RESENHA
Maria Eliana Labra*
O MOVIMENTO SANITARISTA NOS ANOS 20. DA "CONEXÃO SANITÁRIA INTERNACIONAL" À ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE PÚBLICA NO BRASIL. Rio de Janeiro, Fundação Getúlio Vargas, setembro de 1985. 410 p.
A tese apresenta o seguinte resumo da Autora:
"A autora expõe resultados de pesquisa destinada a conhecer e analisar os antecedentes mais imediatos que deram lugar à iniciação do processo de formação de médicos sanitaristas no Brasil em 1926, processo esse que, com mudanças substantivas, continua até hoje. Situadas numa perspectiva histórica, político-ideológica e institucional, seis vertentes em relação a esse evento foram examinadas: 1) A expansão do movimento sanitarista mundial que chegou até a América Latina através de uma rede de instituições comandadas pelos Estados Unidos desde 1902, rede essa que a autora denominou "conexão sanitária internacional" e da qual destacaram-se os pressupostos e as estratégias de atuação da Oficina Sanitária Pan-Americana e, principalmente, da Fundação Rockefeller e sua Comissão Sanitária Internacional, cuja sede para América Latina foi o Brasil até 1942. 2) Após o término da I Guerra Mundial e a definitiva instauração da hegemonia do capital norte-americano, observa-se uma rápida expansão dessa "conexão", a par que no Brasil acirra-se a discussão "nacionalismo x pan-americanismo", cujos reflexos na área da saúde são estudados, bem como o confronto entre projetos políticos ligados à higiene "tradicional" e aqueles de cunho modernizante preconizados pelos sanitaristas pró-modelo americano de organização de serviços de saúde e de formação técnica de dirigentes para as novas instituições. 3) Esta segunda corrente triunfa com a Reforma Sanitária de 1920-23, cuja análise é feita mediante a comparação entre as propostas do discurso e as medidas racionalizantes de fato implementadas. 4) Tendo como pano de fundo as profundas contradições que vive a sociedade brasileira nos anos 20, é situada a atuação do cientista Dr. Carlos Chagas como executor da política oficial de saúde no período 1919-26. Nesse sentido, foram registradas as controvérsias surgidas em torno da gestão do Dr. Carlos Chagas, denotando a luta pelo poder entre frações de classe dominante e as divergências que se dão no interior da saúde pública com relação às mudanças propostas e à atuação da Fundação Rockefeller, à qual foram entregues iniciativas tais como a implantação de métodos de profilaxia da malária, o combate à febre amarela e a formulação do currículo para formar sanitaristas no Brasil. 5) A análise da viabilização deste último projeto é efetuada mediante o exame da Reforma de Ensino de 1925, que introduz na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro a cátedra de medicina tropical e a criação do primeiro Curso de Higiene e Saúde Pública para médicos. Com relação a estes eventos, foram levantadas ainda questões em torno do papel atribuído ao Dr. Carlos Chagas na consecução desses objetivos, bem como o choque de interesses entre a medicina liberal e a saúde pública. 6) Por último, é sumariada a evolução do ensino da saúde pública no mundo ocidental e no Brasil, centrando a análise no movimento sanitarista brasileiro dos anos 20, as correntes que se defrontavam no seu interior, a forma como constituiu o seu "círculo de cultura" e a iniciação do seu processo de reprodução ideológica, notadamente pela institucionalização do Curso de Saúde Pública.
Como reflexão final, a autora levanta numerosas questões visando mostrar que os problemas detectados permanecem hoje perfeitamente vigentes na área da saúde pública nacional, apontando assim para o caráter estrutural dos mesmos. Paralelamente, a autora assinala importantes lacunas existentes no conhecimento histórico do desenvolvimento da saúde pública a partir dos anos 30, sugerindo, em conseqüência, linhas de investigação que deveriam ser empreendidas".
* Monografia apresentada à Escola Brasileira de Administração Pública para a obtenção do grau de Mestre em Administração Pública.