ARTIGO ARTICLE
Conceição Cassano1,2 | Classificação por ocupação dos casos de AIDS no Brasil - 1995 Occupational classification of AIDS cases in Brazil, 1995
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1 Departamento de Epidemiologia e Métodos Quantitativos de Saúde, Escola Nacional de Saúde Pública, Fundação Oswaldo Cruz. Rua Leopoldo Bulhões 1480, 8o andar, Rio de Janeiro, RJ 21041-210, Brasil. 2 Instituto do Trabalho Dante Pellacani. Av. Presidente Vargas 542, Gr. 1713, 17o andar, Rio de Janeiro, RJ 20073-900, Brasil. | Abstract Based on occupational classification of AIDS cases reported in Brazil in 1995 and recorded in the Data Base for Reported Diseases (SINAN), AIDS incidence rates were estimated per 100 thousand inhabitants by occupation, according to the 1991 National Census. Nationwide rates for employed males and females were 25.0 and 9.1, respectively. Among males, and within the major occupational groups, the following sub-groups had the highest rates: personal hygiene services (268.1), social scientists (176.1), writers and journalists (114.3), medical and dental assistants (113.4), chemists, pharmacists, and physicists (111.9), teachers (87.3), artists (74.7), port services (65.6), maritime and fluvial transportation (57.5), and sales personnel (55.4). The results indicated the disease's magnitude in different occupational categories and highlighted certain occupations in which special preventive measures are justified, along with more in-depth studies focusing on other socioeconomic variables and the sociocultural behavior of their members. Key words Acquired Immunodeficiency Syndrome; Occupations; Incidence
Resumo A partir da classificação por ocupação dos casos de AIDS diagnosticados no Brasil em 1995 - armazenados pelo Sistema de Informação dos Agravos de Notificação - SINAN -, foram calculados os coeficientes de incidência da AIDS por ocupação em universo de 100 mil pessoas com base no Censo Demográfico Brasileiro de 1991. Observou-se, no País, um coeficiente de 25,0 para homens e 9,1 para mulheres ocupados. Nos grandes grupos ocupacionais destacam-se, para o sexo masculino, os coeficientes de incidência nos seguintes subgrupos: Serviços de Higiene Pessoal (268,1), Cientistas Sociais (176,1), Escritores e Jornalistas (114,3), Auxiliares da Medicina e Odontologia (113,4), Químicos, Farmacêuticos e Físicos (111,9), Professores (87,3), Artistas (74,7), Serviços Portuários (65,6), Transportes Marítimos e Fluviais (57,5), Vendedores (55,4). Foram obtidos resultados inéditos, indicadores da magnitude da doença nas diferentes categorias ocupacionais, os quais orientam medidas preventivas especiais e estudos mais aprofundados, incluindo outras variáveis sócio-econômicas e comportamentais de seus integrantes. |
Introdução
A AIDS apresenta, desde o início da epidemia, sua maior magnitude na idade produtiva, atingindo grande contingente da população economicamente ativa, e essa tendência mantém-se até o presente. Em diversas regiões do mundo, a prevalência da doença concentra-se na faixa etária de 20 a 49 anos (Sawyer, 1997). No Brasil, até fevereiro de 1997, 71% dos casos notificados concentravam-se nas idades de 20 a 39 anos (Castilho & Chequer, 1997).
Os estudos realizados no Brasil, que buscam uma abordagem do perfil sócio-econômico da doença, têm-se utilizado da escolaridade como variável indireta, observando-se tendência a aumento do registro de casos em pessoas com menor nível de escolaridade, atingindo camadas sociais mais pobres (Castilho & Chequer, 1997).
Nos últimos anos, o aumento dos casos entre heterossexuais indica mudança no perfil da epidemia pelo HIV/AIDS no Brasil, expressando uma dimensão social mais ampliada da doença.
Vem se colocando, portanto, a necessidade de se conhecer mais profundamente a distribuição dos casos de AIDS segundo aspectos mais diversificados, a fim de se obter melhor perfil epidemiológico e sócio-econômico da doença, visando orientar medidas de prevenção e controle mais eficazes na redução de seus alarmantes índices.
Tomando-se por princípio as relações existentes entre ocupação e aspectos sócio-econômicos e culturais, é relevante identificar ocupações ou categorias ocupacionais em que há maior incidência da doença.
As ocupações guardam relação direta com as classes sociais, as quais, por sua vez, determinam hábitos, costumes e comportamentos, possibilitando que a expressão da morbidade esteja dentro do contexto social e ambiental da ocupação. Algumas ocupações podem conter um componente direto para o processo de adoecimento - como, por exemplo, as doenças sexualmente transmissíveis nas atividades em que ocorre venda de sexo ou aquelas profissões nas quais o comportamento sexual mais liberal faz parte do contexto sócio-cultural da ocupação. Neste mesmo sentido, o local onde é exercida a ocupação, pode também influenciar a morbidade, ou seja, nas ocupações em que há inter-relação direta com o público, recebe-se influência de outros riscos inerentes a este contato com numerosas pessoas.
A ocupação é, sem dúvida, um indicador do nível sócio-econômico do indivíduo, representado pela sua escolaridade, nível de renda, condição de vida etc. Assim sendo, os grupos ocupacionais tornam presentes os segmentos da população de acordo com seu status social.
Sob a óptica da saúde, os grupos ocupacionais estarão expressando implicitamente comportamentos psicossociais e condições ambientais que irão propiciar ou inibir o aparecimento das doenças, mostrando assim a relevância das classificações por ocupação nos estudos de morbi-mortalidade.
A variável "ocupação" tem sido pouco utilizada nos estudos e estatísticas de saúde, justamente por carecer de instrumento capaz de classificá-la quanto às diferentes categorias ocupacionais e de definir denominadores populacionais que permitam calcular os coeficientes e analisar os agravos sob este enfoque.
Em estudo concernente ao "Perfil Sócio-econômico dos Casos de AIDS da Cidade de São Paulo", Grangeiro (1993) analisou a distribuição dos casos da doença em sete grandes grupos ocupacionais no período de 1980 a 1990. A distribuição da freqüência dos casos ao longo dos anos indica a evolução da doença em cada categoria ocupacional. No referido estudo, contudo, não foi medida a magnitude da doença nas diferentes ocupações, pois não foram calculados os coeficientes de prevalência ou incidência da mesma por ocupação.
O presente estudo tem por objetivo definir uma classificação por ocupações para analisar os dados de registro dos casos de AIDS notificados no Brasil e permitir calcular os coeficientes de incidência da doença entre os trabalhadores das diferentes categorias ocupacionais, visando conhecer melhor o perfil da AIDS no Brasil.
Material e métodos
Os dados referentes aos casos de AIDS que constam no presente estudo foram obtidos do Sistema de Informação de Agravos de Notificação - SINAN - fornecidos pela Coordenação Nacional de DST e AIDS do Ministério da Saúde -, selecionando-se os casos de AIDS diagnosticados em 1995, notificados e registrados até agosto de 1997, de pessoas com dez anos ou mais, por sexo e regiões fisiográficas.
O critério de trabalhar com casos diagnosticados em 1995 deveu-se a dois aspectos: 1o) pelo fato de o SINAN ter sido implantado nesse ano e, a partir desse período, poder-se obter as informações acerca da ocupação, registradas e codificadas de forma unificada, de acordo com a lista de ocupações do SINAN, para todas as Unidades da Federação; e 2o) para reduzir as insuficiências do atraso na notificação.
A população utilizada foi a do Censo Demográfico de 1991. Os dados relativos à população de dez anos ou mais foram tabulados por idade, sexo e Unidades da Federação, segundo grandes grupos, subgrupos e categorias ocupacionais, de acordo com a Classificação por Ocupações do IBGE (Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Tais informações permitiram calcular os coeficientes de incidência da AIDS entre pessoas de dez anos ou mais por ocupação, por sexo, por grande região fisiográfica e para o Brasil (IBGE, 1991).
Nesta fase do estudo, só foram considerados os casos de AIDS em que havia declaração da ocupação. As pessoas não ocupadas e declaradas como aposentado, pensionista, dona de casa, estudante e outras denominações não foram incluídas no estudo, uma vez que a Classificação Ocupacional do IBGE não as reputa pertencentes à população ocupada na medida em que não exercem atividade econômica.
Definição da Classificação por Ocupação
É bastante antigo o interesse pelo estudo da ocupação na população. No caso brasileiro, o Recenseamento Geral de 1872 já investigava a profissão, o ofício ou o meio de vida das pessoas, o que permaneceu sendo investigado, com as devidas modificações, até o último levantamento censitário de 1991 (Coutinho, 1994).
O Bureau Norte-Americano do Censo adotou uma classificação criada por A. M. Edwards, em 1943, que distribuiu os grupos ocupacionais de acordo com o critério de educação e renda para lograr uma visão sócio-econômica. Essa classificação foi posteriormente adotada por vários países, tais como: Canadá, República Federal da Alemanha, França, Itália, Japão, Suécia e Panamá (Coutinho, 1994).
No Brasil, as duas principais classificações são: a Classificação de Ocupações do IBGE e a Classificação Brasileira de Ocupações - CBO do Ministério do Trabalho, ambas elaboradas com base na Classificação Internacional Uniforme das Ocupações (CIUO), criada pela Organização Internacional do Trabalho (OIT, 1958).
Considerou-se a classificação do IBGE como a que melhor atenderia às necessidades do presente estudo, no sentido de fundamentar uma proposta de classificação dos dados de notificação dos casos de AIDS, de acordo com os seguintes critérios: 1o) as ocupações são declaradas pelas pessoas de dez anos ou mais, entrevistadas na ocasião do Censo Demográfico, revelando um quadro ocupacional mais realístico do mercado de trabalho formal e informal; 2o) a obtenção dos denominadores populacionais para análise dos coeficientes de incidência da AIDS por ocupação possibilita estudar outras características sócio-econômicas nos grupos ocupacionais.
A Classificação de Ocupações do IBGE tem por base uma lista de aproximadamente 8.300 ocupações, declaradas pelas pessoas na ocasião do recenseamento, agrupadas em três níveis de agregação, quais sejam, os grandes grupos, os subgrupos e as ocupações.
Para verificar a adequação da referida classificação aos objetivos propostos, foram calculados os coeficientes de incidência da AIDS por ocupação. Para isto foi preciso compatibilizar as listagens de ocupações do SINAN e IBGE.
Compatibilização das listas de ocupações (conversor)
A partir da lista de ocupações do SINAN, na qual consta um total de 3.564 ocupações codificadas com quatro dígitos, numerados de acordo com a ordem alfabética, entre 0001 e 3.564, procedeu-se à compatibilização com a lista de ocupações do IBGE, com 8.300 ocupações por ordem alfabética, codificadas de acordo com a Classificação por Ocupações utilizada no Censo Demográfico de 1991 (IBGE, 1991).
Como resultado da compatibilização de ambas as listas de ocupações obteve-se um conversor no qual as ocupações do SINAN aparecem em ordem alfabética com seus respectivos códigos e com o código equivalente na lista de ocupações do IBGE (Cassano et al., 1997).
Resultados
Os coeficientes de incidência de AIDS por sexo e grandes regiões fisiográficas segundo a ocupação a serem apresentados, devem ser considerados como substanciais indicativos da magnitude da doença nos diferentes segmentos populacionais em estudo. Contudo, deve-se apontar algumas limitações inerentes aos dados básicos empregados neste trabalho.
A subnotificação dos casos de AIDS é uma insuficiência que, seguramente, resulta em subestimação da magnitude dos coeficientes de incidência. Estudo realizado no estado do Rio de Janeiro, referente ao período de 1991 a 1995, aponta subnotificação dos casos de AIDS de 33,9% (Lemos, 1998).
Um outro aspecto, nos casos de AIDS registrados, é a ausência de preenchimento do quesito ocupação, a qual totalizou 1.651 em um total de 15.738 casos no Brasil, em 1995, indicando cerca de 10,5% sem registro no citado quesito. Regionalmente, a referida percentagem indica: 3,5% no Norte, 9,8% no Nordeste, 9,3% no Sudeste, 14,9% no Sul e 18,7% no Centro-Oeste.
Estes percentuais demonstram que, em média, 90% dos casos registrados contêm a informação relativa à ocupação ou à situação do indivíduo. Atentando-se somente às pessoas economicamente ativas, constata-se que estão registrados, no Brasil, 11.026 casos com ocupação declarada, dos quais 9.430 homens e 1.596 mulheres.
Indubitavelmente, o acervo do Banco de Dados do SINAN apresenta elevado número de registros completos no que diz respeito ao quesito ocupação e, conseqüentemente, permite que o perfil ocupacional da AIDS seja inicialmente mapeado.
Do total de 15.738 registros de casos, 3.061 são indivíduos classificados como aposentado, pensionista, beneficiário, inativo, inválido, dona de casa, doméstica (dona de casa), prendas domésticas, estudante, desocupado, desempregado e pessoas em busca do primeiro emprego, que não pertencem à população ocupada, segundo os critérios do IBGE. No caso do sexo feminino, verificou-se que 40% do total de casos são donas de casa, doméstica(dona de casa) e prendas domésticas.
No que se refere à qualidade da informação respeitante ao registro da ocupação verificou-se algum nível de imprecisão que pode, em alguns casos, afetar os coeficientes por ocupação encontrados.
Ao proceder-se a classificação dos casos de AIDS por ocupação, pôde-se observar que, no sexo masculino, 1.857 casos foram classificados na categoria "outras ocupações ou ocupações mal definidas", dos quais 1.604 são, em grande maioria, ocupações mal definidas. Isto eqüivale a 12,8% do total de casos diagnosticados no Brasil, em 1995, do sexo masculino, com dez anos ou mais.
Este percentual de casos classificados no código 927 do IBGE, que são as "outras ocupações ou ocupações mal definidas", é resultado de inúmeros casos que têm registrados "informação genérica sobre a ocupação" na ficha de notificação, o que impede a sua classificação na categoria ocupacional correta. Por exemplo, "bancário", "autônomo", "funcionário público", "metalúrgico", "militar", "técnico", "servente", "corretor", "aeroviário" são denominações que não definem exatamente o tipo de ocupação do indivíduo.
No sexo feminino, analogamente, 213 casos foram classificados na categoria "outras ocupações ou ocupações mal definidas", ou 5,4% do total de casos diagnosticados no Brasil, em 1995, do sexo feminino, com dez anos ou mais.
Conforme os dados do Censo Demográfico de 1991, as ocupações não classificadas nas demais categorias ocupacionais ou aquelas tidas como "mal definidas" representam, no Brasil, 3,5% da população masculina com dez anos ou mais, e 3,4% da população feminina.
Conceitualmente, para o cálculo dos coeficientes de incidência, o ano de referência dos denominadores deveria ser 1995, definindo um tamanho populacional e um perfil ocupacional compatível com o período de observação dos casos diagnosticados e devidamente notificados. Entretanto, a utilização dos dados censitários de 1991, como denominadores dos citados coeficientes, não caracteriza elemento relevante para a consecução dos objetivos do trabalho, o qual seria verificar a adequabilidade de uma classificação ocupacional para o estudo da AIDS segundo o perfil das pessoas ocupadas.
Na Tabela 1 são apresentados os dados referentes à população masculina e feminina, de dez anos ou mais, segundo o grande grupo de ocupação nas regiões fisiográficas e no Brasil. Já na Tabela 2 os denominadores populacionais são apresentados para o sexo masculino, segundo subgrupo de ocupação, por região fisiográfica e, no Brasil, para a mesma faixa etária.
Os coeficientes de incidência por sexo, no Brasil em 1995, estão em torno de 25 por 100 mil homens e 9 por 100 mil mulheres, representando 9.430 e 1.596 casos notificados em pessoas de dez anos ou mais ocupadas, respectivamente, de acordo com a Tabela 3.
A Tabela 3 mostra ainda que a Região Sudeste é a única em que os coeficientes de incidência superam a média nacional em ambos os sexos, 39,0 e 13,5 por 100 mil. A Região Sul e Centro-Oeste, com valores que se aproximam dos coeficientes nacionais, ocupam a segunda e terceira posição no conjunto das grandes regiões.
Desconsiderando-se o grupo de outras ocupações e as mal definidas, destaca-se a incidência da AIDS, no sexo masculino, no grupo das ocupações Técnicas, Científicas, Artísticas e Assemelhadas, com incidência de, pelo menos, o dobro do coeficiente médio nacional e de cada grande região. Os grupos ocupacionais da Prestação de Serviços, do Comércio e Atividades Auxiliares e dos Transportes e Comunicações também revelam incidência superior às referidas médias.
Em relação ao sexo feminino, os valores dos coeficientes de incidência mostram menor magnitude e variabilidade, com relativa concentração em torno das médias nacionais e regionais, excetuando-se o grupo das ocupações ligadas a Agropecuária e Extração e da Defesa Nacional e Segurança Pública com bastante semelhança ao sexo masculino, embora revelando magnitudes bem mais baixas.
Em resumo, mantidas as diferentes magnitudes dos coeficientes de incidência, a ordenação dos grupos ocupacionais, no caso do sexo masculino, quase que independe da regionalidade. Em relação às mulheres, parecem existir algumas especificidades regionais, não só pela diferença do perfil ocupacional entre as grandes regiões como também pelo reduzido número de casos fora da região Sudeste, a qual abrange 1.141 casos em um total de 1.596, indicando cerca de 71% dos casos registrados no Brasil.
Examinando-se a Tabela 3, pode-se observar que a relação entre a incidência no sexo masculino e no feminino, no Brasil, é de 2,7 vezes na população ocupada com dez anos ou mais, semelhante à razão encontrada na população em geral.
Na população ocupada de dez anos ou mais, a AIDS é agravo ainda predominante no sexo masculino, com alguns grupos ocupacionais revelando sobreincidências masculinas extremamente elevadas.
Em conformidade com o exposto anteriormente, discrimina-se, na Tabela 4, coeficientes de incidência no sexo masculino, segundo subgrupos ocupacionais, objetivando aprofundar a visão da ocorrência da AIDS.
O exame da Tabela 4 permite apontar os seguintes achados:
no Brasil, o grande grupo das ocupações Técnicas, Científicas, Artísticas e Assemelhadas apresenta elevadas incidências nos Cientistas Sociais (176,1), nos Escritores e Jornalistas (114,3), nos Químicos, Farmacêuticos, Físicos e Especialistas Assemelhados (111,9), nos Auxiliares da Medicina e Odontologia (113,4), nos Professores (87,3) e nos Artistas e Ocupações Afins e Auxiliares (74,7). No subgrupo de outras ocupações encontra-se também valor bem elevado (160,6);
regionalmente, os Escritores e Jornalistas apresentam coeficientes de incidência de 155,4 no Norte, 132,7 no Sul e 128,6 no Sudeste. Os Cientistas Sociais no Norte e Centro-Oeste mostram valores de 278,6 e 284,9 respectivamente;
nas ocupações Auxiliares da Medicina e Odontologia, o Sul e o Sudeste destacam-se com coeficientes de incidência da ordem de 147,2 e 140,1;
no Centro-Oeste é notável o coeficiente de 331,7 nos Químicos, Farmacêuticos, Físicos e Especialistas Assemelhados;
no Sudeste, o subgrupo dos Professores mostra incidência de 124,5, valor bem diferente das demais regiões;
nos Transportes e Comunicação, o valor observado na região Sul (121,5) é elevado para o subgrupo dos Transportes Marítimos, Fluvial e Lacustre;
os Serviços Portuários são destaque na região Sudeste, com 132,2;
no grande grupo da Prestação de Serviços, cujo coeficiente é quase o dobro da média nacional (46,1 versus 25,0), destaca-se o subgrupo das ocupações dos Serviços de Higiene Pessoal (268,1) no Brasil e 331,8 na região Sudeste. Neste mesmo grande grupo deve-se assinalar também as ocupações dos Serviços de Alojamento e Alimentação com incidência bem elevada;
no grande grupo das Indústrias de Transformação e da Construção Civil, apesar dos subgrupos apresentarem coeficientes em torno de sua média (23,0), deve-se salientar a elevada incidência no subgrupo das ocupações da Indústria Gráfica (48,4), quase o dobro do coeficiente nacional para todas as ocupações (25,0). Ressalta-se igualmente, neste grande grupo das ocupações das Indústrias de Transformação e Construção Civil, grande concentração de casos. Apesar de não apresentar coeficiente tão elevado como foi verificado (23,0), foram registrados 2.111 casos masculinos, concentrando 22% do total de 9.430 casos masculinos para todas as ocupações no Brasil, dos quais 841 casos foram registrados na Construção Civil.
Discussão
As considerações anteriormente realizadas com base nos resultados apresentados permitem afirmar que a Classificação por Ocupações do IBGE demonstrou ser instrumento útil no estudo do perfil ocupacional dos casos de AIDS. Obviamente, adequações futuras, fruto de análises mais aprofundadas, poderão aprimorar a classificação e contribuir para os estudos epidemiológicos da AIDS que envolvam a ocupação e seguramente poderão ser estendidos à epidemiologia de outros agravos.
No citado aprimoramento da classificação, a melhoria da forma de coleta dos dados referentes aos casos de AIDS e os conseqüentes procedimentos de codificação dos dados merecem algumas modificações. Na ficha de notificação do caso de AIDS não se distingue a ocupação da situação da pessoa. Ou seja, a situação pode discriminar se a pessoa exerce ocupação econômica ou se o mesmo está fora da população ocupada, sendo, por exemplo, aposentado, pensionista, dona de casa. Seria desejável saber se não trabalha ou trabalha, discriminando então, nos que trabalham, a ocupação.
É importante destacar que alguns desses grupos populacionais não incluídos na população ocupada, na medida em que não exercem atividade econômica, como é o caso de donas de casa, estudantes, aposentados e pensionistas, representam numeroso grupo de pessoas que estão expostas ao risco de contrair enfermidades ou sofrer agravos. Conseqüentemente deve ser incluído em estudos mais amplos dos casos de AIDS. As informações concernentes à população não economicamente ativa estão disponíveis nos censos demográficos, possibilitando o cálculo dos coeficientes de incidência nesses grupos populacionais, permitindo, desse modo, cobrir o universo da população.
No que se refere ao atraso na notificação e ao problema da subnotificação dos casos, sabe-se que são limitações inerentes à maioria de bancos de dados secundários e de agravos de notificação, mas que é preciso considerar seus reflexos nos resultados obtidos.
Quanto ao primeiro, procurou-se trabalhar com dados de dois anos anteriores à data da pesquisa, recuperando-se, por meio deste procedimento, quatro semestres de atraso na notificação, o que pode alcançar cerca de 96% do total de casos diagnosticados naquele ano e notificados até agosto de 1997 (Barbosa & Struchiner, 1997).
Com referência à subnotificação dos casos, como vimos, os resultados obtidos por Lemos (1998) apontam 33,9% de subnotificação no estado do Rio de Janeiro. O mesmo estudo verificou diferença significativa, no que diz respeito à escolaridade, entre os casos não notificados em comparação com aqueles notificados, concentrando maior proporção de analfabetos entre os casos não notificados. Esses resultados indicam a necessidade de se desenvolver estudos visando conhecer o perfil ocupacional dos casos não notificados, em comparação com os casos notificados.
Com o objetivo de melhorar a qualidade do banco de dados da AIDS recomenda-se promover periodicamente treinamento e reciclagem do pessoal envolvido no registro e coleta das informações, bem como a divulgação de boletins com os resultados da Classificação por Ocupação dos casos de AIDS, demonstrando e valorizando a importância da informação concernente à ocupação, orientando acerca da forma correta do registro da mesma.
Como é passível de haver mudanças na estrutura ocupacional da PEA, aconselha-se utilizar, sempre que possível, a população do ano em que se está calculando o coeficiente de incidência por ocupação, evitando-se trabalhar com dados demográficos defasados no tempo.
A partir do presente estudo poderão ser desenvolvidas diversas análises a respeito dos casos de AIDS notificados no Brasil, considerando-se os diferentes aspectos sócio-econômicos relativos a cada categoria ocupacional, assim como analisar as diferentes formas de transmissão prevalentes nas categorias ocupacionais de maior incidência e poder orientar as ações de prevenção e controle da AIDS nessas categorias.
No que se refere à mortalidade, é pertinente sugerir que seja adotada, pelo Sistema de Informação de Mortalidade - SIM, a listagem de ocupações utilizada no SINAN com seus respectivos códigos, a fim de que a informação de ocupação registrada no atestado de óbitos possa ser sistematizada e analisada, permitindo a classificação dos óbitos por ocupação, bem como o cálculos dos coeficientes de mortalidade por ocupação, tanto no que se refere à AIDS como a outros agravos. Esta sugestão baseia-se no fato de terem sido infrutíferas as tentativas de compatibilizar a lista de códigos de ocupações do SIM, com a do SINAN e do IBGE, na medida em que a mesma atribuía códigos iguais a ocupações diferentes.
O conjunto de coeficientes de incidência da AIDS em homens e mulheres de dez anos ou mais, discriminados por ocupação, no Brasil e nas grandes regiões, consolidou determinadas afirmações e revelou outros achados, de caráter inédito, no perfil ocupacional dos casos registrados.
Conforme os resultados apresentados, ainda que subestimados pelas insuficiências de notificação ou registro dos dados, foi possível identificar grupos e subgrupos ocupacionais, os quais apresentam coeficientes de incidência de AIDS de elevada magnitude e que, necessariamente, deverão ser objeto de análises mais aprofundadas, visando medidas de intervenção especiais e o estudo do comportamento sócio-cultural de seus integrantes.
Finalmente, os autores consideram que a real contribuição deste estudo reside na obtenção de uma Classificação Ocupacional que permitiu o cálculo dos coeficientes de incidência da AIDS na população economicamente ativa, abrindo amplo horizonte a estudos que visem o aprimoramento da epidemiologia da doença. O trabalho em questão foi, primordialmente, de cunho metodológico, não se propondo, neste momento, a maiores aprofundamentos de caráter analítico.
Agradecimentos
O presente estudo foi desenvolvido com o apoio da Coordenação de DST e AIDS do Ministério da Saúde através de recursos do Plano das Nações Unidas para o Desenvolvimento-PNUD. Os autores gostariam de agradecer também a colaboração de Hermano de Castro, José Francisco Pedra Martins, Genésio Vicentim, Flávio Astolpho Vieira Souto Rezende e Carlos Alberto Tavares Coutinho.
Referências
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