PESQUISA RESEARCH
Interdisciplinaridade: sim e não a vasos comunicantes em educação pós-graduada
Samuel Sá
Ph. D. Antropologia Social, UFPa/ENSP
RESUMO
Em duas partes, este texto aborda o tema da interdisciplinaridade e seu significado em programas universitários de ensino, pesquisa bem como em serviços de saúde pública. A primeira parte levanta um projeto de pesquisa sobre o assunto. A segunda parte antecipa dados secundários sobre o uso da abordagem interdisciplinar, em documentos do tipo "Avaliação e Perspectivas" do CNPq (1979 e 1982). Enquanto antropólogo, o autor busca uma perspectiva de antropologia social do "espaço interdisciplinar".
O presente estudo tomou, como ponto de partida, a existência de dados secundários, em documentos do CNPq, sobre práticas de interdisciplinaridade. A fonte está nos textos de avaliação e perspectivas dos anos de 1978 e de 1982, sendo que a primeira inclui a área de saúde e várias outras (mas não todas) e a segunda se restringe à área das ciências da saúde. Adicionalmente, o texto refere duas ocorrências na área de serviços de saúde, ambas datadas de março de 1986: no Brasil, as conclusões da VIII Conferência Nacional de Saúde, e na Organização Mundial de Saúde, a publicação do número exclusivo da revista Saúde no Mundo, sobre o tema da cooperação intersetorial.
O tema das práticas provoca a atenção de uma pesquisa em andamento. No âmbito deste texto, o interesse está em circunscrever práticas de interdisciplinaridade e, ao mesmo tempo, estabelecer tópicos para uma discussão que relacione as práticas, teoria e estruturas. No nível teórico, os pressupostos básicos derivam das posições de Hilton Japiassú (sobre a oposição fragmentação-desfragmentação), Miriam Limoeiro (sobre a inserção sócio-histórica do conhecimento), Armando Mendes (sobre a implicação política da interdisciplinaridade) e Sinaceur Mohammed Allai (sobre a relação entre interdisciplinaridade e processo decisório).
O esquema deste texto inclui introdução, duas sinopses, notas para discussão, resumo e bibliografia.
INTRODUÇÃO
Como o título sugere, este projeto examinará o tema da interdisciplinaridade em educação, a nível de pós-graduação. Como pesquisa, trata-se de situar, no Brasil, o que tem sido o significado e práticas interdisciplinares ou assimiladas. Diz-se assimiladas, porque o termo, também, aparece sob a forma próxima de multiprofissional, transdisciplinar e multidisciplinar.
Tendo ajudado a estabelecer uma experiência dessas, iniciada nos anos setenta, como especialização e, posteriormente, como mestrado, o autor passou os anos, entre 1980 e 1986, como docente-pesquisador e, eventualmente, como membro do colegiado de curso (Mestrado Internacional em Planejamento do Desenvolvimento do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos UFPa). Como participante e observador e, portanto, como antropólogo, foi possível acompanhar os trabalhos "por dentro" e, ao mesmo tempo, seguir as vicissitudes de afirmação e de negação do mesmo.
Em 1984, foi possível ao autor a tomada de conhecimento, por meio da Capes, de um conjunto de outros programas brasileiros de pós-graduação, que se esforçavam por ser interdisciplinares. Inicialmente, avaliados por comitês unidisciplinares mas, reconhecendo que este não era o melhor fórum para seu reconhecimento e crescimento, esses cursos foram desvinculados da posição anterior e levaram à formação de um comitê assessor interdisciplinar e pioneiro. Selecionado pela Capes, entre uma lista de candidatos, o autor trabalhou como membro desse comitê assessor, em sua primeira experiência. Assim, além do convívio com a Amazônia, lhe foi possível iniciar a atenção a um nível extra-regional e tendendo para ser de abrangência, relativamente, nacional. Daí é que se firmou um primeiro entendimento de que a interdisciplinaridade é um tema, cuja aplicação tem uma certa difusão sujeita a prós e contras, enquanto pretende ser como uma cadeia de vasos comunicantes.
Em 1987, o autor mantém um vínculo com sua experiência anterior, mas tem a maior parte do seu tempo alocada à Escola Nacional de Saúde Pública, no papel de Professor visitante. Entre outras atribuições como docente e pesquisador, ele mantém o interesse pelo tema em questão, como teoria e como prática, inclusive nesse novo "território de adoção", o qual inclui a interdisciplinaridade como um de suas características: foi item de uma avaliação da ENSP, em Dezembro de 1986, e ela, sob a forma de "multiprofessional" entra no ideário das conclusões da VIII Conferência Nacional de Saúde (1986).
Por outro lado, de modo incipiente, nos documentos da série "avaliação e Perspectivas", do CNPq, de 1978, e mais incisivamente, na mesma série, porém, datada de 1982, volta a interdisciplinaridade, com maior ou menor ênfase, em áreas de Ciências Exatas ou de Ciências Humanas. Ela reaparece como experiência, como desejo ou como utopia.
Mais recentemente, em 1986, grandes universidades como a USP e a UNB dão ressonância ao assunto. A USP inicia um Centro de Estudos Avançados tendo a interdisciplinaridade como um de seus traços básicos. A UNB, pela voz do seu Reitor, assume o tema como uma das esperanças decorrentes da crítica à Reforma Universitária. Convém recordar que o comitê da Capes, acima referido, incluía experiências de S. Paulo, Brasília, Bahia, Paraíba, Pernambuco e Pará. Hoje é possível arrolar outros casos que merecem estudo como, por exemplo, o Centro de Estudos de História (da USP, coordenado pela Profª Maria Luiza Marcílio).
Esta introdução procura situar uma perspectiva para o estudo. Ela inclui o processo histórico recente (anos 70 e 80), bem como o interesse pela articulação entre teoria e práticas.
UTILIDADE
Não se pode enfrentar o tema da interdisciplinaridade como um puro desafio diletante. O interesse recai sobre a oportunidade de sistematizar uma concepção e suas transformações práticas, datadas e situadas. Certamente, uma vez feita a opção pela perspectiva interdisciplinar, que se erige no contexto de outras práticas estabelecidas, aparecem contradições, contramarchas e resistências, tanto de pessoas, como de instituições. Que se deduz desse processo todo? Há uma expansão das experiências, sem que tenha havido uma documentação do conjunto. Chegar à documentação e à crítica; isto é um dos objetivos deste estudo.
Mais do que aquela repercussão registrada nos documentos de "Avaliação e Perspectivas" há, também, a expressão do "saber de experiência feito". O documento do grupo de Física, de 1978, reconhecia que a pós-graduação de nível interdisciplinar, necessariamente, pedia uma duração maior. Ou então, se afirmava a cautela de que a pós-graduação interdisciplinar devia enfatizar uma competência reconhecida, em uma área específica, como parte de sua constituição. Com isto, vem à tona o exame das conseqüências práticas da interdisciplinaridade, as quais pedem atenção Quais outras conseqüências podem ser elencadas? Isto é importante se o construto de intersecção passa do nível abstrato ao concreto.
De um ponto de vista mais aplicado, existe a interdisciplinaridade articulada à pesquisa mas, também, ao ensino.
Não se trata, apenas, da relação de uma área ou disciplina com as outras, mas com os praticantes.
Um dos subprodutos será a coleta de textos em co-autoria, derivados das experiências. Será que, de fato, eles representam a prática, as contradições, a teoria ou a ideologia da interdisciplinaridade subjacente?
Finalmente, vale destacar que, em 1987, se completam quinze anos, desde que em 1972, a Unesco lançou o documento da OECD/CERI sobre interdisciplinaridade, "problemas de ensino e pesquisa em universidades". Também, em 1987, no Rio de Janeiro os meios de comunicação de massa têm ressoado alguma importância do assunto. Em janeiro de 1987, o programa de televisão que ganhou o prêmio de difusão científica do CNPq apresentou um programa destinado aos Centros Interdisciplinares de Ciência e, ao mesmo tempo, um dos jornais de maior circulação divulgava a abordagem do problema da Síndrome de Imuno-Deficiência Adquirida mediante uma Associação Internacional e Interdisciplinar.
O quadro acima procura registrar inter-relações do tema. Lado a lado com o ensino e a pesquisa, algumas necessidades sentidas na sociedade (VIII Conferência Nacional de Saúde e campanha Internacional em torno da AIDS) e um tanto de apelo publicitário, circulam na órbita do interdisciplinar. Para instituições que relacionam educação, ciência e sociedade, o que isto quer dizer?
CONTORNOS DO PROBLEMA
Tome-se a interdisciplinaridade com algumas de suas características registradas na literatura e nas experiências, e daí surgirão algumas questões. Prática pouco esclarecida; objeto e meio de descoberta, baseados em epistemologia da diferenciação e da multicausalidade; hipótese de articulação entre a realidade concreta e a realidade reconstruída; processo interligando conhecimento e caminhos para decisão desses aspectos se originam indagações.
Por exemplo: 1 Não havendo, ainda, se não uma recente tradição interdisciplinar nas universidades brasileiras, é a nível de pós-graduação que ela tem sido objeto de tentativas. Essa tradição tem conexão com a história da ciência e com a construção de auto-identidade da comunidade científica? Tem conexão com uma insatisfação relativa ao uso do modelo unidisciplinar? 2 Reconhecida uma vertente européia e as variações americanas (de 1972 e de 1952, respectivamente) o que tem resultado das tentativas brasileiras? Que trunfos, que derrotas, que contradições? 3 Em que o argumento de uma disciplina, criticado ou reforçado por outra disciplina, ganha de consistência para demonstrar, comprovar, ou transformar?
Basicamente, o delineamento acima acentua um tipo de processamento. Ele inclui o pressuposto de que se considera "as condições sócio-históricas da produção de conhecimentos" (Apezachea, Hector A.: A problemática metodológica da pesquisa nas Ciências da Saúde. 1985: 472 OPAS). Para soluções técnicas, esse preliminar tem conseqüências.
E para que as indagações não fiquem no nível da abstração, convém relacionar meios de examinar as questões. Neste tópico é que cabe uma lista dos casos, expressando como vem sendo feita a interdisciplinaridade. Além do que já foi referido, como o contexto do comitê interdisciplinar da Capes, é possível acrescentar o projeto de um doutorado em Ciências Humanas, na UFMG, o qual já tem uma proposta do Dr. Helio Pontes.
Desse modo, datando, situando e historicizando a interseção implícita na interdisciplinaridade, será importante ver como ela tenta, a seu modo, reconstruir a realidade e afirmar a "sua realidade" de modo desfragmentado. A especulação e a prática funcionarão como indicadores de um mapeamento que está, reconhecidamente, por esclarecer. Em outras palavras, trata-se de amealhar indicadores que explicitem o construto da interseção implícita nas práticas ou nas representações que se fazem da interdisciplinaridade. Assim, se dará um passo para desvendar "máscaras sociais" dessas tentativas de vasos comunicantes, ocorrendo em contextos unidisciplinares, em sua maioria, e, portanto, não-comunicantes.
TEORIA
Lado a lado com instâncias empíricas arroladas acima, o assunto da desfragmentação de disciplinas tem sido objeto de discussões teóricas. De modo relativo, podemos distinguir um filão europeu, um americano e um brasileiro.
A Unesco foi influente como o documento OCDE/ CERI "L'Interdisciplinarité: problèmes d'enseignement et de recherche dans les universités". Paris, 1972. Vários pontos de vista e várias experiências são destacados para exame. Aí passam uma crítica e um encorajamento. A revista da Unesco "Prospects" (Vol. XII, No. 3, 1982:281-292) apresenta um artigo de Giovanni Gozzer sob o título de "Interdiscplinarity: a concept still unclear" no qual o tema examinado, criticamente, mas centrado na perspectiva de uma proposta para o uso da interdisciplinaridade, em escolas italianas de nível anterior à universidade. Derivado do primeiro dos documentos aqui indicados, em 1973, a Livraria Bertrand, de Portugal, publicou o texto de Piaget, Jean: "Problemas gerais da investigação interdisciplinar e mecanismos comuns". Este filão europeu registra uma preocupação de retomar o sentido de um conhecimento que permita interseções e, ao mesmo tempo, dê conta da complexidade dos problemas e não conclua que o "real" da divisão das disciplinas eqüivale ao real da vida com suas interações. Então, haverá que se tentar uma demarche reencaminhando a totalidade tentada como meio e como objeto.
No Brasil, com um prefácio do filósofo Georges Gusdorf temos, em 1976, o texto de Hilton Japiassú: Interdisciplinaridade e patologia do saber. Com uma perspectiva de educação e de teoria do conhecimento, este autor inaugura a contribuição brasileira, específica. Em Belém do Pará (UFPa Núcleo de Altos Estudos Amazônicos), em uma ótica de filosofia da ciência, C. Coimbra desenvolveu uma pesquisa sobre interdisciplinaridade. Derivado desta pesquisa, há o texto de um seminário, incluindo contribuições de debatedores entre os quais, o Prof. Benedito Nunes (filósofo). Tais contribuições serão repassadas, em detalhe, como um dos itens deste projeto.
A referência ao filão americano do norte está feita em um dos documentos de "avaliação e perspectivas" do CNPq (série de 1978). É para a parte de programas Materno-infantis que um avaliador da UNB rememora essa fonte.
Para armar um quadro referencial teórico, neste ponto, convém acentuar que uma das inquietações dos filósofos e de outros autores consiste em examinar a interdisciplinaridade, como uma espécie de articulação crítica. No lastro da história moderna do pensamento, eles assinalam a fragmentação como uma "patologia" e a interdisciplinaridade, "como uma "promessa" de desfragmentação. Todos são contemporâneos do convívio com o momento em que há lutas para favorecer a universalização da educação (e da saúde), mas, também, constatam os efeitos apassivadores do que tem sido uma educação setorializada e unidimensional. Por outro lado, tal situação ocorre, quando avanços políticos assumem que para a complexidade dos problemas da vida moderna, a perspectiva da multicausalidade é muito mais estimulante. Então, um modo de ser coerente com a multicausalidade levará em conta um processamento interdisciplinar, como premissa.
Mas, no nível teórico ficam incluídas, também, as representações negativas da interdisciplinaridade. Levar em conta um outro modo de conhecer e responder aos problemas, provoca resistências. Gozzer, acima referido, colocava o problema dos esclarecimentos que estão faltando. Em um dos ambientes, onde a prática era repassada, houve quem a interpretasse como uma "herança maldita". Em artigo recente, a Profª Heloisa Maria Cardoso da Silva ("Problemas e Temas Interdisciplinares", Ciências Humanas, Ano IX, No. 28, Agosto de 1986: 48-59) refere a objeção de "babelismo". Assim, de um lado corre uma reação ao reducionismo, de outro, uma legítima indagação a respeito do significado teórico e prático da proposta, e, ainda assim, fica no ar uma provocação de debate e aprofundamento. A simples metáfora de vasos comunicantes é, aqui, usada como um sinal heurístico mais do que um slogan ou uma conclusão.
METODOLOGIA
Dados os tópicos anteriores (Introdução, utilidade, contorno do problema, teoria) a metodologia deriva da articulação dessas partes e, também, desce ao detalhe das técnicas a serem usadas.
No presente exame do problema não se abriga a proposta de que, por via da intersdisciplinaridade, sejam abolidades as especificidades de cada disciplina. É que tratar, sistematicamente, o assunto em foco, leva à busca de significados e das conseqüências de sua aplicação. Não se assume, pois, que toda e qualquer interdisciplinaridade seja possível e boa. Não é possível examinar a interdisciplinaridade fora dos contextos atuais que têm privilegiado a unidisciplinaridade e, portanto, a setorialização. Tal observação ajuda a perceber que, na realidade, será difícil encontrar "ótimos" de interdisciplinaridade. Como tentativa de tirar proveito do construto de interseção e do tem da totalidade irá ocorrer o matiz da contradição, resultante de um tratamento da mesma, como processo, incluindo determinações e indeterminações simultâneas.
Aquela busca de significados e suas conseqüências será feita mediante dados primários e secundários. A possibilidade de observação será, basicamente, construída mediante a história oral de sujeitos envolvidos em experiências relativas à interdisciplinaridade. A técnica de história oral destaca o envolvimento de pessoas, na construção de experiências.
Em um terceiro nível (além do nível do significado e suas conseqüências, da relação entre interdisciplinaridade e biografia de participantes) há o nível da etnografia ou de uma etnografia da interdisciplinaridade, como metodologia. Isto é, como o antropólogo ou uma equipe irão desvendar o problema dado, enquanto ele é uma espécie de artesanato ou invenção que, ao se concretizar, ganha transformações e, também, "máscaras sociais": símbolos, localização, institucionalização, críticas.
Aliás, é característico o interesse de antropólogos pelo tema das relações, entre grupos ou segmentos da sociedade. Quer sejam relações pacíficas quer sejam relações guerreiras. É que os grupos se diferenciam e se fazem ciosos de sua identidade, muitas vezes, por meio do confronto. A escolha de um chefe, a partilha de recursos reduzidos, a fixação de um território que antes existira, sem demarcação, e depois precisa de ser demarcado, a barreira ou a ponte das diferentes tradições e línguas tudo isso leva a relações interétnicas ou conflitos, também, interétnicos. A diferenciação tem um valor heurístico: seres humanos se revelam pelo contacto de suas diferenças.
Longe de camponeses ou de índios, o tema da interdisciplinaridade traz o antropólogo para as arenas urbanas. Ele se volta para cidades e, aí, depara com administradores falando de "cultura da empresa", sem falar em "cultura dos assalariados" e, muito menos, falando em fatias de interseção ("in between"), mesmo que estejam implicando um processo de negociação e de decisão (Paulo Campbell Dinsmore e Paulo Jacobsen: "Prosolve, processo decisório da criatividade à sistematização". CDP Editora Ltda. Rio de Janeiro, 1985: 54-55). Em um outro meio, um pesquisador contou, na revista da SBPC (Ciência e Cultura), as suas vicissitudes, entre os praticantes de diversas disciplinas; ao conflito latente ou claro, ele chamou de "choque cultural" que é uma categoria antropológica. Assim, vindas da realidade, essas classificações sócio-lingüísticas falam de relações, ainda, não suficientemente estudadas.
A classificação sócio-lingüística é um meio de perceber desdobramentos do significado e das conseqüências. Adicionalmente, é possível interpretar, no caso da interdisciplinaridade, o tema de interseção que exprime, de certo modo, o tema da liminaridade, do atravessar fronteiras, do agente intercultural ("cultural broker"), respeitado o peso da diferença e da assimetria, levando à transformação.
Resumindo, a metodologia reflete uma triangulação entre a teoria, o problema e o que possa ser a realidade em construção ou a reconstruir.