EDITORIAL
Carlos E. A. Coimbra Jr.
Editor
A publicação científica no Brasil vive hoje um quadro marcado por enormes dificuldades, reflexo da conjuntura político-econômica do país. Dos mais de dois mil títulos de periódicos editados no Brasil, salvo algumas exceções, a grande maioria tem enfrentado problemas recorrentes devido à exigüidade de recursos financeiros ou mesmo à falta de bons manuscritos para publicar. Estes e outros agravos ocasionam atrasos no cronograma de publicação, o que, por sua vez, toma ainda mais difícil a obtenção de recursos de agências financiadoras, assim como de bons manuscritos. Em última instância, este círculo vicioso resulta no pequeno número de periódicos nacionais atualmente listados nos principais indexadores internacionais, em elevada taxa de encalhe das publicações, e falta de estímulo de autores e grupos de pesquisadores mais estabelecidos para publicarem os resultados de seus trabalhos nas revistas brasileiras.
Estas e outras questões foram intensamente debatidas durante o IV Encontro de Editores Científicos, promovido pela Associação Brasileira de Editores Científicos (ABEC), realizado em Caxambu, Minas Gerais, entre 26 e 29 de novembro do corrente. As atividades do Encontro foram baseadas em oito mesas-redondas que abordaram questões centrais à publicação e informação científica no Brasil.
A comunicação dos resultados de pesquisas tanto à comunidade acadêmica como à sociedade em geral foi destacada como uma das principais finalidades das revistas científicas. Além disso, os periódicos revestem-se de importância no estabelecimento de padrões de qualidade em pesquisa, na avaliação da produtividade individual e institucional, além de cumprirem importante papel na memória e exportação da ciência produzida no país.
Para que as revistas cumpram com estas finalidades, é fundamental que se garanta sua integridade científica, o que só pode ser atingido através de um cuidadoso processo de avaliação dos manuscritos por especialistas. O sistema de análise de manuscritos entre pares, isto é, por profissionais reconhecidos da área, é essencial para assegurar uma avaliação imparcial e informada do tema tratado, assegurando credibilidade à revista e aos artigos nela publicados.
Durante o Encontro da ABEC, foi consenso que não se pode avaliar ciência nacional e internacional por diferentes critérios. As revistas brasileiras devem primar pela originalidade e qualidade na seleção dos manuscritos, dado que sacrificar estes pressupostos compromete não apenas sua aceitação e credibilidade perante a comunidade científica, como também a memória da ciência do país. Vê-se daí a responsabilidade que recai sobre os editores e consultores na consolidação dos periódicos nacionais.
Há também que se destacar o papel estratégico a ser preenchido pelos organismos de amparo à pesquisa federais e estaduais no apoio continuado aos esforços da ABEC e dos corpos editoriais das várias revistas na garantia de qualidade, periodicidade e aprimoramento das publicações científicas brasileiras.
Tão estratégico quanto o apoio à produção da revista é assegurar sua distribuição. O número de assinantes individuais e institucionais da maioria dos periódicos brasileiros é reduzido, insuficiente para cobrir os custos de produção ou mesmo de distribuição. Ao contrário do que se verifica com periódicos da América do Norte e Europa, que, em grande parte, conseguem manter-se a partir das assinaturas, especialmente as institucionais, a realidade das bibliotecas dos centros de pesquisa e ensino brasileiras é bem diferente. Particularmente nos últimos anos, a situação agravou-se de tal modo que, salvo raras exceções, as assinaturas de importantes revistas estrangeiras foram interrompidas e os títulos nacionais que continuam chegando são, quase sempre, doações. Portanto, o apoio oficial às revistas científicas brasileiras não pode limitar-se ao seu custeio; deve, também, garantir sua ampla distribuição através do sistema de bibliotecas públicas e universitárias.