TESES THESIS

 

 

GLINA, D. M. R., 1996. Da possibilidade de enfrentamento do risco ocupacional: a produção de sentido do trabalho exposto ao mercúrio metálico. (Mary Jane Paris Spink, orientadora). Tese de Doutorado, São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. 235 pp. Anexos.

 

Face à existência de estudos amplos sobre o mercúrio em sí, busca-se a compreensão da perspectiva do trabalhador: como ele percebe, pensa e sente o trabalho no qual o mercúrio é utilizado. O interesse principal é estudar o mercúrio através da vivência do sujeito trabalhador. O objetivo geral desta tese, portanto, é entender os processos de significação do trabalho que exige exposição ao mercúrio metálico e suas implicações a nível do enfrentamento e da possibilidade do surgimento do sofrimento mental. Visa-se entender as contingências externas que podem estar embasando a produção de sentido, na perspectiva da natureza do trabalho, na da organização, na da atuação dos poderes públicos ou na da divulgação a respeito do mercúrio feita pela mídia. Foram feitas entrevistas individuais semi-estruturadas com trabalhadores expostos ao mercúrio de uma indústria produtora de lâmpadas. Além disso, foram feitas visitas aos setores nos quais o mercúrio metálico era utilizado, visando a uma melhor compreensão do processo produtivo e verificação in loco das condições e organização do trabalho. A empresa em questão contava com 1850 funcionários, sendo que 230 alocados nas seções em que o mercúrio era utilizado. Foram entrevistados trinta trabalhadores pertencentes aos cargos de mecânico de manutenção, operador de produção, operador reserva, controlador de quebra e ajudante geral, entre março e dezembro de 1992. A pesquisa de campo foi realizada poucos meses após os trabalhadores terem sido informados sobre o mercúrio. Foram obtidos dados sobre monitoramento ambiental e biológico realizado pela empresa. Foram também entrevistados profissionais de Recursos Humanos (RH) para obtenção de dados sobre as políticas de Recursos Humanos e visão de trabalhador existente na empresa. Os dados mostraram que os trabalhadores não tinham sido informados pelos empregadores a respeito do mercúrio metálico até o momento em que a fiscalização, por parte de uma médica da Delegacia Regional do Trabalho, iniciou-se. Até então os trabalhadores entendiam que não existia uma preocupação da empresa com o mercúrio, já que o mesmo existia em grande quantidade no ambiente de trabalho e os trabalhadores tinham contato físico e chegavam a brincar com ele. As informações sobre o mercúrio foram obtidas de fontes variadas e referiram-se basicamente aos inúmeros danos à saúde que o mercúrio pode causar, ao perigo representado pelo mercúrio, ao desconhecimento dos médicos sobre os efeitos do mercúrio e sobre a propriedade do mercúrio de ser radioativo. As representações sociais (RS) construídas a partir dessas informações abrangeram os mais diversos aspectos: o conceito de mercúrio, como o mercúrio entra no organismo, possibilidades de danos à saúde, eliminação, possibilidade de cura e de resolução do problema da exposição. Entretanto, essas RS apareceram sempre envoltas em incertezas e o conhecimento possuído apresentou lacunas. As RS sobre o mercúrio proveram avaliações sobre a efetividade das medidas para controle da exposição adotadas, o trabalho, a empresa e suas políticas de RH, sendo por sua vez, influenciadas por estas avaliações, bem como por novos conhecimentos provenientes da ciência e divulgados pela mídia, observações do que se passa no cotidiano de trabalho e conversas com colegas. Apareceram estratégias de enfrentamento individuais enfocadas no problema e enfocadas na emoção. Essas formas de coping ocorreram simultânea ou seqüencialmente e mostraram estreita relação com as RS sobre o mercúrio, perspectivas para o futuro e situação familiar. Essas estratégias, entretanto, nem sempre foram eficazes na diminuição ou neutralização do sofrimento mental, que apareceu sob a forma de sentimentos como a tristeza, o medo, a revolta, a angústia. A existência de uma configuração ambiental ambígua pode ter contribuído para o surgimento do sofrimento mental.

 

 

BARBOSA, C. C. G. S., 1996. Esquistossomose em Pernambuco: determinantes bio-ecológicos e sócio-culturais em comunidade de pequenos agricultores da Zona da Mata. (Frederico Simões Barbosa & Carlos E. A. Coimbra Jr., orientadores). Tese de Doutorado, Rio de Janeiro: Escola Nacional de Saúde Pública, Fundação Oswaldo Cruz. 136 pp. Anexos.

 

Os programas de controles das endemias, no Brasil, não têm conseguido eficiência nas suas ações, nem mesmo estando instrumentalizados com tecnologias eficazes. A lógica clássica, intervencionista e medicalizada das ações programáticas, está centrada no ataque sistemático ao caramujo vetor e ao parasito, num total descompromisso social para com as comunidades assistidas. Compreende-se assim, o interesse e o compromisso ético da pesquisa em saúde pública em proceder a estudos onde os eventos ligados ao processo saúde/doença das comunidades fossem abordados com uma concepção estrutural de causas, integrando investigação e participação social. Dentro desta perspectiva articulada, merecem destaque como atributos causais não só os determinantes biológicos, mas também os sociais e ainda o componente cultural na sua dimensão histórica e representações simbólicas. A área de estudo escolhida foi a comunidade agrícola de Natuba, situada a cerca de 100 km de Recife, localidade endêmica para esquistossomose e com estrutura político-comunitária organizada. Os recursos do método epidemiológico foram empregados para detectar as variáveis dependentes (relacionadas com a infecção humana) e independentes (demográficas, econômicas, sanitárias e sociais) através de questionário aplicado a todas as residências. Uma segunda abordagem metodológica, de cunho antropológico etnográfico, foi instrumentalizada através de entrevistas abertas e observação participante. O que se pretendeu, ao final deste estudo, foi fazer a articulação do conhecimento da doença esquistossomótica nas suas várias dimensões ou níveis determinantes. Esta compreensão mútua, por parte dos pesquisadores e dos pesquisados, sobre os processos que intervêm na dinâmica de transmissão, permitiu a identificação de elementos relevantes para a construção conjunta de ações programáticas de controle dessa endemia, em nível local, com reflexos bem mais abrangentes para a saúde como um todo.

 

 

CÉSAR, J. A., 1995. Epidemiologia das hospitalizações no período pós-neonatal em Pelotas, RS. (Cesar G. Victora, orientador & Iná de S. Santos, co-orientadora). Dissertação de Mestrado, Pelotas: Departamento de Medicina Social, Universidade Federal de Pelotas.

 

Objetivo: Investigar a influência de fatores socioeconômicos, gestacionais e amamentação e dieta sobre as hospitalizações por pneumonia no periodo pós-neonatal.

Delineamento: Híbrido, com um componente longitudinal e um de casos e controles aninhado a uma coorte de base populacional.

Participantes: Crianças com idade entre 28 e 364 dias, nascidas na cidade de Pelotas em 1993, que tenham permanecido em ambiente hospitalar por um período superior a 24 horas em decorrência de pneumonia segundo julgamento de árbitros independentes.

Principais resultados: Dentre as 5249 crianças nascidas vivas da coorte, 152 (2,9%) foram hospitalizadas por pneumonia neste período. O valor preditivo positivo do diagnóstico clínico comparado com o radiológico alcançou 76%. A análise através de regressão logística, controlando para diversos fatores de confusão, mostrou que a classe social e a escolaridade materna estiveram forte e inversamente associadas à admissão hospitalar. Filhos de mães adolescentes tiveram risco duplicado à internação; paridade igual ou superior a três representou risco 2,8 vezes maior em relação às mães primíparas; ganho de peso materno inferior a 10 kg durante a gestação implicou risco 40% maior à hospitalização. Crianças alimentadas artificialmente tiveram risco para a pneumonia 17 vezes maior em relação àquelas amamentadas ao seio sem receber leite artificial; este risco foi 61 vezes maior para crianças com idade entre um e três meses e 10 vezes maior para os demais grupos etários; crianças que recebiam complementos sólidos foram 13,4 vezes mais hospitalizados por pneumonia que os demais.

Conclusão: Classe social, escolaridade materna, idade, paridade e ganho de peso mostraram-se fortemente associados; o efeito da amamentação e do tipo de dieta sobre a ocorrência de pneumonia modificam-se de forma acentuada em diferentes idades. Estes achados podem contribuir para identificar precocemente crianças de risco e auxiliar nas campanhas de aleitamento natural e introdução de alimentos à dieta infantil em idades mais adequadas.

 

 

BOISCHIO, A. A. P., 1996. Human ecology of the riverine people (caboclos or ribeirinhos) along the upper madeira river with focus on mercury pollution through fish consumption. (Diane S. Henshel, orientador). Ph.D. Thesis, Bloomington: School of Public and Environmental Affairs, Indiana University. 283 pp.

 

Mercury (Hg) has been released into the Amazonian ecosystems as a result of gold mining activities. Organic Hg may be bioaccumulated up the aquatic food chain, of which humans are a top predator. The indigenous reverine population in the Amazon (caboclos or ribeirinhos) who rely on fish as their chief protein food source are therefore exposed to organic Hg, which is known to have neurotoxic effects on humans, especially during the prenatal and early postnatal development of the nervous system. The interrelationship of gold mining and subsistence fishing are discussed within a broad range of related topics. The Brazilian context in which the gold mining had occurred is considered. From 297 household interviews the information on demography, including occupational activities, fertility, housing, health issues, are addressed for the study population. Also, Hg analysis in 577 fish samples and in hair samples from 550 individuals are presented. Fishing and agriculture are the major activities among the study population. A dietary questionnaire regarding food intake and fish consumption provided important information for the Hg exposure evaluation, which includes: 1. Estimate of Hg ingestion by the whole population (i.e., all age/gender sub-groups); 2. Risk assessment of Hg ingestion for the whole population; 3. Regression models to predict the infant air Hg concentration; and 4. The native beliefs on fish consumption are compared to the fish Hg concentrations by species. This dissertation provides a wide range of information within the contextual discussion of the study population regarding their use of the local environmental resources, including the potential consequences of critical levels of Hg exposure through fish consumption. A broader knowledge of the population is necessary to develop the further recommendations. A fish advisory through workshops and community organization is proposed to be carried out among the study population in order to address the current social needs and to prevent the potentially critical Hg exposure.

 

 

CHIRELLI, M. Q. C., 1995. O processo de municipalização dos serviços públicos de saúde em Marília, SP (1983 a 1992).(Semiramis Melani M. Rocha, orientadora). Dissertação de Mestrado, Ribeirão Preto: Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo. 125 pp.

 

Este trabalho tem como objeto de estudo o processo de municipalização dos serviços públicos de saúde de Marília, no período de 1983 a 1992, na visão dos formuladores de políticas de saúde, sob os aspectos da universalização do atendimento, descentralização do nível federal e estadual para o municipal, hierarquização por níveis de complexidade assistencial dos serviços e participação popular, bem como, aprender, através do resgate histórico-social, as transformações que ocorreram no município decorrentes das AIS, SUDS, Constituição de 1988, Leis Orgânicas da Saúde Federal e Municipal. A configuração deu-se através do levantamento de dados de produção dos serviços de saúde, documentos e entrevista semi-estruturada. Aprendemos que os rumos da economia do país não proporcionaram o financiamento estável das políticas de saúde. No processo de redemocratização do país, a descentralização do poder do nível federal para o estadual e o municipal, e posterior centralização, também dificultou o processo de municipalização. Houve, inicialmente, na gestão municipal de 1983 a 1988, expansão da rede de serviços básicos, universalizando o atendimento, mas sem preocupação com a qualidade das instalações físicas e atividades realizadas. Com a posse da gestão de 1989 a 1992, foram reformadas e construídas novas UBSs, além de expandir recursos humanos e materiais. Ocorreram dificuldades na implementação do SUS, com pouca articulação na gestão dos serviços públicos de saúde, que tinham planos e metas divergentes, além de governos municipais com políticas sociais racionalizadoras. A unificação da gestão dos serviços apresentou entraves, pois havia interesses políticos envolvidos. O município acabou gerenciando as ações básicas de saúde e alguns serviços de saúde pública. Quanto à descentralização houve um movimento incompleto de municipalização, com distribuição da gerência e ações delegadas ao nível local; contudo, o poder financeiro continuou centralizado no ERSA e no nível federal. A participação popular ocorreu na CIMS e Conselho Municipal de Saúde, onde as discussões eram baseadas no conhecimento técnico-científico. Assim a participação dos usuários ficou no âmbito das denúncias, não havendo, naquele momento, preocupação em se modificar este processo, mostrando o poder dos técnicos no órgão de gestão.

 

 

SOUZA, C. T. V. de, 1996. Subsídio ao estudo de incidência do vírus da imunodeficiência humana entre homens com práticas homessexuais e bissexuais no Rio de Janeiro. (Euclides Ayres de Castilho, orientador). Tese de Mestrado, Rio de Janeiro: Escola Nacional de Saúde Pública, Fundação Oswaldo Cruz. 85 pp. Anexos.

 

Existem no Brasil, sob patrocínio da Organização Mundial de Saúde e Ministério da Saúde, três centros de pesquisas para vacinas anti-HIV/AIDS (Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte), que estão desenvolvendo estudos de acompanhamento em homens com práticas homessexuais e bissexuais, com objetivo de estimar a taxa de incidência e avaliar a viabilidade de estudos que avaliam a eficácia de vacinas no país. No Rio de Janeiro esta pesquisa está sendo realizada pelo Núcleo de Epidemiologia do Hospital Evandro Chagas da Fundação Oswaldo Cruz. A presente disseração tem como objetivo subsidiar a análise de dados de coorte entre homens que fazem sexo com homens no Rio de Janeiro, buscando analisar fatores sociais e comportamentais no que se refere aos riscos de infecção pelo HIV. Trata-se de um estudo descritivo, que pretende analisar características referentes aos primeiros voluntários da coorte. Foram estudados os primeiros 104 voluntários que entraram para a coorte do Rio de Janeiro, segundo os critérios de admissão, ou seja, aqueles indivíduos que apresentavam comportamento homossexual ou bissexual, de 18 a 50 anos de idade, com sorologia negativa para HIV e aceitaram os termos do consentimento informado. Em síntese pode-se dizer que se trata de um grupo homogêneo. No que tange a variáveis sócio-comportamentais, o grupo tem um bom nível sócio-econômico e conhecimento sobre a transmissão do HIV. Entretanto, por outro lado, verificou-se uma dissonância entre conhecimento e prática (intenção/ação): entrevistados sabem da importância do preservativo e como usá-lo, mas não o incorporam à rotina de suas práticas sexuais.

Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Fundação Oswaldo Cruz Rio de Janeiro - RJ - Brazil
E-mail: cadernos@ensp.fiocruz.br