TESES THESIS
OSAVA, R. H., 1997. Assistência ao Parto no Brasil: O Lugar do Não-Médico (Ana Cristina d'Andreatta Tanaka, orientadora). Tese de Doutorado, São Paulo: Departamento de saúde Materno-Infantil, Faculdade de Saúde Pública, Universidade de São Paulo. 129pp.
Trata-se de estudo de caso, com o objetivo de oferecer uma abordagem em profundidade do tema da participação de não-médicos na assistência ao parto, em particular, de enfermeiras obstétricas. Inicia-se com uma revisão histórica sobre: 1) a participação masculina no parto, a partir do século XVII; 2) as disputas de parteiras e médicos nos Estados Unidos e Inglaterra, ao longo do século XIX; e 3) a formação de parteiras no Brasil, do século XIX até os dias atuais. Faz ainda análise do relacionamento de parteiras e enfermeiras, de suas afinidades e incompatibilidades, tomando as deusas da mitologia grega como figuras arquetípicas do comportamento feminino. Atualiza-a discussão dos modelos de formação de parteiras no Brasil, e faz uma recuperação histórica dos recentes movimentos sociais rumo ao parto humanizado, e suas repercussões nos serviços de saúde e no ensino. Termina com uma análise da filosofia de trabalho dos não-médicos, e como estes profissionais poderiam ajudar a reduzir as intervenções no parto. Conclue que médicos e parteiras trabalham orientados por paradigmas assistenciais opostos, que em seu extremo, são complementares: as primeiras, orientando-se pelos limites da mulher, e os últimos, pela da tecnologia; que os não-médicos poderiam garantir o espaço do parto humanizado e naturalizado, em um tempo onde a obstetrícia médica mostra-se tão empenhada em antecipar-se à natureza; e que a assistência materna poderia ser substancialmente melhorada com a participação de não-médicos no parto, contribuindo para a redução segura dos custos com a assistência materna, e para a promoção da qualidade da experiência do nascimento e parto.
Romeiro, E. A., 1998. Subjetividade, Mulheres e AIDS: Uma análise dos discursos em vídeos acerca de educação em saúde, sexualidade e relação de gênero (Vera Helena F. de Siqueira, orientadora). Dissertação de Mestrado, Rio de Janeiro: Núcleo de Tecnologia Educacional para a Saúde, Universidade Federal do Rio de Janeiro. 215 pp. Anexo.
Esta dissertação faz um estudo de vídeos com a temática AIDS produzidos no Brasil entre 1983 e 1996, destacando os dirigidos às mulheres. Considera estes vídeos como produtos históricos, portadores de discursos sociais, contextualizando-os em relação à evolução da epidemia e à reação da sociedade. Analisa os sentidos que predominam nos discursos acerca de educação e comunicação em saúde, sexualidade e relação de gênero, privilegiando como eixo de análise a subjetividade e a singularidade dos sujeitos. Ressaltam-se os seguintes resultados: nos vídeos direcionados às mulheres as questões sócio-culturais e políticas são priorizadas o que revela a influência dos movimentos sociais em geral, feminista e de mulheres; o discurso de defesa dos direitos das pessoas afetadas pelo HIV/AIDS aparece predominantemente nas produções das ONGS, mas é identificado também em vídeos que tiveram apoio financeiro ou foram produzidos por instituições públicas e privadas; tentativas no sentido de uma utilização mais adequada da linguagem fílmica foram identificadas como forma de expressão do vivido, sentido e pensado pelos seres humanos. Considera-se que a pesquisa oferece avanços metodológicos para a análise dos textos audiovisuais, à medida que propõe critérios de análise para o estudo dos vídeos, configurando-se assim uma proposta metodológica para investigação nesse campo. Constitui-se também contribuição do trabalho a videografia construída e inserida na dissertação.
SOUZA, R. K. T., 1997. Mortalidade em Migrantes: O Caso dos Japoneses no Estado do Paraná (Sabina Léa Davidson Gotfieb, orientadora). Tese de Doutorado, São Paulo: Departamento de Epidemiologia, Faculdade de saúde Pública, Universidade de São Paulo. 126pp.
Introdução Tendo como premissa o entendimento que o estudo acerca do perfil de morbimortalidade de populações migrantes pode trazer contribuições para melhor compreender a epidemiologia das doenças, principalmente as de natureza crônico degenerativa, analisou-se a experiência de mortalidade de uma população de nascidos no Japão, residentes no Estado do Paraná, comparativamente à dos habitantes no Japão e no Estado do Paraná.
Material e método A população analisada foi constituída pelos imigrantes japoneses isseis residentes no Estado do Paraná, com 50 anos e mais de idade, identificados por ocasião do X Recenseamento Geral do Brasil, em primeiro de setembro de 1991. Informações sobre óbitos, ocorridos entre primeiro de março de 1990 e 28 de fevereiro de 1993, foram apuradas do banco de dados do Sistema de Informação de Mortalidade do Ministério da Saúde. As principais causas básicas de morte foram analisadas após calcular coeficientes de mortalidade padronizados por idade, ajustados pela população mundial de 50 anos e mais, em cada sexo, para isseis, residentes no Japão e no Paraná. A Razão de Mortalidade Padronizada (RMP) e o respectivo intervalo de 95% de confiança foram estimados para causas selecionadas entre isseis/residentes no Japão e isseis/residentes no Paraná.
Resultados Entre os principais resultados, observou-se que o coeficiente padronizado de mortalidade geral das mulheres isseis de 50 anos e mais situou-se em posição intermediária quando comparado ao das residentes no Japão e no Paraná, enquanto que o dos homens apresentou valor bastante próximo ao da população masculina do Japão. No tocante às causas específicas, observou-se entre isseis do sexo masculino, quando comparados com a população do Japão, coeficientes significativamente mais baixos para câncer de estômago, cólon, pulmão e próstata, porém, mais altos para diabetes, doenças isquêmicas do coração e doenças cerebrovasculares. Em relação às mulheres isseis de 50 anos e mais, somente o coeficiente de mortalidade por câncer de pulmão apresentou-se significativamente inferior ao das habitantes do Japão. Com exceção de câncer de estômago (mulheres), câncer de cólon e suicídio, para a maioria das outras causas estudadas foram verificados coeficientes de mortalidade entre isseis (de ambos os sexos) comparativamente mais baixos do que da população total do Paraná; esta diferença foi estatisticamente significante. Todavia, especificamente para diabetes mellitus e doenças cerebrovasculares (mulheres), não foram constatadas diferenças significantes.
Conclusão Os resultados obtidos permitem evidenciar um afastamento do padrão de mortalidade de isseis quando comparado ao de seu país de origem e uma sensível aproximação ao padrão do local de destino. Tais constatações sugerem influência de fatores sócio-culturais, principalmente das práticas dietéticas, no perfil apresentado.
ALMEIDA, M. J., 1997. Educação Médica e Saúde: Limites e Possibilidades das Propostas de Mudança (Ana Maria Malik, Orientadora). Tese de Doutorado, São Paulo: Departamento de Prática de Saúde Pública, Faculdade de Saúde Pública, Universidade de São Paulo. 316 pp.
Este estudo, inserido no campo do desenvolvimento de recursos humanos em saúde (rhs), visou à compreensão das propostas de mudança na educação médica latino-americana durante os anos 90. Buscou-se identificar e analisar motivações políticas, concepções teórico-metodológicas, estruturas de sustentação e estratégias preconizadas/empregadas para implantar e desenvolver processos e resultados.
Para tanto, foi utilizado um arcabouço conceitual. e metodológico apoiado no referencial teórico da medicina social. As principais categorias de análise utilizadas são provenientes do planejamento estratégico em saúde. Alguns elementos oriundos do modelo explicativo da saúde internacional também foram incorporados. Os princípios do método histórico-dialético constituíram-se no eixo orientador dos procedimentos realizados no decorrer da pesquisa.
Inicialmente, analisou-se a problemática dos rhs nos processos de reforma do setor saúde (rss) desenvolvidos desde os anos 80. Dentre outros aspectos, verificou-se a precariedade das diretrizes voltadas à reorientação da formação médica, mesmo nos países em que a construção de novos modelos de atenção vem sendo preconizada. Em seguida, procedeu-se à recuperação de aspectos históricos do movimento de educação médica latino-americano. Além do resgate do marco conceitual da educação médica, formulado inicialmente por Juan César García, e do seu desenvolvimento teórico, essa recuperação propiciou a identificação dos momentos mais destacados, dos principais sujeitos, atores sociais e das iniciativas mais relevantes no campo da educação médica latino-americana no período 1950-1990.
O enfoque principal do estudo orientou-se para a educação médica nos anos 90, mas a análise das reformas do setor saúde desenvolvidas desde os anos 80 e a recuperação dos marcos históricoas; da educação médica foram necessários para evidenciar a inserção do tema no campo da saúde, evitar sua abordagem de forma desarticulada e estabelecer a historicidade dos processos. de mudança da educação médica
O objeto-sujeito de estudo constituiu se de um conjunto de quatro propostas que emergiram no cenário latino-americano no início dos anos 90, a saber: a proposta UNI (Uma nova iniciativa na educação dos profissionais de saúde: união com a comunidade), da Fundação Kellogg; a proposta Changing (Mudança na educação e na prática médica: uma agenda para a ação), da OMS; a proposta Network (Aprendizagem baseada em problemas em instituições de ensino orientadas para a comunidade) e a proposta Gestão de qualidade na educação médica, da OPS.
Através do estudo de cada uma das propostas, procedeu-se ao estabelecimento de suas origens, à sistematização das suas concepções teórico-metodológicas, à análise dos seus processos de implantação e desenvolvimento, à identificação dos seus principais sujeitos sociais, atores institucionais e estratégias. Os processos em andamento introduziram novas realidades no cenário latino-americano das escolas médicas, caracterizando um "povoamento" do mapa dos países da região. Uma categorização do conceito de mudança em inovação, reforma e transformação serviu de base para a análise dos processos e resultados produzidos por cada proposta.
A análise comparada do desempenho teórico-prático das propostas, permitiu caracterizar-se a iniciativa UNI como a mais consistente e estruturada. Apesar de apresentar várias debilidades, ela é a responsável pelos processos de mudança mais avançados e pela produção de alguns resultados intermediários. A análise comparada das propostas sob a ótica da saúde internacional foi útil para a compreensão dos seus limites e possibilidades frente aos modelos hegemônicos de prática e de educação médica.
Ao final, foram registradas algumas "teses", que podem ser úteis ao aprofundamento teórico-prático dos processos de mudança iniciados.
PERES, K. G. A, 1998. Prevalência de Cárie Dentária e sua Relação com Aspectos Sócio-Comportamentais (José Roberto de Magalhães Bastos, orientador). Dissertação de Mestrado, São Paulo: Faculdade de Sáude Pública, Universidade de São Paulo. 155pp.
A partir da constatação da queda nos níveis de cárie dentária, muito tem se discutido quanto aos fatores potenciais que contribuiriam para este fenômeno, dentre eles, Os fatores sociais e de comportamento. A partir deste referencial, considerando-se o resultado do levantamento epidemiológico realizado no município de Florianópolis, Santa Catarina, Brasil, em 1995, foram comparadas algumas situações sociais e de comportamento entre dois grupos de Prevalência de cárie distintos em crianças de 12 anos de idade: um grupo com alta/muito alta prevalência de cárie e outro com muito baixa Prevalência de cárie.
Através de um questionário elaborado na forma de entrevista estruturada, foram coletados; os dados pertinentes ao estudo em uma população de 100 crianças, 50 em cada grupo de Prevalência de cárie. Fizeram parte da entrevista, questões relacionadas a dados familiares como a relação número habitante/cômodo, número de crianças em um mesmo domicílio e acompanhante da criança no domicílio quando esta não está na escola. Questões sócio-económicas COMO responsável Pelo sustento da família, renda familiar, nível de escolaridade do pai e da mãe da criança e questões comportamentais como freqüência de escovação dentária, freqüência de consumo de Produtos cariogênicos, atendimento odontológico nos últimos 12 meses, motivo da consulta odontológica e tipo de serviço odontológico utilizado. Foi utilizada a análise de regressão logística multivariada para os fatores de risco para alta/muito alta prevalência de cárie.
Através dos resultados obtidos, constatamos que os fatores de risco Para alta prevalência de cárie foram a freqüência de consumo de doces e a renda familiar. Uma criança que consome produtos cariogênicos 2 a 3 vezes ao dia, todos os dias, tem 4,41 vezes mais chances de ter alta prevalência de cárie quando comparada com uma criança que consome estes produtos no máximo uma vez ao dia (IC (OR) = [1, 18; 16,43]).
A estrutura familiar demonstrou ser um fator significante para a prevalência de cárie denária, representada pela presença do pai e da mãe na manutenção do sustento da família, o que contribuiu significativamente para a baixa prevalência de cárie dentária. A renda familiar foi o fator sócio-econômico de maior importância neste estudo que, juntamente com o grau de escolaridade do responsável pela criança são sugestivos de indicação de risco à cárie dentária. Uma criança cuja renda familiar é menor que cinco salários mínimos, tem 4,18 vezes mais chances de apresentar alta prevalência de cárie quando comparada com uma criança cuja renda familiar é superior a cinco salários mínimos. (IC (OR) = [1,16; 15,03]).
Através deste estudo, procuramos conhecer um pouco mais sobre o comportamento da cárie dentária em crianças na idade de 12 anos que, na maioria das vezes, apresentam a dentição permanente completa, acumulando e refletindo a história da doença. Os resultados encontrados nesta pesquisa, devem ser interpretados de maneira cuidadosa, por tratar-se de uma população específica e também devido ao número reduzido de casas encontrados, conforme definidos na metodologia.