A pandemia de COVID-19 evidenciou a importância dos sistemas e práticas de vigilância em saúde (VS), colocando o desafio de se analisar e aperfeiçoar modelos e estratégias de VS nos diversos países do mundo e, particularmente, no Sistema Único de Saúde. Frente a esse desafio, a comunidade científica da saúde coletiva tratou de executar projetos de pesquisa interdisciplinares sobre esse fenômeno, ao tempo em que o CNS, o CEBES e a Abrasco articularam a criação da Frente pela Vida (FPV), que elaborou o Plano Nacional de Enfrentamento à Pandemia da COVID-19¹1 ABRASCO, Cebes, Rede Unida, Abres, Abrasme, Abrastt, Aben, SBV, SBB, CNS, SBMT, Sobrasp, RMMP, ABMMD, SBMFC. Plano Nacional de enfrentamento à pandemia da COVID-19 [Internet]. 2020. [acessado 2021 jun 6]. Disponível em: https://frentepelavida.org.br/uploads/documentos/PEP-COVID-19_v3_01_12_20.pdf
https://frentepelavida.org.br/uploads/do... e manteve uma resistência ativa ao negacionismo e descaso com que o governo federal tratou da crise sanitária.

Logo em 2020, pesquisadores do Instituto de Saúde Coletiva da UFBA buscaram desenvolver pesquisas, seminários, palestras e debates com o intuito de colaborar para a produção e disseminação de informações e a adoção de práticas de contenção da disseminação do vírus e melhoria da qualidade da atenção. Assim, o ISC promoveu sessões semanais do “ISC em casa” e implantou o ObservaCovid no site do OAPS (https://observacovid.analisepoliticaemsaude.org/), com a difusão de resultados parciais do projeto “Análise de modelos e estratégias de vigilância em saúde da pandemia da COVID-19”.

Os diversos subprojetos contemplam a análise comparada da resposta de sistemas de saúde de vários países à COVID-19, a análise da ação do governo federal brasileiro e da atuação da FPV face à pandemia, bem como o estudo de ações de VS no âmbito da atenção primária à saúde e na atenção hospitalar no SUS, em diversos municípios do país, além de estudos sobre a adesão da população a práticas e equipamentos de prevenção da COVID-19 e as formas de comunicação sobre a pandemia disseminadas nas redes sociais.

Este número temático da revista Ciência e Saúde Coletiva contém artigos derivados desse projeto, que, junto com artigos encaminhados por pesquisadores de outros centros, compõe um panorama do que ocorreu no Brasil e em outros países, em termos de reorganização das ações e serviços de saúde para enfrentamento da pandemia de COVID-19, lições a serem aprendidas e recomendações de práticas a serem incorporadas ao processo de Reforma Sanitária e de reconstrução do SUS²2 Paim JS, Almeida Filho N, Reis C. Reforma sanitária em perspectiva e o SUS. In: Paim JS, Almeida-Filho N, organizadores. Saúde coletiva: teoria e prática. Rio de Janeiro: Medbook; 2023. p. 203-210..

Assim, reafirmamos a importância da implementação de um modelo de vigilância em saúde abrangente, que contemple ações intersetoriais de promoção da saúde, controle e mitigação dos efeitos dos determinantes sociais das doenças e agravos à saúde da população e ações específicas nos diversos níveis de atenção do SUS, com ênfase na consolidação de uma atenção primária resolutiva, na organização de redes territorializadas de serviços de saúde e ações de comunicação em saúde que contribuam para a consolidação de uma consciência sanitária fundada na valorização do conhecimento científico e no reconhecimento do direito universal à saúde, em defesa da democracia e da garantia de uma vida digna para todos os brasileiros e brasileiras.

Referências

Datas de Publicação