As Ciências no Brasil. Fernando de Azevedo (organizador). 2a edição, Rio de Janeiro: Editora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, 1994. 2v., ilus.
ISBN 85-7108-067-4
O Fórum de Ciência e Cultura da Universidade Federal do Rio de Janeiro fez uma coisa que há muito já deveria ter sido feita: reeditou As Ciências no Brasil de Fernando de Azevedo.
Faz muito tempo, andei lendo algumas partes desse livro na biblioteca do Instituto Oswaldo Cruz e, quando recentemente apareceram diversos volumes sobre as ciências no Brasil, fiquei impressionado com a diferença de padrão. Como diz Antônio Cândido no prefácio, o primeiro "foi a síntese orientada pelo homem certo na hora certa". Apesar do autor desse prefácio falarem saber "desinteressado" Fernando de Azevedo abre a introdução, mencionando o papel da Escola de Sagres nas descobertas do século XVI.
Muito bem explicadas as razões do atraso cultural do Brasil, no tempo da colônia.
Não sabíamos do papel do Visconde do Rio Branco, no desenvolvimento do ensino das ciências com a transformação da Escola Central em Escola Politécnica e a fundação da Escola de Minas em Ouro Preto.
Fernando de Azevedo critica acerbamente, o que chamou de "era dos tributos" que se instalou no segundo império, mas essa introdução é, na verdade, tuna bela peça oratória.
A matemática está apresentada por F. M. Oliveira Castro. No império ela foi ensinada onde era necessária, nas escolas militares e de engenharia.
Para quem não é versado em astronomia fica difícil fazer qualquer comentário sobre esse capítulo. Entretanto, salta aos olhos o interesse que existia por essa ciência no tempo das grandes descobertas. Houve até padres jesuítas astrônomos.
A física foi apresentada por J. Costa Ribeiro e sua história é semelhante à das outras ciências. Acompanhou o lento desenvolvimento cultural do país.
O estudo da meteorologia coube ao seu maior entusiasta, Sampaio Ferraz. É uma história de lutas, vitórias e derrotas, onde sobressaem as contribuições individuais.
Já conhecíamos a força do prof. Victor Leinz, de modo que não nos surpreendeu o brilhantismo de sua apresentação da geologia. Do mesmo nível é a contribuição de Othon Leonardos sobre a mineralogia e a petrografia.
Na geografia Costa Pereira apresenta, na realidade, uma interessantíssima história do Brasil.
Uma comparação com a História das Ciências no Brasil editada por Mario Guimarães Ferri e Shozo Motoyama, fica difícil, são coisas heterogêneas. A partir da criação de CNPq, da Finep e das fundações estaduais, pode-se dizer. "choveu dinheiro na horta da pesquisa científica". Houve uma explosão de publicações e, como dizem diversos autores, a qualidade não correspondeu aos recursos disponíveis. Nisso ainda interfere um outro fator. A associação do ensino com a pesquisa levou à necessidade de fazer currículo. Dessa forma, é comum encontrar trabalhos de professores universitários tecnicamente muito bem feitos, mas que não acrescentam uma linha ao conhecimento humano. Publicados, portanto, unicamente para servir como título. O que, a nosso ver, é lamentável.
Mario E. Aragão
Departamento de Ciências Biológicas
Escola Nacional de Saúde Pública