EDITORIAL EDITORIAL

 

Saúde pública e envelhecimento

 

 

Maria Fernanda Lima-CostaI; Renato VerasII

INúcleo de Estudos em Saúde Pública, Centro de Pesquisas René Rachou, Fundação Oswaldo Cruz/Faculdade de Medicina, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil
IIUniversidade da Terceira Idade, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil

 

 

O envelhecimento populacional é um dos maiores desafios da saúde pública contemporânea. Este fenômeno ocorreu inicialmente em países desenvolvidos, mas, mais recentemente é nos países em desenvolvimento que o envelhecimento da população tem ocorrido de forma mais acentuada. No Brasil, o número de idosos (³ 60 anos de idade) passou de 3 milhões em 1960, para 7 milhões em 1975 e 14 milhões em 2002 (um aumento de 500% em quarenta anos) e estima-se que alcançará 32 milhões em 2020. Em países como a Bélgica, por exemplo, foram necessários cem anos para que a população idosa dobrasse de tamanho.

Em paralelo às modificações observadas na pirâmide populacional, doenças próprias do envelhecimento ganham maior expressão no conjunto da sociedade. Um dos resultados dessa dinâmica é uma demanda crescente por serviços de saúde. Aliás, este é um dos desafios atuais: escassez de recursos para uma demanda crescente. O idoso consome mais serviços de saúde, as internações hospitalares são mais freqüentes e o tempo de ocupação do leito é maior quando comparado a outras faixas etárias. Em geral, as doenças dos idosos são crônicas e múltiplas, perduram por vários anos e exigem acompanhamento constante, cuidados permanentes, medicação contínua e exames periódicos.

Sem dúvida, um dos maiores feitos da humanidade foi a ampliação do tempo de vida, que se fez acompanhar de uma melhora substancial dos parâmetros de saúde das populações, ainda que estas conquistas estejam longe de se distribuir de forma eqüitativa nos diferentes países e contextos sócio-econômicos. O que era antes o privilegio de poucos, chegar à velhice, hoje passa a ser a norma mesmo nos países mais pobres. Esta conquista maior do século XX se transforma, no entanto, em um grande desafio para o século que se inicia. O envelhecimento da população é uma aspiração natural de qualquer sociedade, mas não basta por si só. Viver mais é importante desde que se consiga agregar qualidade aos anos adicionais de vida. Dessa forma, surgem os seguintes desafios para a Saúde Pública, como reconhecidos pela Organização Mundial da Saúde: (a) como manter a independência e a vida ativa com o envelhecimento?; (b) como fortalecer políticas de prevenção e promoção da saúde, especialmente aquelas voltadas para os idosos?; (c) como manter e/ou melhorar a qualidade de vida com o envelhecimento?

Temos de encontrar os meios para: incorporar os idosos em nossa sociedade, mudar conceitos já enraizados e utilizar novas tecnologias, com inovação e sabedoria, a fim de alcançar de forma justa e democrática a eqüidade na distribuição dos serviços e facilidades para o grupo populacional que mais cresce em nosso país.

O presente número de Cadernos de Saúde Pública é um reflexo do aumento do interesse pela pesquisa na área de Saúde Pública e Envelhecimento no Brasil. Este número contempla temas como políticas de saúde para o idoso e uso de medicamentos, dependência e cuidados familiares, violência contra o idoso, abordagem antropológica do envelhecimento, desigualdades sociais e saúde do idoso, assim como inclui estudos de base populacional conduzidos em diferentes comunidades e no país como um todo.

A cada ano que passa, mais 650 mil idosos são incorporados à população brasileira. Já perdemos muito tempo acreditando que ainda éramos um país jovem, sem dar o devido crédito às informações demográficas que mostravam e projetavam o envelhecimento da nossa população. Com este número especial, com o qual homenageamos o Prof. Mário Sayeg, um dos pioneiros brasileiros no estudo do Envelhecimento e Saúde Pública, pretendemos contribuir para a expansão e consolidação do debate sobre esses desafios.

 


 

Aging and public health

 

 

Maria Fernanda Lima-CostaI; Renato VerasII

INúcleo de Estudos em Saúde Pública e Envelhecimento, Centro de Pesquisas René Rachou, Fundação Oswaldo Cruz/ Faculdade de Medicina, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil
IIUniversidade da Terceira Idade, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil

 

 

Population aging is one of the greatest contemporary public health challenges. The phenomenon occurred initially in developed countries, but more recently population aging has occurred to a greater extent in developing countries. In Brazil the number of elderly (³ 60 years of age) increased from 3 million in 1960 and increased to 7 million by 1975 and 14 million by 2002 (an increase of 500% in just forty years); according to estimates, it will reach 32 million by 2020. In countries like Belgium, for example, it took one hundred years for the elderly population to double in size.

In parallel to the modifications observed in the population pyramid, diseases proper to aging have gained greater relevance in society as a whole. One result of this dynamic is a growing demand for health services. This in fact is one of the current challenges: scarce resources to meet an increasing demand. The elderly consume more health services, hospitalizations are more frequent, and hospital bed occupancy time is longer as compared to other age brackets. In general, diseases in the elderly are chronic and multiple, lasting for several years and requiring constant follow-up, permanent care, continuous medication, and regular examinations and tests.

It is unquestionable that one of humankind's greatest feats has been to extend life expectancy, along with a substantial improvement in the health parameters of populations, although such gains are far from being distributed equitably among various countries or in different socioeconomic contexts. What used to be the privilege of a few, to reach old age, has now become the norm even in poorer countries. However, this greatest gain of the 20th century has become a major challenge for the 21st century. Population aging is a natural aspiration for any society, but it is not enough in itself. It is important to live longer, as long as one adds quality to the additional years of life. Thus emerge the following challenges for Public Health, as recognized by the World Health Organization: (a) How to maintain independent, active living with aging? (b) How to strengthen prevention and health promotion policies, especially those targeting the elderly? and (c) How to maintain and/or improve quality of life with aging?

We must find the means to incorporate the elderly into our society, changing deeply rooted concepts and utilizing new technologies innovatively and wisely in order to achieve equity in the fair and democratic distribution of services and facilities for the most rapidly growing population group in our country.

The current issue of Cadernos de Saúde Pública/Reports in Public Health reflects the increase in research in the area of Public Health and Aging in Brazil. This thematic issue covers such topics as health policies for the elderly and use of medicines, dependency and family care, violence against the elderly, an anthropological approach to aging, and social inequalities and health in the elderly, in addition to population-based studies in different communities, including studies on national bases.

With each passing year, 650 thousand elderly are incorporated into the Brazilian population. We wasted a long time believing that we were still a young nation, without giving due credit to the demographic data that demonstrated and forecast the aging of the Brazilian population. With this special issue, in which we pay tribute to Prof. Mário Sayeg, one of the Brazilian pioneers in research on Aging and Public Health, we aim to contribute to the expansion and consolidation of the debate on these challenges.

Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Fundação Oswaldo Cruz Rio de Janeiro - RJ - Brazil
E-mail: cadernos@ensp.fiocruz.br