EDITORIAL
Investigação e avaliação em serviços de saúde
O desenvolvimento técnico-científico e as transformações político-econômicas, que marcam as sociedades capitalistas ocidentais, não só têm trazido consigo uma crescente valorização da saúde como dimensão nuclear para o bem estar individual e coletivo como também levam à constituição de sistemas de atenção à saúde cada vez mais amplos e complexos. O desenvolvimento de pesquisas sólidas em uma perspectiva científica, mas ao mesmo tempo viáveis e com legitimidade e aplicabilidade, representa um dos grandes desafios para o conhecimento científico em geral; porém, é particularmente presente em uma área como a Saúde Coletiva. Esse desafio para a Saúde Coletiva hoje, no Brasil, está representado pela necessidade premente de criação de conhecimentos, métodos e tecnologia que dê suporte ao pleno desenvolvimento do Sistema Único de Saúde (SUS). Nessa perspectiva, a investigação em serviços de saúde assume especial relevância, pois se volta para produzir conhecimento sobre os sistemas e serviços de saúde com o objetivo de orientar o desenho de políticas e a melhoria do desempenho.
A Saúde Coletiva no Brasil tem uma produção científica ampla e reconhecida no estudo das questões relativas à medicina e sociedade, a políticas de saúde e à epidemiologia. No entanto, os estudos no país que tomam os sistemas, os serviços de saúde e as práticas assistenciais como objeto, em uma perspectiva coletiva, ainda estão em uma fase de definição conceitual e metodológica, explorando as interseções com as áreas de políticas, economia e gestão da saúde, epidemiologia e clínica.
Buscou-se, no planejamento deste suplemento, delinear a produção de pesquisas nesta área desenvolvidas no país, e incluir textos teóricos e conceituais que buscam discutir a área e indicam as possibilidades da sua expansão e articulação. Espera-se dessa forma contribuir para um mapeamento da investigação em serviços de saúde na Saúde Coletiva brasileira atual. Adotou-se como estratégia a identificação de produção, em nível de pós-graduação, nessa temática, por meio da consulta a pesquisadores da área de avaliação de serviços, programas e tecnologias em saúde. Os textos selecionados como artigos originais não esgotam a produção existente, mas permitem identificar tendências em expansão nas pesquisas vinculadas à academia. A diversidade destes textos e pesquisas expressa o potencial da investigação em serviços de saúde no Brasil, denota a abrangência e a relevância dos temas investigados, além de explorar e debater suas limitações, desafios, tendências e interseções com outras disciplinas da Saúde Coletiva e outras áreas do conhecimento. Foram convidados pesquisadores da área de epidemiologia e de gestão em saúde para debater as questões acima arroladas para a pesquisa em serviços de saúde.
O texto para discussão apresenta as características da área de investigação em serviços de saúde em uma perspectiva internacional e tem como debatedores pesquisadores que trabalham com questões relativas aos serviços de saúde nas suas respectivas especialidades, com contribuições importantes. No seu conjunto, este suplemento contém contribuições que, espera-se, poderão também incentivar e orientar a produção futura de conhecimento sobre os serviços de saúde em geral e, sobretudo, acerca do SUS.
Claudia Travassos
Centro de Informação Científica e Tecnológica, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, Brasil
Hillegonda Maria Dutilh Novaes
Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo, São Paulo, Brasil