Debate on the Paper by Marques
Alexandre da Costa Linhares
Instituto Evandro Chagas
Fundação Nacional de Saúde
Entendemos que o trabalho apresentado traduz, essencialmente, uma profunda e abrangente reflexão acerca de um tema da atualidade de alcance universal, qual seja o das doenças infecciosas emergentes. Destaca-se a complexidade da questão, à luz de um enfoque prospectivo, ressaltando-se o fator imprevisibilidade do panorama nosológico como limitante quanto à eficácia de medidas que contenham a escalada de patógenos novos para a ciência, bem como daqueles cuja importância, até recentemente, era subestimada.
Em recente publicação, Henderson (1994) assinala que a efetiva prioridade antes atribuída pelos órgãos oficiais de saúde, médicos em geral e pesquisadores às doenças infecciosas foi deslocada para os processos crônicodegenerativos. Como reflexo dessa condição, ressalta o autor, a própria importância e abrangência de unidades e divisões da Organização Mundial da Saúde (OMS), relacionadas a patologias como a tuberculose, a lepra e outras, foi sensivelmente reduzida. É notória a ênfase conferida ao fortalecimento dos programas de imunização, como recurso para deter o avanço das doenças infecciosas emergentes. O "recente e dramático" reaparecimento do sarampo nos Estados Unidos, por exemplo, bem denota a aparente insuficiência, mesmo nos países desenvolvidos, da prática rotineira de vacinação.
A título de sugestão, recomendamos que a autora amplie as informações sobre a ocorrência da síndrome pulmonar ocasionada pelo hantavírus no sudoeste dos EUA. Tal evento, assim admitido, bem caracterizou a relativa ineficiência dos serviços oficiais de saúde desse país, no manejo de epidemias causadas por "novas" doenças infecciosas (Gellert, 1994).
Também caberia certo destaque, assim entendemos, ao uso indiscriminado de antibióticos, daí resultando cepas bacterianas resistentes a múltiplas drogas, como os pneumococos no seio hospitalar e enterococos não-sensíveis à vancomicina (Marwick, 1995).
Em âmbito nacional, julgamos merecer particular ênfase a multiplicidade de arbovírus que se mantêm em ciclos enzoóticos na região amazônica, infectando tangencialmente o homem que entra em contato com a mata. São 183 vírus diversos, 157 dos quais isolados pela primeira vez no Brasil, e, importante, 87 destes novos para o mundo. Nesse contexto, destaquem-se 34 agentes capazes de infectar o homem (Vasconcelos et al., 1992).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
HENDERSON, D. A., 1994. Journal of lnfectious Diseases, 170: 284-285.
GELLERT, A. G., 1994. Nature, 370: 409-410.
MARWICK, C., 1995. JAMA, 273: 189-190.
VASCONCELOS, P. F. C et al., 1992. Ciência e Cultura, 44: 117-124.