RESENHA
Carlos E. A. Coimbra Jr.
Bolsista Dept. of Anthropology, Indiana University, Bloomington, IN, 47405 USA
CULTURE, HEALTH AND ILLNESS: AN INTRODUCTION FOR HEALTH PROFESSIONALS. Cecil Helman (1985). Bristol London, Boston: Wrigtit-PSG. xi + 242 pp., US$ 19.00 (brochura). ISBN 0 7236 0841 5.
O desenvolvimento da antropologia médica no Brasil tem sido lento e, em geral, um grande número dos trabalhos existentes que abordam temáticas referentes à medicina tradicional brasileira o fazem sob o prisma do folclórico e do exótico, sem a preocupação de integrar as variadas crenças e práticas médicas em um sistema cultural mais amplo. Infelizmente, ainda têm sido poucas as tentativas de analisar as implicações epidemiológicas e médico-profiláticas dos sistemas médico-tradicionais, apesar do reconhecimento dos próprios epidemiologistas da necessidade de pesquisas voltadas para essa problemática em nosso país.1
Um dos motivos que, a meu ver, tem contribuído para a lenta expansão da disciplina no Brasil, em especial a nível de pós-graduação em saúde pública e epidemiologia, é a inexistência de um livro-texto que venha servir como eixo básico das discussões em sala de aula. Deve-se observar que esta lacuna também se faz sentir nos EUA e em certos países europeus onde a disciplina já se encontra melhor estabelecida. Devido á forma de apresentação do conteúdo da maioria dos textos existentes, os estudantes que vem das áreas biomédicas sentem dificuldade, já que, quase sempre, não têm a mínima formação teórica em ciências sociais.
O livro de Cecil Helman foi escrito visando a preencher esta lacuna. Direcionado, em primeiro lugar, ao estudante da área de ciências da saúde, o mesmo apresenta os conceitos fundamentais da antropologia médica de maneira a possibilitar ao aluno uma visão ampla do escopo da disciplina, assim como de seus métodos de pesquisa e principais marcos teóricos. Evita, contudo, enveredar-se pelos caminhos nem sempre muito claros da teoria antropológica pura, o que certamente afugentaria o estudante menos familiarizado com a disciplina.
Outra característica marcante do livro é o fato de os capítulos terem sido escritos de maneira independente, o que implica dizer que o mesmo não precisa ser lido a uma só vez. Ainda traz, ao final de cada capítulo, uma lista de leituras complementares, para aqueles que desejarem ir um pouco à frente, e um apêndice. Este apêndice é constituído por uma série de questionários que podem servir como base para pequenos projetos de pesquisa a serem desenvolvidos pelos próprios alunos, durante o curso de um período letivo.
Os dez capítulos que se seguem à introdução abordam os seguintes tópicos: "Cultural Definitions of Anatony and Physiology"; "Diet and Nutrition"; "Caring and Curing"; "Doctor-Patient Interactions"; "Pain and Culture"; "Culture and Pharmacology"; "Ritual and Management of Misfortune"; "Transcultural Psychiatry"; "Cultural Aspects of Stress" e "Cultural Factors in Epidemiology"
É bem verdade que, por tratar-se de obra estrangeira, a mesma não está dimensionada para responder aos problemas mais imediatos e/ou específicos do pesquisador brasileiro (o Brasil só é mencionado duas vezes no texto). Contudo, dada a preocupação do autor em abordar os temas de maneira abrangente, esta deficiência é, em parte, contornada. Desse modo, considero que a aquisição do livro pelas bibliotecas especializadas em saúde pública, e sua divulgação entre alunos e professores, será de valia, principalmente para aqueles que, apesar de nutrirem interesse pela antropologia médica, não sabem onde recorrer para se introduzirem ao tema.2
1 BARBOSA, F.S. (1981) Technology alone will not beat malaria. World Health Forum, 2:144; BIZERRA, J.F.; GAZZANA.M.R.; COSTA, C.H.; MELLO, D.A. & MARSDEN, P.D. (1981). A surrey of what people know about Chagas' disease. World Health Forum, 2; 394-39 7.
2 Para uma revisão crítica mais detalhada da obra, vide as resenhas de Lang (In: Reviews in Anthropology, 12 (4): 308-313, 1985) e Stoeckle (In: Culture, Medicine and Psychiatry, 9 (2): 93-96).