Uma jovem profissão surgida nas crises sanitárias, a fisioterapia vem consolidando sua missão de auxiliar a reconstrução de vidas nos momentos de instabilidade, criando algo novo daquilo que se perdeu e, acima de tudo, promovendo a prevenção para seguir em frente.

Ainda nos primórdios da civilização, os humanos já se valiam dos recursos físicos em suas enfermidades. Contudo, foi em meio aos horrores das grandes guerras no início do século XX, ao introduzir os recursos fisioterápicos integrados à terapêutica médica, que a fisioterapia se mostrou presente como prática sistematizada. A crise humanitária que gerou 20 milhões de feridos somente no conflito bélico entre 1914 e 1918 mostrou a importância da fisioterapia na recuperação e reinserção dos incapacitados para o trabalho e a vida cotidiana¹1 Coelho AL. Anjos existem... fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais são protagonistas no combate à COVID-19. Rev CREFITO-4 MG 2021; 12:18-25..

Entretanto, foi o surto viral da poliomielite, gerando um grande contingente de pessoas incapacitadas, que oficializou no Brasil a introdução dos primeiros profissionais ligados à reabilitação física. No mesmo período, a tuberculose e a necessidade de reinserir as primeiras vítimas de acidentes ao trabalho na indústria, contribuíram para a necessidade da criação de instituições especializadas em reabilitação física. Nesse contexto, podemos citar as Thermas Antônio Carlos, instalada em 1932 na cidade de Araxá, MG. E na década de 1950, a criação da fundação Benjamim Guimarães, em Belo Horizonte, para tratar crianças com tuberculose, onde se aplicavam vários recursos físicos da fisioterapia para recuperação da saúde. Em 1954 foi criada, no Rio de Janeiro, a Associação Brasileira Beneficente de Reabilitação (ABBR), especializada no tratamento das vítimas da poliomielite e portadores de sequelas motoras. A necessidade de mão de obra especializada para atender a essas instituições motivou a criação de escolas profissionalizantes, na década de 1950, onde se formaram os primeiros técnicos em fisioterapia nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e, posteriormente, Belo Horizonte. Apenas em 1963, com o Parecer nº 388/63, teve início a atualização curricular e a orientação para a formação de nível superior das profissões de fisioterapia e terapia ocupacional. Porém, só em 13 de outubro de 1969 essas duas profissões foram regulamentadas no Brasil²2 Coelho AL. Os primeiros passos da fisioterapia em Minas Gerais. Rev CREFITO-4 MG 2019; 10:14..

Novamente, a fisioterapia mostrou sua importância na atual crise da pandemia de COVID-19. O manejo ventilatório do paciente crítico nas unidades de terapia intensiva e a intervenção no processo de reabilitação das síndromes pós-COVID trouxeram a fisioterapia para os holofotes. Diante do maior desafio sanitário do século, proteger vidas passou a ser mais um esforço diário dos profissionais que a praticam. Afinal, aqui se fala de profissionais essenciais à manutenção da saúde humana. Nas palavras do dr. Anderson Coelho, presidente do CREFITO-4/MG, os “Fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais foram, em um curto espaço de tempo, do sonho de profissionais de primeiro contato ao pesadelo da linha de frente da pandemia”³3 Figueiredo RM. Como tudo começou no mundo. Rev CREFITO-4 MG 2019; 10:7..

O reconhecimento e a percepção do quanto são primordiais para a manutenção da vida em seu curso, com melhor propósito e qualidade, foi reforçado nesse período recente de crise na saúde pública. Fato consumado, as crises geram desenvolvimento e, nesta mesma linha, a fisioterapia avança como ciência e com reconhecimento em suas 16 especialidades.

Da reabilitação à prevenção, este parece ser o cenário que se descortina para o futuro. O sonho de ser um profissional que atue na atenção primária parece ser o curso natural desta profissão forjada nas crises.

Referências

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