RESENHA/REVIEW

 

 

Mario B. Aragão

Pesquisador Titular da Escola Nacional de Saúde Pública/ Fiocruz

 

 

Manual do aluno. Pró-Reitoria de Ensino e Pesquisa. Curitiba, Universidade Federal do Paraná, 1990, 97p.

É comum qualquer serviço público ir piorando com o passar do tempo. Dentro dessa lógica, a Universidade do Paraná, a mais antiga do país, devia ser a pior. Entretanto, isso não é verdade, fui aluno dela na década de 70 e pude testemunhar que possuía alguns departamentos de excelência.

O nome do atual reitor, Riad Salamuni, que apresenta o Manual, me traz uma grata lembrança. O amigo que me apresentou a ele disse: "O Aragão foi punido com uma transferência para Paranaguá", ao que ele respondeu: "se foi punido, é boa gente".

Esse manual, além das informações de praxe, apresenta diversos artigos muito úteis ao desenvolvimento do espírito crítico dos estudantes. Eis os títulos: "Um pouco da história da UFPR", "Introdução ao pensamento crítico da ciência", "Conhecimento popular e científico: duas faces ... uma mesma moeda (a cidadania)"? Vamos nos deter um pouco nesse último, cujo autor, Prof. Sebastião Laroca, recebeu o Prêmio Nacional de Ecologia de 1988.

Talvez por ter começado a vida lavando vidros num laboratório e conhecer as agruras da vida do pobre que deseja estudar, Laroca tem uma sensibilidade especial para descobrir detentores do saber popular. Participando da expedição da Royal Society/Royal Geographical Society, em Mato Grosso, pôde constatar uma simbiose entre o botânico Jim Ratter e um brasileiro analfabeto conhecido por "Taituba". Diante da parte da planta herborizada, Taituba dizia como eram as flores, o porte da planta adulta, características dos frutos, formato da planta jovem etc, o que facilitava a Ratter a identificação científica da planta.

Um fotógrafo da praça principal de Londrina gostava de observar o comportamento de uma abelha do gênero Plebea. Tendo sido descoberto pelo Padre Jesus S. Moure, as suas observações resultaram num trabalho que tem sido citado na literatura internacional.

Trabalhando ultimamente na Amazônia, Laroca ficou impressionado com o grande saber dos mateiros. A esse respeito devo contar que, quando trabalhava em Santa Catarina, encontrei, certa vez, dois mateiros discutindo a diferença entre as folhas de duas espécies de árvores do mesmo gênero.

É bom que os estudantes fiquem logo sabendo que nem todo o saber está dentro da Universidade. Acredito que manuais desse tipo possam ser muito úteis a um estabelecimento de ensino e, por isso, estou doando o exemplar que recebi à biblioteca da Ensp.

Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Fundação Oswaldo Cruz Rio de Janeiro - RJ - Brazil
E-mail: cadernos@ensp.fiocruz.br