TESES DISSERTATIONS
PASQUALIN, L., 1992. Pediatria: O Triângulo Doloroso. A Prática Pretendida e a Permitida (Marco Antonio Barbieri, orientador). Tese de Mestrado, Ribeirão Preto: Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo. 193 p.
O pressuposto basico do presente estudo é a existência de um hiato entre a prática pediátrica e seu ensino a nível de residência. Entendendo que a terminalidade da formação médica pediátrica encontra-se na residência, já que a graduação não tem conseguido preparar o médico para sua prática profissional, pensou-se em estudar a residência, a fim de verificar se esta tem alcançado este fim.
Foram entrevistados 20 ex-residentes do Departamento de Puericultura e Pediatria do Hospital das Clínicas, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, independente do local em que fizeram a graduação. As entrevistas seguiram um roteiro previamente desenvolvido de perguntas abertas e fechadas, sendo, portanto, entrevistas semi-estruturadas.
A metodologia usada foi do tipo qualitativo, embora alguns dados quantitativos também tenham sido considerados. A dialética baseada no materialismo histórico direcionou a interpretação do material obtido.
Após fazer uma revisão histórica da residência médica, da prática médica, do sentimento da infância e do ensino de pediatria, aliada aos dados obtidos das entrevistas, pôde-se detectar a distância entre a formação e a prática pediátricas, além de se fazer uma avaliação do ensino de pediatria na residência em questão.
Pode-se perceber, através da carga horária do residente, a intensa atividade a que este é submetido pela programação dos estágios e plantões, caracterizando um ativismo com poucas, ou quase nenhuma, reflexão e criatividade, alienando-o da realidade de saúde.
Além disso, o fato de se privilegiar as atividades no Hospital Escola, em detrimento de uma efetiva assistência primária à saúde, não possibilita que o residente entre em contato com esta realidade de saúde.
Estes dois fatos descritos, aliados à valorização excessiva dos conhecimentos tecnológicos, em detrimento dos psicossociais, dão origem a um grande salto entre a formação e a prática, fazendo com que esta seja percebida como "dolorosa" para os componentes do triângulo envolvido na consulta pediátrica.
Propõem-se, além de uma discussão mais ampla em relação à estrutura da residência, uma "integração médico-comunidade" e a interdisciplinaridade como formas de diminuir a distância entre formação médica e prática profissional, de forma a se atingir uma prática social transformadora.
A aproximação da Medicina do modelo biomédico com a Medicina Social e a Medicina Psicossomática foi sugerida como uma possibilidade de se viabilizar as propostas anteriores..
VIANNA, M. B., 1992. O Médico Fala. A Mãe Apenas Ouve. Quem Cala, Consente? (Roberto Kant de Lima, orientador; Magali Alonso Lima, co-orientadora). Tese de Mestrado, Rio de Janeiro: Instituto Fernandes Figueira. 120 p.
Inicio este trabalho contando como foi, para mim, a descoberta de um novo caminho de investigação científica os métodos de pesquisa em Ciências Sociais e como fui construindo o meu objeto de estudo.
No primeiro capítulo descrevo as concepções de saúde/doença e os critérios de percepção da doença que médicos e pacientes relataram nas entrevistas realizadas no ambulatório de pediatria do Instituto Fernandes Figueira (IFF)/Fiocruz, demonstrando que, apesar de possuírem conhecimentos muito diferentes em relação às doenças, existem algumas semelhanças entre as concepções de doença de médicos e pacientes, assim como na forma de percebê-la. Alé disso, é através dos pontos de identificação que médicos e pacientes se relacionam, evitando que as diferenças possam se transformar em focos de conflito nesta relação. É o "encontro das concepções".
O capítulo seguinte é dedicado a uma abordagem etnográfica da consulta no ambulatório de pediatria do IFF, desde a descrição espacial até a descrição da consulta propriamente dita. Em seguida, procuro descrever, conforme observado no trabalho de campo, como as expectativas, tanto aos dos pacientes como as dos médicos, não se realizam durante a consulta, e que, apesar disso, ambos se dão por satisfeitos. Denominei este capítulo "o desencontro das expectativas".
Em seguida, defino a consulta médica no IFF como um ritual, já que o ritual é um dos meios mais importantes para a transmissão e a reprodução de valores, estando fortemente associado à noção de poder. A partir do relato dos diferentes significados que são dados aos fatos ocorridos nas consultas, pretendi entender a nossa sociedade como própria, como diferenciada de outras.
Portanto, descrevendo como se deu este ritual, que é a consulta médica dentro do IFF, mostro que a relação médico-paciente durante a consulta, que dá forma ao ritual, estabelece-se em nossa sociedade vinculada às condições ambíguas em que são criadas, a partir da confusão de ideais igualitários e individualistas, com práticas hierárquicas e holísticas. Nesta nossa sociedade hierarquizada há uma forma própria de se manejar o conflito, que se faz também presente na forma de se tratar as doenças, um tipo de conflito e um símbolo da desordem.
Por fim, teço considerações a respeito das respostas que consegui aos meus questionamentos iniciais, das novas dúvidas que surgiram e, finalmente, de como, após a realização deste trabalho, a minha prática profissional foi influenciada.
STRUCHINER, M., 1992. Faculty Variables as Factors in the Diffusion of Educational Media Programs (Brazilian School of Public Health) (Dr. Gaylen Kelley, Major Professor). Tese de Doutorado, Boston: School of Education, Boston University. 244 p., Appendices, Bibliography, Vita, List of Tables, List of Figures.
The objective of the present study was the determine the association and relative influence of faculty individual characteristics as they related with Attitudes toward Educational Media. All 149 faculty members (professors and researchers) who were developing their regular academic activities at the Brazilian School of Public Health were invited to participate in the study by responding to the "Questionnaire about Teaching and the Use of Teaching Resources". This instrument was designed to gather data on teachers' attitudes toward educational media (dependent variable) and on 16 individual characteristics selected from previous research from the educational media field and linked to Rogers' (1983) conceptual model for individual characteristics related with the process of innovation adoption.
These variables were organized into seven basic groups: Demographic Characteristics (Age and Sex), Academic Status (Academic Rank and Highest Degree), Academic Area (Academic Department and Field of Specialization), Specialization of Teaching (Years of Teaching and Teaching Load), Related Attitudes (Attitudes toward Educational Practices and Teaching Importance), Communication Patterns (Information Seeking about Instruction, "Cosmopoliteness", and Scientific Projection), Experience with Media (Media Utilization, Exposure to Media, and Media Effectiveness).
Of those who received the final instrument, 91% completed and returned the questionnaire. Each variable group was analyzed separately in individual models using forward stepwise logistic regression procedures. The models were designed to compare the proportion of more favorable Attitudes toward Educational Media in relation to faculty characteristics. Five variables were identified as statistically significant: Age, Information, Seeking about Instruction, Attitudes toward Educational Practices, Media Utilization, and Exposure to Media. These variables were able to provide moderately good and very good fit in four of the seven models.
Discussion of the findings focused on the nature of the variables examined as they related to the cultural context as well as to their relevance in higher education environments. Implications and recommendations for the educational media field and for the specific setting of the study are discussed in order to provide strategies for the diffusion and systematic adoption of educational media in academic institutions.
DESLANDES, S. F., 1993. Maus-Tratos na Infância: Um Desafio para o Sistema Público de Saúde. Análise da Atuação CRAMI-Campinas (Maria Cecília de Souza Minayo, orientadora; Simone Gonçalves de Assis, co-orientadora). Tese de Mestrado, Rio de Janeiro: Escola Nacional de Saúde Pública, Fundação Oswaldo Cruz. 197 p., Tabelas, Ilustrações, Bibliografia, Anexos.
O presente estudo consiste na análise da atuação de uma organização pioneira no País (o CRAMI-Campinas) no atendimento de crianças e adolescentes (e seus familiares) vítimas da violência doméstica. Procurou-se conhecer e analisar criticamente a potencial contribuição desta experiência (seja a nível de seus princípios norteadores, suas estratégias de ação, seu registro e conhecimento das famílias envolvidas na prática de maus-tratos) para a criação de ações preventivas à violência doméstica possíveis de serem adotadas no Sistema Público de Saúde.
A opção teórico-metodológica do estudo fundamentou-se na abordagem dialética da teoria sociológica da análise organizacional. Utilizou-se principalmente a metodologia qualitativa (hermenêutica-dialética), complementada por dados de base estatística. A pesquisa focalizou a estrutura, processos, contradições e representações presentes na atuação CRAMI. Além disso, foram caracterizadas as famílias atendidas no período de 1988-1992, compondo, assim, um perfil epidemiológico descritivo, enriquecido pela articulação das representações sociais de um grupo de famílias entrevistadas. Diante dos resultados obtidos, considerou-se a potencial contribuição da experiência do CRAMI para a implementação de ações no Sistema Público de Saúde. Foram apontadas, ainda, algumas ações viáveis aos serviços de saúde pública frente ao problema da violência doméstica contra crianças e adolescentes, enfatizando-se a prevenção primária.
MENEZES, M. G. P. T., 1993. O Círculo do Horror. A Reclusão Hospitalar na Infância: Uma Proposta de Intervenção Psicanalítica (Maria Euchares Motta, orientadora). Tese de Mestrado, Rio de Janeiro: Departamento de Psicologia, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. 261 p.
A reclusão hospitalar na infância é pensada como uma categoria do conceito de perversidade social. A Nova Psicanálise é utilizada para intervir neste quadro social e apresentar propostas eficazes contra a instalação da neurose social.
TOCANTINS, F. R., 1993. As Necessidades na Relação Cliente-Enfermeiro em uma Unidade Básica de Saúde. Uma Abordagem na Perspectiva de Alfred Schutz. Tese de Doutorado, Rio de Janeiro: Escola de Enfermagem Anna Nery, Universidade Federal do Rio de Janeiro. 105 p., Bibliografia, Anexos.
Minha proposta de estudo foi compreender o significado de necessidade no contexto assistencial do enfermeiro em uma unidade básica de saúde. Para tal, optei por uma trajetória que possibilitasse o desvelar deste significado, a partir da inter-relação dos significados conferidos por aqueles obrigatoriamente envolvidos o cliente e o enfermeiro. Assim, lancei mão, como referencial teórico-metodológico, da abordagem do social proposta por Alfred Schutz. Procurei captar, neste sentido, aquilo de típico nas vivências dos sujeitos envolvidos na ação de enfermagem, isto é, do cliente que procura a Unidade Básica de Saúde e do enfermeiro que presta assistência nesta Unidade, respectivamente. A análise comparativa entre os dois tipos construídos ocorreu tendo por diretriz a concepção de reciprocidade de perspectivas na relação cliente-enfermeiro, onde o "motivo-para" procurar a Unidade, por parte do cliente, é o "motivo-por que" da assistência prestada pelo enfermeiro. Esta análise possibilitou-me identificar que, enquanto o cliente apresenta como necessidade o pronto atendimento devido a um problema de saúde vivenciado, o enfermeiro orienta sua assistência para necessidades epidemiologicamente concebida, e mais especificamente, para necessidades de aderência a um determinado programa de saúde. Esta não-reciprocidade de perspectivas conduziu-me a tecer algumas considerações, tendo em vista a adequação das ações do enfermeiro às necessidades assistenciais da população.
VAITSMAN, J., 1993. Flexíveis e Plurais. Identidade, Casamento e Família em Circunstâncias Pós-Modernas (Neuma Aguiar, orientadora). Tese de Doutorado, Rio de Janeiro: Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro. 105 p., Anexo, Referências, Bibliografia.
A presente tese analisa as mudanças nos padrões de casamento e família em um segmento de classe média no Rio de Janeiro, a partir do final dos anos 60, com base em entrevistas qualitativas com 22 homens e mulheres. Essas entrevistas focalizam três momentos nas histórias de vida analisadas: a adolescência, marcada por descontinuidades em relação às expectativas nos padrões de comportamento e valores da geração anterior; os primeiros casamentos e separações; e a reconstrução da vida afetivo-sexual.
O trabalho vincula as mudanças na divisão social e sexual do trabalho, em um contexto de mobilidade social e espacial e de contestação anti-autoritária, à ruptura da dicotomia entre papéis públicos e privados atribuídos segundo o gênero. Considera que a participação das mulheres na esfera pública, a partir de meados dos anos 60, afetou, de forma decisiva, a construção das identidades feminina e masculina e os padrões de casamento e família até então predominantes entre as classes médias e urbanas. Desta forma, relaciona as transformações vividas em um nível microssocial, na vida privada, com aquelas ocorridas em um nível macrossocial.
Ao desafiarem a concepção de uma natureza feminina associada exclusivamente ao mundo privado, as mulheres puseram em xeque os discursos e as práticas patriarcais que marcaram a institucionalização das relações de gênero nas sociedades modernas. Este processo, que implicou a constituição das mulheres como "indivíduos", enquanto categoria histórica, é interpretado como parte das tendências pós-modernas que, colocando no centro de sua crítica cultural e política a questão da diversidade, da heterogeneidade, da pluralidade e da diferença, desafiaram os discursos universalizantes, pretendendo estabelecer normas e padrões gerais válidos para o conjunto da experiência humana, mas que acabaram legitimando diferentes formas de desigualdade, entre elas a de gênero.
A maior igualdade entre homens e mulheres, que, formando casais, desenvolveram aspirações de autonomia e projetos de vida muitas vezes divergentes, abalou a estabilidade da forma de casamento e de família, marcada pela dicotomia de papéis, a qual havia se tornado típica das sociedades modernas. A identidade feminina fragmentou-se devido à multiplicidade de seus papéis nos mundos público e privado. Como parte das mesmas circunstâncias históricas que produziram estas transformações e diante de situações de vida diversificadas e em constante mudança, as escolhas e decisões de homens e mulheres em relação à vida afetivo-sexual tornaram-se flexíveis e plurais, não obedecendo a padrões preestabelecidos.
Os discursos reconhecem os limites impostos pela fragmentação das situações de vida, e este reconhecimento, bem como a afirmação da diferença, incorpora-se à visão de mundo. Ao longo da vida, as práticas de casamento e de família implicam a convivência de uma pluralidade de possibilidades, de uma gama variada de comportamentos afetivo-sexuais. A heterogeneidade institui-se como um fato aceito no campo do casamento e da família.