RESENHA REVIEW

 

Mario B. Aragão

Departamento de Ciências Biológicas
Escola Nacional de Saúde Pública

 

 

O Sábio e a Floresta. A Extraordinária Aventura do Alemão Fritz Müller no Trópico Brasileiro. Moacir Werneck de Castro. Rio de Janeiro: Rocco, 1992.

Tivemos notícia da existência de Fritz Müller por uma pequena estátua existente em Blumenau, Santa Catarina. Da importância de sua obra, entretanto, só tivemos idéia ao lermos Ontogeny and Phylogeny, de Stephen Jay Gold. Sabíamos que ele tinha sido colono em Blumenau. Desta forma, ficava uma interrogação: como uma pessoa sem uma sólida base científica poderia ter desenvolvido a sua obra? Esta e outras perguntas estão plenamente respondidas neste pequeno livro de Moacir Werneck de Castro.

Fritz Müller era neto de um farmacêutico e filho de um pastor interessado em história natural. Depois de se formar em Farmácia, foi estudar Medicina na Universidade de Berlim, onde doutorou-se com uma tese sobre suas observações originais feitas com as sanguessugas dos arredores da cidade.

Ainda estudante de Medicina, tornou-se um subversivo, e isto é importante, pois um grande cientista tem que ter mentalidade de subversivo.

Vivia-se a época dos naturalistas viajantes — Humboldt, Martius, Burmeister — e, até, dos artistas viajantes, como Rugendas.

Desiludido com a derrota dos democratas e com a dissolução do parlamento de Frankfurt pela força armada, em 1849, e, ainda mais, com a impossibilidade de exercer a Medicina, devido ao fato de ter se negado a fazer o juramento, resolveu engrossar a onda de emigração de alemães para o Novo Mundo.

Nos primeiros tempos, os instrumentos do colono cientista eram o machado e a enxada. Era preciso abrir a mata para fazer lavoura e construir moradia.

Foi, por alguns anos, professor do ginásio da capital, Desterro, hoje Florianópolis, onde ficou surpreso com a anarquia dos currículos. Um depoimento sobre um aluno negro mostra sua aversão ao racismo, coisa rara entre os alemães.

Com base em observações feitas com os crustáceos da ilha de Santa Catarina, escreveu o seu único livro, Für Darwin (Pró Darwin), cuja tradução, promovida por Darwin, Facts and Arguments for Darwin, saiu em Londres, em 1869.

Muito curiosa a descrição de um bicho fantasmagórico, da crendice popular, o Der Minhocão.

Quando foi nomeado naturalista viajante do Museu Nacional, passou a trabalhar muito mais do que o normal. Justificava esta conduta dizendo que, como estva comendo o pão do Museu, tinha de lutar por ele.

A leitura deste livro nos leva à conclusão de que Fritz Müller foi, na realidade, um grande boêmio. A sua felicidade consistia em estudar as plantas e os bichos; os bens materiais pouco lhe importavam. Grande lição.

Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Fundação Oswaldo Cruz Rio de Janeiro - RJ - Brazil
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