RESENHA REVIEW
Mario B. Aragão
Departamento de Ciências Biológicas
Escola Nacional de Saúde Pública/Fiocruz
Morrendo à Toa. Causas da Mortalidade no Brasil. Sergio Goes de Paula. São Paulo: Ática, 1991. (Ensaios 134)
ISBN 85-08-03995-6
Sergio Goes de Paula é, sem dúvida nenhuma, o discípulo mais brilhante de Mario Magalhães da Silveira. O autor do livro, originalmente tese de doutoramento na Unicamp, não gosta de afirmações categóricas, mas logo nas primeiras páginas sente-se a sua força.
A proposta do livro é mostrar que dados demográficos, sabidamente precários, podem permitir a compreensão de fenômenos sociais. Logo de início, o autor chama a atenção para o fato de, apesar do Brasil ser um país de grande mortalidade, ser mínima a produção científica sobre o assunto.
Na introdução teórica são comparadas as idéias de Malthus e de Marx. A história veio mostrar que a teoria da população, que deu fama a Malthus, era falsa. Por outro lado, as suas idéias sobre economia, que passaram quase despercebidas, são nada mais nada menos do que o neoliberalismo, que andou em voga no governo Collor. Em contrapartida, as idéias de Marx sobre população são muito mais condizentes com a realidade observável. A acumulação de capital determinaria os níveis de população, tanto a empregada como o chamado "exército industrial de reserva". Desta forma, segundo o autor, Marx teria desenvolvido uma teoria da superpopulação.
Em "As ilusões perdidas" é discutida a transformação do médico artesão em médico assalariado. Neste mesmo capítulo, ficamos sabendo que o golpe de misericórdia na teoria da população de Malthus foi dado por Mario Magalhães da Silveira, numa comunicação feita à Organização Mundial da Saúde em 1962.
Em "Conhecer e medir" são discutidos os problemas da demografia e, principalmente, suas limitações. No capítulo seguinte são comentadas algumas variáveis demográficas e análises feitas por outros autores. Nele, fica-se sabendo que, até a altura de 1920, a taxa de crescimento populacional era mais elevada nos países desenvolvidos, o que se inverte a partir de 1930, quando os países menos desenvolvidos passam a apresentar taxas de aumento populacional mais altas.
Está muito interessante o estudo sobre a queda da fecundidade da mulher brasileira.
Em "Vivendo e aprendendo" são analisados os dados de causas de morte nas capitais brasileiras. Mesmo sabendo da precariedade destes dados, mostra que eles são úteis e chega à conclusão de que as condições de saúde de uma população dependem, fundamentalmente, do consumo individual e coletivo.
Trata-se de um livro indispensável a qualquer instituição de sáude pública. Além disso, há que se destacar a primorosa redação de todos os capítulos.