Associação entre autopercepção auditiva e comprometimento cognitivo em idosos brasileiros: estudo populacional

Alessandra Bayer de Oliveira Paula Anderle Bárbara Niegia Garcia de Goulart Sobre os autores

Resumo

Saúde cognitiva é um fator importante para qualidade de vida e a autonomia dos idosos, sendo influenciada pela capacidade auditiva. O objetivo deste artigo é analisar a associação entre autopercepção auditiva e comprometimento cognitivo em idosos brasileiros. Trata-se de um estudo transversal de base populacional com 4.977 idosos que participaram do ELSI Brasil 2015. Comprometimento cognitivo (desfecho, categorizado como sim e não) e a variável de interesse (autopercepção auditiva, categorizada como boa, regular e ruim), ambos obtidos de forma autorreferida. Para a cognição foram considerados os domínios orientação temporal, memória (curto e longo prazo) e linguagem (recente e tardia). Foi utilizada a regressão de Poisson com estimativa de variância robusta para aferir a associação nas análises bruta e ajustada. Variáveis sociodemográficas, de estilo de vida e de histórico clínico foram utilizadas para ajuste das análises. Dos participantes, 31,8% relataram audição regular ou ruim e 42% apresentaram comprometimento cognitivo. Na análise ajustada, idosos com audição ruim apresentaram maior força de associação com comprometimento cognitivo, em comparação com seus pares com audição boa. Em idosos brasileiros, quanto pior a autopercepção auditiva, maior a associação com o comprometimento cognitivo.

Palavras-chave:
Transtornos da percepção auditiva; Disfunção cognitiva; Idoso

Introdução

A cognição é o processo mental de aquisição, compreensão e armazenamento de conhecimento através dos sentidos e experiências do indivíduo. As funções cognitivas são habilidades mentais que permitem a correta interpretação e gerenciamento de informação ambiental. Essas habilidades são essenciais para executar das tarefas mais simples da vida cotidiana até as mais complexas11 Forte G, Favieri F, Casagrande M. Heart rate variability and cognitive function: a systematic review. Front Neurosci 2019; 13:710.,22 Murman DL. The impact of age on cognition. Semin Hear 2015; 36(3):111-121..

O comprometimento cognitivo pode ser definido quando um indivíduo tem dificuldades para lembrar ou memorizar, aprender novas habilidades, concentrar-se ou tomar decisões que afetam sua vida cotidiana, podendo variar de comprometimento leve à demência33 Lv X, Li W, Ma Y, Chen H, Zeng Y, Yu X, Hofman A, Wang H. Cognitive decline and mortality among community-dwelling Chinese older people. BMC Med 2019; 17(1):63.. Em todas as situações, quando há prejuízo cognitivo, pode haver grande impacto na saúde geral e no bem-estar do indivíduo44 Centers for Disease Control and Prevention (CDC). Subjective Cognitive Decline - A Public Health Issue [Internet]. 2019. [cited 2019 jul 30]. Available from: https://www.cdc.gov/aging/data/subjective-cognitive-decline-brief.html
https://www.cdc.gov/aging/data/subjectiv...
. Estudos epidemiológicos mostram que idosos com comprometimento cognitivo apresentam maior risco de desenvolver doença de Alzheimer (DA)55 Charchat-Fichman H, Caramelli P, Sameshima K, Nitrini R. Declínio da capacidade cognitiva durante o envelhecimento. Rev Bras Psiquiatr 2005; 27(1):79-82.

6 Davis M, O Connell T, Johnson S, Cline S, Merikle E, Martenyi F, Simpson K. Estimating Alzheimer's disease progression rates from normal cognition through mild cognitive impairment and stages of dementia. Curr Alzheimer Res 2018; 15(8):777-788.
-77 Kirova AM, Bays RB, Lagalwar S. Working memory and executive function decline across normal aging, mild cognitive impairment, and Alzheimer's disease. BioMed Res Int 2015; 2015:748212..

A carga global de doenças identificou que, entre 1990 e 2016, o número de casos de demência aumentou 117%, passando de 20,2 milhões para 43,8 milhões88 Launer LJ. Statistics on the burden of dementia: need for stronger data. Lancet Neurol 2019; 18(1):25-27.. No Brasil, cerca de 1,2 milhão de pessoas vivem com alguma forma de demência e 100 mil novos casos são diagnosticados por ano99 Ministérios da Saúde (MS). Conhecer a demência, conhecer o Alzheimer: o poder do conhecimento - setembro, Mês Mundial do Alzheimer [Internet]. 2021. [acessado 2022 dez 19]. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/conhecer-a-demencia-conhecer-o-alzheimer-o-poder-do-conhecimento-setembro-mes-mundial-do-alzheimer/
https://bvsms.saude.gov.br/conhecer-a-de...
. Afirma-se que isso ocorre devido a um intenso e rápido processo de envelhecimento em decorrência da transição demográfica1010 Centro de Estudos Estratégicos da Fiocruz (CEE). O envelhecimento populacional compromete o crescimento econômico no Brasil? [Internet]. 2020. [acessado 2022 dez 19]. Disponível em: https://cee.fiocruz.br/?q=envelhecimento-populacional-compromete-o-crescimento-economico
https://cee.fiocruz.br/?q=envelhecimento...
. Atualmente, há mais de 29 milhões de brasileiros acima dos 60 anos1111 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). População [Internet]. 2020. [acessado 2021 out 20]. Disponível em: https://www.ibge.gov.br/estatisticas/sociais/populacao.html
https://www.ibge.gov.br/estatisticas/soc...
.

Nesse contexto, um fato importante é que a cognição e a audição estão intimamente relacionadas e influenciam uma à outra. As funções neurocognitivas influenciam na compreensão da fala, especialmente em situações acústicas desafiadoras1212 Völter C, Götze L, Dazert S, Wirth R, Thomas JP. Impact of hearing loss on geriatric assessment. Clin Interv Aging 2020; 15:2453-2467.. De acordo com os resultados do Global Burden of Disease - GBD 2019, a perda auditiva (PA) se tornou a terceira principal causa de deficiência relacionada ao envelhecimento1313 GBD 2016 Disease and Injury Incidence and Prevalence Collaborators. Global, regional, and national incidence, prevalence, and years lived with disability for 328 diseases and injuries for 195 countries, 1990-2016: a systematic analysis for the Global Burden of Disease Study 2016. Lancet 2017; 390(10100):1211-1259.. A presbiacusia, PA relacionada à idade, é a deficiência sensorial mais comum observada em idosos1414 Caruso MFB, Mármora CHC, Delgado FEF. Prevalência de perda auditiva autorrelatada em idosos e fatores associados em Juiz de Fora. Rev Hosp Univ Pedro Ernesto 2019; 17(2):35-42.. As causas dessa PA incluem alterações fisiológicas e degenerativas em estruturas relacionadas à audição e modificações nas áreas corticais cognitivas1515 Davis A, McMahon CM, Pichora-Fuller KM, Russ S, Lin F, Olusanya BO, Chadha S, Tremblay KL. Aging and hearing health: the life-course approach. Gerontologist 2016; 56(Suppl. 2):S256-S267.. O início dos sintomas é gradual e sutil, uma vez que afeta primeiramente a detecção de sons agudos, interferindo na compreensão da fala em ambientes ruidosos, mas não em ambientes silenciosos. Dessa forma, o reconhecimento desse tipo de PA é demorado, fazendo com que a busca por tratamento para as dificuldades auditivas seja tardia1616 Glick HA, Sharma A. Cortical neuroplasticity and cognitive function in early-stage, mild-moderate hearing loss: evidence of neurocognitive benefit from hearing aid use. Front Neurosci 2020; 14:93..

Assim, o autorrelato de dificuldade auditiva deve ser levado em consideração e investigado o mais breve possível, visando evitar maiores prejuízos a longo prazo. Nesse campo, estudos epidemiológicos de base populacional têm utilizado medidas autorreferidas, uma vez que são ferramentas válidas para triagens para grandes populações. Estudos apontam que a avaliação autorreferida da saúde auditiva, mesmo que não substituindo a medida audiométrica objetiva, é útil para coleta de dados, fornecendo informações importantes sobre a PA em idosos1717 Yang TH, Chu YC, Chen YF, Chen MY, Cheng YF, Wu CS, Huang H-M. Diagnostic validity of self-reported hearing loss in elderly Taiwanese individuals: diagnostic performance of a hearing self-assessment questionnaire on audiometry. Int J Environ Res Public Health 2021; 18(24):13215.

18 Tsimpida D, Kontopantelis E, Ashcroft D, Panagioti M. Comparison of self-reported measures of hearing with an objective audiometric measure in adults in the English Longitudinal Study of Ageing. JAMA Netw Open 2020; 3(8):e2015009.
-1919 Amieva H, Ouvrard C, Giulioli C, Meillon C, Rullier L, Dartigues JF. Self-reported hearing loss, hearing aids, and cognitive decline in elderly adults: a 25-year study. J Am Geriatr Soc 2015; 63(10):2099-2104..

É importante ressaltar revisão sistemática e de meta-análise que teve como objetivo examinar e estimar a associação entre função cognitiva, comprometimento cognitivo e demência. Nessa meta-análise, as associações foram pequenas, porém significativas, no comprometimento cognitivo e na demência. Esses resultados destacam a importância de pesquisas adicionais e ensaios clínicos randomizados, de examinar as implicações do tratamento para a cognição e explorar possíveis mecanismos causais subjacentes a essa relação2020 Loughrey DG, Kelly ME, Kelley GA, Brennan S, Lawlor BA. Association of age-related hearing loss with cognitive function, cognitive impairment, and dementia: a systematic review and meta-analysis. JAMA Otolaryngol Head Neck Surg 2018; 144(2):115-126..

A avaliação da acuidade auditiva é amplamente estudada, no entanto, não foram encontradas pesquisas que tenham investigado a associação da autopercepção da audição com as funções cognitivas. A autopercepção auditiva é uma boa ferramenta de triagem para PA, possibilitando a identificação de pessoas que necessitam de avaliações específicas e objetivas para o tratamento das alterações da audição2121 Fiamoncini JD, Silva AO, Sousa TR de, Satler CE, Silva IMC, Cera ML. Associação entre o desempenho linguístico-cognitivo e a autopercepção auditiva de idosos. Audiol Commun Res 2022; 27:e2597..

Uma vez que há uma lacuna de estudos que investiguem a associação entre autopercepção auditiva e comprometimento cognitivo, e levando-se em consideração que a PA traz impactos importantes na participação social do indivíduo, podendo gerar prejuízos nas funções cognitivas33 Lv X, Li W, Ma Y, Chen H, Zeng Y, Yu X, Hofman A, Wang H. Cognitive decline and mortality among community-dwelling Chinese older people. BMC Med 2019; 17(1):63., este estudo tem por objetivo analisar a associação entre a autopercepção auditiva e o comprometimento cognitivo em uma amostra da população idosa brasileira.

Método

Delineamento do estudo

Estudo transversal realizado a partir da base de dados do Estudo Longitudinal de Saúde dos Idosos Brasileiros nos anos de 2015-2016 (ELSI-Brasil). O ELSI-Brasil é uma pesquisa de base domiciliar conduzida em amostra nacional representativa da população brasileira com 50 anos ou mais. O estudo cumpre as resoluções do Conselho Nacional de Saúde, como a 196/96 e suas complementares, entre elas as 292/99, 340/2004, 346/2005, 347/2005 e 466/2012. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética e Pesquisa do Centro de Pesquisas René Rachou da Fundação Oswaldo Cruz e o processo está cadastrado na Plataforma Brasil (Protocolo nº 886.754)2222 ELSI-BRASIL. Estudo Longitudinal da Saúde dos Idosos Brasileiros [Internet]. 2015. [acessado 2020 mar 14]. Disponível em: http://elsi.cpqrr.fiocruz.br/
http://elsi.cpqrr.fiocruz.br...
.

Participantes e critérios de elegibilidade

Participaram do ELSI-Brasil 9.400 pessoas, respondentes do questionário individual, localizadas em 70 municípios de diferentes regiões do Brasil. Como critério de inclusão para o atual estudo, foram considerados indivíduos a partir de 60 anos de idade que responderam à questão “Como o senhor avalia a sua audição - mesmo usando aparelho auditivo?”2222 ELSI-BRASIL. Estudo Longitudinal da Saúde dos Idosos Brasileiros [Internet]. 2015. [acessado 2020 mar 14]. Disponível em: http://elsi.cpqrr.fiocruz.br/
http://elsi.cpqrr.fiocruz.br...
, sendo excluídos participantes com dados incompletos. Dessa forma, a amostra do estudo foi composta por 4.977 participantes.

Comprometimento cognitivo

O comprometimento cognitivo, desfecho deste estudo, foi obtido a partir da base de dados do ELSI-Brasil, que utiliza uma bateria de testes aplicados em estudos longitudinais sobre a saúde do idoso conduzidos em diferentes países, uma iniciativa conhecida como Health and Retirement Study (HRS)2323 Aliberti MJR, Szlejf C, Lima-Costa MF, de Andrade FB, Alexandre TS, Ferri CP, Suemoto CK. Frailty modifies the association of hypertension with cognition in older adults: evidence from the ELSI-Brazil. J Gerontol A Biol Sci Med Sci 2021; 76(6):1134-1143..

O HRS é uma pesquisa longitudinal nacionalmente representativa da população norte americana, com mais de 37 mil indivíduos com mais de 50 anos. A pesquisa, que vem sendo realizada a cada dois anos desde 1992, foi criada para fornecer um recurso nacional para dados sobre as mudanças nas circunstâncias econômicas e de saúde associadas ao envelhecimento, tanto em nível individual quanto populacional. Sua abordagem multidisciplinar está focada em quatro tópicos amplos: renda e riqueza; saúde, cognição e uso de serviços de saúde; trabalho e aposentadoria; e conexões familiares2424 Sonnega A, Faul JD, Ofstedal MB, Langa KM, Phillips JWR, Weir DR. Cohort profile: the Health and Retirement Study (HRS). Int J Epidemiol 2014; 43(2):576-585..

No HRS, a seção de cognição é categorizada em metamemória autoavaliada, memória e processamento mental (recordação imediata e tardia, contagem regressiva cronometrada, subtração seriada de 7, nomeação de data/objeto/presidente/vice-presidente, vocabulário, numeração, fluência de recuperação, séries numéricas e raciocínio verbal) e sintomas depressivos, havendo classificação proxy da memória global (presente e passado) e da mudança de memória do entrevistado2424 Sonnega A, Faul JD, Ofstedal MB, Langa KM, Phillips JWR, Weir DR. Cohort profile: the Health and Retirement Study (HRS). Int J Epidemiol 2014; 43(2):576-585..

Para a variável das funções cognitivas, foram levados em consideração três domínios presentes no questionário do ELSI-Brasil2222 ELSI-BRASIL. Estudo Longitudinal da Saúde dos Idosos Brasileiros [Internet]. 2015. [acessado 2020 mar 14]. Disponível em: http://elsi.cpqrr.fiocruz.br/
http://elsi.cpqrr.fiocruz.br...
: orientação temporal, memória (curto prazo e longo prazo) e linguagem.

Orientação temporal: é a capacidade do indivíduo de se orientar no tempo e processar informações relativas a hora, dia, mês, ano e estações do ano2525 Breska A, Ivry RB. The human cerebellum is essential for modulating perceptual sensitivity based on temporal expectations. eLife 2021; 10:e66743.. Assim, os participantes do ELSI-Brasil foram questionados sobre dia, mês, ano e dia da semana, sendo levado em consideração se as respostas foram corretas ou incorretas (questões de código q6, q7, q8 e q9 do questionário individual do ELSI-Brasil)2222 ELSI-BRASIL. Estudo Longitudinal da Saúde dos Idosos Brasileiros [Internet]. 2015. [acessado 2020 mar 14]. Disponível em: http://elsi.cpqrr.fiocruz.br/
http://elsi.cpqrr.fiocruz.br...
.

Memória: a memória de curto prazo é a capacidade de receber e armazenar informações recém adquiridas, dentro de um curto período de tempo2626 Norris D. Short-term memory and long-term memory are still different. Psychol Bull 2017; 143(9):992-1009.. No ELSI-Brasil, a memória de curto prazo foi medida a partir da repetição de dez palavras imediatamente após a leitura (questão de código q13 do questionário individual)2222 ELSI-BRASIL. Estudo Longitudinal da Saúde dos Idosos Brasileiros [Internet]. 2015. [acessado 2020 mar 14]. Disponível em: http://elsi.cpqrr.fiocruz.br/
http://elsi.cpqrr.fiocruz.br...
. A memória de longo prazo é a capacidade de manter informações fundamentais, seja por importância ou repetição2626 Norris D. Short-term memory and long-term memory are still different. Psychol Bull 2017; 143(9):992-1009.. No ESLI-Brasil, ela foi medida a partir da repetição de dez palavras cinco minutos após a leitura. As pontuações foram computadas separadamente de 0 a 10 para o número de palavras evocadas imediatas e tardias (questão de código q17 do questionário individual)2222 ELSI-BRASIL. Estudo Longitudinal da Saúde dos Idosos Brasileiros [Internet]. 2015. [acessado 2020 mar 14]. Disponível em: http://elsi.cpqrr.fiocruz.br/
http://elsi.cpqrr.fiocruz.br...
.

Linguagem: a linguagem compreende um sistema de signos utilizados para estabelecer uma comunicação2727 Sá APS. Linguagem científica: características e importância [Internet]. 2017. [acessado 2021 nov 15]. Disponível em: https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-166/linguagem-cientifica-caracteristicas-e-importancia/amp/
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/re...
. Para esta variável, os indivíduos foram solicitados a nomear dois objetos por meio de suas características (tesoura e banana) e nomear os presidente e vice-presidente do Brasil no momento da aplicação do questionário. As respostas foram computadas como: correta, incorreta e não sabe (questões de código q18, q19, q20 e q21 do questionário individual)2222 ELSI-BRASIL. Estudo Longitudinal da Saúde dos Idosos Brasileiros [Internet]. 2015. [acessado 2020 mar 14]. Disponível em: http://elsi.cpqrr.fiocruz.br/
http://elsi.cpqrr.fiocruz.br...
.

Após a verificação dos testes utilizados, as análises seguiram com a obtenção dos escores z para cada um dos domínios. Para análise da memória, foi considerado o escore z para ambos os testes (memória episódica e de longo prazo). Para os domínios de orientação temporal e de linguagem, foi considerado que cada resposta correta equivale a 1 ponto, gerando um total de 4 pontos. A partir dos valores obtidos, calculou-se o escore z de cada teste, sendo utilizadas medidas em formatos padronizados: “valor observado - média/média”. Finalmente, foi gerado um escore z global, abrangendo os três domínios da função cognitiva. Para essa medida, foi utilizado a média dos três parâmetros (orientação temporal, memória e linguagem). Este foi posteriormente padronizado conforme a média e desvio padrão (DP) da amostra estudada. Assim, o comprometimento cognitivo foi definido para os participantes que apresentaram escore z global igual ou inferior a -1DP2323 Aliberti MJR, Szlejf C, Lima-Costa MF, de Andrade FB, Alexandre TS, Ferri CP, Suemoto CK. Frailty modifies the association of hypertension with cognition in older adults: evidence from the ELSI-Brazil. J Gerontol A Biol Sci Med Sci 2021; 76(6):1134-1143..

Variável de exposição

A variável de interesse, autopercepção auditiva, foi obtida de modo autorreferido, a partir das respostas à pergunta: “Como o senhor avalia a sua audição - mesmo usando aparelho auditivo?” (questão de número 16 do questionário individual). Para essa questão, o questionário original oferece as seguintes opções de resposta: muito boa ou excelente, boa, regular, ruim e muito ruim. Para este estudo, as respostas foram categorizadas como: boa (incluindo as repostas muito boa ou excelente e boa), regular e ruim (incluindo as respostas ruim e muito ruim)2222 ELSI-BRASIL. Estudo Longitudinal da Saúde dos Idosos Brasileiros [Internet]. 2015. [acessado 2020 mar 14]. Disponível em: http://elsi.cpqrr.fiocruz.br/
http://elsi.cpqrr.fiocruz.br...
.

Variáveis de ajuste

Para ajuste dos modelos utilizados, foram consideradas variáveis sociodemográficas, como: sexo (feminino e masculino), idade (categorizada em 60-69 anos, 70-79 anos, 80 ≥)2828 Baraldi GS, Almeida LC, Borges ACC. Evolução da perda auditiva no decorrer do envelhecimento. Rev Bras Otorrinolaringol 2007; 73(1):64-70., escolaridade (nunca estudou, ensino fundamental, ensino médio, graduação ou mais)2929 Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). Os níveis de escolaridade no setor público brasileiro [Internet]. 2017. [acessado 2021 nov 15]. Disponível em: https://www.ipea.gov.br/atlasestado/arquivos/rmd/4874-conjunto4v10.html
https://www.ipea.gov.br/atlasestado/arqu...
, comprometimento cognitivo (sim e não); variáveis de estilo de vida, como: atividades físicas (prática de exercícios físicos categorizada como: nenhuma, eventualmente, regularmente, diariamente)3030 Organização Mundial de Saúde (OMS). Atividade física [Internet]. 2020. [acessado 2022 nov 16]. Disponível em: https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/physical-activity
https://www.who.int/news-room/fact-sheet...
, consumo de álcool (sim e não)3131 Organização Mundial de Saúde (OMS). I Levantamento nacional sobre os padrões de consumo de álcool na população brasileira [Internet]. 2004. [acessado 2021 nov 17]. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/relatorio_padroes_consumo_alcool.pdf
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicaco...
, tabagismo (sim e não)3232 Campos MW, Serebrisky D, Castaldelli-Maia JM. Smoking and cognition. Curr Drug Abuse Rev 2016; 9(2):76-79.; uso de aparelho de amplificação sonora individual (AASI) (autorreferido como não e sim); variáveis de histórico clínico, como: depressão, diabetes, hipertensão, insuficiência cardíaca e acidente vascular cerebral (AVC). Estas foram avaliadas por meio de autorrelato ao questionar os participantes se eles têm o diagnóstico, considerando respostas sim e não2222 ELSI-BRASIL. Estudo Longitudinal da Saúde dos Idosos Brasileiros [Internet]. 2015. [acessado 2020 mar 14]. Disponível em: http://elsi.cpqrr.fiocruz.br/
http://elsi.cpqrr.fiocruz.br...
.

Análise dos dados

Os dados foram apresentados por meio de frequências absolutas e relativas, considerando os pesos amostrais complexos. Dessa forma, as frequências relativas e as demais análises foram ponderadas, levando em consideração as características da amostra, não respostas e calibração. Modelos de regressão de Poisson com estimativa de variância robusta foram ajustados independentemente para cada fator de exposição.

Considerando o comprometimento cognitivo como categoria de referência, foram estimadas razões de prevalência brutas e ajustadas para variáveis sociodemográficas (Modelo 1: sexo, idade, escolaridade), histórico clínico (Modelo 2: depressão, diabetes, hipertensão, insuficiência cardíaca e AVC) e estilo de vida (Modelo 3: atividades físicas, consumo de álcool, tabagismo e uso de AASI). As variáveis de ajuste foram elencadas com base na literatura e passaram por análise de correlação entre si por meio de teste qui-quadrado. Por fim, foi utilizado o Modelo Final, com ajuste para todas as variáveis independentes. Os resultados foram apresentados com as razões de prevalência (RP) e seus respectivos intervalos de confiança de 95% (IC95%). Nas Tabelas 1 e 2 foram consideradas as proporções ponderadas, que consistem na multiplicação de cada valor pelo seu respectivo peso e dividido pela soma dos pesos. O valor de p = 0.05 foi considerado para indicar significância estatística. As análises foram realizadas usando os pacotes de pesquisa e sanduíche[?] no software R2323 Aliberti MJR, Szlejf C, Lima-Costa MF, de Andrade FB, Alexandre TS, Ferri CP, Suemoto CK. Frailty modifies the association of hypertension with cognition in older adults: evidence from the ELSI-Brazil. J Gerontol A Biol Sci Med Sci 2021; 76(6):1134-1143., que incorporou ajustes para o desenho de amostra complexo do estudo.

Tabela 1
Características sociodemográficas da amostra estudada segundo autopercepção da audição - ELSI-Brasil, 2015.
Tabela 2
Estilo de vida e histórico clínico de saúde da amostra estudada segundo autopercepção da audição - ELSI-Brasil 2015.

Resultados

A amostra do estudo foi efetivamente composta por 4.977 idosos da linha de base do estudo de coorte ELSI-Brasil. Desses, 58% não apresentaram comprometimento cognitivo, 68,2% avaliaram a audição como boa, 26,6% regular e 5,2% ruim. Em relação às características sociodemográficas, 50,1% eram do sexo feminino, 62,5% estavam na faixa de 60 a 69 anos e 61,9% dos participantes referiram ensino fundamental completo (Tabela 1).

Acerca do estilo de vida, 42,8% da amostra referiu não praticar nenhuma atividade física, 85,2% relatou não fazer consumo de tabaco e 71,3% não fazia consumo de álcool. Em relação ao histórico clínico, a hipertensão foi a doença crônica mais prevalente, acometendo 61,6% da amostra. Ainda, 97,7% referiram não usar AASI (Tabela 2).

A análise univariada da associação entre os domínios do comprometimento cognitivo e a autopercepção auditiva são apresentados na Tabela 3. Ressalte-se que a memória alterada, seja de curto ou longo prazo, parece apresentar associação com a autopercepção auditiva ruim.

Tabela 3
Analise univariável entre cada uma das dimensões das funções cognitivas e autopercepção da audição na população estudada.

Na análise bruta, a maior associação entre autopercepção auditiva e comprometimento cognitivo foi observada nos indivíduos que referiram percepção auditiva ruim (RP = 1.53, IC95% 1.52-1.56), em relação aos que relataram percepção auditiva boa. No modelo final de ajuste, considerando os ajustes para variáveis sociodemográficas, estilo de vida e histórico clínico, indivíduos com percepção auditiva ruim apresentaram força de associação 22% maior para comprometimento cognitivo em relação a indivíduos com percepção auditiva boa (RP = 1,22, IC95% 1,22-1,25). Indivíduos com percepção auditiva regular apresentaram força de associação 10% maior para comprometimento cognitivo em relação a indivíduos com percepção auditiva boa (RP = 1,10, IC95% 1,08-1,12) (Tabela 4).

Tabela 4
Associação bruta e ajustada, por regressão de Poisson com variância robusta, da associação entre autopercepção auditiva e ocorrência de comprometimento cognitivo em idosos brasileiros.

Discussão

Os achados deste estudo apontam que há associação entre qualidade da autopercepção auditiva e comprometimento cognitivo, indicando que indivíduos que relataram percepção auditiva regular ou ruim apresentam maior prevalência no comprometimento cognitivo quando comparados aos indivíduos com autopercepção auditiva boa. Observou-se ainda maior prevalência da associação quando controlada por fatores de estilo de vida e histórico clínico.

É sabido que fatores sociodemográficos, como sexo, idade e escolaridade, e fatores de estilo de vida e condições de saúde estão associados ao comprometimento cognitivo11 Forte G, Favieri F, Casagrande M. Heart rate variability and cognitive function: a systematic review. Front Neurosci 2019; 13:710.. Somado a isso, o progresso gradual da presbiacusia gera restrição da participação social, uma vez que pessoas com PA acabam adaptando suas atividades diárias para evitar situações de dificuldade comunicativa, influenciando na saúde cognitiva da população idosa3333 Costa-Guarisco LP, Dalpubel D, Labanca L, Chagas MHN. Percepção da perda auditiva: utilização da escala subjetiva de faces para triagem auditiva em idosos. Cien Saude Colet 2017; 22(11):3579-3588..

O envelhecimento é marcado por processos de degeneração de diversos sistemas, e PA e comprometimento cognitivo costumam ser os mais evidentes3333 Costa-Guarisco LP, Dalpubel D, Labanca L, Chagas MHN. Percepção da perda auditiva: utilização da escala subjetiva de faces para triagem auditiva em idosos. Cien Saude Colet 2017; 22(11):3579-3588.. A fisiopatologia da presbiacusia abrange alterações degenerativas nas estruturas do ouvido interno (por exemplo, perda de células ciliadas internas e externas, deterioração das células do gânglio espiral, atrofia da estria vascular) e processamento neural alterado da entrada auditiva3434 Castiglione A, Benatti A, Velardita C, Favaro D, Padoan E, Severi D, Pagliaro M, Bovo R, Vallesi A, Gabelli C, Martini A. Aging, cognitive decline and hearing loss: effects of auditory rehabilitation and training with hearing aids and cochlear implants on cognitive function and depression among older adults. Audiol Neurotol 2016; 21(Suppl. 1):21-28.. Uma das formas de reduzir os prejuízos causados pela PA é a utilização do aparelho de amplificação sonora individual (AASI). No entanto, a maioria dos indivíduos deste estudo não faz uso do dispositivo (97,7%).

Além do mais, estudos apontam que as indicações clínicas para tratamento de PA, incluindo AASI e implantes cocleares (IC), aumentam as expectativas de seus potenciais efeitos positivos também nas funções cognitivas e nos transtornos do humor entre indivíduos mais velhos. A reabilitação da audição pode aperfeiçoar e restaurar as habilidades perceptuais auditivas necessárias para a fala, contribuindo para a participação social e, consequentemente, para o bom funcionamento e a manutenção cognitiva dessa população3434 Castiglione A, Benatti A, Velardita C, Favaro D, Padoan E, Severi D, Pagliaro M, Bovo R, Vallesi A, Gabelli C, Martini A. Aging, cognitive decline and hearing loss: effects of auditory rehabilitation and training with hearing aids and cochlear implants on cognitive function and depression among older adults. Audiol Neurotol 2016; 21(Suppl. 1):21-28.,3535 Hear-it. Há muitos benefícios com o uso de aparelhos auditivos [Internet]. 2019. [acessado 2021 set 20]. Disponível em: https://www.hear-it.org/pt/ha-muitos-beneficios-com-o-uso-de-aparelhos-auditivos
https://www.hear-it.org/pt/ha-muitos-ben...
.

Outro ponto importante a ser destacado é a influência dos anos de estudo nos processos cognitivos. Sabe-se que o maior nível de escolaridade está associado positivamente ao aumento e à manutenção da função cognitiva ao longo da vida3636 Rutherford BR, Brewster K, Golub JS, Kim AH, Roose SP. Sensation and psychiatry: linking age-related hearing loss to late-life depression and cognitive decline. Am J Psychiatry 2018; 175(3):215-224.,3737 Clouston SAP, Smith DM, Mukherjee S, Zhang Y, Hou W, Link BG, Richards M. Education and cognitive decline: an integrative analysis of global longitudinal studies of cognitive aging. J Gerontol B Psychol Sci Soc Sci 2020; 75(7):e151-e160.. Acredita-se que maior tempo de estudo possa retardar o início e a progressão rápida dos sintomas do comprometimento cognitivo, uma vez que não influencia no processo evolutivo do envelhecimento, mas pode afetar o momento em que ocorrem declínios acelerados3636 Rutherford BR, Brewster K, Golub JS, Kim AH, Roose SP. Sensation and psychiatry: linking age-related hearing loss to late-life depression and cognitive decline. Am J Psychiatry 2018; 175(3):215-224.. Fato importante nesse contexto é que indivíduos com PA apresentam maiores dificuldades na aprendizagem e menos anos de estudo, o que pode contribuir para a perda da função cognitiva nessa população3838 Zaidman-Zait A, Most T. Pragmatics and peer relationships among deaf, hard of hearing, and hearing adolescents. Pediatrics 2020; 146(Suppl. 3):S298-S303.

39 Paatsch L, Toe D. The impact of pragmatic delays for deaf and hard of hearing students in mainstream classrooms. Pediatrics 2020;146(Suppl. 3):S292-S297.
-4040 Ziliotto DM, Souza DJ, Andrade FI. Quando a inclusão não se efetiva: a evasão de alunos surdos ou com deficiência auditiva no ensino superior. Rev Educ Espec 2018; 31(62):727..

Ainda em relação à baixa escolaridade, uma condição comum a diferentes regiões do Brasil, o que compromete o acesso à educação em saúde, estratégia que possibilita a adoção de comportamentos saudáveis e a mobilização social para a melhoria das condições de vida, influenciando a adesão ao tratamento de condições crônicas e podendo representar dificuldades no entendimento das orientações realizadas4141 Lima-Costa MF, Barreto S, Giatti L. A situação socioeconômica afeta igualmente a saúde de idosos e adultos mais jovens no Brasil? Um estudo utilizando dados da Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios PNAD/98. Cien Saude Colet 2002; 7(4):813-824.. Além dessas questões, a pobreza está claramente relacionada às condições de saúde dos indivíduos. Estudo conduzido no Brasil utilizando dados da Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílio (PNAD)/1998 verificou que as desigualdades sociais afetam as condições de saúde e o uso de serviços de saúde em idosos4141 Lima-Costa MF, Barreto S, Giatti L. A situação socioeconômica afeta igualmente a saúde de idosos e adultos mais jovens no Brasil? Um estudo utilizando dados da Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios PNAD/98. Cien Saude Colet 2002; 7(4):813-824.,4242 Lima-Costa MF. A escolaridade afeta, igualmente, comportamentos prejudiciais à saúde de idosos e adultos mais jovens? Inquérito de Saúde da Região Metropolitana de Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil. Epidemiol Serv Saude 2004;13(4):201-208..

É importante destacar o impacto que o histórico clínico e o estilo de vida (como a prática de exercícios físicos regulares4343 Brasure M, Desai P, Davila H, Nelson VA, Calvert C, Jutkowitz E, Butler M, Fink HA, Ratner E, Hemmy LS, McCarten JR, Barclay TR, Kane RL. Physical activity interventions in preventing cognitive decline and Alzheimer-type dementia: a systematic review. Ann Intern Med 2018; 168(1):30-38.

44 Guure CB, Ibrahim NA, Adam MB, Said SM. Impact of physical activity on cognitive decline, dementia, and its subtypes: meta-analysis of prospective studies. BioMed Res Int 2017; 2017:9016924.
-4545 Karssemeijer EGA, Aaronson JA, Bossers WJ, Smits T, Olde Rikkert MGM, Kessels RPC. Positive effects of combined cognitive and physical exercise training on cognitive function in older adults with mild cognitive impairment or dementia: a meta-analysis. Ageing Res Rev 2017; 40:75-83., redução do consumo de tabaco4646 Wingbermühle R, Wen KX, Wolters FJ, Ikram MA, Bos D. Smoking, APOE genotype, and cognitive decline: The Rotterdam Study. J Alzheimers Dis JAD 2017; 57(4):1191-1195. e bebidas alcoólicas4747 Koch M, Fitzpatrick AL, Rapp SR, Nahin RL, Williamson JD, Lopez OL, DeKosky ST, Kuller LH, Mackey RH, Mukamal KJ, Jensen MK, Sink KM. Alcohol consumption and risk of dementia and cognitive decline among older adults with or without mild cognitive impairment. JAMA Netw Open 2019; 2(9):e1910319.) têm sobre os indivíduos, assim como os riscos de desenvolver comprometimento cognitivo, ambos observados na amostra deste estudo.

Segundo o Ministério da Saúde, aproximadamente 57,4 milhões de pessoas têm pelo menos uma doença crônica não transmissível (DCNT) no país. Existem alguns fatores que favorecem o seu desenvolvimento no organismo, como carga genética, sexo e idade, além de hábitos e comportamentos de saúde, como inatividade física, alimentação inadequada, obesidade, tabagismo e o abuso de bebidas alcoólicas4848 Organização Mundial de Saúde (OMS). Doenças e agravos não transmissíveis [Internet]. 2019. [acessado 2021 out 3]. Disponível em: https://www.saude.pr.gov.br/Pagina/Doencas-e-agravos-nao-transmissiveis.
https://www.saude.pr.gov.br/Pagina/Doenc...
. Doenças como hipertensão, depressão, AVC e insuficiência cardíaca foram destacáveis para a composição da amostra, impactando de forma significante os resultados deste estudo.

Ainda sobre as DCNT, sabe-se que a hipertensão e a diabetes influenciam nas alterações cardiovasculares, como o AVC, que por sua vez é fator de risco para comprometimentos cognitivos4949 Menezes TN, Oliveira ECT, Fischer MATS, Esteves GH. Prevalência e controle da hipertensão arterial em idosos: um estudo populacional. Rev Port Saude Publica 2016; 34(2):117-124.

50 Livingston G, Sommerlad A, Orgeta V, Costafreda SG, Huntley J, Ames D, Ballard C, Banerjee S, Burns A, Cohen-Mansfield J, Cooper C, Fox N, Gitlin LN, Howard R, Kales HC, Larson EB, Ritchie K, Rockwood K, Sampson EL, Samus Q, Schneider LS, Selbæk G, Teri L, Mukadam N. Dementia prevention, intervention, and care. Lancet 2017; 390(10113):2673-734.
-5151 Kalaria RN, Akinyemi R, Ihara M. Stroke injury, cognitive impairment and vascular dementia. Biochim Biophys Acta 2016; 1862(5):915-925.. Há fortes evidências epidemiológicas da relação entre diabetes e comprometimento cognitivo. Além disso, sua relação com as alterações auditivas também vem sendo estuda, acredita-se que há uma série de fatores que contribuem para tal associação5252 Konrad-Martin D, Reavis KM, Austin D, Reed N, Gordon J, McDermott D, et al. Hearing impairment in relation to severity of diabetes in a veteran cohort. Ear Hear 2015; 36(4):381-394.

53 David LZ, Finamor MM, Buss C. Possíveis implicações audiológicas do diabetes melito: uma revisão de literatura. Rev CEFAC 2015; 17(6):2018-2024.
-5454 Biessels GJ, Despa F. Cognitive decline and dementia in diabetes mellitus: mechanisms and clinical implications. Nat Rev Endocrinol 2018; 14(10):591-604..

Este estudo se limitou a fazer uma análise transversal da associação entre autopercepção auditiva e comprometimento cognitivo, expondo resultados de prevalência na população estudada, em nível populacional. Dessa forma, não foram analisadas as relações causais entre os fatores em estudo, bem como a incidência na população de idosos. No entanto, esta pesquisa traz uma abordagem relevante na análise dos processos do envelhecimento humano, sendo uma importante fonte de informação para ações de saúde pública para os idosos.

Além disso, este estudo se torna relevante por ser, até o momento, o primeiro a analisar a associação entre autopercepção auditiva e comprometimento cognitivo, utilizando uma amostra complexa de base populacional representativa da população idosa brasileira. Ainda, os dados utilizados para as análises são oriundos do ELSI-Brasil, concordando com a literatura acerca da confiabilidade e da validade de estudos de autorrelato2222 ELSI-BRASIL. Estudo Longitudinal da Saúde dos Idosos Brasileiros [Internet]. 2015. [acessado 2020 mar 14]. Disponível em: http://elsi.cpqrr.fiocruz.br/
http://elsi.cpqrr.fiocruz.br...
,5555 Morimoto SS, Kanellopoulos D, Manning KJ, Alexopoulos GS. Diagnosis and treatment of depression and cognitive impairment in late life. Ann N Y Acad Sci 2015; 1345(1):36-46., uma vez que é uma maneira fácil e prática usual na aplicação de inquéritos de base populacionais5555 Morimoto SS, Kanellopoulos D, Manning KJ, Alexopoulos GS. Diagnosis and treatment of depression and cognitive impairment in late life. Ann N Y Acad Sci 2015; 1345(1):36-46..

Conclusão

Por fim, este estudo aponta a associação entre o comprometimento cognitivo e a autopercepção auditiva regular e ruim em idosos brasileiros, quando comparados aos idosos brasileiros com autopercepção auditiva boa. Esses achados apoiam a necessidade de triagens auditivas e avaliações de autopercepção auditiva, bem como de programas de tratamento auditivo em nível nacional nessa população, uma vez que essas medidas e ações podem prevenir alterações da saúde cognitiva.

Ressaltamos que os resultados aqui encontrados apontam para a necessidade de estudos longitudinais sobre o tema, a fim de analisar a relação causal das alterações da audição e da cognição em idosos no Brasil, bem como os efeitos potenciais das intervenções de reabilitação auditiva no aspecto cognitivo, merecendo destaque a intervenção precoce nas funções de memória de curto e médio prazo. Além disso, outros estudos que aprofundem a compreensão da etiopatogenia da PA e cognitiva, para que os mecanismos dessa associação sejam elucidados, também são necessários.

Referências

  • 1
    Forte G, Favieri F, Casagrande M. Heart rate variability and cognitive function: a systematic review. Front Neurosci 2019; 13:710.
  • 2
    Murman DL. The impact of age on cognition. Semin Hear 2015; 36(3):111-121.
  • 3
    Lv X, Li W, Ma Y, Chen H, Zeng Y, Yu X, Hofman A, Wang H. Cognitive decline and mortality among community-dwelling Chinese older people. BMC Med 2019; 17(1):63.
  • 4
    Centers for Disease Control and Prevention (CDC). Subjective Cognitive Decline - A Public Health Issue [Internet]. 2019. [cited 2019 jul 30]. Available from: https://www.cdc.gov/aging/data/subjective-cognitive-decline-brief.html
    » https://www.cdc.gov/aging/data/subjective-cognitive-decline-brief.html
  • 5
    Charchat-Fichman H, Caramelli P, Sameshima K, Nitrini R. Declínio da capacidade cognitiva durante o envelhecimento. Rev Bras Psiquiatr 2005; 27(1):79-82.
  • 6
    Davis M, O Connell T, Johnson S, Cline S, Merikle E, Martenyi F, Simpson K. Estimating Alzheimer's disease progression rates from normal cognition through mild cognitive impairment and stages of dementia. Curr Alzheimer Res 2018; 15(8):777-788.
  • 7
    Kirova AM, Bays RB, Lagalwar S. Working memory and executive function decline across normal aging, mild cognitive impairment, and Alzheimer's disease. BioMed Res Int 2015; 2015:748212.
  • 8
    Launer LJ. Statistics on the burden of dementia: need for stronger data. Lancet Neurol 2019; 18(1):25-27.
  • 9
    Ministérios da Saúde (MS). Conhecer a demência, conhecer o Alzheimer: o poder do conhecimento - setembro, Mês Mundial do Alzheimer [Internet]. 2021. [acessado 2022 dez 19]. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/conhecer-a-demencia-conhecer-o-alzheimer-o-poder-do-conhecimento-setembro-mes-mundial-do-alzheimer/
    » https://bvsms.saude.gov.br/conhecer-a-demencia-conhecer-o-alzheimer-o-poder-do-conhecimento-setembro-mes-mundial-do-alzheimer
  • 10
    Centro de Estudos Estratégicos da Fiocruz (CEE). O envelhecimento populacional compromete o crescimento econômico no Brasil? [Internet]. 2020. [acessado 2022 dez 19]. Disponível em: https://cee.fiocruz.br/?q=envelhecimento-populacional-compromete-o-crescimento-economico
    » https://cee.fiocruz.br/?q=envelhecimento-populacional-compromete-o-crescimento-economico
  • 11
    Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). População [Internet]. 2020. [acessado 2021 out 20]. Disponível em: https://www.ibge.gov.br/estatisticas/sociais/populacao.html
    » https://www.ibge.gov.br/estatisticas/sociais/populacao.html
  • 12
    Völter C, Götze L, Dazert S, Wirth R, Thomas JP. Impact of hearing loss on geriatric assessment. Clin Interv Aging 2020; 15:2453-2467.
  • 13
    GBD 2016 Disease and Injury Incidence and Prevalence Collaborators. Global, regional, and national incidence, prevalence, and years lived with disability for 328 diseases and injuries for 195 countries, 1990-2016: a systematic analysis for the Global Burden of Disease Study 2016. Lancet 2017; 390(10100):1211-1259.
  • 14
    Caruso MFB, Mármora CHC, Delgado FEF. Prevalência de perda auditiva autorrelatada em idosos e fatores associados em Juiz de Fora. Rev Hosp Univ Pedro Ernesto 2019; 17(2):35-42.
  • 15
    Davis A, McMahon CM, Pichora-Fuller KM, Russ S, Lin F, Olusanya BO, Chadha S, Tremblay KL. Aging and hearing health: the life-course approach. Gerontologist 2016; 56(Suppl. 2):S256-S267.
  • 16
    Glick HA, Sharma A. Cortical neuroplasticity and cognitive function in early-stage, mild-moderate hearing loss: evidence of neurocognitive benefit from hearing aid use. Front Neurosci 2020; 14:93.
  • 17
    Yang TH, Chu YC, Chen YF, Chen MY, Cheng YF, Wu CS, Huang H-M. Diagnostic validity of self-reported hearing loss in elderly Taiwanese individuals: diagnostic performance of a hearing self-assessment questionnaire on audiometry. Int J Environ Res Public Health 2021; 18(24):13215.
  • 18
    Tsimpida D, Kontopantelis E, Ashcroft D, Panagioti M. Comparison of self-reported measures of hearing with an objective audiometric measure in adults in the English Longitudinal Study of Ageing. JAMA Netw Open 2020; 3(8):e2015009.
  • 19
    Amieva H, Ouvrard C, Giulioli C, Meillon C, Rullier L, Dartigues JF. Self-reported hearing loss, hearing aids, and cognitive decline in elderly adults: a 25-year study. J Am Geriatr Soc 2015; 63(10):2099-2104.
  • 20
    Loughrey DG, Kelly ME, Kelley GA, Brennan S, Lawlor BA. Association of age-related hearing loss with cognitive function, cognitive impairment, and dementia: a systematic review and meta-analysis. JAMA Otolaryngol Head Neck Surg 2018; 144(2):115-126.
  • 21
    Fiamoncini JD, Silva AO, Sousa TR de, Satler CE, Silva IMC, Cera ML. Associação entre o desempenho linguístico-cognitivo e a autopercepção auditiva de idosos. Audiol Commun Res 2022; 27:e2597.
  • 22
    ELSI-BRASIL. Estudo Longitudinal da Saúde dos Idosos Brasileiros [Internet]. 2015. [acessado 2020 mar 14]. Disponível em: http://elsi.cpqrr.fiocruz.br/
    » http://elsi.cpqrr.fiocruz.br
  • 23
    Aliberti MJR, Szlejf C, Lima-Costa MF, de Andrade FB, Alexandre TS, Ferri CP, Suemoto CK. Frailty modifies the association of hypertension with cognition in older adults: evidence from the ELSI-Brazil. J Gerontol A Biol Sci Med Sci 2021; 76(6):1134-1143.
  • 24
    Sonnega A, Faul JD, Ofstedal MB, Langa KM, Phillips JWR, Weir DR. Cohort profile: the Health and Retirement Study (HRS). Int J Epidemiol 2014; 43(2):576-585.
  • 25
    Breska A, Ivry RB. The human cerebellum is essential for modulating perceptual sensitivity based on temporal expectations. eLife 2021; 10:e66743.
  • 26
    Norris D. Short-term memory and long-term memory are still different. Psychol Bull 2017; 143(9):992-1009.
  • 27
    Sá APS. Linguagem científica: características e importância [Internet]. 2017. [acessado 2021 nov 15]. Disponível em: https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-166/linguagem-cientifica-caracteristicas-e-importancia/amp/
    » https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-166/linguagem-cientifica-caracteristicas-e-importancia/amp
  • 28
    Baraldi GS, Almeida LC, Borges ACC. Evolução da perda auditiva no decorrer do envelhecimento. Rev Bras Otorrinolaringol 2007; 73(1):64-70.
  • 29
    Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). Os níveis de escolaridade no setor público brasileiro [Internet]. 2017. [acessado 2021 nov 15]. Disponível em: https://www.ipea.gov.br/atlasestado/arquivos/rmd/4874-conjunto4v10.html
    » https://www.ipea.gov.br/atlasestado/arquivos/rmd/4874-conjunto4v10.html
  • 30
    Organização Mundial de Saúde (OMS). Atividade física [Internet]. 2020. [acessado 2022 nov 16]. Disponível em: https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/physical-activity
    » https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/physical-activity
  • 31
    Organização Mundial de Saúde (OMS). I Levantamento nacional sobre os padrões de consumo de álcool na população brasileira [Internet]. 2004. [acessado 2021 nov 17]. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/relatorio_padroes_consumo_alcool.pdf
    » https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/relatorio_padroes_consumo_alcool.pdf
  • 32
    Campos MW, Serebrisky D, Castaldelli-Maia JM. Smoking and cognition. Curr Drug Abuse Rev 2016; 9(2):76-79.
  • 33
    Costa-Guarisco LP, Dalpubel D, Labanca L, Chagas MHN. Percepção da perda auditiva: utilização da escala subjetiva de faces para triagem auditiva em idosos. Cien Saude Colet 2017; 22(11):3579-3588.
  • 34
    Castiglione A, Benatti A, Velardita C, Favaro D, Padoan E, Severi D, Pagliaro M, Bovo R, Vallesi A, Gabelli C, Martini A. Aging, cognitive decline and hearing loss: effects of auditory rehabilitation and training with hearing aids and cochlear implants on cognitive function and depression among older adults. Audiol Neurotol 2016; 21(Suppl. 1):21-28.
  • 35
    Hear-it. Há muitos benefícios com o uso de aparelhos auditivos [Internet]. 2019. [acessado 2021 set 20]. Disponível em: https://www.hear-it.org/pt/ha-muitos-beneficios-com-o-uso-de-aparelhos-auditivos
    » https://www.hear-it.org/pt/ha-muitos-beneficios-com-o-uso-de-aparelhos-auditivos
  • 36
    Rutherford BR, Brewster K, Golub JS, Kim AH, Roose SP. Sensation and psychiatry: linking age-related hearing loss to late-life depression and cognitive decline. Am J Psychiatry 2018; 175(3):215-224.
  • 37
    Clouston SAP, Smith DM, Mukherjee S, Zhang Y, Hou W, Link BG, Richards M. Education and cognitive decline: an integrative analysis of global longitudinal studies of cognitive aging. J Gerontol B Psychol Sci Soc Sci 2020; 75(7):e151-e160.
  • 38
    Zaidman-Zait A, Most T. Pragmatics and peer relationships among deaf, hard of hearing, and hearing adolescents. Pediatrics 2020; 146(Suppl. 3):S298-S303.
  • 39
    Paatsch L, Toe D. The impact of pragmatic delays for deaf and hard of hearing students in mainstream classrooms. Pediatrics 2020;146(Suppl. 3):S292-S297.
  • 40
    Ziliotto DM, Souza DJ, Andrade FI. Quando a inclusão não se efetiva: a evasão de alunos surdos ou com deficiência auditiva no ensino superior. Rev Educ Espec 2018; 31(62):727.
  • 41
    Lima-Costa MF, Barreto S, Giatti L. A situação socioeconômica afeta igualmente a saúde de idosos e adultos mais jovens no Brasil? Um estudo utilizando dados da Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios PNAD/98. Cien Saude Colet 2002; 7(4):813-824.
  • 42
    Lima-Costa MF. A escolaridade afeta, igualmente, comportamentos prejudiciais à saúde de idosos e adultos mais jovens? Inquérito de Saúde da Região Metropolitana de Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil. Epidemiol Serv Saude 2004;13(4):201-208.
  • 43
    Brasure M, Desai P, Davila H, Nelson VA, Calvert C, Jutkowitz E, Butler M, Fink HA, Ratner E, Hemmy LS, McCarten JR, Barclay TR, Kane RL. Physical activity interventions in preventing cognitive decline and Alzheimer-type dementia: a systematic review. Ann Intern Med 2018; 168(1):30-38.
  • 44
    Guure CB, Ibrahim NA, Adam MB, Said SM. Impact of physical activity on cognitive decline, dementia, and its subtypes: meta-analysis of prospective studies. BioMed Res Int 2017; 2017:9016924.
  • 45
    Karssemeijer EGA, Aaronson JA, Bossers WJ, Smits T, Olde Rikkert MGM, Kessels RPC. Positive effects of combined cognitive and physical exercise training on cognitive function in older adults with mild cognitive impairment or dementia: a meta-analysis. Ageing Res Rev 2017; 40:75-83.
  • 46
    Wingbermühle R, Wen KX, Wolters FJ, Ikram MA, Bos D. Smoking, APOE genotype, and cognitive decline: The Rotterdam Study. J Alzheimers Dis JAD 2017; 57(4):1191-1195.
  • 47
    Koch M, Fitzpatrick AL, Rapp SR, Nahin RL, Williamson JD, Lopez OL, DeKosky ST, Kuller LH, Mackey RH, Mukamal KJ, Jensen MK, Sink KM. Alcohol consumption and risk of dementia and cognitive decline among older adults with or without mild cognitive impairment. JAMA Netw Open 2019; 2(9):e1910319.
  • 48
    Organização Mundial de Saúde (OMS). Doenças e agravos não transmissíveis [Internet]. 2019. [acessado 2021 out 3]. Disponível em: https://www.saude.pr.gov.br/Pagina/Doencas-e-agravos-nao-transmissiveis
    » https://www.saude.pr.gov.br/Pagina/Doencas-e-agravos-nao-transmissiveis
  • 49
    Menezes TN, Oliveira ECT, Fischer MATS, Esteves GH. Prevalência e controle da hipertensão arterial em idosos: um estudo populacional. Rev Port Saude Publica 2016; 34(2):117-124.
  • 50
    Livingston G, Sommerlad A, Orgeta V, Costafreda SG, Huntley J, Ames D, Ballard C, Banerjee S, Burns A, Cohen-Mansfield J, Cooper C, Fox N, Gitlin LN, Howard R, Kales HC, Larson EB, Ritchie K, Rockwood K, Sampson EL, Samus Q, Schneider LS, Selbæk G, Teri L, Mukadam N. Dementia prevention, intervention, and care. Lancet 2017; 390(10113):2673-734.
  • 51
    Kalaria RN, Akinyemi R, Ihara M. Stroke injury, cognitive impairment and vascular dementia. Biochim Biophys Acta 2016; 1862(5):915-925.
  • 52
    Konrad-Martin D, Reavis KM, Austin D, Reed N, Gordon J, McDermott D, et al. Hearing impairment in relation to severity of diabetes in a veteran cohort. Ear Hear 2015; 36(4):381-394.
  • 53
    David LZ, Finamor MM, Buss C. Possíveis implicações audiológicas do diabetes melito: uma revisão de literatura. Rev CEFAC 2015; 17(6):2018-2024.
  • 54
    Biessels GJ, Despa F. Cognitive decline and dementia in diabetes mellitus: mechanisms and clinical implications. Nat Rev Endocrinol 2018; 14(10):591-604.
  • 55
    Morimoto SS, Kanellopoulos D, Manning KJ, Alexopoulos GS. Diagnosis and treatment of depression and cognitive impairment in late life. Ann N Y Acad Sci 2015; 1345(1):36-46.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    04 Set 2023
  • Data do Fascículo
    Set 2023

Histórico

  • Recebido
    25 Jun 2022
  • Aceito
    31 Jan 2023
  • Publicado
    02 Fev 2023
ABRASCO - Associação Brasileira de Saúde Coletiva Rio de Janeiro - RJ - Brazil
E-mail: revscol@fiocruz.br