ANDRADE, A. L. S. S., 1994. Avaliação de Possíveis Fatores de Risco para Infecção pelo Trypanosoma cruzi em Crianças. Estudo Caso-Controle em Área Rural do Estado de Goiás (José Maria Pacheco de Souza, orientador). Tese de Doutorado, São Paulo: Faculdade de Saúde Pública, Universidade de São Paulo. 164 p., anexos.

Um estudo caso-controle para investigar possíveis fatores de risco associados à infecção pelo Trypanosoma cruzi foi realizado em crianças de zona rural, dos municípios de Posse, Simolândia e Guarani de Goiás, localizados na região nordeste do Estado de Goiás.

Os participantes do estudo foram selecionados entre 1.990 crianças de 7 a 12 anos de 60 escolas rurais, mediante triagem sorológica com coleta de sangue em papel de filtro por 3 técnicas: Imunofluorescência Indireta, Hemaglutinação Indireta e ELISA.

Cento e quarenta e nove (149) crianças com presença de anticorpos anti-T. cruzi em pelo menos 2 testes realizados em amostras de sangue venoso e uma amostra aleatória de 298 crianças soronegativas para os 3 testes, paradas por sexo, freqüência de idade e comunidade foram incluídas no estudo, respectivamente como Casos e Controles.

As moradias dos casos e controles foram visitadas para obtenção de informações sobre presença de vetores na unidade domiciliar, características do domicílio, da família e do ambiente peridoméstico. Nessa ocasião foram coletadas amostras de sangue dos pais dos participantes do estudo.

Casos e controles foram comparados em relação a variáveis relativas ao ambiente doméstico, peridoméstico e sorologia dos pais. Um segundo banco de dados foi construído com apenas um participante por moradia, correspondendo a 89 moradias de casos e 278 de controles. O modelo de regressão logística condicional foi empregado para controlar as principais variáveis de confusão. Sensibilidade de variáveis preditoras da casa da criança infectada foi também calculada.

Uma associação estatisticamente significante foi encontrada entre criança soropositiva e evidência de vetor, ou seus vestígios, no domicílio. A presença de exúvia foi o maior preditor da criança infectada (OR= 3,5; LC 95% 2, 1-5, 8), enquanto a presença de vetor sem detecção de vestígios não esteve associada à criança infectada. A identificação de triatomíneos pelos moradores apresentou um OR= 7,7 (LC 95% 2, 3-25, 5) em relação aos casos quando comparada aos controles. A infecção em crianças esteve significativamente associada ao número de pessoas residentes na moradia atual. Uma maior proporção de pessoas soropositivas foi detectada nas casas dos casos quando comparada às casas do grupo controle, sugerindo uma possível agregação familiar da soropositividade. Características peridomésticas foram semelhantes entre casos e controles, não havendo diferenças de OR entre os dois grupos. Detectouse associação significativa entre mãe soropositiva e filho soropositivo (OR=3,6; LC95% 2,1-6,5), indicando a possibilidade da transmissão congênita ou uma influência deletéria exercida pela soropositividade de mães de recém-nascidos não infectados congenitamente. Entretanto, a associação entre pai infectado e filho infectado não foi estatisticamente significante (OR= 1,6; LC 95% 1, 0-2, 7). O relato de vetores pelos moradores mostrou uma sensibilidade de 97,5% em predizer moradia de criança soropositiva.

Os aspectos relativos à aplicação da metodologia casocontrole no estudo da infecção pelo T. cruzi e possíveis medidas de vigilância e controle para a região de estudo são discutidos.

 

BAKIRTZIEF, Z., 1994. Águas Passadas que Movem Moinhos: As Representações Sociais da Hanseníase(Mary Jane Paris Spink, orientadora). Tese de Mestrado, São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. 130 p., anexos, bibliografia, figuras.

A hanseníase, também conhecida como lepra, é uma doença crônica, transmissível e incapacitante. Trata-se de um problema de saúde pública para muitos países do Terceiro Mundo, atingindo mais de dez milhões de pessoas no mundo todo. Hoje temos medicamentos que curamos pacientes e controlam o avanço da doença entre a população. O estigma atribuído à doença tem sido visto como uma dos principais obstáculos à aderência do paciente ao tratamento.

A teoria das representações sociais fornece subsídios para endereçarmos a questão do estigma como fenômeno socialmente construído e a questão do comportamento do paciente frente à doença. Nosso presente trabalho é uma tentativa de compreensão da questão da aderência ao tratamento à luz dos elementos do contexto imediato da doença e suas representações arcaicas – ainda presentes no imaginário social – na interface com conteúdo subjetivos do paciente emergentes no discurso sobre sua enfermidade.

A análise de conteúdo das entrevistas com pacientes aderentes, não-aderentes e militantes forneceu subsídios para discussão dos vários elementos das representações sociais da hanseníase e suas implicações para o tratamento da doença. A questão do estigma foi revista a partir dos dados obtidos na pesquisa e a teoria das representações sociais ganhou relevância para o estudo de doenças crônicas e estigmatizadas como a hanseníase.

 

BODSTEIN, R. C., 1995. Cidadania e Direitos: Dilemas da Questão Social (Maria Cecília de Souza Minayo, orientadora). Tese de Doutorado, Rio de Janeiro: Escola Nacional de Saúde Pública, Fundação Oswaldo Cruz. 165 p.

A inclusão da chamada questão social na agenda pública desde a modernidade até seus desdobramentos mais atuais, constituiu-se no fio condutor da tese. Procurou-se mostrar que um dos sentidos da modernidade é exatamente a inversão radical entre o significado do público e do privado, ensejando o alargamento do espaço público. A modernidade, dessa forma, foi pensada através da sua identificação com o espírito e os ideais revolucionários do século XVIII, onde a questão dos direitos humanos e a busca de um novo fundamento para o poder são aspectos centrais. Assim, a modernidade, longe de estar associada a um determinado modelo capitalista-burguês, projeta-se como uma reinvenção dos direitos, da cidadania e da experiência democrática contemporânea.

Nessa longa trajetória, o processo de individualização foi visto como fator crucial para a compreensão da ideologia das sociedades modernas e, paradoxalmente, da própria emergência das ciências sociais. A concepção individualista, enfatizando a especificidade da representação moderna do social, isto é, sua característica de sociedade auto-instituinte, permite a compreensão ampliada do domínio público, via inclusão ininterrupta de novos sujeitos de direito. Nesse sentido, a polarização ideológica entre as concepções liberal (favorável ao individualismo) e marxista (vinculada às representações holísticas do social), deve ser revista, inclusive, porque repercute no próprio instrumental analítico das ciências sociais.

De igual modo, a tese aponta para uma revisão das polarizações que parecem marcar as análises em torno do chamado Welfare State. Enfatiza-se a necessidade de uma reavaliação das discussões em torno do tema, considerando os direitos sociais e a centralidade das políticas públicas para a administração das sociedades complexas.

Finalmente, a tese discute a questão da cidadania no Brasil, apontando para as dificuldades do nosso processo de individualização e das representações em torno dos princípios de igualdade e de universalidade.

 

FIGUEIREDO, A. R., 1995. Isolamento da Microbiota Bacteriana de Triatomíneos e Persistência do Enterobacter cloacae em Rhodnius prolixus Stal, 1859 (Ernesto Hofer, orientador). Tese de Mestrado, Rio de Janeiro: Departamento de Bacteriologia, Fundação Oswaldo Cruz. 73 p.

Considerando a exigüidade de investigações no campo da microbiologia dos insetos, particularmente nos triatomíneos mantidos em condições artificiais e silvestres, foi desenvolvido um trabalho que visou isolar e caracterizar bactérias em oito espécies de triatomíneos criados em laboratório, em ninfas de triatomíneos utilizadas em exame de xenodiagnóstico, além de estudo de triatomíneos silvestres.

A partir dos resultados obtidos com o rastreamento da microbioia bacteriana dos triatomíneos supracitados, verificamos a alta incidência de Enterobacter cloacae, Serratia marcescens e Enterococcus faecalis em adultos da maioria das espécies estudadas. Salienta-se que nos triatomíneos de hábitos silvestres a família Enterobacteriaceae esteve representada apenas pelo Enterobacter cloacae.

Das ninfas utilizadas em exame de xenodiagnóstico notou-se o predomínio de Enterococcus faecalis, no controle do experimento, e em todos os materiais analisados, mesmo quando observada a presença de Trypanosoma cruzi. A bactéria Gram negativa mais freqüente foi a Pseudomonas aeruginosa, que se manteve em materiais positivos e negativos para o T. cruzi. Salienta-se, ainda, que tal bactéria foi verificada somente quando realizavase o exame de xenodiagnóstico em cão.

A microbiota bacteriana Gram positiva esteve representada por Enterococcus faecalis, Streptococcus sp, Bacillus sp, e cocos Gram positivos, catalase positiva. Esta diversidade de microrganismos foi observada nos resultados obtidos de ninfas utilizadas no xenodiagnóstico em cão e no homem.

Com base nos resultados adquiridos foram realizadas pesquisas de marcadores fenotípicos nas bactérias mais freqüentemente isoladas, determinando-se o Enterobacter cloacae para realização de ensaio experimental, que visou analisar o processo de colonização no trato digestivo da espécie Rhodnius prolixus, a partir da alimentação com sangue contendo a bactéria.

A tentativa de colonização do E. cloacae em R. prolixus foi negativa, não sendo possível reisolar a bactéria de nenhum dos estádios ninfais alimentados com o microrganismo. O trato digestivo do R. prolixus se mostrou inadequado à colonização desta bactéria.

 

MENDONÇA DE SOUZA, S. M. F., 1995. Estresse, Doença e Adaptabilidade: Estudo Comparativo de Dois Grupos Pré-Históricos em Perspectiva Biocultural (Adauto J. G. de Araújo, orientador). Tese de Doutorado, Rio de Janeiro: Escola Nacional de Saúde Pública, Fundação Oswaldo Cruz. 254 p.

O estudo de indicadores inespecíficos de estresse e condições patológicas em restos esqueletais tem sido desenvolvido, em paleopatologia, em abordagem biocultural. Este enfoque tenta aproximar o conceito de estresse aos de doença e adaptabilidade dos grupos humanos. Embora sendo ainda um enfoque pouco desenvolvido no Brasil, seu emprego no presente trabalho teve por objetivo ampliar as possibilidades da reconstrução préhistórica e testar um pressuposto sobre a existência de melhor qualidade de vida entre os grupos do litoral. Foram reunidos dados sobre indicadores de estresse, condições patológicas e demografia de duas coleções funerárias préhistóricas. A primeira representando um grupo que sepultou seus mortos na Furna do Estrago, Pernambuco, uma ocupação do interior; a segunda representando uma ocupação tipicamente adaptada ao litoral, a do sambaqui de Cabeçuda. A patocenose mostrou, no primeiro caso, estresse locomotor intenso, na forma de fraturas e artrose, acarretando possível prejuízo adaptativo ao nível da performance física; e também estreita consangüinidade entre os indivíduos, numerosas anomalias ou variações morfológicas e baixa expressividade das doenças infecto-contagiosas. No segundo caso, associações de sinais de descontinuidades fisiológicas e sinais patológicos sugestivos de anemia apontaram para a provável existência de estresse infeccioso endêmico, cuja explicação poderia ser a hiperexposição a bactérias patogênicas de águas salinas. Modelos bioculturais correlacionando os dados sobre doença, estresse, padrões culturais e meio ambiente foram propostos em cada caso. Os fatores de estresse, as respostas biológicas, os mecanismos culturais de compensação e possíveis tendências adaptativas foram discutidas, na tentativa de formular hipóteses para investigação futura.

Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Fundação Oswaldo Cruz Rio de Janeiro - RJ - Brazil
E-mail: cadernos@ensp.fiocruz.br