EDITORIAL
Os III Congresso Brasileiro de Epidemiologia, II Congresso Ibero-Americano e I Congresso Latino-Americano, realizados simultaneamente em abril de 1995 na cidade de Salvador, Bahia, dando continuidade e ampliando a tarefa iniciada pelos que os antecederam, permitiram configurar e revelar o estado da arte do conhecimento produzido com base nesse campo disciplinar. Ao apontarem para a consolidação da produção atual do conhecimento epidemiológico nuclear, mostraram, paralelamente, a riqueza existente nas atividades desenvolvidas nas suas zonas de interface com outros campos, como Matemática, Estatística, Medicina, Biologia, Planejamento e Administração, Ciências Sociais e Filosofia, para lembrar as mais evidentes. Dessas articulações, destaca-se o interessante processo de construção de uma nova área inter ou transdisciplinar - Avaliação em Serviços de Saúde - em que a Epidemiologia se faz presente com freqüência nos processos de definição do seu objeto, objetivos, alternativas metodológicas e na sua incorporação nas práticas de serviços de saúde. Esta questão mereceu, naqueles Congressos, a organização de uma Comunicação Coordenada específica, quando foram enfocadas algumas abordagens, despertando a necessidade de um maior aprofundamento e sistematização do tema.
Considerou-se então que uma das boas formas de apreender a capacidade operacional desse processo de construção, no interior da complexidade de questões que a Saúde Coletiva enfrenta no Brasil, poderia se dar por intermédio da recuperação dos trabalhos apresentados nos Congressos, que articulassem Epidemiologia e Avaliação nos Serviços de Saúde, ao tratarem de questões específicas. Submeteu-se a proposta da publicação dos trabalhos através de um número temático à editoria dos Cadernos de Saúde Pública, que, reconhecendo a importância do tema para os profissionais de sáude, deu sua aprovação e garantiu o apoio necessário, sem o qual seria impossível ir adiante.
Procedendo a uma "busca ativa" nos resumos daqueles eventos, foi feita uma convocação aos autores dos trabalhos identificados como pertencentes ao recorte temático, solicitando-se a sua participação no projeto através do envio de um artigo. Os autores chamados para essa tarefa souberam compreender a importância dessa iniciativa e prontamente apresentaram os seus artigos, que foram submetidos aos mesmos procedimentos de revisão habitualmente utilizados pelos editores deste periódico. O resultado de todo esse processo é o que temos a satisfação de apresentar nesse número temático dos Cadernos de Saúde Pública.
A multiplicidade de enfoques encontrados nos artigos selecionados e ora publicados demonstra que esta "parceria" conceitual e metodológica, prática emblemática dos tempos atuais, produz perspectivas originais no reconhecimento da realidade, mas, ao mesmo tempo, enfrenta dificuldades que caminhos já consolidados permitem evitar, criando assim novos desafios a serem enfrentados. No entanto, acreditamos poder afirmar, pelas questões aqui apresentadas, que a utilização dos conhecimentos e métodos epidemiológicos para pensar serviços de saúde mais efetivos e com mais qualidade, e um melhor dimensionamento do impacto das práticas de saúde sobre o perfil epidemiológico e condição de saúde e vida da população, constituem-se em elementos importantes no fortalecimento e consolidação da Saúde Coletiva.
Luiz A. B. Camacho e Zulmira M. A. Hartz Moisés Goldbaum e H. Maria Dutilh Novaes
Escola Nacional de Saúde Pública, Fundação Oswaldo Cruz Faculdade de Medicina Preventiva, Universidade de São Paulo
The 3rd Brazilian Congress, 2nd Ibero-American Congress, and 1st Latin American Congress of Epidemiology, held simultaneously in April 1995 in the city of Salvador, Bahia, continuing and expanding on the task initiated by the previous congresses, helped shape and reveal the state of the art in knowledge produced in this field. Pointing to the consolidation of current production in mainstream epidemiological knowledge, they also displayed a wealth of activities developed in the field's interfaces with other fields such as Mathematics, Statistics, Medicine, Biology, Planning and Administration, Social Sciences, and Philosophy, to name just a few.
Of these interfaces, there is an outstanding, interesting process occurring, building a new inter- or transdisciplinary field, that of Health Services Evaluation, in which Epidemiology frequently participates in the definition of the object of study, objectives, methodological alternatives, and above all the incorporation of knowledge into health services practices. During the three simultaneous Congresses, this issue was the object of a special session, focusing on several approaches and pointing to the need for more in-depth study and systematization of the theme.
One conclusion was that one of the best ways to grasp the operational capacity of this building process within the complexity of issues faced by Collective Health in Brazil might be by retrieving the abstracts of papers presented at the Congress that related specifically to interfaces between Epidemiology and Health Services Evaluation. A proposal was submitted to the Editorial Board of Reports in Public Health to publish a special thematic issue devoted to this interface. Acknowledging its relevance for health professionals as a whole, the journal approved the request and provided the necessary support, without which this special issue would not have been possible.
By proceeding to an "active search" of abstracts from the three Congresses, authors of papers identified as pertinent to this thematic interface were contacted and requested to participate in the project by submitting an article to the journal. These authors realized the importance of this initiative and promptly submitted their articles, which underwent the same review process routinely used by this periodical. The result of all this process is that we have the pleasure to present this special thematic issue of Reports in Public Health.
The multiplicity of approaches in these articles shows how this conceptual and methodological "partnership", an emblematic practice of current times, has produced original perspectives vis-à-vis health reality, even while it has faced difficulties that familiar, well-worn pathways allow one to avoid, thus raising new challenges with which to deal. Nevertheless, we believe that on the basis of the issues presented herein, we can state that the use of epidemiological knowledge and methods to conceive of more effective and better health services and to reshape the impact of health practices on the population's epidemiological profile and health conditions are crucial elements in strengthening and consolidating Collective Health in Brazil and Latin America as a whole.
Luiz A. B. Camacho e Zulmira M. A. Hartz Moisés Goldbaum e H. Maria Dutilh Novaes
Escola Nacional de Saúde Pública, Fundação Oswaldo Cruz Faculdade de Medicina Preventiva, Universidade de São Paulo