequadas é direito fundamental do ser humano33 Brasil. Ministério da Saúde (MS). Secretaria de Atenção Primária à Saúde. Departamento de Promoção da Saúde. Guia alimentar para crianças brasileiras menores de dois anos. Brasília: MS; 2019.. No Brasil, diferentes realidades socioeconômicas e culturais estão presentes entre as regiões e o consumo alimentar adequado e saudável está ligado diretamente a cultura regional de onde se vive33 Brasil. Ministério da Saúde (MS). Secretaria de Atenção Primária à Saúde. Departamento de Promoção da Saúde. Guia alimentar para crianças brasileiras menores de dois anos. Brasília: MS; 2019.. Dados da Pesquisa Nacional de Saúde de 2013 revelaram que a proporção de crianças nordestinas menores de 2 anos que consumiam biscoitos ou bolachas ou bolos foi de 58,8% e de refrigerante ou suco artificial foi de 25,5%2525 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Pesquisa nacional de saúde: 2013: ciclos de vida: Brasil e grandes regiões. Rio de Janeiro: IBGE; 2015.. Um estudo com crianças brasileiras de 6 a 59 meses, verificou que aquelas residentes na Região Nordeste consumiram com menor frequência a maioria dos alimentos recomendados, como arroz, feijão, verdura de folha, legumes e carne. Por sua vez, a região apresentou importante participação de alimentos não recomendados, como biscoitos e salgadinhos cujo consumo diário foi maior quando comparado a outras regiões2626 Bortolini GA, Gubert MB, Santos LMP. Consumo alimentar entre crianças brasileiras com idade de 6 a 59 meses. Cad Saude Publica 2012; 28(9):1759-1771..

Elevada introdução de AUP antes dos 6 meses de vida também foi encontrada em outros estudos realizados no Sul do Brasil. Giesta et al.1313 Giesta JM, Zoche E, Corrêa RS, Bosa VL. Fatores associados à introdução precoce de alimentos ultraprocessados na alimentação de crianças menores de dois anos. Cien Saude Colet 2019; 24(7):2387-2397., ao estudar crianças de 4 a 24 meses internadas em um hospital terciário, verificaram que 56,5% delas já haviam recebido alguns alimentos ultraprocessados antes dos seis meses de vida. Dallazen et al.1414 Dallazen C, Silva SA, Gonçalves VSS, Nilson EAF, Crispim SP, Lang RMF, Moreira JD, Tietzmann DC, Vitolo MR. Introdução de alimentos não recomendados no primeiro ano de vida e fatores associados em crianças de baixo nível socioeconômico. Cad Saude Publica 2018; 34(2):e00202816., ao analisar a introdução de alimentos não recomendados no primeiro ano de vida entre crianças de baixo nível socioeconômico, observaram que 20,4% receberam biscoito doce/salgado e 24,8% petit suísse antes dos seis meses de vida.

Esses alimentos não devem ser ofertados em idades precoces, agravando-se com a introdução antes dos seis meses de vida, idade em que as crianças não possuem maturidade fisiológica e neurológica para receber outros alimentos e deveriam estar em aleitamento materno exclusivo2020 Brasil. Ministério da Saúde (MS). Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Saúde da criança: aleitamento materno e alimentação complementar. Brasília: MS; 2015.. Ademais, a má alimentação é causa de doenças como sobrepeso, obesidade, hipertensão e dislipidemias que podem acompanhá-las por toda a vida33 Brasil. Ministério da Saúde (MS). Secretaria de Atenção Primária à Saúde. Departamento de Promoção da Saúde. Guia alimentar para crianças brasileiras menores de dois anos. Brasília: MS; 2019.,66 Louzada MLC, Martins APB, Canella DS, Baraldi LG, Levy RB, Claro RM, Moubarac JC, Cannon G, Monteiro CA. Impacto de alimentos ultraprocessados sobre o teor de micronutrientes da dieta no Brasil. Rev Saude Publica 2015; 49:45.,88 Costa CS, Rauber F, Leffa PS, Sangalli CN, Campagnolo PDB, Vitolo MR. Ultra-processed food consumption and its effects on anthropometric and glucose profile: A longitudinal study during childhood. Nutr Metab Cardiovasc Dis 2019; 29(2):177-184.,1111 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Pesquisa de orçamentos familiares 2017-2018: análise do consumo alimentar pessoal no Brasil. Rio de Janeiro: IBGE; 2020..

A introdução AUP se mostrou associada positivamente a menor renda e menor escolaridade materna. A menor renda familiar relacionada a introdução dos AUP corrobora com achados de outros estudos1313 Giesta JM, Zoche E, Corrêa RS, Bosa VL. Fatores associados à introdução precoce de alimentos ultraprocessados na alimentação de crianças menores de dois anos. Cien Saude Colet 2019; 24(7):2387-2397.,1414 Dallazen C, Silva SA, Gonçalves VSS, Nilson EAF, Crispim SP, Lang RMF, Moreira JD, Tietzmann DC, Vitolo MR. Introdução de alimentos não recomendados no primeiro ano de vida e fatores associados em crianças de baixo nível socioeconômico. Cad Saude Publica 2018; 34(2):e00202816.. No Brasil, grande parte da renda dessas famílias se destina a compra de alimentos não saudáveis, uma vez que para garantir uma dieta saudável e adequada de acordo com as recomendações, os gastos com alimentos aumentam consideravelmente, comprometendo a quase totalidade da renda2727 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Pesquisa de orçamentos familiares 2017-2018: análise da segurança alimentar no Brasil. Rio de Janeiro: IBGE; 2020.,2828 Borges CA, Claro RM, Martins APB, Villar BS. Quanto custa para as famílias de baixa renda obterem uma dieta saudável no Brasil? Cad Saude Publica 2015; 31(1):137-148.. Alimentos ultraprocessados possuem baixo custo e são mais duráveis quando comparados com alimentos in natura e/ou minimamente processados, encontrando-se mais acessíveis e disponíveis para famílias de baixa renda11 Monteiro CA, Cannon G, Lawrence M, Costa Louzada ML, Machado PP. Ultra-Processed Foods, Diet Quality, and Health Using the NOVA Classification System. Rome: FAO; 2019.,2929 Zarnowiecki DM, Dollman J, Parletta N. Associations between predictors of children's dietary intake and socioeconomic position: a systematic review of the literature. Obes Rev 2014; 15(5):375-391..

Com relação a associação entre menor escolaridade materna e a introdução de alimentos ultraprocessados, resultados semelhantes foram identificados1313 Giesta JM, Zoche E, Corrêa RS, Bosa VL. Fatores associados à introdução precoce de alimentos ultraprocessados na alimentação de crianças menores de dois anos. Cien Saude Colet 2019; 24(7):2387-2397.,1414 Dallazen C, Silva SA, Gonçalves VSS, Nilson EAF, Crispim SP, Lang RMF, Moreira JD, Tietzmann DC, Vitolo MR. Introdução de alimentos não recomendados no primeiro ano de vida e fatores associados em crianças de baixo nível socioeconômico. Cad Saude Publica 2018; 34(2):e00202816.,1818 Relvas GRB, Buccini GDS, Venancio SI. Ultra-processed food consumption among infants in primary health care in a city of the metropolitan region of Sao Paulo, Brazil. J Pediatr 2018; 95(5):584-592.,3030 Saldiva SR, Venancio SI, de Santana AC, Castro ALS, Escuder MM, Giugliani ER. The consumption of unhealthy foods by Brazilian children is influenced by their mother's educational level. Nutr J 2014; 13:33.,3131 Smithers LG, Brazionis L, Golley RK, Mittinty MN, Northstone K, Emmett P, McNaughton SA, Campbell KJ, Lynch JW. Associations between dietary patterns at 6 and 15 months of age and sociodemographic factors. Eur J Clin Nutr 2012; 66(6):658-666.. No Brasil, uma pesquisa conduzida com menores de um ano identificou que as mães que possuíam pouca ou nenhuma instrução estavam mais propensas a oferecer alimentos não saudáveis aos seus filhos3030 Saldiva SR, Venancio SI, de Santana AC, Castro ALS, Escuder MM, Giugliani ER. The consumption of unhealthy foods by Brazilian children is influenced by their mother's educational level. Nutr J 2014; 13:33.. Mulheres com menor escolaridade possuem menos informações a respeito da alimentação saudável, enquanto que mães com maiores níveis de instrução podem se atualizar mais com as recomendações prestadas por profissionais de saúde, estando mais dispostas, propensas e aptas a segui-las1313 Giesta JM, Zoche E, Corrêa RS, Bosa VL. Fatores associados à introdução precoce de alimentos ultraprocessados na alimentação de crianças menores de dois anos. Cien Saude Colet 2019; 24(7):2387-2397.,1414 Dallazen C, Silva SA, Gonçalves VSS, Nilson EAF, Crispim SP, Lang RMF, Moreira JD, Tietzmann DC, Vitolo MR. Introdução de alimentos não recomendados no primeiro ano de vida e fatores associados em crianças de baixo nível socioeconômico. Cad Saude Publica 2018; 34(2):e00202816.,3232 Skafida V. The relative importance of social class and maternal education for breast-feeding initiation. Public Health Nutr 2009; 12(12):2285-2292..

É provável que haja uma influência negativa da menor escolaridade na capacidade de discernimento entre alimentação saudável e não saudável, bem como na dificuldade para leitura e interpretação dos rótulos presentes nos alimentos industrializados1414 Dallazen C, Silva SA, Gonçalves VSS, Nilson EAF, Crispim SP, Lang RMF, Moreira JD, Tietzmann DC, Vitolo MR. Introdução de alimentos não recomendados no primeiro ano de vida e fatores associados em crianças de baixo nível socioeconômico. Cad Saude Publica 2018; 34(2):e00202816.,3333 Molina MCB, Lopéz PM, Faria CP, Cade NV, Zandonade E. Preditores socioeconômicos da qualidade da alimentação de crianças. Rev Saude Publica 2010; 44(5):785-792.. Desse modo, mães com menor escolaridade podem estar mais suscetíveis a influência da mídia por meio dos meios de comunicação, favorecendo a oferta de AUP às crianças3333 Molina MCB, Lopéz PM, Faria CP, Cade NV, Zandonade E. Preditores socioeconômicos da qualidade da alimentação de crianças. Rev Saude Publica 2010; 44(5):785-792., já que as famílias estão expostas diariamente a propagandas desses produtos33 Brasil. Ministério da Saúde (MS). Secretaria de Atenção Primária à Saúde. Departamento de Promoção da Saúde. Guia alimentar para crianças brasileiras menores de dois anos. Brasília: MS; 2019.. Em adição, a inclusão de imagens de alimentos naturais nos rótulos e embalagens ou mensagens sobre a presença de fibras, vitaminas e minerais causam falsa impressão de que esses alimentos são saudáveis e influenciam o seu consumo33 Brasil. Ministério da Saúde (MS). Secretaria de Atenção Primária à Saúde. Departamento de Promoção da Saúde. Guia alimentar para crianças brasileiras menores de dois anos. Brasília: MS; 2019.,44 Organización Panamericana de la Salud (OPAS). Alimentos y bebidas ultraprocesados en América Latina: tendencias, efecto sobre la obesidad e implicaciones para las políticas públicas. Washington D.C.: OPAS; 2015..

Maiores riscos de introdução precoce de alimentos ultraprocessados, também foram observadas entre mães e pais adolescentes. Diferentes estudos encontraram a idade materna mais jovem associada ao consumo de alimentos não saudáveis nos primeiros anos de vida1717 Saldiva SRDM, Bonini PG, Venancio SI, Francisco RPV, Vieira SE. Feeding and nutritional profiles of children at 12 months of age living in the western region of the city of São Paulo: The Procriar Project. Rev Nutr 2017; 30(6):691-701.,3131 Smithers LG, Brazionis L, Golley RK, Mittinty MN, Northstone K, Emmett P, McNaughton SA, Campbell KJ, Lynch JW. Associations between dietary patterns at 6 and 15 months of age and sociodemographic factors. Eur J Clin Nutr 2012; 66(6):658-666.,3434 Betoko A, Charles MA, Hankard R, Forhan A, Bonet M, Saurel-Cubizolles MJ, Heude B, Lauzon-Guillain B, EDEN mother-child cohort study group. Infant feeding patterns over the first year of life: influence of family characteristics. Eur J Clin Nutr 2013; 67(6):631-637.. A gravidez na adolescência é um processo que acarreta problemas de naturezas biológica e social, além da necessidade de mudanças e de amadurecimento, com a adoção de responsabilidades para o cuidado com o bebê e o autocuidado3535 Lima APE, Javorski M, Vasconcelos MGL. Práticas alimentares no primeiro ano de vida. Rev Bras Enferm 2011; 64(5):912-918.,3636 Dias ACG, Teixeira MAP. Gravidez na adolescência: um olhar sobre um fenômeno complexo. Paidéia 2010; 20(45):123-131.. Dentre as diversas responsabilidades maternas, se encontra a necessidade de preocupação com a alimentação, um importante determinante da saúde infantil3535 Lima APE, Javorski M, Vasconcelos MGL. Práticas alimentares no primeiro ano de vida. Rev Bras Enferm 2011; 64(5):912-918.. A literatura aborda que adolescentes possuem hábitos alimentares menos saudáveis, já que muitas vezes o adolescente tende a adotar hábitos dos grupos em que convive, com consequente oferta de alimentos de sua preferência para os filhos2020 Brasil. Ministério da Saúde (MS). Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Saúde da criança: aleitamento materno e alimentação complementar. Brasília: MS; 2015.,3535 Lima APE, Javorski M, Vasconcelos MGL. Práticas alimentares no primeiro ano de vida. Rev Bras Enferm 2011; 64(5):912-918.. Em adição, mães adolescentes são mais inseguras, tendendo a desmamar precocemente3737 Silva VAAL, Caminha MFC, Silva SL, Serva VMSBD, Azevedo PTACC, Batista Filho M. Maternal breastfeeding: indicators and factors associated with exclusive breastfeeding in a subnormal urban cluster assisted by the Family Health Strategy. J Pediatr 2018; 95:298-305..

Neste estudo, o aleitamento materno não interferiu na introdução de alimentos ultraprocessados, resultado diferente do encontrado em outro estudo1616 Spaniol AM, Costa THM, Bortolini GA, Gubert MB. Breastfeeding reduces ultra-processed foods and sweetened beverages consumption among children under two years old. BMC Public Health 2020; 20(1):330.. Sugere-se que a ausência de associação ocorreu porque mais de 56% dos lactentes que estavam em aleitamento materno já haviam recebido leite de vaca (dados não mostrados nos resultados). No entanto, a oferta de chá antes dos 30 dias de vida e de leite de vaca antes dos seis meses apresentaram riscos significativamente maiores de introdução AUP. A oferta de outros líquidos e alimentos antes dos seis meses em complementação ao aleitamento materno é uma prática não recomendada33 Brasil. Ministério da Saúde (MS). Secretaria de Atenção Primária à Saúde. Departamento de Promoção da Saúde. Guia alimentar para crianças brasileiras menores de dois anos. Brasília: MS; 2019.,1515 Lopes WC, Marques FKS, Oliveira CF, Rodrigues JA, Silveira MF, Caldeira AP, Pinho L. Alimentação de crianças nos primeiros dois anos de vida. Rev Paul Pediatr 2018; 36(2):164-170.. Os chás não possuem valor nutricional e nenhuma comprovação de benefício a saúde do bebê, além de inibir a absorção de ferro e da possibilidade de toxicidade88 Costa CS, Rauber F, Leffa PS, Sangalli CN, Campagnolo PDB, Vitolo MR. Ultra-processed food consumption and its effects on anthropometric and glucose profile: A longitudinal study during childhood. Nutr Metab Cardiovasc Dis 2019; 29(2):177-184.,3838 Romero-Velarde E, Villalpando-Carrión S, Pérez-Lizaur AB, Iracheta-Gerez ML, Alonso-Rivera CG, López-Navarrete GE, García-Contreras A, Ochoa-Ortiz E, Zarate-Mondragón F, López-Pérez GT, Chávez-Palencia C, Guajardo-Jáquez M, Vázquez-Ortiz S, Pinzón-Navarro BA, Torres-Duarte KN, Vidal-Guzmán JD, Michel-Gómez PL, López-Contreras IN, Arroyo-Cruz LV, Almada-Velasco P, Saltigeral-Simental P, Ríos-Aguirre A, Domínguez-Pineda L, Rodríguez-González P, Crabtree-Ramírez U, Hernández-Rosiles V, Pinacho-Velázquez JL. Consenso para las prácticas de alimentación complementaria en lactantes sanos. Bol Med Hosp Infant Mex 2016; 73(5):338-356.,3939 World Health Organization (WHO). Infant and young child feeding:model chapter for textbooks for medical students and allied health professionals. Geneva: WHO; 2009.. O leite de vaca não é apropriado, pois possui elevado teor de gordura, excesso de proteínas, minerais e eletrólitos e quantidade insuficiente de carboidratos, vitaminas, ferro e zinco33 Brasil. Ministério da Saúde (MS). Secretaria de Atenção Primária à Saúde. Departamento de Promoção da Saúde. Guia alimentar para crianças brasileiras menores de dois anos. Brasília: MS; 2019..

Coelho et al.4040 Coelho LC, Asakura L, Sachs A, Erbert I, Novaes CRL, Gimeno SGA. Food and Nutrition Surveillance System/SISVAN: getting to know the feeding habits of infants under 24 months of age. Cien Saude Colet 2015; 20(3):727-738. encontraram relação estatisticamente significante dos consumos de água/chá e leite de vaca em menores de seis meses com a menor renda familiar e menor escolaridade materna. Nesse sentido, a maior frequência de introdução de alimentos ultraprocessados entre as crianças que receberam chá e leite de vaca, encontrada nesse estudo, pode estar atrelada ao nível de informação das mães e o baixo custo desses líquidos, uma vez que menor escolaridade e menor renda se mostraram associados a introdução de AUP precocemente. Além disso, a interrupção ou diminuição do aleitamento materno favorecem a oferta de outros líquidos e alimentos visando a substituição do aleitamento materno exclusivo4141 Martins CBG, Santos DS, Lima FCA, Gaíva MAM. Introdução de alimentos para lactentes considerados de risco ao nascimento. Epidemiol Serv Saude 2014; 23(1):79-90..

O presente estudo é importante por abordar um tema de relevância para saúde pública, com enfoque no primeiro semestre de vida, uma vez que, uma alimentação adequada é peça chave para redução de morbimortalidade infantil. Variáveis importantes foram abordadas, como a idade de introdução dos AUP, a avaliação de características paternas e sua relação com o consumo alimentar dos filhos e a associação de introdução precoce de líquidos diferentes do leite materno com a introdução de AUP. Os resultados desse artigo derivam de um estudo de coorte, o que reduz o viés de memória uma vez que as mães foram entrevistadas nos primeiros meses de vida das crianças, além disso possibilita realizar melhor inferência de causa e efeito. Dentre as limitações do estudo encontram-se a não avaliação da quantidade e frequência do consumo dos alimentos ultraprocessados. Além disso, não foi aplicado um instrumento específico para avaliar separadamente os alimentos de acordo com o grau de processamento.

A partir do que foi apresentado pode-se concluir que houve uma elevada introdução de AUP em crianças menores de seis meses, principalmente de bolacha/biscoito e petit suísse, alimentos esses, não recomendados nos primeiros anos de vida. Apesar da existência de políticas de incentivo ao aleitamento materno e alimentação complementar adequada, observa-se dificuldades na sua efetivação, sobretudo, em famílias de baixa renda, com menor grau de instrução e entre pais mais jovens, na qual a prática de alimentação inadequada se mostrou mais expressiva.

O conhecimento dos pais e familiares se faz importante, pois eles exercem grande influência na alimentação da criança. Logo, as estratégias de comunicação adotadas nas orientações devem ser direcionadas a singularidade familiar. E por isso, são imprescindíveis a realização de atividades de educação em saúde com participação ativa desses indivíduos e a educação continuada dos profissionais da saúde para promoção de hábitos alimentares saudáveis, visto que as diretrizes alimentares estão em constante atualização.

Agradecimentos

Agradecemos a equipe de pesquisa e coleta dos dados e, ao apoio técnico prestado pela Universidade Federal da Bahia-Instituto Multidisciplinar em Saúde (UFBA/IMS).

O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    04 Maio 2022
  • Data do Fascículo
    Maio 2022

Histórico

  • Recebido
    03 Jun 2020
  • Aceito
    29 Jul 2021
  • Publicado
    01 Ago 2021
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