RESENHA/REVIEW

 

 

Sheila M. de Souza

Núcleo de Doenças Endêmicas Samuel Pessoa Escola Nacional de Saúde Pública/Fiocruz

 

 

Human Paleopathology: Current Synthesis and Future Options. Donald J. Ortner & Arthur C. Aufderheide (eds.). Washington: Smithsonian Institute Press, 1991. 311 p., ilustrações e biliografia. (Capa Dura) ISBN 1-56098-039-7 UK £ 54.50

A paleopatologia despertou grande interesse nas primeiras décadas deste século, ficando depois, por longos anos, como uma área de pesquisa pouco produtiva e de vocação excêntrica. A partir da década de 70, foi renovado o impulso para a pesquisa científica nessa área, revigorada pela ótica epidemiológica, e pelo estudo comparativo das doenças em populações especiais, atuais ou pretéritas.

Nas duas últimas décadas a paleopatologia passou a não ser vista apenas como uma coletânea de curiosidades sobre doenças do passado, e adquiriu caráter de especialidade, ou área de concentração de estudos que, aliada à antropologia médica e à história da medicina, ajuda a compreender como se dá o processo de saúde-doença nas populações humanas, considerando seus aspectos histórico-evolutivos.

Em 1988, reuniram-se vários especialistas durante o International Congress of Anthropological and Ethnological Sciences, em Zagreb, na Iugoslávia, de 24 a 31 de julho de 1988. Dessa reunião resultou o presente volume, editado por Donald Ortner e Arthur Aufderheide, com o apoio do Smithsonian Institution, EUA.

O livro, apresentado pelos editores, procurou organizar os trabalhos por temas: teoria, métodos, estudos populacionais, tuberculose, lepra, artroses, trauma, doenças dentárias, e condições patológicas diversas. Cada um destes temas comporta atualizações sobre o estado da arte, bem como estudos de casos, problematiza questões e propõe revisões de modelos e interpretações. A bibliografia citada é em geral sumária, objetiva. Cada trabalho é acrescido de uma síntese da discussão que se seguiu à sua apresentação, com destaque às contribuições inovadoras e críticas pertinentes. As ilustrações são excelentes e os textos, curtos e objetivos, incluem representações esquemáticas e tabulações de dados, agilizando a leitura e interpretação.

Foram objetivos do simpósio, entre outros, polemizar questões metodológicas e de inferência, avaliar a contribuição da paleopatologia ao estudo da saúde de populações atuais, consolidar a paleoepidemiologia e definir as perspectivas futuras em paleopatologia.

Embora bem-sucedido, o simpósio não logrou apresentar uma produção satisfatória no que se refere à associação da história da medicina e paleopatologia, o que pareceu, aos seus organizadores, refletir a realidade acadêmica no que se refere à integração das duas disciplinas, problema este que se deverá buscar corrigir no futuro.

A equipe da Fiocruz apresentou uma revisão sobre sua produção em paleoparasitologia, enfatizando os principais objetivos da pesquisa no Brasil. Voltado para a questão do aprimoramento da sistemática de parásitos em bases morfoscópica e morfométrica, e superando as dificuldades impostas pelos processos pós-deposicionais que afetam a morfologia parasitária nos restos arqueológicos, esse estudo tem oferecido novos modelos para comprrensão da evolução das doenças parasitárias e também dos processos de migração e povoamento do continente americano.

Outros trabalhos que se destacam são os de Brothwell, discutindo a história das zoonoses; o de Manchester, discutindo as evidências paleopatológicas e históricas da interação lepra x tuberculose; o de Stuart-Macadam, sobre a anemia e suas repercussões ósseas; o de Tuross, sobre paleoserologia; o de Aufderheide & Aufderheide, sobre a mumificação natural em Venzone, Itália; o de Vyhnanek & Stloukal, sobre os distúrbios de crescimento ósseo (linhas de Harris); o de Urteaga-Ballon sobre as práticas cirúrgicas e a presença de leshmaniose nas civilizações peruanas pré-históricas; os estudos de populações pré-históricas, de contato, e históricas, feitos por Owsley, Kelley, Susuki, Bennike, Munizaga e outros; os de Buikstra & Williams e Powell, sobre a tuberculose, as treponematoses e a questão do custo adaptativo da doença crônica para populações indígenas; o de Andersen, sobre o diagnóstico medieval da lepra; o de Jurmain, sobre traumatismos; e, finalmente, os de Dahlberg e Goodman, sobre os problemas da dentogênese.

No seu conjunto, o livro é fundamental à atualização de quem pesquisa nessa área, mas também interessante para quem lida com a questão epidemiológica. Embora, como enfatiza Pfeiffer no referido volume, a paleopatologia não seja, no mais das vezes, um preditor relevante para o estudo dos padrões contemporâneos de saúde, esta poderá ser útil, consideradas as especificidades genéticas, ambientais e culturais, compreensão do panorama epidemiológico atual e mesmo realização de algumas projeções futuras.

Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Fundação Oswaldo Cruz Rio de Janeiro - RJ - Brazil
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