EDITORIAL
Avaliação trienal dos programas de pós-graduação em Saúde Coletiva do Brasil1
A recente avaliação dos programas de pós-graduação, referente ao período 2001-2003, realizada pela CAPES, revela a Saúde Coletiva brasileira como campo plenamente consolidado. Evidencia, também, a sua sustentada ampliação. Além do aumento no número de programas, a avaliação aponta que os mesmos têm se orientado pelos princípios que norteiam o campo técnico-científico, sistematizados no processo estabelecido pela CAPES para o aprimoramento e aperfeiçoamento do sistema de pós-graduação brasileiro.
A evolução de programas para níveis mais elevados de conceitos e a sustentação dos demais deles traduzem a relevância e o crescimento da pesquisa em Saúde Coletiva no Brasil, verificados em particular ao longo da última década. O número de grupos de pesquisas nesta área cresce aceleradamente, refletindo-se no aumento do número de produtos da atividade científica (artigos, livros, dissertações, teses). Também a necessidade do debate científico vem se ampliando rapidamente; não por acaso, o número de participantes em cada novo encontro científico da área surpreende sempre os organizadores, que não conseguem prever o seu crescimento exponencial.
No que diz respeito à produção intelectual, há claras evidências que apontam para o crescimento da qualidade teórico-metodológica das pesquisas, assim como da ampliação da participação da produção científica nacional em Saúde Coletiva no cenário internacional. Em um mapeamento recente acerca do perfil dos pesquisadores brasileiros em Saúde Coletiva detentores de bolsas de produtividade em pesquisa do CNPq, os dados revelam intensa atividade (Cad Saúde Pública 2003; 19:1863-76). No período 2000-2002 foram publicados 1.124 artigos em periódicos científicos, distribuídos em 321 títulos (68% destes, de reconhecida circulação internacional). Aproximadamente 25% dos trabalhos foram publicados em duas revistas brasileiras de circulação internacional e altamente prestigiadas Cadernos de Saúde Pública e Revista de Saúde Pública. CSP e RSP aparecem com destaque em todas as classes de pesquisadores bolsistas, em especial os de nível I.
Em relação a CSP e RSP, vale ressaltar que ambas são publicadas por instituições nacionais que gozam de ampla reputação científica tanto no Brasil quanto no exterior (respectivamente, FIOCRUZ e USP). CSP e RSP constituem hoje, ao lado dos demais periódicos nacionais, uma das principais pontes entre as esferas acadêmico-científicas e os serviços de saúde; atendem a um dos objetivos precípuos da pesquisa em Saúde Coletiva, que é o de produzir conhecimentos e auxiliar a construir novas alternativas para a prevenção de doenças, promoção da saúde e organização de um sistema equânime de saúde.
A influência da Saúde Coletiva brasileira pode ser medida pela sua presença crescente no cenário internacional, particularmente, na América Latina. No país, além da expressiva contribuição dos nossos programas para a produção do conhecimento científico, os pesquisadores da área contribuem, em comitês técnicos responsáveis, na definição de padrões de qualidade e de estratégias de controle de problemas relevantes de saúde e da organização dos serviços de saúde. Recentemente, têm sido criados mestrados profissionais, voltados para a produção de pesquisas operacionais em saúde, vinculadas à qualificação pós-graduada dos quadros dirigentes dos órgãos do SUS.
Este estimulante cenário revela o alto grau de compromisso dos programas com as necessidades sociais, institucionais e de mercado, concomitantemente com o contínuo aprimoramento dos padrões alcançados. Os desafios que se antepõem não são poucos e deles se destacam: a identificação de renovada conformação do campo, o incremento de suas atividades científicas, o crescimento do intercâmbio nacional e internacional (cujos recursos para suportar essa demanda têm sido insuficientes) e a desejada desconcentração regional.
Moisés Goldbaum
Representante da área de Saúde Coletiva na CAPES, Presidente da ABRASCO
Departamento de Medicina Preventiva, Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo
1 Baseado no Documento de Área da Comissão de Saúde Coletiva, CAPES, Brasília, 2004.