RESENHAS REVIEWS
Cynthia Magluta
Instituto Fernandes Figueira, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, Brasil
ANÁLISE ESTRATÉGICA EM SAÚDE E GESTÃO PELA ESCUTA Francisco Javier Uribe Rivera. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2003. 312 pp.
ISBN: 85-7541-027-X
O livro Análise Estratégica em Saúde e Gestão pela Escuta, de autoria de Francisco Javier Uribe Rivera, professor da Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz é uma abordagem do campo de planejamento e gestão de serviços de saúde. Os capítulos apresentam diversas ferramentas de análise organizacional e de gestão estratégica, ferramentas que visam a ampliar as possibilidades de que os diversos atores participem do processo de gestão e que se obtenha um serviço de saúde de maior qualidade, contribuindo para a construção do SUS.
A compreensão destes temas é construída com profundidade, trata-se de uma leitura estimulante e que solicita toda atenção do leitor. Aqueles leitores, que tenham como objeto de trabalho a gestão de serviços de saúde e que assumem como desafio profissional compreender sua tarefa e seu papel de liderança, que buscam implementar estratégias que contribuam ao pleno desenvolvimento de seu serviço encontram neste livro uma leitura fundamental, quer seja pela qualidade da reflexão teórica apresentada como pelos exemplos de sua aplicação. Podem encontrar ainda analisadas situações críticas experimentadas no cotidiano dos serviços e da gestão, podendo ver consideradas novas alternativas para uma gestão mais eficaz.
Apresenta uma reflexão teórica que integra a abordagem do Agir Comunicativo de Habermas e o Planejamento Estratégico Situacional em saúde, ressaltando em sua análise a perspectiva do planejamento como uma ferramenta que a organização lança mão em seu desenvolvimento para tornar-se uma organização dialógica ou comunicativa, ou seja, que se incorpore um conjunto de práticas que permitam uma gestão por compromissos, um modelo de gestão negociado, de ajustamento mútuo e comunicativo. Este tipo de abordagem está sendo referendada pela Política Nacional de Humanização do Ministério da Saúde (HumanizaSUS), que inclui a gestão participativa como uma das abordagens recomendadas pela política. O modelo analisado por Rivera considera e integra as características peculiares dos serviços de saúde como organizações profissionais.
Apresenta e analisa a experiência francesa de gestão estratégica e de definição do projeto assistencial: a démarche stratégique. Este enfoque pretende auxiliar a tarefa gerencial, enfatizando que o serviço de saúde que deve definir sua missão considerando seu papel numa rede assistencial, possibilitando uma visão da contribuição de cada hospital e de cada serviço nas especialidades que ele tem maior capacidade resolutiva e melhores resultados. Desta forma, a rede de serviços se qualifica e os resultados para a população são ampliados. A descrição do método inclui as diferentes etapas e seus quadros, desta forma torna acessível aos leitores a aplicação deste método e sua comparação com outros que os gestores já estejam empregando. Tal objetivo também é ampliado pela leitura do relato da experiência de aplicação da démarche no Instituto Phillipe Pinel, que é um hospital psiquiátrico. Esse relato é escrito em parceria com profissionais desse hospital e surge como decorrência do Curso de Especialização em Gestão Hospitalar, um bom exemplo da integração e cooperação entre a academia e o serviço.
As possibilidades de ferramentas para a análise estratégica são ampliadas pela leitura do Capítulo 4, em que o autor nos apresenta o enfoque de cenários. Essa análise auxilia a organização a construir um olhar sobre o futuro orientado a esclarecer, iluminar a ação presente e, portanto, perceber as condições e pressupostos em que se situa o plano, auxiliando a escolher as melhores estratégias. A exposição do método se faz de forma precisa com a apresentação das matrizes. Após esta análise, a compreensão do mesmoé enriquecida pelo relato de uma experiência de aplicação do método para o Programa Saúde da Família. Ressalta ainda como conclusão, que a importância desse método se encontra no aprendizado de trabalhar com a perspectiva da probabilidade, ou seja, pensar de uma forma nova, que possibilita superar as posições rígidas que alguns atores assumem no dia-adia dos serviços e no processo de gestão dos mesmos.
Nos três últimos capítulos o autor nos conduz visando a compreensão do papel da liderança no contexto de uma organização profissional, frente às propostas da organização que aprende, do papel da cultura e da comunicação. Aborda a comunicação e a negociação como elementos decisivos de um modelo de gestão para estas organizações.
Se de fato compreendermos, como nos orienta este livro, que existem várias formas de explicar uma mesma realidade, de acordo com a perspectiva específica de cada observador, poderemos alcançar estratégias de construir cada serviço de saúde, a rede de serviços regionalizada e hierarquizada que confirme os princípios do SUS para os cidadãos que no seu contato com os serviços buscam acolhimento às suas necessidades de saúde, mas também para os profissionais que poderão contribuir cada vez mais intensamente na vida institucional, ampliando a possibilidade de um fazer profissional que seja integrador da técnica e arte de cada um e de todos os profissionais de saúde. A proposta de gestão do sistema de saúde no atual governo e especificamente a proposta da HumanizaSUS, estimula a todos os gestores a compreender seu papel, assumir suas responsabilidades, com competência e assim a aplicação dos ensinamentos contidos neste livro pode ser de grande valia nesta jornada.