CARTA DO LEITOR

 

Carta ao editor

 

 

O trabalho de Renato Veras, "Considerações acerca de um jovem país que envelhece", alicerçado nos estudos sistemáticos sobre o envelhecimento da população mundial e da brasileira, em particular, que o autor desde ha anos, vem realizando tanto no exterior, como no Brasil. São de Renato Veras importantes trabalhos, pioneira e muito significativa contribuição sobre as condições determinantes do envelhecimento da população e das características socio-demográficas-econômicas, ou seja, os aspectos epidemiológicos, do grupo etário de 60 anos ou mais. Presentemente conduz, no Instituto de Medicina Social da UERJ, pesquisa sobre a população idosa do Rio de Janeiro.

No mundo, constata-se o crescimento, numérico e proporcional, do grupo etário de 60 e mais, principalmente nas últimas décadas, com mais aceleração em países em desenvolvimento. Tanto assim que o Brasil terá, no ano de 2.025, a 6ª. maior população idosa do mundo, com aproximadamente 32 milhões de habitantes de mais de 60 anos de idade. Esses brasileiros já nasceram, prevendo-se-lhes expectativa de vida de 72 a 75 anos. Aqueles, portanto, que nasceram após o ano de 1950 terão grande probabilidade de chegarem vivos ao ano 2.025, principalmente se forem do sexo feminino.

A queda de fecundidade da mulher brasileira (que, dos 5,76 filhos em 1970 passou a 3,53 em 1984) foi acompanhada pelo aumento da expectativa de vida. A taxa de dependência econômica, representada pela soma da população fora do mercado de trabalho (de 0 a 14 anos e grupo etário 65 ou mais), referida à população em idade laborativa (15 a 64 anos), seria compatível com a economia do País, não fossem os gastos com os idosos sensivelmente superiores àqueles relativos a outros grupos etários.

Estudos feitos na Inglaterra, citados por Luiz Roberto Ramos, relativos a 1980, informam:

A posição da mulher, na sociedade brasileira vem se afirmando cada vez mais nos últimos anos, embora os dados relativos à renda ainda não reflitam plenamente a desejada eqüidade. Os dados do PNAD mostraram, para 1985, que a mulher ocupava a posição de Chefe em 18,2% das famílias, situação essa que tende a crescer.

Segundo os dados das PNADs, apresentados por André Cezar Medici no trabalho "Mulher Brasileira: Muito Prazer" (1987), pg. 41, a distribuição percentual das pessoas ocupadas, segundo o sexo e a classe de rendimento, em 1985, era:

Essas diferenças de renda não se devem, no entanto, à escolarização pois, segundo André Medici (trabalho acima mencionado) as mulheres apresentam taxas superiores às dos homens até o grupo etário 3039 anos. A partir daí essas taxas são menores, culminando na população de 60 e mais anos de idade, quando os homens alfabetizados são 58,2% do total, ao passo que as mulheres são apenas 47,4%.

A demanda de serviços de saúde, um dos aspectos das demandas sociais, culturais, econômicas e políticas dos idosos, não se cinge apenas a aspectos quantitativos, em termos de consultas, visitas domiciliares e internações hospitalares, mas também à complexidade e qualidade dos serviços policlínicos que devem ser oferecidos.

Os levantamentos procedidos na rede hospitalar de países desenvolvidos e nos subdesenvolvidos estão a revelar que os leitos estão sendo, progressivamente, cada vez mais ocupados por pacientes de 60 e mais anos de idade, portadores de multipatologias que solicitam cuidados inderdisciplinares e recursos múltiplos para a recuperação. Por sinal mais lenta, refletindo-se em um maior tempo de permanência.

É chegado o tempo de cogitar-se especificamente dos desafios conseqüentes à necessidade de conferir-se qualidades aos anos de vida da população idosa, como de resto deve-se perseguir para toda a população. Felizmente, ao nível dos governos federal, estaduais e municipais desenvolvem-se ações no sentido de promover a saúde bio-psico-social dos idosos. Na Fundação Oswaldo Cruz e na Escola Nacional de Saúde Pública programam-se estudos e atividades docentes, em termos de saúde coletiva, nos vários cursos ministrados anualmente, em apoio à implementação da reforma sanitaria. Esta a decisão firme da Presidência e da Diretoria da ENSP, mereceu o apoio do Projeto PARES e de outras instituições, a partir das diretrizes emanadas do Ministério da Saúde. As pesquisas que Renato Peixoto Veras desenvolve no Rio, as de Luiz Roberto Ramos da Escola Paulista de Medicina e de outros grupos nacionais muito contribuirão para as atividades que ora se implantam na ENSP. Ao nível internacional, o apoio da OMS, de Alexandre Kalache, de London School of Hygiene and Tropical Medicine muito significaráapara o desenvolvimento da área temática saúde do idoso, na ENSP.

Mario A. Sayeg
Professor da ENSP

Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Fundação Oswaldo Cruz Rio de Janeiro - RJ - Brazil
E-mail: cadernos@ensp.fiocruz.br