RESENHA/REVIEW
Mario B. Aragão
Pesquisador Titular da Escola Nacional de Saúde Publica, Fiocruz
The geophysiology of Amazonia: vegetation and climate interactions. Robert E. Dickinson, Editor. New York, John Wiley & Sons, 1987, 526p.
O volume reúne as contribuições a uma conferência internacional sobre as interações climáticas, bióticas e humanas, promovida pela Universidade das Nações Unidas, no Instituto de Pesquisas Espaciais, em São José dos Campos, São Paulo.
O termo geofisiologia foi proposto para a ciência que se preocuparia com o diagnóstico e a prevenção das doenças do planeta Terra.
Não vamos fazer uma resenha desse livro porque a maioria dos artigos está num nível muito acima dos nossos conhecimentos. Limitar-nos-emos a alguns comentários muito gerais.
Fearnside, depois de analisar diversos fatores que têm contribuído para a destruição da floresta amazônica, entre os quais destaca o cultivo da soja e da cana-de-açúcar, no centro-sul, que desempregou um grande contingente de mão-de-obra, chega à conclusão de que, dentro da Amazônia, o mais evidente é a especulação com a terra. Além disso, os incentivos fiscais tornam ainda mais atrativa essa especulação; ele destaca que a formação de pastos é a melhor maneira de evitar a entrada de posseiros.
O capítulo de Mori e Prance discute os fatores que influem na diversidade de espécies e, nele, nota-se a constante preocupação de Prance com a extinção de espécies que a derrubada da floresta provoca.
Dickinson e Virji examinam o que se aprendeu sobre as condições climáticas e a vegetação da Amazônia, nos últimos vinte anos, e chegam à conclusão de que esses conhecimentos são insuficientes para se prever o que pode acontecer com a mudança do regime de chuvas resultante da destruição da floresta. Com base em dados de pólem fóssil, esses autores põem em cheque a teoria dos refúgios.
Esses capítulos constituem a primeira parte do livro "Clima, vegetação e interação humana na Amazônia". Todos são de altíssimo nível, mas esses são os mais fáceis de serem entendidos por quem tem formação biológica.
Na parte do livro relativa aos ciclos biogeoquímicos nos trópicos, tanto Crutzen quanto Seiler e Conrad lembram que a porcentagem de metano na atmosfera está aumentando cerca de 1% ao ano. Curioso que duas fontes importantes desse metano são os arrozais inundados e o intestino dos ruminantes, principalmente bois alimentados só com capim.
Um primoroso capítulo sobre a biologia dos solos tropicais úmidos foi preparado por Patrick Lavelle.
As terceira e quarta partes do livro, que tratam do clima, do ciclo hidrológico e da circulação geral da atmosfera, exigem uma base de física e de meteorogia que, infelizmente, não possuímos. Estas, entretanto , são da maior importância, pois, com a destruição da floresta, se está influindo na atmosfera terrestre, sem um conhecimento seguro de seu funcionamento.
Terminada a conferência, os organizadores distribuíram, a três grupos, os possíveis cenários em que se poderá transformar a Amazonia, dentro de 50 anos. A industrialização e urbanização, decorrentes dos grandes projetos hidroelétricos, a savanização devido a formação de pastos e à implementação de agricultura intensiva. Devido à carência de informações de todo tipo, a melhor recomendação que os grupos conseguiram fazer foi a de que se intensificassem as pesquisas na região, principalmente, reforçando as instituições já existentes. Foi ótima essa conclusão porque, apesar de feita por um seleto grupo de cientistas de diversos países, veio confirmar o que muitos brasileiros têm dito.