RESENHA/RESENHA
Edgar Hamman
Escola Nacional de Saúde Pública; Fundação Oswaldo Cruz
A Construção da Solidariedade: AIDS, Sexualidade e Política no Brasil. Richard Parker. Rio de Janeiro: Abia, IMS-UERJ, Relume-Dumará, 1994. (Série História Social da AIDS, vol. 3)
Organizado em sete capítulos distribuídos em três partes, o livro "A Construção da Solidariedade: AIDS, Sexualidade e Política no Brasil" constitui um aporte fundamental para vários setores, o público da academia, para pessoas engajadas na luta contra a AIDS, e para o público que busca informações sobre a epidemia no Brasil. Para os pesquisadores, este livro é uma oportunidade de conhecer uma forma de vincular a teoria, no caso, uma linha de pensamento antropológico construcionista pós-moderno, com formas específicas de ação, isto é, a inserção na militância política como resposta a problemas sociais. Richard Parker, antropólogo da Universidade de Berkeley, se apóia em dados oriundos de pesquisas etnográficas, como os resultados da investigação efetuada em homens que fazem sexo com homens no Rio de Janeiro. Elas fornecem não só dados empíricos do problema objetivado pelo pesquisador mas também conseguem contextualizá-lo no universo da realidade brasileira. A combinação destes elementos fornece uma imagem bem abrangente da história da epidemia e da maneira como se articularam as respostas ao problema. Desta forma, Parker discorre por uma série de passos necessários para a compreensão integral do problema, enfatizando nas relações sociais informais e institucionais dos atores envolvidos.
São examinados suscessivamente, a forma de construção social da AIDS no Brasil, a construção do comportamento sexual (homo e bissexual) e a sua relação com a epidemia, e as diversas respostas à crise gerada por ela. Estas últimas oferecem uma oportunidade de rever as políticas públicas do Estado e as respostas de setores organizados da comunidade. Aprofunda-se na racionalidade da campanha do Ministério da Saúde ao longo de uma década, veiculada por vários meios, principalmente via televisão, e os seus conteúdos informativos e educativos. Também resgata-se a história de vários movimentos da comunidade, entre eles os formados pelas próprias pessoas afetadas pela epidemia, como o grupo Pela Valorização, Integração e Dignidade do Doente com AIDS-HIV (Grupo Pela Vida), criado por Herbert Daniel.
Finalmente, Parker reconhece a frustração de não ver os resultados de múltiplas pesquisas científicas transformados em ações efetivas de intervenção. Isto nos obriga a rever as formas das respostas à crise, sendo a proposta do autor a valorização da ideologia sexual brasileira e das suas particularidades com respeito à vivência do erótico. Também, se propõe a utilização desta interpretação cultural como subsídio para elaborar novas formas de assegurar a prevenção.