CARTA LETTER

 

Leishmaniose canina: avaliação sorológica de 310 cães na região de Itaipu, Rio de Janeiro

Canine leishmaniasis: a serological survey of 310 dogs in Itaipu, Rio de Janeiro, Brazil

 

Maria de Fátima Madeira 1
Cáthia Maria Barrientos Serra 2
Cláudia Maria Antunes Uchôa 3
Rosemere Duarte 4
Daniela Arêas Mendes da Cruz 4
César do Couto Perdomo 5

 

1 Laboratório de Protozoologia, Departamento de Ciências Biológicas, Escola Nacional de Saúde Pública, Fundação Oswaldo Cruz. Rua Leopoldo Bulhões 1480, Rio de Janeiro, RJ, 21041-210, Brasil. fmadeira@ensp.fiocruz.br
2 Departamento de Patologia e Clínica Veterinária, Faculdade de Veterinária, Universidade Federal Fluminense. Rua Vital Brasil Filho 64, Niterói, RJ 24230-340, Brasil.
3 Departamento de Microbiologia e Parasitologia, Instituto Biomédico, Universidade Federal Fluminense. Rua Prof. Hernani de Melo 101, Niterói, RJ 24210-130, Brasil.
4 Laboratório de Imunodiagnóstico, Departamento de Ciências Biológicas, Escola Nacional de Saúde Pública, Fundação Oswaldo Cruz. Rua Leopoldo Bulhões 1480, Rio de Janeiro, RJ, 21041-210, Brasil.
5 Centro de Controle de Zoonoses. Rua Gustavo Moreira s/no, Niterói, RJ, 24140-590, Brasil.

 

A leishmaniose tegumentar americana no Município do Rio de Janeiro apresenta um caráter de transmissão peridomiciliar, provocado, principalmente, pela adaptação de algumas espécies do inseto vetor aos ambientes naturais modificados, acarretando, dessa forma, o envolvimento de animais domésticos (Marzochi & Marzochi, 1994). A identificação freqüente de cães domésticos com altas taxas de infecção associados à doença humana, aliada à evidência de mesmos padrões genotípicos do parasita circulando nas populações humana e canina, sinaliza e reforça o envolvimento deste animal no ciclo de transmissão (Lopes et al., 1984; Pacheco et al., 1986).

A reação de imunofluorescência indireta (RIFI), amplamente adotada em levantamentos epidemiológicos para leishmaniose em cães, visa identificar possíveis focos da doença (Coutinho et al., 1985), pois o cão é incriminado como elo essencial para disseminação e amplificação do foco endêmico, antecedendo, na maioria das vezes, o aparecimento de casos em seres humanos (Falqueto et al., 1986).

Segundo o Centro de Controle de Zoonoses de Niterói, foi observada presença de cães sorologicamente positivos para leishmaniose na região de Itaipu, Estado do Rio de Janeiro (comunicação pessoal). Objetivando investigar a presença da infecção canina nessa região, avaliou-se a resposta imuno-humoral de 310 cães, que tiveram amostras de sangue colhidas durante a campanha de vacinação anti-rábica, através da técnica de RIFI, para pesquisa de anticorpos da classe IgG. O teste foi considerado positivo quando apresentava titulação superior ou igual a 1:40 (Silveira et al., 1996).

Os resultados mostraram que 11,94% (37/310) das amostras de soro testadas foram reagentes para leishmaniose, apesar de não terem sido detectados sinais da doença em quaisquer dos animais examinados, incluindo aqueles com títulos de 1:160 (0,92%).

Embora os resultados do presente estudo apontem para a inexistência da doença ativa entre os 310 animais examinados, o achado de 37 animais sororreagentes indica um provável contato com o parasita. Tal fato deve ser considerado em futuros inquéritos na região e em suas adjacências, no sentido de se confirmar ou não a circulação do agente na área.

 

 

COUTINHO, S. G.; NUNES, M. P.; MARZOCHI, M. C. A. & TRAMONTANO, N. E., 1985. A survey for American cutaneous and visceral leishmaniasis among 1342 dogs from areas in Rio de Janeiro (Brazil) where the human disease occurs. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, 80:17-22.

FALQUETO, A.; COURA, J. R.; BARROS, G. C.; GRIMALDI Jr., G.; SESSA, P. A.; CARIAS, V. R. D.; JESUS, A. C. & ALENCAR, J. T. A., 1986. Participação do cão no ciclo de transmissão de leishmaniose tegumentar no Município de Viana, Estado do Espírito Santo, Brasil. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, 81:155-163.

LOPES, U. G.; MOMEM, H.; GRIMALDI Jr., G.; MARZOCHI, M. C. A.; PACHECO, R. S. & MOREL, C. M., 1984. Schizodeme and zymodeme characterization of Leishmania in the investigation of foci visceral and cutaneous Leishmaniasis. Journal of Parasitology, 70:89-98.

MARZOCHI, M. C. A. & MARZOCHI, K. B. F., 1994. Tegumentary and visceral Leishmaniasis in Brazil - Emerging anthropozoonosis and possibilities for their control. Cadernos de Saúde Pública, 10: 359-375.

PACHECO, R. S.; LOPES, U. G.; MOREL, C. M.; GRIMALDI Jr., G. & MOMEN, H., 1986. Schizodeme analysis of Leishmania isolates and comparisom with some phenotypic techniques. In: Leishmania. Taxonomie et Phyilogenèse. Applications Éco-épidémiologiques (J. A. Rioux, ed.), pp. 57-65, Montpellier: IMEEE.

SILVEIRA, T. G. V.; TEODORO, U.; LONARDINI, M. V. C.; TOLEDO, M. J. O.; BERTOLINI, D. A.; ARRAES, S. M. A. A. & VEDOVELLO FILHO, D. V., 1996. Investigação sorológica em cães de área endêmica de leishmaniose tegumentar, no Estado do Paraná, Sul do Brasil. Cadernos de Saúde Pública, 12: 89-93.

Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Fundação Oswaldo Cruz Rio de Janeiro - RJ - Brazil
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