Como anda a implementação da Política Nacional de Redução da Morbimortalidade por Acidentes e Violências no Brasil?

Edinilsa Ramos de Souza Liana Wernersbach Pinto Queiti Batista Moreira Oliveira Sobre os autores

A Política Nacional de Redução da Morbimortalidade por Acidentes e Violências (PNRMAV), do Ministério da Saúde11 Brasil. Ministério da Saúde (MS). Portaria GM/MS nº 737, de 16 de maio de 2001. Política Nacional de Redução da Morbimortalidade por Acidentes e violências. Diário Oficial da União; 2001., foi criada em 2001, poucos anos após a Organização Mundial da Saúde ter explicitado a violência como um grave problema de Saúde Pública, em 1996. Essa política inovou ao incorporar o tema da violência no âmbito da Saúde Pública do país e ao adotar a perspectiva preventiva para as suas múltiplas formas de expressão.

Na curta existência de pouco mais de 20 anos, a PNRMAV foi avaliada somente em um estudo realizado em cinco cidades, sendo uma em cada grande região do país22 Minayo MCS, Deslandes SF. Análise diagnóstica da política nacional de saúde para redução de acidentes e violências. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ; 2007.. Em um salto no tempo, no final do ano de 2019, o Ministério da Saúde decidiu apoiar a avaliação da implementação desta Política, com o intuito de identificar a sua capilaridade no território nacional e verificar o seu grau de implementação, a fim de atualizá-la e realizar os ajustes necessários. Para realizar esta tarefa, convidou a equipe do Departamento de Estudos sobre Violência e Saúde Jorge Careli, da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (CLAVES/ENSP/FIOCRUZ).

Esta edição temática apresenta alguns resultados do estudo realizado, que buscou identificar como anda a implementação da Política Nacional de Redução da Morbimortalidade por Acidentes e Violências no Brasil. O trabalho de pesquisa, desenvolvido do segundo semestre de 2020 a agosto de 2023, adotou como parâmetro norteador as sete diretrizes da Política e, para isto, triangulou métodos quantitativos e qualitativos; elaborou e aplicou questionários fechados e entrevistas em profundidade aos gestores e profissionais da atenção primária, pré-hospitalar e hospitalar e de recuperação/reabilitação; e construiu indicadores avaliativos da implementação da Política. Os dados foram analisados segundo o total de municípios respondentes, as capitais e as regiões do país, por porte populacional (municípios com até 99.999 habitantes e com 100.000 ou mais habitantes), e abordou as gestões municipal, estadual e federal.

Neste número, três artigos abordam a assistência fornecida pelos serviços da rede do Sistema Único de Saúde (SUS) às vítimas de acidentes e violências em cada nível de complexidade da atenção à saúde; um artigo focaliza o monitoramento e a notificação da violência no Brasil; um outro aborda a formação dos profissionais do SUS para a temática dos acidentes e violências; um outro analisa a criação e a atual condição dos núcleos de prevenção da violência e promoção da saúde, principal estratégia criada para operacionalizar as ações da Política. Finalmente, um artigo reflete acerca dos avanços alcançados, dos novos desafios e daqueles que permanecem após as mais de duas décadas da aprovação da Política, pela Portaria nº 737, de 16 de maio de 2001, do Ministério da Saúde.

A leitura destes textos permitirá ver que a Política avançou em vários aspectos, mas permanece com grandes entraves, dentre os quais o maior deles é a sua não priorização como política de governo. A ausência de apoio político, financeiro e técnico deu o tom dos depoimentos dos entrevistados. Falta ainda institucionalizar a política nos municípios onde ela alcançou chegar, e disseminá-la naqueles onde ainda sequer se sabe da sua existência.

Esperamos que este rico e inédito conjunto de conhecimentos possa orientar gestores e profissionais do SUS, e subsidiar políticas públicas, no sentido de reduzir os acidentes e as violências, bem como seus impactos que tanto afetam a população, sobretudo àquelas parcelas mais vulnerabilizadas.

Referências

  • 1
    Brasil. Ministério da Saúde (MS). Portaria GM/MS nº 737, de 16 de maio de 2001. Política Nacional de Redução da Morbimortalidade por Acidentes e violências. Diário Oficial da União; 2001.
  • 2
    Minayo MCS, Deslandes SF. Análise diagnóstica da política nacional de saúde para redução de acidentes e violências. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ; 2007.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    21 Mar 2025
  • Data do Fascículo
    Mar 2025

Histórico

  • Recebido
    05 Dez 2024
  • Aceito
    10 Dez 2024
ABRASCO - Associação Brasileira de Saúde Coletiva Rio de Janeiro - RJ - Brazil
E-mail: revscol@fiocruz.br