Resumo
Objetivou-se descrever a elaboração e validação de cartilha digital voltada para práticas sustentáveis que favoreça ações promotoras de saúde para adolescentes. Estudo metodológico conduzido de acordo com as seguintes fases: elaboração da cartilha educativa; validação de aparência e conteúdo com 21 juízes e validação com público-alvo 53 adolescentes. Realizou-se a redação, elaboração e montagem do layout do material através dos dados obtidos da revisão integrativa e entrevistas. Intitulou-se a cartilha “Descomplicando a Saúde Ambiental”, a qual possui 29 páginas no formato de páginas de meia folha A5 (14,8 de largura e 21,0 de altura), configuradas no formato paisagem. Com formatação digital, com acesso gratuito e acessível em dispositivos móveis e fixos. Validou-se a cartilha quanto à aparência e conteúdo, com o Índice de Validade de Conteúdo global de 0,95 e validação dos juízes pelo Suitability Assessment of Materials considerada “superior”. Quanto à validação pelo público-alvo, obteve concordância positiva. A cartilha desenvolvida foi considerada válida para ser utilizada em educação em saúde para a população adolescente.
Palavras-chave:
Materiais de ensino; Adolescente; Desenvolvimento Sustentável; Educação em Saúde; Estudos de validação
Introdução
A educação em saúde visa a apropriação de novas estratégias que possa realizar intervenções pautadas em saberes e informações direcionadas às necessidades da população-alvo11 Gonçalves MS, Celedônio RF, Targino MB, Albuquerque TO, Flauzino PA, Bezerra AN, Albuquerque NV, Lopes SC. Construção e validação de cartilha educativa para promoção da alimentação saudável entre pacientes diabéticos. Rev Bras Promoc Saude 2019; 32:7781.. Tal fato oportuniza o uso de tecnologias educativas como alternativa para promover informações e novos caminhos para a promoção da saúde, assim potencializar a autonomia do usuário, de modo a permitir a inclusão de modelos de intervenção participativos22 Freire P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 43ª ed. São Paulo: Paz e Terra; 2011.,33 Santos SB, Ramos JLS, Machado APA, Lopes MTN, Abreu LC, Bezerra IMP. Tecnologia educativa para adolescentes: construção e validação de álbum seriado sobre sífilis adquirida. Rev Bras Promoc Saude 2020; 33:9970..
Sabe-se que as tecnologias em saúde, são ferramentas eficientes no processo de comunicação para promover novos hábitos de vida44 Costa CC, Gomes LFS, Teles LMR, Mendes IC, Oriá MOB, Damascen AKC. Construção e validação de uma tecnologia educacional para prevenção da sífilis congênita. Acta Paulista Enferm 2020; 33:eAPE20190028.. Vê-se a importância de desenvolver ações educativas para o público adolescente, como forma de sensibilizá-lo quanto a atuar como multiplicador de saberes55 Lessa L, Silva R, Rocha G, Leal J, Araújo A, Pereira F. Construção de uma cartilha sobre educação no trânsito para adolescentes. Rev Enferm UFPE online 2018; 12(10):2737-2742..
Entende-se que o emprego de tecnologias educativas para os adolescentes, manifesta-se como um modelo inovador no debate sobre a promoção da saúde, permitindo ordenar a elaboração e utilização de ferramentas por meio de processos interativos e dinâmicos66 Johnson JL, Adkins D, Chauvin S. A review of the quality indicators of rigor in qualitative research. Am J Pharm Educ 2020; 84(1):7120.,77 Dourado JVL, Arruda LP, Ponte KMA, Silva MAM, Ferreira Junior AR, Aguiar FAR. Tecnologias para a educação em saúde com adolescentes: revisão integrativa. Av Enferm 2021; 39(2):235-254..
Estudos apontam que tecnologias educativas quando direcionadas ao adolescente são recursos que possibilitam potencializar o aprendizado de forma lúdica, despertando o interesse para favorecer a construção de espaços para difusão de temas que se revele importante para a vida88 Haruna H, Hu X, Chu SKW, Mellecker RR, Gabriel G, Ndekao PS. Improving sexual health education programs for adolescent students through game-based learning and gamification. Int J Environ Res Public Health 2018; 15(9):2027.,99 Sezgin E, Lin S. Technology-based interventions, assessments, and solutions for safe driving training for adolescents: Rapid review. JMIR Mhealth Uhealth 2019; 7(1):e11942..
Diversos recursos tecnológicos e técnicas podem ser utilizadas para facilitar o processo educativo em educação em saúde, como folder, álbuns seriados, cadernos de orientação, apostilas e cartilhas, disponíveis em versões impressas e digital1010 Teixeira E, Martins TDR, Miranda PO, Cabral BG, Silva BAC, Rodrigues LSS. Tecnologia educacional sobre cuidados no pós-parto: construção e validação. Rev Baiana Enferm 2016; 30(2):1-10.. Dentre as tecnologias a cartilha digital pode ser considerada uma ferramenta que fomenta o desenvolvimento de práticas sustentáveis ao público adolescente1111 Machado JMH, Martins WJ, Souza MS, Fenner ALD, Silveira M, Machado A. A. Healthy and Sustainable Territories: contribution to collective health, sustainable development and territorial governance. Com Cien Saude 2017; 28(2):243-249.,1212 Lima LJ, Lima Junior JF, Luna YHDM. Sustainable development, sustainability and health: a review. Cien Sustentab 2018; 4(2):133-150..
Embora estudos sobre elaboração e validação de tecnologias educacionais para o público adolescente tenham sido desenvolvidos1313 Moura M, Leal J, Leal J, Correia V, Leal J, Silva M, Santos L, Oliveira A. Cartilha sobre prevenção do uso de drogas para adolescentes. Rev Enferm UFPE online 2019; 13(4):1106-1114.,1414 Santiago RF, Andrade EMLR, Mendes IAC, Viana MCA, Nery IS. Avaliação de objeto virtual de aprendizagem sobre pré-natal para adolescentes grávidas na atenção básica. Acta Paul Enferm 2020, 33:eAPE20190063., até o momento, não há trabalhos sobre tecnologias educacionais sobre práticas sustentáveis. Diante dessa lacuna, considera-se necessária a elaboração de uma cartilha digital que possa subsidiar aos adolescentes apreensão de conhecimento quanto ao cuidado com a saúde e meio ambiente.
Assim, o objetivo do estudo foi descrever a elaboração e validação de cartilha digital voltada para práticas sustentáveis que favoreça ações promotoras de saúde para adolescentes.
Método
Delineamento do estudo e período
Trata-se de uma pesquisa metodológica realizada no período de julho de 2019 a dezembro de 2020, seguiram-se quatro etapas utilizadas para elaboração e validação de tecnologias educacionais aplicáveis em saúde1515 Echer IC. Elaboração de manuais de orientação para o cuidado em saúde. Rev Lat-Am Enferm 2005; 13(5):754-757..
Levantamento dos dados
Na primeira etapa, elaborou-se o projeto de pesquisa, o qual foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP). A segunda etapa ocorreu por meio de um levantamento dos dados, através de uma revisão integrativa, realizada de forma pareada por dois pesquisadores independentes, nas bases de dados: Sistema Online de Busca e Análise de Literatura Médica (MEDLINE), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Web of Science, e na biblioteca SciELO. Para seleção dos artigos, utilizaram-se os Descritores em Ciências de Saúde (DeCS) “Sustainable Development”, “Health Care”, “Adolescent” e “Sustainable Development Indicators”, com o uso do operador booleano AND.
Ainda na etapa de levantamento dos dados, foram realizadas entrevistas semiestruturadas com adolescentes com o intuito de conhecer a percepção desses sobre a relação saúde, meio ambiente e desenvolvimento sustentável para verificar quais conteúdos necessários a estarem contidos na cartilha digital. Foram critérios de inclusão: ter idade entre 10 e 19; estar matriculado regularmente na escola escolhida para validação e ter frequência igual ou superior a 70%.
Participaram desta etapa 13 adolescentes de uma escola do Ensino Fundamental II da rede de ensino pública inserida no território do Geoparque Araripe, de um município localizado na região Metropolitana do Cariri, Ceará, Brasil, no período de maio de 2020, que foram selecionados por conveniência. Foram realizadas entrevistas remotas, mediante chamadas telefônicas com áudio gravadas. Realizou-se a análise de conteúdo temático em três fases: pré-análise, exploração do material e tratamento dos resultados1616 Bardin L. Análise de Conteúdo. Lisboa: Edições 70; 2009..
Elaboração da cartilha
Na terceira etapa, ocorreu o processo de elaboração das ilustrações e conteúdo que foram subsidiados por meio dos dados da revisão integrativa e entrevistas semiestruturadas, obedecendo a necessidade de um texto breve, direto, com linguagem simples e compreensível ao público que se destina1717 Doak CC, Doak LG, Root JH. Teaching Patients with Low Literacy Skills. 2ª ed. Philadelphia: J. B. Lippincott Company; 1996.,1818 Fonseca LMM, Scochi CGS, Rocha SMM, Leite AM. Cartilha educativa para orientação materna sobre os cuidados com o bebê prematuro. Rev Lat-Am Enferm 2004; 12(1):65-75..
As imagens foram selecionadas da internet de domínio público, sendo posteriormente utilizados os programas Adobe Ilustrator CS3 para as ilustrações, e para a diagramação da cartilha, o programa Adobe InDesign CS6, por uma profissional da área de design.
Validação da cartilha por Juízes
Na quarta etapa, realizou-se a validação do material elaborado mediante consulta a especialistas da área de interesse, responsáveis por realizar a validação de conteúdo e aparência da tecnologia e com o público-alvo. Em relação aos juízes especialistas, estes foram selecionados por amostragem do tipo bola de neve, ou por conveniência na qual, ao se encontrar um sujeito que se adeque aos critérios de elegibilidade necessários para participar do estudo, é solicitado que sugira outros participantes1919 Polit DF, Beck CT. Fundamentos de pesquisa em enfermagem: avaliação de evidências para a prática da enfermagem. 9ª ed. Porto Alegre: Artmed; 2019..
Como critérios de seleção, os especialistas deveriam adequar-se em no mínimo dois dos critérios: possuir habilidade/conhecimento especializado que torna o profissional uma autoridade no assunto; possuir habilidade especial em determinado tipo de estudo (Enfermagem; Tecnologia Educativa; Saúde do adolescente; Desenvolvimento sustentável; ODS 3); possuir aprovação em teste específico para identificar juízes; ou possuir classificação alta atribuída por uma autoridade2020 Jasper MA. Expert: a discussion of the implications of the concept as used in nursing. J Adv Nurs 1994; 20(4):769-776..
Calculou-se o tamanho da amostra pela fórmula: n=Zα².P(1-P) /e², em que “P” representa a proporção esperada dos especialistas, indicando a adequação de cada item, e “e” refere-se à diferença proporcional aceitável em relação ao que se espera. Foram considerados os seguintes valores para o cálculo: Zα²=1,96; P=0,85; e=0,15, obtendo-se uma amostra de 22 juízes2121 Lopes MV, Silva VM, Araujo TL. Methods for establishing the accuracy of clinical indicators in predicting nursing diagnoses. Int J Nurs Knowl 2012; 23(3):134-139.. No entanto, para evitar empate optou-se por trabalhar com 21 juízes2222 Vianna HM. Testes em educação. São Paulo: IBRASA; 1982..
O levantamento de especialistas da saúde elegíveis foi feito na Plataforma Lattes do portal do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), utilizando as seguintes palavras-chave: Enfermagem, Desenvolvimento Sustentável, Adolescente, Tecnologia educativa em saúde, Validação de instrumentos.
O contato ocorreu por meio eletrônico a 42 juízes, que se enquadraram nos critérios estabelecidos e convidados a participar do estudo através de carta convite, dos quais 21 responderam à solicitação. Após anuência em participar da pesquisa, foram enviados via e-mail o link de acesso ao questionário do Google Forms com um kit contendo: o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido; questionário de caracterização dos juízes, a cartilha e o protocolo de validação
O Protocolo de Análise da Cartilha Digital foi organizado em dois instrumentos: o primeiro considerou o conteúdo interno e o segundo avaliou a cartilha como um todo. No primeiro, utilizou-se a escala do tipo Likert, onde cada item julgado continha cinco níveis de valoração: 1) Pouquíssima; 2) Pouca; 3) Média; 4) Muita e 5) Muitíssima. No que corresponde aos itens assinalados as opções 1, 2 ou 3 foi solicitado descrever os motivos pelos quais se considerou a opção, destinado espaço para que os juízes discorressem sobre opiniões e sugestões.
O segundo instrumento refere-se ao SAM (Suitability Assessment of Materials). Este instrumento oportuniza a avaliação quanto ao conteúdo, linguagem, ilustrações gráficas, motivação e adequação cultural1717 Doak CC, Doak LG, Root JH. Teaching Patients with Low Literacy Skills. 2ª ed. Philadelphia: J. B. Lippincott Company; 1996..
Validação pelo público-alvo
Depois das adequações sugeridas pelos juízes, ocorreu a validação da segunda versão da cartilha digital pelo público-alvo. Participaram desta etapa 53 adolescentes de uma escola da rede pública de ensino do município de Crato, Ceará, Brasil, sendo a mesma que foi palco para as realizações das entrevistas semiestruturadas. A coleta de dados ocorreu de forma remota mediante envio do questionário do Google Forms via mensagem pelo aplicativo WhatsApp.
Foram considerados como critérios de inclusão os mesmos estabelecidos na entrevista. Utilizou-se um questionário adaptado2323 Gonçales MB. Teste de Papanicolaou: construção e validação de material educativo para usuárias de serviços de saúde [dissertação]. São Paulo: Universidade Federal de São Paulo; 2007., com itens de caracterização dos sujeitos e os itens avaliativos da cartilha acerca dos domínios organização, estilo da escrita, aparência e motivação do material educativo.
Análise dos dados
Na análise dos instrumentos pelos especialistas, utilizou-se Índice de Validade de Conteúdo (IVC)2424 Rubio DM, Berg-Weger M, Tebb SS, Lee ES, Rauch S. Objectifying content validity: Conducting a content validity study in social work research. Soc Work Res 2003; 27(2):94-104., calculado com base em três equações matemáticas: S-CVI/Ave (média dos índices de validação de conteúdo para todos os índices da escala); S-CVI/UA (proporção de itens de uma escala que atinge os escores 4 “Muito” e 5 “Muitíssimo”) e o I-CVI (Validade de conteúdo dos índices individuais)2525 Polit DF, Beck CT, Owen SV. Is the CVI an acceptable indicator of content validity? appraisal and recommendations. Res Nurs Health 2007; 30:459-467.. Considerou-se como aceitável índice igual ou superior a 78% (IVC≥0,78), tanto para avaliação individual de cada item.
Realizou-se a concordância entre os juízes quanto à avaliação da cartilha através do Coeficiente de Correlação Intraclasse (ICC), com nível de significância de 5%. Desta forma, os itens da escala de Likert, dos instrumentos aplicados aos juízes, foram avaliados por proporções.
Para análise do SAM, considerou a cartilha como material educativo “superior” se atingir entre 70% e 100% dos escores; “adequado”, se entre 40% e 69%; e “inadequado”, se entre 0 e 39%.
Os dados julgados pelos especialistas, foram compilados em uma planilha do programa Microsoft® Office 365, e analisados pelo software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), versão 20.0, dispondo-os, posteriormente, em tabelas. No entanto, foi realizada a leitura e análise das respostas dissertativas e as observações sugeridas quando pertinentes foram acatadas e inclusas no material.
Para a análise dos dados com a população-alvo, foram considerados itens validados que apresentaram nível de concordância igual ou superior a 75% de respostas positivas.
Aspectos éticos
O estudo foi submetido à avaliação pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), por meio da Plataforma Brasil, obtendo parecer de aprovação sob n° 3.839.083, obedecendo à Resolução nº 466⁄2012. Salienta-se que tal tecnologia está registrada na Câmera Brasileira do Livro, sob ISBN nº 978-65-00-13665-4. Foram empregados Revised Standards for Quality Improvement Reporting Excellence (SQUIRE 2.0)2626 Ogrinc G, Davies L, Goodman D, Batalden P, Davidoff F, Stevens D. SQUIRE 2.0 (Standards for QUality Improvement Reporting Excellence): revised publication guidelines from a detailed consensus process. BMJ Qual Saf 2016; 25(12):986-992..
Resultados
Na etapa para elaboração da cartilha, a revisão integrativa direcionou o conteúdo teórico a ser abordado, elencando as práticas sustentáveis alinhadas as metas do Objetivo do Desenvolvimento Sustentável (ODS) 3 para adolescentes. A busca resultou em 471 artigos por meio do cruzamento dos descritores, no entanto, apenas 12 artigos foram incluídos na amostra final.
Dos dados da revisão integrativa, identificaram-se as práticas sustentáveis desenvolvidas para a população adolescente, a saber: acesso aos serviços de saúde, políticas de saúde mental, sexual e reprodutiva, programa de geração de renda, implementação de políticas públicas voltadas para a saúde, programas que visem adoção de alimentação saudável, equidade nos serviços de saúde e educação em saúde.
Nas entrevistas, identificou-se que dos 13 adolescentes, 11 eram gênero feminino e dois do gênero masculino, na faixa etária de 12 a 14 anos. Quanto à escolaridade dois cursavam o 7º ano, dois o 8º ano e nove adolescentes cursavam o 9º ano do Ensino Fundamental II. Os dados evidenciaram a percepção dos adolescentes quanto à relação saúde e meio ambiente é permeada por temáticas como poluição, desmatamento e mudanças climáticas.
De posse desses dados, foi possível identificar os pontos mais relevantes a serem incluídos na cartilha e iniciar o processo de construção. A cartilha foi elaborada na versão digital, com acesso livre e gratuito. A primeira versão da cartilha conteve 29 páginas, no formato de página de meia folha A5 (14,8 de largura e 21,0 de altura) configuradas no formato paisagem.
A cartilha elaborada é intitulada de “Descomplicando a Saúde Ambiental”, e estava dividida em cinco domínios com os seguintes subtítulos: “O que é saúde e meio ambiente?”; “O que é desenvolvimento Sustentável?”; “O que são os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável?”; “O que são práticas sustentáveis voltadas para a saúde?”; “Quais as vantagens em desenvolver práticas sustentáveis?”.
Utilizou-se fonte Verdana tamanho 12 para as informações e Komika Title para capa e subtítulos, sendo título da capa tamanho 40 e os subtítulos 26-31. Em palavras-chave dos textos informativos o tamanho foi ampliado e utilizado marcadores em negrito nas cores rosa, laranja, vermelho e verde.
Optou-se por ilustrações coloridas com o objetivo de chamar a atenção dos adolescentes e facilitar a aprendizagem. Para que a cartilha pudesse contemplar o público adolescente buscaram-se personagens que contemplasse características raciais, étnicas e diversidade de gênero. Desta forma, foram incluídas personagens negras, branca e parda, uma personagem trans e um cadeirante.
Buscou-se utilizar cores que reportassem aos ODS. Optou-se por uma ilustração que remetesse ao cotidiano do público adolescente, tal como, uma self. Com o objetivo de garantir a interatividade da cartilha com os adolescentes, foi incluído um teste com perguntas para memorização dos temas abordados no material. Na Figura 1 são apresentadas algumas páginas da versão final da cartilha.
A validação da cartilha educativa foi realizada com juízes especialistas e com o público-alvo (adolescentes). Participaram 21 juízes especialistas da área de saúde, a maior parte dos juízes foi do gênero feminino (76,2%), sendo 47,6% provenientes do Ceará. Em relação à área de atuação 76,1% correspondia na enfermagem, 57,1% na saúde do adolescente e demais áreas. A média de idade dos participantes foi de 41,3 com desvio padrão de 9,6. O tempo médio de experiência docente em anos foi de 14,1 com desvio padrão de 9,7.
Quanto a experiência dos profissionais, a maioria demonstrou-se bastante experiente em todos os itens, com percentuais elevados para a maior parte deles, exceto para os itens de orientação de mestrado e doutorado (90,4%) bem como bancas avaliadoras destas modalidades (23,8%).
No total, quanto a clareza de linguagem, obteve-se que para 7 dos 21 juízes S-CVI/AVE foi de 1, representando concordância dos mesmos com todos os itens avaliados; O S-CVI da média do S-CVI/AVE dos juízes e I-CVI apresentaram-se maiores que 0,9. Sobre os scores relativos à pertinência práticas, para 11 juízes o S-CVI/AVE foi 1; para 6 juízes 0,9 e para três 0,8. Os índices I-CVI, SCI/AVE e o S-CVI apresentaram-se maiores que 0,96 mostrando que a maioria dos juízes julgou os 29 itens dessa etapa como muito e muitíssimo recomendado.
Quanto à relevância teórica, avaliou-se que para 10 juízes o S-CVI/AVE foi de 1; para 6 foi 0,9; 0,8 para três juízes; e para um o S-CVI/AVE foi 0,75. Os índices I-CVI, SCI/AVE e o S-CVI foram maiores que 0,95 para os 29 itens avaliados. O IVC global, calculado com base na média de todos os itens, obteve pontuação de 0,95, conforme a Tabela 1.
Quanto à validade da aparência medida pelo instrumento SAM, observou-se que 90% das respostas enquadraram-se como superior, evidenciando que neste ponto a cartilha possui altos padrões de aparência, conforme a Tabela 2.
Aplicou-se o Índice de Correlação Intraclasse (ICC), para clareza de linguagem, pertinência prática e relevância teórica. Infere para a presente cartilha ICC superior a 0,937 (<0,001), julgando o material de linguagem fácil e adequada para o público adolescente.
Embora a cartilha tivesse uma elevada avaliação entre os juízes, foram acatadas as sugestões como forma de melhorar o conteúdo e aparência da tecnologia, garantir a melhor qualidade do material educativo. Das principais modificações realizadas, podem ser citadas: alteração no título, com o intuito de utilizar elementos textuais que possibilitem uma maior compreensão para o leitor e na imagem; acrescentar o item espiritualidade e alteração do elemento “Atividade física” para “Estilo de vida’’, por compreender que esse aspecto engloba de forma mais amplo outros elementos tais como, sono, atividade física, alimentação, relacionamento e gerenciamento do estresse; reescrita do texto e substituições de termos considerados técnicos, para melhor compreensão do texto.
Na validação pelo público-alvo, participaram desta etapa 53 adolescentes. A idade dos participantes variou de 12 a 16 anos, em sua maioria do gênero feminino 64,1%. No que se refere à escolaridade, 37,7% estavam cursando o 7º ano, 32,0% o 8º ano e 30,1% o 9º do ensino fundamental II.
Verifica-se, nível de concordância nas respostas positivas dos adolescentes para cada um dos quatro aspectos avaliativos, quanto a organização, clareza no texto, ilustrações adequadas e motivação quanto a agir ou pensar sobre práticas sustentáveis (94,3%), revelando a adequação da cartilha ao público-alvo, conforme Tabela 3.
Acrescenta-se, que nenhuma sugestão foi realizada pelos adolescentes e que ao final do questionário indagou-se a opinião dos adolescentes sobre o material construído e todos fizeram comentários favoráveis à tecnologia, ressaltando a linguagem acessível e imagens compreensíveis:
Educativo, ensina como cuidar do meio ambiente e de nós mesmos. Ou seja, bem legal (A17).
Dá pra qualquer pessoa entender o que tem escrito em cada página (A35).
Achei bem legal e interessante, pois me fez repensar sobre as minhas atitudes (A28).
Discussão
A utilização de tecnologia educativas em saúde para o público adolescente, permite a unificação de orientações e facilita o processo ensino-aprendizagem, de modo a entenderem melhor quanto ao seu processo saúde-doença2727 Albuquerque AFLL, Pinheiro AKB, Linhares FMP, Guedes TG. Technology for self-care for ostomized women's sexual and reproductive health. Rev Bras Enferm 2016; 69(6):1099-1106.,2828 Ribeiro SA, Moreira AD, Reis JS, Soares AN, Géa-Horta T. Elaboration and validation of a booklet on diabetes for Community Health Workers. Rev Bras Enferm 2020; 73(4):e20180899..
Este estudo desenvolveu e validou uma cartilha digital para adolescentes, como uma ferramenta propulsora de práticas de educação em saúde, de modo a orientar a população adolescente sobre a relação saúde e meio ambiente. O uso de materiais educativos impressos ou digitais apresentam-se como dispositivos que contribuem no processo de comunicação em práticas de educação em saúde, de modo, a aumentar a adesão e compreensão do assunto abordado por parte do público-alvo a quem são destinados2929 Gigante VCG, Oliveira RC, Ferreira DS, Teixeira E, Monteiro WF, Martins ALO, Nascimento MHM. Construção e validação de tecnologia educacional sobre consumo de álcool entre universitários. Cogitare Enferm 2021; 26:e71208..
Estudo que construiu e validou uma cartilha educativa para a prevenção de síndrome metabólica entre adolescentes, aponta a importância de envolver o público-alvo no processo de elaboração da tecnologia na identificação de conteúdo. Refletindo sobre as suas demandas, visibilizando a elaboração de uma tecnologia que desperte o interesse dos adolescentes no assunto3030 Moura IH, Silva AFRD, Rocha ADESH, Lima LHO, Moreira TMM, Silva ARVD. Construction and validation of educational materials for the prevention of metabolic syndrome in adolescents. Rev Lat-Am Enferm 2017; 25:e2934..
Os resultados da revisão integrativa e das entrevistas semiestruturadas com os adolescentes foram organizados em linearidade para a elaboração textual e ilustração da cartilha sobre práticas sustentáveis. Desta forma, a partir da seleção do conteúdo, iniciou-se a elaboração textual. Buscou-se aliar conteúdos com informações ricas, objetividade, linguagem simples e cotidiana ao público adolescente, uma vez que este tipo de linguagem permite uma maior compreensão da temática abordada1717 Doak CC, Doak LG, Root JH. Teaching Patients with Low Literacy Skills. 2ª ed. Philadelphia: J. B. Lippincott Company; 1996..
Destaca-se a necessidade que durante o processo de elaboração de um material educativo, busque-se conhecer o contexto da população à qual se destina, permitindo uma abordagem participativa, comunicativa e aproximação com o contexto de saúde do público-alvo2727 Albuquerque AFLL, Pinheiro AKB, Linhares FMP, Guedes TG. Technology for self-care for ostomized women's sexual and reproductive health. Rev Bras Enferm 2016; 69(6):1099-1106.. A participação dos adolescentes permitiu participação ativa no processo de produção do material, o que possibilitou a identificação dos conteúdos a estarem presentes na cartilha.
A escuta aos adolescentes evidenciou a necessidade de a tecnologia abordar temáticas que facilitassem a identificação de elementos quanto às questões que envolvem a saúde ambiental por parte do público adolescente, permitindo refletir sobre as dimensões que envolvem os conceitos de saúde e meio ambiente. Considerando que a relação saúde e meio ambiente articula-se com temas que não se restringe apenas a poluição, desmatamento e mudanças climáticas, mas que possa identificar os fatores responsáveis pelo processo saúde-doença3131 Pereira CV, Alves SAA, Sobreira CLS, Lopes MSV. Educação ambiental e arboviroses no contexto escolar. Rev Enferm UFPE online 2021; 15:e244683..
Buscou-se ilustrações coloridas com o objetivo de chamar a atenção dos adolescentes e facilitar a aprendizagem. Assim, as ilustrações configuram-se importantes, pois permite maior legibilidade e compreensão de um texto. Tendo como função atrair o leitor, despertar e manter seu interesse pela leitura, complementar e reforçar a importação da mensagem. Ademais, a ilustração deve permitir que as pessoas se identificassem com a mesma3232 Moreira MF, Nóbrega MML, Silva MIT. Comunicação escrita: contribuição para a elaboração de material educativo em saúde. Rev Bras Enferm 2003; 56(2):184-188..
A escolha por ilustrações que se aproximem a sua realidade permite ao adolescente se imaginar vivenciando os eventos relatados de acordo com as suas necessidades3030 Moura IH, Silva AFRD, Rocha ADESH, Lima LHO, Moreira TMM, Silva ARVD. Construction and validation of educational materials for the prevention of metabolic syndrome in adolescents. Rev Lat-Am Enferm 2017; 25:e2934.. Nesse contexto, a utilização por personagens que retratassem a inclusão social atende ao que discorre na Constituição Brasileira que garante a todos o direito de inclusão, mediante a igualdade e respeito à dignidade da pessoa humana e de sua função social3333 Araújo LAD, Maia MA. Cidade, dever constitucional de inclusão social e a acessibilidade. Rev Direito Cidade 2016; 8(1):225-244..
Foi necessário que o material elaborado tivesse uma formatação com ilustrações que despertassem no adolescente a adoção por práticas sustentáveis, tornando-o mais apropriado ao público, e com um conteúdo claro, compreensível e objetivo, com palavras simples e familiares ao seu cotidiano1313 Moura M, Leal J, Leal J, Correia V, Leal J, Silva M, Santos L, Oliveira A. Cartilha sobre prevenção do uso de drogas para adolescentes. Rev Enferm UFPE online 2019; 13(4):1106-1114..
Na validade do IVC, as respostas dos juízes especialistas da saúde foram concordantes. A partir das respostas a cartilha educativa “Descomplicando a saúde ambiental”, apresentou validade de conteúdo com IVC global de 0,95, sugerindo que a cartilha é representativa quanto ao conteúdo a ser abordado sobre o desenvolvimento de práticas sustentáveis.
Outros estudos metodológicos também validaram seus materiais com índices superiores: a cartilha educativa para cuidadores de crianças com gastrotomia, obteve IVC de 0.933434 Rodrigues LN, Santos AS, Gomes PPS, Silva WCP, Chaves EM. Construction and validation of an educational booklet on care for children with gastrostomy. Rev Bras Enferm 2020; 73(3):e20190108.; já a cartilha para promoção do vínculo entre mães e recém-nascidos em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal obteve IVC 0,92 dos especialistas3535 Santos AS, Rodrigues LN, Andrade KC, Santos MSN, Viana MCA, Chaves EMC. Construction and validation of an educational technology for mother-child bond in the neonatal intensive care unit. Rev Bras Enferm 2020; 73(4):e20190083..
Em relação ao SAM, observou que a cartilha foi superior ao escore estabelecido, o que demonstra concordância das respostas dos especialistas que a avaliaram, a classificação foi semelhante a outros estudos que construíram e validaram cartilhas3636 Dias IKR, Lopes MSV, Melo ESJ, Maia ER, Martins RMG. Construção e validação de uma cartilha para autoeficácia da prevenção do Zika vírus. Texto Contexto Enferm 2021; 30:e20200182.,3737 Lins ML, Macedo JQ, Evangelista CB, Gomes GL. Home self-care after gynecological surgeries: elaboration and validation of educational material. Acta Paul Enferm 2021; 34:eAPE03154.. O Índice de Correlação Intraclasse, considera que a cartilha apresentou percentual satisfatório quanto a linguagem, pertinência prática e relevância teórica entre os juízes.
As observações e sugestões realizadas pelos juízes contribuíram para reformular a escrita do texto, rever ilustrações. Tal efetivação foi essencial para melhorar a qualidade e confiabilidade nas informações do material educativo para sua versão final3434 Rodrigues LN, Santos AS, Gomes PPS, Silva WCP, Chaves EM. Construction and validation of an educational booklet on care for children with gastrostomy. Rev Bras Enferm 2020; 73(3):e20190108.,3838 Lima MA, Pagliuca LM, Nascimento JC, Caetano JA. Virtual guide on ocular self-examination to support the self-care practice for people with HIV/AIDS. Rev Esc Enferm USP 2014; 48(2):285-291..
A validação do material elaborado com os adolescentes, apontou que seu conteúdo fosse desenvolvido de acordo com a sua realidade, observando uma avaliação positiva quanto ao material. Destaque, para a importância do processo de avaliação pelo público-alvo como forma de identificar se o material retrata a realidade das pessoas a quem se destina, bem como sensibilizá-las quanto a adoção de novos comportamentos3939 Alcântara CM, Silva ANS, Pinheiro PNC, Queiroz MVO. Digital technologies for promotion of healthy eating habits in teenagers. Rev Bras Enferm 2019; 72(2):513-520..
Acredita-se, que o uso de tecnologias digitais pode permitir aos adolescentes uma maior possibilidade de interação, com acesso a recursos de interesses variados sobre práticas promotoras de saúde. Nesse contexto, a utilização de tecnologias digitais proporciona ao adolescente acesso à educação em saúde de forma divertida, lúdica e com acesso universal, promovendo uma aprendizagem significativa quanto à adoção de mudanças de hábitos saudáveis4040 Rosa BVC, Girardon-Perlini NMO, Guerrero Gamboa NS, Nietsche EA, Beuter M, Dalmolin A. Desenvolvimento e validação de tecnologia educativa audiovisual para famílias e pessoas com colostomia por câncer. Texto Contexto Enferm 2019; 28:e20180053..
Infere-se que a cartilha elaborada pode ser uma ferramenta para a produção de conhecimento e discussões sobre a temática saúde e meio ambiente, possibilitando ao adolescente aproximação e apropriação com as informações contidas na tecnologia, e maior protagonismo quanto a tomadas de decisões do seu processo saúde-doença.
Como limitação do estudo, apontam-se o tamanho amostral durante a realização das entrevistas no processo de levantamento dos dados para elaboração da cartilha, decorrente da pandemia da COVID-19 e a escassez de estudos sobre a temática saúde ambiental, construção e validação de tecnologias para adolescente sobre práticas promotoras de saúde, dificultando a comparação e discussão dos resultados. Assim, a divulgação dos resultados do estudo poderá reduzir essa lacuna.
Conclusão
A cartilha elaborada mostrou-se um instrumento válido e confiável em termos de aparência e conteúdo para ser utilizada na promoção da saúde de adolescentes quanto ao desenvolvimento de práticas sustentáveis. Assim, a tecnologia cumpriu a finalidade, que é ser uma ferramenta para educação em saúde.
Acredita-se, que a utilização da cartilha elaborada possa permitir o desenvolvimento de práticas voltadas para a promoção de saúde do adolescente, de modo a despertar o protagonismo e sensibilizá-los quanto ao cuidado com o meio ambiente e saúde.
Destaca-se que ao utilizar uma ferramenta desenvolvida com a participação do público-alvo, pode elevar a conscientização deste público para um melhor cuidado de sua saúde, pois amplia sua participação com vistas a contribuir com uma vida saudável, promovendo saúde e bem-estar para todas as pessoas por meio de práticas sustentáveis.
Agradecimentos
À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pela concessão de bolsa a autora SAA Alves.
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Datas de Publicação
- Publicação nesta coleção
31 Jul 2023 - Data do Fascículo
Ago 2023
Histórico
- Recebido
15 Jun 2022 - Aceito
17 Abr 2023 - Publicado
15 Maio 2023