Algumas Sugestões para o Controle dos Mosquitos do Gênero Aedes no Brasil
Por sugestão do Vice-Presidente de Qualidade e Meio Ambiente da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) foram elaboradas, em 1990, as sugestões abaixo para o controle dos Aedes (Stegomyia) aegypti e A. (S.) albopictus no Brasil. Tendo em vista que o assunto continua em pauta, devido ao fato de o dengue estar grassando na cidade do Rio de Janeiro e em outras cidades pelo país, resolvemos dar publicidade a essas sugestões.
1a Sugestão: Contratação de Entomologistas
Sabe-se que nos E.U.A., além do Aedes (S.) albopictus outros mosquitos exóticos do gênero Aedes foram ali introduzidos. No Brasil não se conhecem estudos a respeito do A. (S.) albopictus. Na realidade nem sequer sabemos qual a sua via (ou vias) de entrada no país (o que sugere, desde logo, a falha dos serviços de vigilância).
A nossa sugestão é de que a Fundação Nacional de Saúde contrate, com urgência, em regime de dedicação exclusiva, de dois a quatro entomologistas jovens, com disponibilidade para viagem por todo o país (e até ao exterior se isso for necessário) para estudar não apenas o comportamento do A. albopictus, mas também a sua área de dispersão e fazer uma revisão da área ocupada pelo A. aegypti. Além disso é necessário fazer um verdadeiro "survey" entomológico para verificar se, a exemplo dos E.U.A., aqui também existem outras espécies importadas.
Esses profissionais poderiam ser treinados na (Fiocruz) por pesquisadores que tenham experiência não somente em entomologia, como também em controle de insetos. Esta seria a nossa cooperação para o controle dos Aedes, uma vez que a Fiocruz é herdeira de uma grande tradição, tanto no estudo dos mosquitos quanto no estudo e no combate da febre amarela e da malária. É bom lembrar que alguns de seus melhores pesquisadores começaram a carreira como acadêmicos da campanha de Oswaldo Cruz, tendo-se destacado em várias campanhas de erradicação e controle de mosquitos, como Arthur Neiva, César Pinto e G.M. de Oliveira Castro.
2a Sugestão: Privatização do serviço de controle dos Aedes
Há quatro anos se combate o Aedes (S.) aegypti no Estado do Rio de Janeiro, e não apenas tivemos o dengue I, como estamos sujeitos ao dengue hemorrágico no próximo verão. É evidente que uma constatação deve ser tirada: a saúde pública, isto é, o governo vem sendo derrotado pelo Aedes aegypti, o que não aconteceu em 1903/1905 e 1928/1929.
Deve ser notado que, no passado, o controle do mosquito era muito mais difícil, pela não existência dos larvicidas e inseticidas de que hoje dispomos.
Como uma das metas do atual governo é a privatização de setores públicos, e nossa sugestão é experimentar em alguns pequenos municípios infestados com Aedes a privatização do serviço de controle através de firmas especializadas, devidamente registradas nos órgãos competentes (FEEMA, MS., etc.), e que, depois das respectivas licitações, seriam orientadas e fiscalizadas pelo Estado.
As vantagens da privatização desse serviço são evidentes: comando único de controle, mais agilidade na contratação e dispensa de pessoal por não depender da burocracia e da falta crônica de verbas do serviço público.
E não se diga que isso é novidade: nos E.U.A. é uma prática comum, e, aqui mesmo, vários setores públicos já se utilizaram de serviços deste tipo para saneamento em suas áreas de atuação.
3a Sugestão: Notificação de casos de dengue hemorrágico
Caso haja notificação de dengue hemorrágico, a residência do doente deve ser imediatamente tratada com Cythion UBV, bem como as casas vizinhas, usando-se para isso pulverizadores costais. É necessário eliminar rapidamente os mosquitos alados, para evitar a infecção de outras pessoas.
Sebastião José de Oliveira
Departamento de Entomologia
Instituto Oswaldo Cruz/Fiocruz
Av. Brasil, 4.365, Manguinhos,
Rio de Janeiro, RJ, 21045-900, Brasil
Mário B. Aragão
Departamento de Ciências Biológicas
Escola Nacional de Saúde Pública/Fiocruz
Av. Leopoldo Bulhões, 1480, Manguinhos,
Rio de Janeiro, RJ, 21041-210, Brasil